A EUROPA RICA RECRUTA IMIGRANTES QUALIFICADOS E EMPURRA REFUGIADOS DESQUALIFICADOS PARA OS PAÍSES POBRES DO SUL

 Quota para Refugiados revela Abuso cínico da Palavra Solidariedade

António Justo
A Comissão Europeia para a Migração pretende que se faça a redistribuição de 20.000 refugiados que se encontram na Europa, tencionando para Portugal uma chave de recolocação correspondente a 3,89% e para a Alemanha e França 10%. Uma tal medida aumentaria a quota de desemprego nos países do sul que se sentem já vítimas de uma economia da UE pró nórdica. Portugal seguirá, como de costume, uma atitude de “Maria-vai-com-as-outras”.

Portugal que exporta para a Alemanha, França, Inglaterra, Suíça, etc. os seus emigrantes qualificados que não encontram condições suficientes de vida em Portugal deve passar a receber dos países islâmicos imigrantes sem qualificação.
Muitos cidadãos europeus têm dificuldade em compreender que os seus países tenham de aceitar os refugiados de guerra interna islâmica entre xiitas e sunitas e que países islâmicos como a Arábia Saudita não aceitem refugiados vítimas da guerra religiosa ou da economia.

Na França, Alemanha, e noutros países europeus aumenta no povo a resistência à aceitação de refugiados. Muitos alegam que têm medo de receber os refugiados porque estes, na sua grande maioria são muçulmanos e uma vez hospedados num país organizam-se em guetos e não se integram; outro argumento que se ouve com frequência é a realidade de uma vez reconhecidos servirem de ponte para novos imigrantes e o facto de entre os refugiados se encontrarem terroristas do Estado Islâmico. Também se encontram políticos na Alemanha que dizem que a Alemanha “não é a repartição de segurança social da humanidade” e também pessoas pobres que reclama por cada vez verem mais reduzidos os apoios sociais sem entenderem que o Estado empregue milhões de euros no acolhimento de refugiados. Não notam a corresponsabilidade das potências no fenómeno nem a irresponsabilidade da classe política em relação à paz social na Europa.

Em 2014 a Suécia recebeu 8,4 refugiados por cada mil habitantes, a Áustria 3,3 por mil, a Suíça 2,9, a Alemanha 2,5, a Itália 1,1, a França 1, a Inglaterra 0,5, a Espanha 0,1.

A Inglaterra, a Polónia a Hungria, a Eslováquia e a Chéquia revelam-se contra o intuito da Comissão Europeia de introduzir quotas de refugiados a distribuir para todos os membros da UE. A Alemanha faz força para que todos os países sejam obrigados a receber refugiados. Os países economicamente fortes da europa não se querem ver sozinhos com os problemas da imigração por razões de estabilidade social e por razões económicas. A Alemanha, em 2014 recebeu 173.070 requerimentos de refugiados.

Por outro lado funcionários da economia alegam que a Alemanha para cobrir a quebra da natalidade da população precisaria de 400.000 imigrantes por ano. A Alemanha prefere recrutar imigrantes qualificados porque não provocam custos de integração e formação e além disso integram-se melhor e elevam o nível social popular.

Quota não é solução e seria injusta para com os países pequenos que não entram em guerra nem fazem parte dos países desestabilizadores que lucram com exportação de armas nem com a reconstrução dos países de intervenção. Os pontos quentes são a Síria, o Iraque, a África do Norte, o Afeganistão e a Líbia. A Líbia tornou-se num ponto de fuga dos refugiados para a Europa. Para acrescentar a insegurança surgem organizações extremistas muçulmanas na Europa que, ao afirmarem que com a emigração muçulmana e a sua fecundidade restabelecerão seus antigos domínios na Europa, fomentam mais o medo e o preconceito de muitos cidadãos europeus confrontados já com os problemas dos guetos.

A informação pública foca apenas o aspecto emocional dos refugiados não contribuindo para uma discussão séria e objectiva sobre o assunto.

A política da Comissão Europeia não está interessada no diagnóstico e no tratamento das causas que provocam a emigração em massa; parece apenas interessada em tratar as feridas mas não querer solucionar o que provoca o flagelo hodierno das lutas entre xiitas e sunitas e o fenómeno dos refugiados. A preocupação europeia deveria ser o fomento da estabilidade e do bem-comum da população nos países de proveniência dos refugiados (a preocupação pelo bem-comum universal). As medidas pretendidas de destruição dos barcos dos contrabandistas não resulta porque a pobreza e as rivalidades entre os grupos étnicos continuarão com o apoio directo ou indirecto do Ocidente. Urge uma política de ajuda para a auto-ajuda das pessoas nos seus países; para os que já se encontram no mundo livre devia dar-se-lhe uma formação qualificada para poderem, mais tarde, fomentar as economias dos países donde vêm.

Não é justo que as potências que participaram para a instabilidade do Afeganistão, do Iraque, da Líbia, da Síria não assumam a responsabilidade de terem provocado uma consequente perseguição aos cristãos e a outras minorias étnicas na região e que agora países terceiros tenham de acarretar com os problemas que imigração muçulmana acarreta consigo (Não se trata só de fugitivos mas de pessoas). As administrações dos USA têm actuado irresponsavelmente, conscientes de que quem mais sofre as consequências da sua política fracassada é a Europa e que a Europa fraca e decadente – irmã menor dos USA – se limita a uma política ritual irresponsável e carpideira sem encarar a peste que vitima fugitivos no mar Mediterrâneo e infesta o clima social europeu.
António da Cunha Duarte Justo
www.antonio-justo.eu

ÍNDICE DE FELICIDADE MUNDIAL EM 2015 E A DOR DO VIVER

Felicidade da mulher como índice do desenvolvimento de um país?

António Justo

Segundo o estudo da ONU sobre o Índice de Felicidade Mundial realizado pela universidade Colúmbia de Nova Iorque, a felicidade mundial aumentou ligeiramente em relação a anos passados. O norte é mais feliz que o sul, tem mais confiança. Nos países desenvolvidos, as mulheres são mais felizes do que os homens, enquanto nos países em desenvolvimento se passa o oposto.

A ordem de felicidade por países: 1° Suiça,2° Islândia,3° Dinamarca, 4° Noruega, 5° Canadá, 6° Finlândia, 7° Holanda, 8° Suécia, 9° Nova Zelândia, 10° Austrália, 15° Estados Unidos, 16° Brasil, 26° Alemanha, 88° Portugal.

Dos países qualificados, os dez países menos felizes seriam o Afeganistão e países africanos. Os indicadores de felicidade do questionário efectuado abrangiam sistemas sociais, mercados do trabalho bem como perguntas sobre a autopercepção das pessoas (bem-estar mental, liberdade na tomada de decisões, ter alguém em quem se confia, falta de corrupção, esperança de vida saudável, etc.).

A investigação sobre a Felicidade de um povo é uma boa iniciativa dado orientar a atenção do cidadão e dos políticos para um objectivo que deveria ser o mais importante da política. A satisfação da vida e o bem-estar social deveria estar na agenda de todo o deputado e do governo.

Naturalmente haverá povos de caracter mais alegre que outros, o que torna difícil a interpretação da qualificação da felicidade de uns países em relação a outros. A maneira de compreender a vida é muito diferente de cultura para cultura. Há povos por natureza mais satisfeitos que outros.

Talvez por falte de uma ciência da felicidade ainda não se saiba como fazer os cidadãos felizes.

O Botão foi o primeiro país que colocou como objectivo do governo a felicidade pública. Aí os indicadores de felicidade apresentados eram: bem-estar psicológico, equilíbrio entre vida pessoal e trabalho, vitalidade comunitária, educação, preservação cultural, proteção ambiental, boa gestão governamental e segurança financeira.

O grau de esperança é um elemento e um indicativo da felicidade de de uma pessoa. Ela empresta à realidade vestidos mais agradáveis e coloridos! Quem já tem tudo poderá ter o gozo do desejo saciado no tempo mas, apesar de tudo, não ser feliz! Pode-se ter gozo sem se ser feliz, porque o gozo é a felicidade da parte enquanto a felicidade é o gozo do todo. A felicidade é rara porque gozo é um estado, um momento e felicidade é ser, o ser que não é soma dos momentos. A felicidade está ligada à saudade que goza a dor do não viver!Também é verdade que, por vezes, se vive com felicidade mas sem gozo porque o gozo depende também do parceiro, tem a ver com o próximo!

António da Cunha Duarte Justo

Jornalista

www.antonio-justo.eu

CALÇAS DE GANGA E OS CUSTOS DA LIBERDADE

Um exemplo de efeitos da globalização

António Justo
As calças de ganga tornaram-se em símbolo de liberdade.
0,8% da produção mundial de algodão para calças de ganga provém de agricultura biológica.

Uma costureira de calças de ganga ganha em Bangladesch 65 euros por mês (antes da catástrofe em 2014 ganhava 37 euros por mês).

75% do preço de umas calças de ganga são para os revendedores (retalhista dois terços) e para a empresa de marca (um terço).

24% são para material e transporte

1% são custos do trabalho. Por umas calças que custam 49 euros a trabalhadeira recebe 0,49 €

Para a produção de umas calças de ganga (plantação de algodão e acabamento com produtos químicos) são precisos 8.000 litros de água. Só para o branqueamento de umas calças de ganga com cloro são utilizados 60 litros de água (para comparação, um alemão utiliza 128 litros de água por dia). No tratamento de umas calças de ganga são usados até 700 produtos químicos.

Umas calças precisam de percorrer 19.000 km até chegarem ao vendedor na Alemanha. O algodão é cultivado na Índia ou Cazaquistão, fiado em fios na Turquia, colorido em Taiwan, tecido em pano na Polónia e com ele são feitas as calças de ganga na China.

Em 2013 a Alemanha importou 114.000.000 calças de Ganga. Por isso a média do custo de umas calças de ganga na Alemanha são 8,77€. Na França e na Itália o preço médio de umas calças de ganga são 15€. A diferenca dos preços vem do facto de a Itália e a França importarem apenas um terço da quantidade que importa a Alemanha. Para esta informação servi-me dos dados para a Alemanha referidos no HNA de 25.04.2015.

O preço da moda obriga! A indústria têxtil é mundialmente a maior poluidora. A globalização, no que se refere à ganância de lucro tem consequências horrendas: destrói o saber ancestral e hábitos culturais, coloca os trabalhadores num combate de concorrência internacional desesperada e não respeita o ambiente.

Se na Europa os consumidores por razões éticas deixassem de importar os produtos Fast Fashion quem sofreria as consequências seriam as trabalhadeiras dos países da produção. Moralmente repreensível são as empresas que adquirem lucros à custa da humanidade. A sociedade precisa de uma mudança de pensamento, de uma nova mentalidade.
António da Cunha Duarte Justo
www.antonio-justo.eu

700 Refugiados naufragados no Mediterrâneo

Drama dos Refugiados – Um Problema sem Solução?

António Justo
As notícias catastróficas sobre refugiados que tentam atravessar o Mediterrâneo para a Europa multiplicam-se de dia para dia; o número de naufragados subiu, esta última semana, já para mais de mil.

Segundo a agência da ONU para refugiados do ACNUR, deu-se agora (19.04.2015) a maior tragédia no Mar Mediterrâneo com refugiados. A 10 km da Líbia afundou um arrastão com 700 pessoas a bordo, dos quais apenas 28 puderam ser salvos.

Dias antes, segundo a organização de ajuda humanitária Save the Children tinha naufragado já um navio ao largo da costa da Líbia, com 560 refugiados/imigrantes. A Guarda Costeira italiana ainda conseguiu salvar 144 dos naufragados.

Desde o início deste ano, já foram salvos 19.000 imigrantes.

Operações de salvação de imigrantes/refugiados – Mare Nostrum e Frontex

Em Novembro de 2014, a Itália deu por finda a operação (“mare nostrum”) de salvação de migrantes vindos das costas da Líbia” e iniciada depois do naufrágio de Lampedusa onde morreram 400 imigrantes líbios em Outubro de 2013. Esta operação italiana custou 114 milhões de euros e conseguiu salvar 150 mil vidas em perigo de naufragar no mediterrâneo.

Para poupar dinheiro e para, alegadamente, não facilitar o trafego dos traficantes contrabandistas de refugiados e para não se tornar num incentivo para outros refugiados, a UE não continuou a missão salvadora “mare nostrum”, criando, em vez dela, uma patrulha (“Triton”) a operar no alto-mar mediterrânico que faz o rastreio de barcos (impedir barcos ilegais e salvar pessoas). A Marinha dos estados membros e a Agência de Patrulha de Fronteiras (Frontex) só podem operar no âmbito de 30 milhas náuticas das fronteiras da UE, o que facilita a vida aos traficantes de imigrantes/refugiados.

Entre os Estados membros não há acordo em criar estratégias mais eficientes atendendo também à situação mercantil com os refugiados e aos concorrentes interesses e compromissos históricos dos diferentes países europeus em relação a África. (A Inglaterra não participa na Frontex).

Por outro lado, uma política de distribuição equitativa dos imigrantes pelos diferentes países membros revelar-se-ia injusta. A agravar a situação está o facto de a grande maioria de imigrantes serem muçulmanos e estes se organizam em guetos que se definem, geralmente, na autoafirmação e contraposição em relação à cultura não muçulmana. Por um lado, os imigrantes/refugiados trazem sangue novo e contribuem para o rejuvenescimento de uma Europa já envelhecida, por outro trazem imensos custos, a curto prazo, no que respeita a medidas de alojamento, formação escolar, profissional e de integração no mundo social e laboral.

A UE encontra-se dividida entre o combate às organizações de tráfico (quadrilhas de contrabando) que fomentam o trafego com refugiados cobrando entre 4.000 e 7.500 Euros por pessoa, pela sua passagem para a Europa, em condições míseras e desumanas, e o regime jurídico a aplicar: as autoridades europeias têm dúvidas sobre a definição do estatuto dos refugiados que se for de ordem económica, não dá direito a asilo, e se for de ordem política implica o direito a asilo no país onde aportarem.

Esta nova catástrofe motivou a intenção de criar novas iniciativas a nível europeu. Neste sentido pensa-se na extensão da missão de salvação “mare nostrum” a nível europeu e a medidas nos países costeiros africanos. “Mare nostrum” tinha a vantagem de detectar o perigo nas zonas costeiras da Líbia.

Muitas das famílias dos refugiados/imigrantes vivem em situações críticas no que respeita à segurança, à corrupção das autoridades da alta jerarquia e a dificuldades económicas e por isso procuram enviar os seus jovens mais robustos para a Europa para que, uma vez que tenham um lugar de trabalho, possam enviar dinheiro para elas.

As nações e a ONU enviam bastante dinheiro para projectos de desenvolvimento e de infraestruturas mas, como não há controlo, muito do dinheiro é desviado, enquanto projectos pequenos, a nível regional de Autarquias, Aldeias, no dizer de Cap Anamur, são eficientes: “à medida que se sobe na jerarquia aumenta a corrupção”.

Rotas dos refugiados ilegais

Segundo menção da imprensa alemã, as rotas de proveniência da maior parte dos refugiados ilegais, em 2014, foram: Europa de Leste com 1.270 refugiados (vindos do Vietnam, Afeganistão e Geórgia), Europa do Sul com 43.360 refugiados (do Kosovo, Afeganistão e Síria), Grécia com 8.360 (da Albânia, Macedónia e Geórgia), Mediterrâneo Oriental com 50.830 refugiados (da Síria, Afeganistão e Somália), Canárias com 275 refugiados (de Marrocos, Guiné e senegal), Mediterrâneo Ocidental com 7.840 refugiados (dos Camarões, Algéria e Mali) e Mediterrâneo Central com 170.760 refugiados (da Síria, Eritreia e Somália).

A esperança desesperada tenta a ilegalidade como meio para melhorar a vida. Fogem do Iraque, da Síria, da Líbia, do Afeganistão, do Iémen, de Marrocos, de Mali, etc. Fogem à guerra, à injustiça e à pobreza. Explorados por quadrilhas traficantes, vêem a sua vida ameaçada até atingirem a cortina europeia da Itália, Grécia, Bulgária ou Espanha. Chegados a um país europeu vêem-se confrontados com burocracias e costumes estranhos bem como com o receio de parte da população dos países de recepção que vêem a sua identidade cultural ameaçada e as finanças das comunas sobrecarregadas.

Devido à contínua afluência de refugiados à Alemanha já se observam actos de vandalismo contra casas que são preparadas para a recepção de refugiados e uma crescente oposição de grupos que se manifestam contra políticos que a nível local tomam iniciativas de criar lugares de alojamento para refugiados. Por outro lado assiste-se na população alemã a uma grande participação em medidas de ajuda concreta a refugiados.

Para não se sobrecarregar a sociedade com problemas de integração a sociedade acolhedora terá de garantir o sucesso aos refugiados que encontrem guarida entre nós, indo de encontro às suas necessidades humanas, nos diferentes níveis de acolhimento. Por outro lado os migrantes muçulmanos terão de mostrar mais vontade de respeitar a mentalidade dos países acolhedores não se rebelando contra a integração.

Num barco saído da Líbia (14.04.2015), com 105 imigrantes, tripulantes muçulmanos lançaram 12 cristãos ao mar, encontrando-se agora 15 dos prováveis assassinos (da Costa do Marfim, Mali e Senegal) a contas com a justiça italiana em Palermo. A realidade ultrapassa a nossa fantasia: no mesmo barco, na procura de salvação em terras cristãs, imigrantes muçulmanos perseguem companheiros cristãos em nome da sua religião! Em casas para refugiados na Alemanha tem havido contendas entre refugiados que se agridem devido à sua diferença religiosa.

Muitos africanos passaram o primeiro colonialismo na sonolência e agora como imigrantes têm medo de ser colonizados pelo ocidente civilizado. Antigamente os “chefes” forneciam escravos à Europa em troca de algum dinheiro e hoje fornecem-nos matéria-prima deixando os seus cidadãos passar mal.

Combater as causas e não apenas as consequências da catástrofe humana, será a grande tarefa da UE, procurando fomentar perspectivas de vida digna nos seus países de origem e criando um ambiente favorável à integração dos hóspedes chegados. Sem uma abertura mútua entre hóspedes e hospedeiros acumular-se-ão problemas e criar-se-ão situações futuras perigosas para toda a população.
António da Cunha Duarte Justo

Jornalista
www.antonio-justo.eu

A EUTANÁSIA E A MORTE ORGANIZADA

Ponderações sobre o Suicídio assistido

António Justo
Fala-se da “eutanásia ativa” e da „eutanásia passiva”. A “eutanásia ativa” implica a opção pela morte individualmente deliberada por um enfermo incurável e assistida pelo médico que, a pedido do paciente, lhe prepara um cocktail mortal (“suicídio assistido”).

Na “eutanásia passiva” são interrompidas as acções que tenham por fim prolongar a vida. O paciente pode determinar não querer a utilização de instrumentos nem medidas de prolongação da vida Este prática já é muito comum em pacientes de estado terminal. O alívio do sofrimento torna-se prevenção contra suicídio e ajuda a evitar o desespero da vida e possibilita a assistência espiritual. No processo da morte, moribundos chegam a ter momentos de alegria e felicidade e momentos de desespero.

Os defensores do “suicídio assistido” costumam argumentar com o direito do indivíduo à autodeterminação e alegam querer evitar situações “sem qualidade de vida”.

Na Alemanha é proibido o suicídio assistido. A maioria dos filiados nos partidos da União CDU/CSU é contra o suicídio assistido; defende a medicina paliativa em que se receitem analgésicos (contra a dor) mesmo que indirectamente encurtem a vida. O SPD, partido da coligação, expressou a opinião de deixar espaço livre aos médicos em questões terminais (situações limite). O partido os Verdes protagoniza a liberdade de decisão e em casos especiais estende-a também a familiares e pessoas mais próximas. Muitos parlamentares dos vários partidos são de opinião que é suficiente a melhoria dos cuidados paliativos no hospício.

O Porquê do não à Eutanásia

A liberdade de autodeterminação no suicídio (porque só no fim da vida) não parece ter lógica. A razão não pode justificar o direito de matar ou de morrer. Além disso, o ser humano é ele e as suas circunstâncias e estas podem conduzi-lo ao medo de ficar só, de se tornar num fardo para outros, de se encontrar num momento depressivo e deste modo ser motivado a desejar a morte, num determinado momento. É problemático argumentar, em nome da autodeterminação, porque esta tem sempre a ver com as circunstâncias… Os momentos de dificuldades não são os melhores conselheiros para se tomarem decisões irrevogáveis.

A ajuda ao suicídio não pode ser uma missão do médico nem é uma questão a ser organizada a nível de negócio. A ética médica tem em conta o juramento de Hipócrates, que se compromete a defender e preservar a vida; eutanásia é homicídio e como tal fora do âmbito da ordem dos médicos. A Ordem dos Médicos alemã, numa tomada de posição a 12.12.2104 declarou repudiar veementemente o suicídio assistido por médicos. A sua conduta é a orientação pela “ regulamentação profissional dos médicos que diz que é dever dos médicos preservar a vida”. Só a vida, a saúde tem de ser protegida e restaurada, o sofrimento deve ser aliviado e praticada a assistência aos moribundos.

Há casos de consciência em que o médico se pode encontrar num dilema mas que não pode ser solucionado com uma lei porque uma “excepção normalizada” poderia tornar-se regra, como advoga o actual ministro da saúde na Alemanha.

A religião é contra o suicídio assistido porque considera a vida como um dom sagrado. Para o cristianismo o ser humano não se deixa reduzir à biologia nem a sua vida pode ser deliberada pelo Estado nem por qualquer instituição. De facto a eutanásia é um acto contra a natureza e inclui também o perigo da industrialização da morte e do distanciamento familiar. A mentalidade economicista em via e a maneira como já se tratam os reformados não deixa pressupor o melhor desenvolvimento no sentido humano.

Nenhuma diagnose é segura, há sempre pessoas que apesar de diagnosticadas de doença mortal se restabeleceram. A eutanásia é decisiva e não deixa lugar para rever a decisão tomada no caso de condições mudarem.

As pessoas são manipuláveis pelo ambiente e pelo espírito do tempo. Vivemos numa sociedade utilitária que cada vez mais avalia tudo em relação aos custos. No nacional-socialismo tornou-se comum a destruição de “vida inútil”. Pessoas deficientes, operações a partir dos 70 passam a ser encaradas sob a perspectiva utilitária. O nacional-socialismo de Hitler determinava o que era digno de vida e o que não.

Morrer é um processo natural. Morrer dignamente não precisa de suicídio assistido.

Já o Antigo Testamento considerava a vida como oferta de Deus (Gen 2,7) e recomenda: “não deves matar (Ex 20,13). A maneira como se tratam doentes e moribundos é um indicador do grau da civilização de um povo. “Nunca é lícito matar o outro: ainda que ele o quisesse, mesmo se ele o pedisse (…) nem é lícito sequer quando o doente já não estivesse em condições de sobreviver” (Santo Agostinho in Epístola).

Não se tem o direito de decidir sobre vida ou morte. O tabu da morte serve o respeito e a protecção da vida como um direito fundamental das pessoas. A licença para matar viria da barbaridade que veria a morte como último remédio.

Há pessoas habituadas a mestrear toda a sua vida e querem determinar também o seu momento de morrer. Muitos defendem que uma motivação religiosa não dever ser alargada a toda a população. A decisão sobre a vida não é da competência de nenhuma instância humana, pelo que não deveria ser legalmente privatizada nem deixada a nenhuma instituição.

Quem assiste pacientes terminais de casos muito difíceis, sente-se, muitas vezes, desafiado e indefinido. Por trás de cada posição encontra-se um juízo de valor. Não há soluções definitivas, há que viver com a morte…

Um Testemunho pessoal

O teólogo Hans Küng, que sofre de Parkinson, defende o direito à eutanásia no fim da sua vida. “Eu assumo a minha responsabilidade para o meu morrer na devida altura, uma responsabilidade que ninguém me pode tirar… Deus oferece-me a graça, assim espero eu, de reconhecer o verdadeiro momento; o mais tardar seria para mim, certamente o início duma demência”. Küng considera a vida como um dom de Deus mas ao mesmo tempo, segundo a vontade de Deus, a vida é uma missão do Homem e, como tal, também na sua última etapa. “Ninguém deve ser incitado a morrer mas também não deve ser obrigado a viver” ( Hanns küng em “Menschenwürdig sterben von 2009”). É uma questão reservada á consciência da pessoa. A crença na vida eterna para lá do espaço e do tempo não precisa de se preocupar com o prolongamento da vida temporal.

O médico e o padre podem acompanhar o desejo de morrer. Não é sua missão julgar nem condenar mas assistir. Temos que viver com a incerteza. Informação venha ela de onde vier é também manipulação.

O Negócio com a Morte

Países baixos, Bélgica, Suíça tornaram-se em países do turismo da morte. Forças económicas dos países vizinhos olham com inveja para estes países.

Há grupos que fazem negócio com a vida prolongando-a e outros encurtando-a.

É perverso, querer fazer-se um negócio sob o desígnio da humanidade e de defender a dignidade humana. A propaganda vem mais de organizadores da eutanásia que ganham dinheiro com ela. Se o seu motivo não é económico mas humanista então porque o não fazem gratuitamente.

A meta não deveria ser uma morte humana mas uma vida humana. Numa época em que a eutanásia é idealizada, a organização do suicídio assistido torna-se trágico.

Conclusão

O teólogo Küng não defende o suicídio assistido mas reserva-se para si o direito de assumir a responsabilidade da sua morte no momento oportuno. É contra a recusa absoluta de toda a eutanásia e contra a arbitrariedade do morrer; opta por um meio termo que segundo ele se funda na fé pessoal. Küng, como cristão responsável, fala por si e não em nome da instituição.

A Igreja petrina, pelo seu caracter constitucional, não pode ser pela eutanásia. A nível pastoral, sabe que a vida é oferta, uma dádiva a ser cuidada e desenvolvida e não encurtada nem reduzida a uma simples ideia sobre ela, mas conhece também o princípio da ética cristã: o último juiz em questões de decisão na terra é a consciência individual da pessoa.

Os textos sagrados não se perdem na lógica; permitem a contradição. Se fossem lógicos limitar-se-iam ao caminho da ciência. Assim podem-se dedicar às verdades eternas através da fé. Esta é dom que permite navegar noutras esferas que não as do dia-a-dia demasiadamente determinadas pelo utilitário.

Não é fácil nascer nem é fácil morrer; nos segredos da existência só Deus e a própria consciência!
António da Cunha Duarte Justo
Teólogo
www.antonio-justo.eu