UM EXEMPLO ORIGINAL DA MANEIRA COMO RESOLVER CONFLITOS

Na vida dos salesianos de Dom Bosco é conhecido o facto do jovem Domingos Sávio que se deparou com dois colegas que se preparavam para fazer um duelo à pedrada.  Como bem relata o Pe A. Gonçalves, eles já tinham medido os passos de distância e então o Jovem Domingos, com bons modos, colocou-se no meio deles, dizendo: atirai as pedras contra mim.

Domingos evitou o conflito sem culpar ninguém!

António CD Justo

Pegadas do Tempo

O SONHO DA EURÁSIA MORREU NA UCRÂNIA

O sonho da Eurásia morreu e o da Europa também! A Europa, que no mapa geográfico mais parece ser uma península asiática vê o seu destino nas próximas gerações ligado à sorte da OTAN na Ucrânia.

A Europa encontra-se traumatizada e em estado depressivo por se tornar refém do acaso (ao trauma europeu veio juntar-se o trauma dos países do antigo Bloco de Leste!).  Com as duas grandes guerras na Europa, os estados europeus foram obrigados a abdicar do seu estatuto mundial de grandes imperialistas para o cederem aos Estados Unidos da América e se submeterem aos seus interesses. A Alemanha ficou subordinada aos Estados Unidos da América e com uma Alemanha aliada, toda a Europa ficou subordinada aos EUA e deste modo definitivamente impossibilitada de criar a própria história e de assumir papel mais relevante na geopolítica.

A Alemanha, devido ao vínculo do “Tratado Dois-Mais-Quatro” respeitante às condições para a sua reunificação, ficou sujeita ao condicionamento dos quatro vencedores e sobretudo aos Estados Unidos da América que têm na Alemanha 20 bases militares que funcionam quase como um Estado dentro do Estado alemão e que perpetuam o domínio americano na Europa (No caso de um conflito atómico a Alemanha seria a primeira a ser atingida).

Daí a política do partido de Willy Brandt e do partido de Ângela Merkel de aproximação discreta da Alemanha à Rússia e de aproximação da Rússia à União Europeia ter sido um projecto de cunho europeu, mas contrariado pelos EUA.

A ex-chanceler Ângela Merkel ainda iniciou uma política com a Rússia que contemplava interesses alemães, russos e europeus, mas os EUA com a ajuda de alguns estados europeus rivais bloquearam e sancionaram uma política europeia de visões largas de um dia poder vir a construir a grande “casa europeia” de Lisboa a Moscovo.

Com o exemplo de um Reino Unido virado só para ele e para os EUA (Brexit)  e uma Polónia a querer substituir a Alemanha nas relações EUA-Europa, a Alemanha (teoricamente livre mas de facto ocupada por não poder agir sem o aval dos EUA) viu-se obrigada a fazer uma virada política de tipo militarista (Zeitenwende) deixando de pensar em termos europeus (como Willy Brandt-Kohl-Merkel)  para pensar em termos militares de OTAN: um passo dúbio mas fatal contra a possível Casa Europeia. O irmão grande (EUA) pensa em termos de poder e não desvinculará a Alemanha do tratado Dois-Mais-Quatro (ver nota em https://antonio-justo.eu/?p=8718).

Por outro lado, com a imigração descontrolada muçulmana ressurge no povo europeu o trauma e os medos antigos dos corsários norte-africanos na Europa. De acordo com Robert Davis, entre os séculos XVI e XIX, foram capturados por piratas bárbaros (corsários otomanos, berberes) entre 1 milhão e 1,25 milhões de europeus e vendidos como escravos no mundo árabe. Os piratas só levavam os jovens e aqueles que apresentavam boa forma física. Todos os que ofereciam resistência eram mortos, e os mais velhos eram colocados dentro de uma igreja que depois era queimada (1).

Os povos da Europa sabem, no seu subconsciente que a política que os orienta é política de autossabotagem ao criar obstáculos à realização de metas e objetivos próprios que estariam no interesse da Europa.

Depois da queda da União Soviética e da união das Alemanhas e com o início da União Europeia teria chegado a hora de se construir uma nova Europa que ajudasse a superar os extremos do socialismo e do capitalismo. Uma Europa, penitenciada dos seus erros passados, poderia tornar-se na medianeira e fomentadora de uma relação mais justa entre os povos.

A Europa, ao identificar-se com a OTAN, descarta-se do jogo geopolítico multipolar para se reduzir a província americana onde conflitos internacionais fervilharão no seio da sua sociedade.

Valha-nos Deus e o sonho!

António CD Justo

Pegadas do Tempo

(1) A partir do século XVI   corsários bárbaros, ou corsários otomanos escravos usados como remadores em galé Escravidão branca refere-se à escravidão de brancos europeus por norte-africanos ou muçulmanos da região do Magrebe. Os piratas da Barbária e dos comerciantes de escravos, que representavam uma ameaça constante para as embarcações comerciais e inclusivamente as cidades costeiras do Mediterrâneo Os piratas bárbaros (berberes) eram piratas e corsários que operavam desde o Norte de África https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89poca_Dourada_da_Pirataria

A GUERRA DA UCRÂNIA É A CÓPIA DA GUERRA DO PELOPONESO

Uma Guerra entre dois Modelos de Valores com previsíveis iguais Resultados

Para quem se lembra da História, na Ucrânia realiza-se em termos geopolíticos, uma guerra muito semelhante à do Peloponeso (século V a.C.) entre os dois poderes rivais (cidades-estados Atenas e Esparta).  Entre eles desafiavam-se interesses económicos, políticos, militares e de vias marítimas, também eles disputados entre dois modelos políticos de cidades-estados em que ambas queriam impor o seu domínio sobre os gregos; no caso da Ucrânia estão em causa, de maneira camuflada, o modelo capitalista e o modelo socialista que pretendem impor o seu domínio sobre os povos do mundo.

À imagem do que se deu no Peloponeso, as disputas de interesses entre a Federação russa e os Estados Unidos da América (NATO) provocaram a guerra na Ucrânia. Outras encenações e tentativas de explicação ou de ordenamento de factos ronda a   tentativa de enganar povo inocente para melhor se atingirem interesses dúbios! Na guerra do Peloponeso o domínio ateniense perdeu seguindo-se as invasões macedónicas. Na hipócrita guerra ucraniana a disputar-se entre ocidente e oriente tudo leva a crer que o Ocidente perderá em grande parte a guerra e as consequências serão a curto prazo os EUA perderem a hegemonia mundial seguindo-se um tempo de alinhamento mundial de povos para posteriormente se passar a equacionar uma geopolítica de tipo multipolar mais equilibrada e mais justa para os povos e para os Estados (isto independentemente de se entrar numa discussão de que valores).

Seria de esperar que a guerra geopolítica da Ucrânia se resolvesse na mesa de conversações e  que a Ucrânia se tornasse na última aventura americana fora da sua terra e que a sua perca, (tal como aconteceu no Afeganistão, Iraque, Síria e Líbia), se torne num aviso à China para que respeite Taiwaneses e renuncie às suas aspirações sobre Taiwan. Uma mesa das conversações de paz da Ucrânia poderia ser uma oportunidade para que as nações de preponderância universal (NATO, Rússia e China) se entendessem moderando os seus desejos de poder expansionista. A organização do bloco Brics poderia também ela tornar-se num elemento moderador de aspirações hegemónicas geopolíticas contribuindo para a construção de um mundo multipolar. Os governantes europeus parecem não estarem conscientes dos desenvolvimentos dos povos ao tentarem branquear a própria política desvalorizando o esforço dos Brics como “política do ressentimento”!

A situação dos Brics ou dos Brics+ (1) é sobretudo uma reacção à actual ordem mundial e por isso também haverá Brics + a “várias velocidades”, tal como se imagina fazer-se para a União Europeia. Uma das consequências do crescimento do G Brics será um acentuado encarecimento da vida no Ocidente com sublevações sociais, o que pode provocar maior aproximação (mistura) no estilo de governo de regimes democráticos e de regimes autoritários; por outro lado a existência do G Brics provocará grandes mudanças especialmente em África e encorajará governos e povos a juntarem-se para se poderem erguer!

O “mito” do risco de uma guerra na Europa e de que o sangue dos ucranianos defende a liberdade europeia conseguiu mover a veia nacionalista fomentada pelos Media que descontextualizam a situação ucraniana   com a ideia de que um país pequeno luta contra um país gigante quando em jogo estão dois gigantes em luta num cavalo de troia que é a Ucrânia; deste modo se converte desinformação em informação como se se tratasse de uma luta entre o bem e o mal, deixando de parte os verdadeiros interesses em jogo já bem equacionados na guerra do Peloponeso. A meia informação e a confusão infantilizam um povo que se deixa ir na onda da meia-informação que elites interesseiras dos lucros económicos imediatos e do poder geopolítico espalham através de canais televisivos financiados por taxas quebradas aos cidadãos.

A provocação de Bucareste feita em 2008 pelos EUA e pela OTAN à Rússia de que a Ucrânia e a Geórgia se iriam tornar membros da aliança atlântica afastou toda a ilusão da construção conjunta da “casa europeia” e deu gás à confrontação por obra e graça dos EUA.

Depois seguiu-se a Revolução Maidan que culminou na eliminação da neutralidade internacional da Ucrânia. Depois do alargamento da área militar da NATO em direcção à fronteira da Federação russa, o último reduto do preço da paz entre oriente e ocidente seria a manutenção do estado de neutralidade da Ucrânia. O conflito geopolítico a decorrer depois na guerra civil ucraniana onde foram mortos 13.000 civis e 4.000 soldados atingiu o seu auge na intervenção directa da Rússia na Ucrânia em 2022. A partir de 22 de fevereiro o conflito entre os EUA/EU e a Federação russa até então a decorrer na Ucrânia foi apresentado na opinião pública europeia como mero conflito entre a Rússia e a Ucrânia e como iniciado pela Rússia.  A partir daí procurar a verdade tornou-se criminoso. Pessoas que não seguem a opinião oficial dos Media ou que a questionam são declaradas como pessoas non gratas ou como contaminadoras do próprio ninho; no meio da sociedade surge um trato social agressivo semelhante ao tratamento dos que com razão negavam a qualidade da “vacina” anti-Covid ou problematizavam a prepotência das medidas ordenadas. Aqui governos e Media aliaram-se em tipo de campanha contra direitos fundamentais dos cidadãos e toda a multidão que seguiu sem tugir nem mugir e se armou em escudo capanga (faz-tudo) das autoridades passando-se depois à ordem do dia sem sequer pensarem no mal que socialmente provocaram. A responsabilidade foi declarada anónima e a irresponsabilidade política amnistiada por ela mesma. Observei fenómeno social semelhante contra os que em 2003 eram contra a invasão do Iraque liderada por EUA e Reino Unido contra Saddam Hussein e que levou o país ao caos. Na altura os EUA mentiram dizendo que o Iraque tinha armas de destruição em massa e era uma ameaça à paz internacional. Enquanto as coisas se dão seguem-se políticas enganosas e depois de terem acontecido embora os críticos tenham tido razão não se estabelece justiça porque a “razão” fica sempre do lado do poder e da população obrigada a segui-lo e não podendo por isso retratar-se.

Um dia, Zelensky, por razões óbvias, perderá a guerra e alguns factos serão, a posteriori esclarecidos (uma vez renovado o arsenal militar faltará um dos factores implementadores da guerra!); haverá uma transfiguração de maneira a justificar-se a derrota ou pelo menos a explicá-la. Seria de esperar que então a Europa acordasse para si mesma e descobrisse também o lado bom da Rússia, para juntas construírem a “casa europeia” numa política comum de Lisboa a Moscovo própria para dar resposta a uma geopolítica pluripolar mais séria e mais justa! Pessoas críticas que, por conhecimento do emaranhado e da futilidade do conflito defendiam conversações e compromissos de paz não verão reconhecida a precisão de sua posição crítica e passarão ao esquecimento oportuno porque ao regime continuará a ser conveniente a afirmação de meias verdades e o que os porta-vozes históricos do sistema deixam nas narrativas dos acontecimentos.

O que está em jogo são interesses económicos míopes e o assegurar-se das vias de tráfico como no caso do Peloponeso. O General Raul Luís Cunha refere que “as multinacionais americanas Cargill, Du Pont e a Monsanto (empresa germano-australiana, que tem capital americano) compraram à Ucrânia (Zelensky) 17 milhões de hectares das férteis terras negras da Ucrânia e por seu lado essas empresas têm como accionistas Vanguard, Blackrock e Blackstone, ou seja, as mesmas 3 empresas financeiras que controlam quase todos os bancos do mundo, bem como todas as grandes empresas de armamento do globo”. Há também empresas alemãs e doutras nações da NATO na Ucrânia muito empenhadas no mero capital que a rica Ucrânia contem.

A Europa encontra-se numa fase de empobrecimento da sociedade por fora e por dentro. Urge a contensão da mente nas ideologias, domar os oligarcas e a fome dos falcões de guerra quer liberais quer progressistas. Então as nossas gerações futuras terão momentos mais pacíficos e mais humanos.

 

António CD Justo

Pegadas do Tempo

(1) BRICS PLUS significa mais “Cooperação Sul-Sul” e “Desdolarização” do Comércio mundial : https://www.gentedeopiniao.com.br/opiniao/o-mundo-reorganiza-se-com-um-brics-plus-a-margem-do-conflito-sistemico-socialismo-capitalismo ; comentários em https://antonio-justo.eu/?p=8741

A POLÓNIA SUBMETE O COMPROMISSO DE ASILO DA UNIÃO EUROPEIA A REFERENDO

 

No início de junho, os ministros do Interior da UE concordaram numa reforma da política de asilo para que a aceitação de refugiados fosse obrigatória em toda a Europa. Os países que não queiram acolher refugiados serão forçados a assumir pagamentos de compensação.
Na Polónia as eleições gerais de 2023 estão programadas para 15 de outubro de 2023 e nelas os eleitores irão pronunciar-se sobre algumas questões referendárias.
Com grande desagrado alemão, o governo da Polónia resiste alegando que a Alemanha está interessada numa “política de migração absurda”… O Ministro da Educação Przemyslaw não se contem e chega mesmo a dizer: “Vocês querem que as mulheres na Polónia sejam violadas como em França, Bélgica ou Alemanha”.
Outra questão do referendo é o aumento da idade da reforma e a fortificação na fronteira com a Bielorrússia.
António CD Justo
Pegadas do Tempo

O MUNDO REORGANIZA-SE COM UM BRICS PLUS À MARGEM DO CONFLITO SISTÉMICO SOCIALISMO-CAPITALISMO

 

BRICS PLUS significa mais “Cooperação Sul-Sul” e “Desdolarização” do Comércio mundial

A guerra substituta a decorrer na Ucrânia e a guerra económica apressam o alinhamento do mundo em torno do grupo G7 e dos países emergentes no grupo BRICS PLUS. O conflito sistémico entre estados socialistas e estados capitalistas que se expressa na Ucrânia não impressionou as ações do G BRICS que viu o BRICS (5) aumentado para o BRIKS PLUS (11). Com o erguer-se do grupo BRIKS PLUS, o sonho globalista de um mundo monopolar sob a égide da NATO esvai-se no sentido de um mundo multipolar, de caracter mais pragmático e menos ideológico, facto este que obrigará as nações a novas estratégias de comércio internacional; a hegemonia ocidental será, porém, um osso duro de roer; o grupo surgente pode contribuir para se ir criando um mundo mais humano em termos de relações internacionais.

O “Brics plus”, em termos geopolíticos, é um sinal positivo que irá proporcionar uma reorganização da ordem mundial já fora do tradicional conflito sistémico socialismo-capitalismo. Nele se nota a marca mais própria do Sul (África negra + Ásia) que é organizar-se em termos utilitários pragmáticos e não tanto em termos de doutrina ou ideologia (valores) como é mais próprio da nossa região nórdica e da arábica.

Para nós, ocidentais, a nova situação político-económica revelar-se-á como desagradável porque teremos de abandonar a posição de determinar as nossas condições e padrões ao resto do globo. Com a afirmação do G Brics plus os parceiros internacionais serão levados mais a sério e ver-se-ão de cara a cara num mundo em que o que mais conta é o poder económico e militar. Espera-se que as relações internacionais sejam mais determinadas pelos interesses e encontros de povos do que pelos interesses ainda vigentes e trocados entre as elites dos diversos povos.

A15.ª Cimeira dos BRICS (Brasil, Rússia; Índia, China e África do Sul) realizada em Joanesburgo de 22 a 24 de agosto expressou a aspiração dos países emergentes a tornarem-se num contrapeso do domínio unipolar americano e manifesta a vontade de emancipação num momento histórico, em que no jogo geopolítico em curso, passarão  a valer como trunfos não só os azes mas também as biscas, reis, valetes e damas, e em certo sentido também passa a contar um pouco a arraia miúda.

O BRICS Business Forum tenta ser a contrapartida do G7 que domina a economia mundial expressa no Dólar americano como moeda de transações. Manifesta-se a nível económico e político a vontade de uma geopolítica bipartida (bipolar) num primeiro estádio para um dia se chegara uma política multipolar que evite o globalismo unipolar. Neste sentido o G Brics por iniciativa da Rússia pretende a possibilidade de transações comerciais internacionais na moeda nacional de cada país, o que se revelará muito difícil atendendo à instabilidade das diferentes moedas! O presidente brasileiro Lula perguntava-se:” Por que é que o Brasil precisa de Dólares americanos para fazer comércio com a China… com a Argentina?”

O Ocidente que esperava manter alguns trunfos divisionistas no grupo, devido à concorrência de interesses da Índia-África do Sul dentro dos países do G BRIKS, viu-se desiludido ao constatar que de uma só vez o grupo se viu duplicado ao anunciar a adição de 6 novos membros ao grupo em 1º de janeiro de 2024. Os novos membros serão Arábia Saudita, Irão, Emirados Árabes Unidos, Argentina, Egito e Etiópia. Os Emirados Árabes Unidos já faziam parte do banco dos BRICS. Como resultado, o grupo dos 11 ganha peso geopolítico e representa um forte contrapeso do grupo G7.  Porém o Banco  de Desenvolvimento do G Brics com sede em Xangai terá muita dificuldade em afirmar-se devido às moedas locais que não oferecem estabilidade;  a hegemonia ocidental ver-se-á obrigada a fazer aferimentos contratuais mas perdurará atendendo às suas redes estáveis nos seu sistema bancário, produção e redes de distribuição económica e de presença militar estratégica.

Segundo informações do Governo sul-africano, o G BRICS representa mais de 42% da população mundial, 30% do território do planeta e 18% do comércio global. Segundo o presidente brasileiro Lula da Silva, o grupo dos 11 produzirá até 37 % do produto interno bruto global (PIB) em paridade de poder de compra e representará 46 % da população mundial.

Dos 40 estados pretendentes a entrar no G Brics, 23 tinham manifestado firme interesse na adesão reconhecendo no G Brics o centro de poder do sul global.  Na lista encontram-se países como Indonésia, Turquia, Kuwait, Nigéria, Uruguai e Bangladesh.

 

A Rússia, a China e o Brasil empenhados na ampliação do grupo Brics conseguiram assim ver a sua iniciativa premiada no seu alargamento para o “Brics plus”. Quanto mais estados tiverem, mais poder terão para se afastarem do dólar, que consideram instrumento de lutas políticas pelo poder. Putin também apoia a entrada da Bielorrússia como membro do grupo.

A China afirmou que defendia a expansão do grupo Brics, no sentido de se estabelecer uma “ordem económica mundial mais justa”. A China quer passar para o centro da ordem mundial.

De destacar no fórum foi o facto da Índia aceitar o “Brics plus” porque o seu alargamento corresponde ao aumento da influência da China na região o que poderá tornar-se desfavorável para a Índia num espaço asiático onde China e Índia são concorrentes. A Índia estaria mais interessada na cooperação entre países em desenvolvimento e emergentes e em manter boas relações com os EUA e a Europa que recebem 30% das suas exportações.

A África do Sul queria ver no grupo Brics um jogo de caracter mais diplomático não considerando o G Brics como pró-rússia nem como antiocidental. Interessante foi o facto de a África do Sul ter apoiado o BRICS PLUS que considerava mais como “cooperação Sul-Sul”.

O Irão considera a sua inclusão no grupo Brics como uma “vitória estratégica para a política externa iraniana” e a Argentina vê nele uma “nova oportunidade”.

O Brasil defendeu sempre o “Brics plus” como contrapeso ao grupo G7. Lula criticou o Fundo Monetário Internacional (FMI) por muitas vezes ajudar a “afundar países”. A Argentina deve US$ 44 bilhões ao FMI. Criar uma moeda comum independente de dólares, como o Brasil deseja, será difícil devido às diferentes economias dos membros do G Brics..

O Ocidente considera que os estados do Brics plus não têm orientações políticas, o que dificulta o seu agir futuro; como o conflito oeste-leste se está a transformar em conflito norte-sul, tudo justifica a necessidade da autoafirmação do G Brics plus. Com o G Brics plus, a comunidade ocidental passa a ter um sério concorrente. Por isso o Ocidente tenta não perder parceiros comerciais como o Brasil, a Índia e a África do Sul.

A fusão dos estados Brics, apesar das diferentes situações, ao centrar-se na defesa de interesses pragmáticos aumenta a esperança de que a via ideológica possa ser ultrapassada de modo a que o que é bom ou mau no capitalismo já não tenha de ser ditado pelo marxismo e por outro lado surja a possibilidade de o capitalismo receber um rosto mais humano.

O grupo das economias emergentes BRICS PLUS reunir-se-á em outubro de 2024, na cidade de Kazan, Rússia. Neste contexto será interessante observar o desenrolar da reunião do G 20 (um grupo de importantes países industriais e emergentes) na Índia, nos dias 9 e 10 de setembro. Sem sonho não há vida!

António CD Justo

Pegadas do tempo