Resultado das Eleições na Alemanha – Ângela Merkel um Fenómeno

Consequências para a União Europeia

António Justo

A Alemanha elegeu e Ângela Merkel venceu. A CDU/CSU (União dos cristãos sociais-democratas) venceu com 41,5% dos votos, seguida do SPD com 25,7%, Die Linke 8,6%, Verdes 8,4%, a FDP 4,8%,  AfD 4,8%, Piratas 2,2% e restantes 4,1% . A união recebe 311 assentos no parlamento, o SPD 192, o Die Linke 64 e os Verdes 63. 

Surpresas: a chanceler é indomável, a União é o único partido popular, o FDP que tinha 5 ministros no governo de coligação de Merkel não chega a entrar sequer no parlamento e o AfD (“Alternativa para a Alemanha” – partido contra o euro), conseguiu em seis meses, depois da sua fundação, um resultado de 4,7% dos votantes, advindos sobretudo da antiga Alemanha socialista. O AfD não conseguiu porém superar a barreira dos 5% que lhe possibilitaria o salto no parlamento, preparará porém muitas dores de cabeça à União. Uma coligação da esquerda (SPD, Verdes e Linke), embora matematicamente possível, torna-se irrealizável, também pelo facto do SPD e dos Verdes não aceitarem fazer coligação com Die Linke (comunistas).

Merkel terá de fazer coligação com o SPD ou com os Verdes. Um e outro partido têm medo de Merkel embora ela seja uma técnica do poder, de estilo presidencial, mas muito exigente na disciplina. O mais viável será uma grande coligação com o SPD. Este, teria a oportunidade de, no meio da legislatura, provocar uma crise governamental, mas Merkel poderia socorrer-se então dos Verdes como parceiros de governo. O socialista francês Hollande desejaria uma grande coligação de Merkel/SPD porque poderia, deste modo, ganhar mais influência nas redes socialistas da EU, por outro lado teria de aguentar com a pressão dos companheiros alemães no sentido de forçarem os socialistas franceses a fazerem as reformas que a Alemanha fez há dez anos e que a colocou na avançada do jogo económico europeu!

Governar na Alemanha não é fácil porque há um contrapeso regional dos Länder que no Bundesrat (Conselho Federal) podem bloquear ou aferir leis provindas do parlamento, devido ao contrapeso partidário a níveis de estados federais. Dos 16 Estados federais só 6 são regidos pela União (CDU/CSU).

Apesar de todas estas barreiras, o povo alemão possui uma vantagem em relação a outros Estados, tem um sistema partidário que, sem ser nacionalista, pensa primeiro no bem da nação e só depois no bem do partido. Esta é uma razão, entre outras, porque os partidos alemães não aceitam fazer coligação com Die Linke. Esta é também uma razão do sucesso alemão, usando um mínimo de ideologia e um máximo de especialização.

O povo está contente com a política da Chanceler, conhecem-na desde há oito anos como chanceler e não quer experimentações. Com excepção do SPD que conseguiu melhorar o resultado em 2,7% em relação à última legislatura, todos os outros partidos perderam.

A Europa aprenderá a gostar de Ângela Merkel

Isto terá consequências para o trabalho na EU. Os alemães estão descontentes com o trabalho da Comissão Europeia; o instrumentário burocrático da EU tem-se revelado ineficiente com as medidas desenvolvidas nos últimos 5 anos no sentido de sair da crise. A Alemanha ficou chocada com os 150 mil milhões de Euros que perdeu com a crise dos bancos, que continuam a criar problemas. Ângela Merkel tem medo que o dinheiro investido na salvação de países em crise tenha um paradeiro semelhante ao da crise dos bancos e em que os credores/contribuintes e Estados terão de pagar a factura. Reconhece porém que é preciso fazer mais no sentido de investimento nos países com maior crise económica. Tem por outro lado dentro do país uma força popular crescente contra o Euro.

Tudo isto complica as decisões políticas de futuro numa EU em que cada país, continua a orientar a sua visão para o umbigo do próprio país (talvez Portugal esteja a fazer uma dolorosa excepção, o que torna injusta a situação em relação aos portugueses).

 A Alemanha continuará com uma política orientada para a economia real, isto é, em favor do curso de poupança. Neste sentido, a política irá favorecer, na EU, a fortificação das decisões a nível de chefes do governo, mais à margem do parlamento europeu; isto porque se prevê nas próximas eleições para o parlamento europeu (próximo ano), uma maior quantidade de deputados críticos da EU, o que complicaria decisões de compromisso. Dado a Alemanha e a França se encontrarem descontentes com a EU e a Inglaterra descontentíssima, a política irá no sentido de menos Europa e mais núcleos de Estados.

A Alemanha sente-se com responsabilidade pela Europa e certamente exigirá mais pessoal importante e da sua confiança na ocupação de postos na EU e na Nato. Merkel também não conseguirá continuar a adiar o desejo de estados europeus, como Inglaterra e França,  que querem da EU uma política de segurança semelhante à americana. Não será fácil para Merkel conseguir uma política que consiga unir conservadores e progressistas, a nível europeu na feitura de leis, no sentido de se nivelarem lucros e défices na competição entre os países.

A força da opinião pública alemã é muito forte perante o governo e ela exige da política consolidação e poupança no orçamento. A economia alemã, em quarto lugar a nível mundial, determinará o futuro da Europa. O presidente francês reconhece que a miséria financeira em que se encontra o obriga a encostar-se à Alemanha. A Europa terá de se encostar à Alemanha por convicção ou por oportunismo. A Alemanha sozinha tornar-se-ia um perigo económico para os outros países europeus e a Europa sem a Alemanha seria economicamente uma desgraça.

António da Cunha Duarte Justo

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Estratégia do colonialismo económico – Suborno cultural

Repensar a Democracia bruta sem Base nem Heróis

 

António Justo

 

O colonialismo económico é um polvo que adapta a sua cor ao sistema político e cultural. Actualmente tornou-se mais forte que a cultura: antes procurava miná-la e agora passou a determiná-la. Tornou-se abusador da Democracia na sua guerra contra as culturas.

 

Para tal, a ética política deixa de ser fundamentada nos valores culturais para ser determinada apenas pela economia liberal de mercado. Consegue-o impondo o pragmatismo/utilitarismo como filosofia política e de vida. O povo encantado dança a sua música, ao ritmo da flauta mágica do mercado.

 

Tornamo-nos todos espectadores de uma guerra, até hoje inaudita, a guerra das elites económicas contra as culturas. Na velha sociedade a burguesia determinava o andamento cultural; na actual são os novos-ricos que determinam o que se há-de acreditar e fazer. A maquinaria económica globalista destrói, por um lado, a dinâmica das estruturas sociais e culturais nacionais e, por outro, desestabiliza os Estados intervindo neles através do fomento da concorrência terrorista seja a nível de grupos subversivos seja a nível de produtos económicos. As sociedades dão continuidade à cultura da guerra, já não a nível de guerras declaradas entre nações, mas numa grande guerra económica liberal de guerrilhas ao serviço de alguns.

 

 A nossa democracia nasceu sob o prelúdio ideológico da guerra fria; pretendia abandonar um colonialismo suave e entrou no colonialismo rijo europeu, de cunho cada vez mais americano e universal. De colonizadores passamos a ser colonizados, primeiro por ideologias e depois pela Europa central que acabou com a nossa independência nacional (imperialismo da Troika: oligarquia europeia e mundial!).

 

A cultura é sistematicamente minada por uma política de legionários estrangeiros, bem pagos, que de patriótico só têm o sorriso. Modificam os nossos padrões de vida no sentido do liberalismo económico das grandes economias sem alternativas de sobrevivência honrada para os pequenos. Antes da opção da economia pelo globalismo, ela vivia principalmente da exploração da classe operária dentro do próprio país e da sua disciplinação através do recurso à imigração; com o globalismo e o seu instrumento Euro, a economia opta pela estratégia da exploração económica e social dos Estados. A estratégia de desestabilização político-económica e cultural dos países tem-se mostrado muito profícua para um capitalismo pragmático apiado, a nível estratégico, por um socialismo indutivo generalizado, também ele destrutor do sistema de valores culturais transmitidos e da coerência social dentro dos estados. Actualmente, grande parte do que se apresenta como desenvolvimento consequente da cultura ocidental, revelar-se-á como seu cangalheiro. A Aliança despercebida, em via, de capitalismo e marxismo como modeladores do pensar político correcto, revela-se altamente eficiente no seu sentido, tendente a idealizar o sistema chinês (nova forma de poder político integradora de capitalismo e socialismo). Com a cajadada na ética cultural enfraquecem os Estados de cultura e ao mesmo tempo fomentam a guerrilha entre as classes operárias e burguesas dos diversos países. Transfere a exploração da classe operária para a exploração dos Estados. A nível social interno, roubam a dignidade às crianças e aos velhos e transformam os cidadãos em pedintes de trabalho. O pragmatismo do mercado financeiro aproveita-se do nosso sistema partidário, todo ele demasiado reaccionário e fixado ainda nas filosofias do século XVIII e XIX. Quer esquerda quer direita são portadoras dum gene capitalista e socialista desumano que os atrela à economia.

 

As elites levedam a massa de modo a ser cozida no seu forno

 

O proletariado e as pequenas burguesias mantêm-se atraídos a espectáculos de feira, deixando-se distrair em discussões e campanhas que têm como objectivo desestabilizar o seu inconsciente cultural e deste modo desenraíza-los e disponibilizá-los para a aceitação das leis dum mercado anónimo e bárbaro. A elite do dinheiro e do oportuno consegue proletarizar a mentalidade de forma que esta reconheça, como não adequado, tudo o que aponte para a formação de personalidades e vontades com a capacidade de reconhecer não só a linha do horizontal como também a linha do vertical com componentes da dimensão real (intelecção e pragmatismo).

 

Assim, no autocarro da democracia insurgem-se grupos contra heróis e santos porque a sua presença e aura seria uma afronta à igualdade da massa democrática que se quer insegura, proletária, de cabeça baixa, sem horizonte nem Sol. O destaque reserva-se para o acidental dum vedetismo culto que se finge sem culto no firmamento da economia. A democracia quer-se “esclarecida e moderna” e, para tal, burla-se a massa mudando o nome às coisas e criando uma ética negativa negadora da comunidade e da verticalidade. A admiração e a gratidão, própria de amimais superiores já não parecem adequadas a uma massa que se quer não levedada, numa democracia bruta a viver só ao nível das necessidades vitais primárias. Esquece-se que até no reino irracional há valores superiores, valores de sintonia e solidariedade que brilham como o Sol no horizonte da caminhada.

 

Aquando da morte de Lawrence Anthony, que dedicou sua vida a salvar elefantes, deu-se um fenómeno insólito. Elefantes selvagens, pressentindo o falecimento do seu amigo, a muitos quilómetros de distância, deixaram a reserva, pondo-se a caminho da casa dele durante dias. Dois dias depois da morte de Lawrence (7.03.2012), 31 elefantes, em duas manadas, chegaram à sua residência sul-africana depois de terem andado 20 Km. Ficaram, dois dias sem comer nem beber, a fazer o luto pela morte do amigo; depois de prestada a homenagem voltaram para a selva. O reconhecimento e a gratidão não diminuíram a honra dos elefantes, pelo contrário, prestigiou-os, elevando-os à categoria de humanos.

 

Porque há-de o brilho duma outra pessoa ensombrar o meu brilho? Uma sociedade temperada com o adubo da concorrência facilmente se deixa ofuscar pelo fumo da inveja. Palavras como, virtude, sacrifício, caridade, missão, respeito, Deus, são enxovalhadas por questionarem o pensar propagado pelo pragmatismo hedonista corrente. Naturalmente que também as palavras estão sujeitas a evolução e há palavras distintas como a palavra mártir que são desacreditadas pela prática dos “mártires” muçulmanos suicidas que se matam matando. Esta é, porém, a negação da ideia de sacrifício que implica entrega amorosa pelos outros. A existência de pessoas respeitadoras da atitude de cada um, mas dedicadas ao voluntariado, ao serviço dos mais necessitados em hospitais, bairros pobres, missões, etc. parece incomodar pessoas que optam por estilos de vida mais orientados para o gozo imediato. A ideologia vigente não tolera, fora dela, luzeiros, porque prefere viver da banalidade do quotidiano irreflectido esquecendo que a natureza também tem lugar para os outros.

 

As boas obras têm uma aura respeitadora enquanto as más têm uma força arrastadora para o mal. A reflexão crítica que, por vezes, se levanta contra heróis, quer desconhecer as diferentes fases de desenvolvimento de cada individualidade. É óbvio que senhores de sucesso dúbio não gostem que se louve o sucesso alcançado servindo.

 

Uma ideologia irreflectida opõe-se ao heroísmo porque vê nele um ataque ao status quo, à igualdade democrática e ao princípio da comparticipação, como se a igualdade jurídica acabasse com as diferenças dentro da espécie ou do género. Também a democracia tem produzido muitas vítimas: as vítimas anónimas da concorrência desleal, de bens, de armas e da discriminação. Onde há vítimas precisam-se salvadores! Não precisamos de nenhuma casta que seja divinizada. Todos nós trazemos connosco o gene divino mas isso não significa que haja uma inclusão de igualdade pela rasoura como se não fossemos todos dignamente diferentes e como se a diferença não fosse um valor consagrado pela natureza. É óbvio que cada pessoa tem o direito moral a uma atitude interior de poder actuar ou não segundo requisitos morais. O dissenso deve originar-se em relação ao mal e não ao bem. A lógica dos críticos acerbes do heroísmo teria como consequência a desistência de todo o desporto e até de qualquer investigação científica que desse origem a um prémio Nobel. No desenvolvimento da identidade individual e da identidade de sociedades haverá sempre a rivalidade de incongruências a humanizar. No que toca ao heroísmo também há muita exploração dos sentimentos humanos em todas as eras. O facto de cada pessoa ser igual perante a lei não a iliba da diferença pela positiva ou pela negativa. A paz precisa de heróis porque se encontra embotada sob o manto duma democracia com políticos imunes sem rosto, demasiado iguais, e dum povo de rosto cada vez mais igual porque lavado na lixivia cultural da massa. Não se trata de defender aqui um modelo de sociedade antiga de caracter mais voluntarioso nem de condenar uma sociedade moderna permissiva; trata-se de reflectirmos para melhor podermos ser nós a decidir, sem os superegos antigos ou modernos, na construção dum mundo, cada vez, melhor.

 

A inveja e o individualismo parecem, por vezes, justificar a sacarificação da cultura à massificação de ideias leves e a uma proletarização de atitude e de espírito. A nossa democracia representativa tem muitas coisas boas, mas padece da falta de heróis do bem-comum: falta-lhe rebeldes da democracia (também de sindicatos e patronatos) que interfiram no processo, de modo a poder dignificá-lo. Para progredirmos, será indispensável repensar a nossa cultura em termos de restauração dos valores culturais pilares do nosso imaginário, cientes que a consciência individual e social precisa de contínua actualização (renovação). Ela tem sido devastada sistematicamente pelo barbarismo irresponsável de dançarinos dum pragmatismo engravatado ao serviço dos empertigados do poder. Para já precisamos de santos profanos e sagrados, de grupos fortes defensores da cultura, precisamos de pessoas da acção, que melhorando se melhorem. Os heróis da democracia não se encontram na mó de cima mas na mó de baixo. No sentido duma cultura cristã, herói não é o que ganha mas o que perde. Enquanto não entendermos esta lógica, a História continuará, cada vez mais na mesma, com a maior parte da sociedade a trabalhar para uma minoria abusadora e cínica.

 

Não chega uma ética pragmatista natural e económica: precisamos da matéria e do espírito como precisamos da comida e do ar para podermos viver; a primeira finalidade duma ética política será a cultura do bem-comum; uma ética respeitadora da alma da cultura numa tensão responsável, entre o velho e o novo, entre biótopo e cosmopolitismo, possibilitadora de uma motivação fundada e teleológica. Os interesses individuais precisam dum sistema que os integre.

 

Torna-se urgente uma política da justiça acompanhada duma política da verdade. Encontramo-nos a grande velocidade no retrocesso cultural. Deixar de acreditar na cultura, na solidariedade, na fé e no amor é voltar aos tempos bárbaros.

 

António da Cunha Duarte Justo

 

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Os Heróis que a Democracia não produz!

Os Heróis que a Democracia precisa são heróis do Bem-comum

António Justo

Cada cultura, cada ideologia elabora e produz a própria constelação de heróis e santos que precisa. A cultura de guerra gera os heróis da guerra, a cultura comunista gera os “heróis do trabalho”, a cultura mediática gera as estrelas, a cultura religiosa gera os santos, a cultura árabe afirma os heróis mártires-bomba… Temos heróis da guerra, do trabalho, dos média, da Igreja, do islão, só nos faltam os heróis da democracia.

A Democracia não pode ser reduzida a uma máquina de fabricar pessoas em série. Uma democracia viva precisa de heróis, carece de cidadãos, que arrisquem a vida, por algo nobre; doutra forma, fomenta poltrões e morrões.

No céu da nossa democracia só se notam estrelas enganosas, estrelas cadentes. O Sol deixou de brilhar no horizonte. Os cidadãos não mostram auréola e a cultura escurece. Uma cultura com horizonte precisa de heróis porque neles se reúne a força do povo.

A democracia não pode estar predestinada a produzir mediania. Ela carece de heróis próprios e os heróis que ainda não gerou são os heróis do bem-comum.

Os heróis realizam aquilo que o cidadão normal não está disposto a realizar na sua privacidade. São a consciência junta dum povo, encarnada numa vontade firme de alguém que se sacrifique pelo bem-comum. Actos de valentia exigem coragem e a disposição de entrega, até da própria vida, por uma causa nobre a favor do outro. O santo e o herói não têm medo do inferno nem da vida; não embrulha a vida em mordomias e honrarias adquiridas à custa do fascismo do todos juntos.

A valentia do herói quer-se cultivada no dia-a-dia da luta de cada povo; forja-se na luta contra o medo cultivado e contra a honra da mais-valia usurpada ao povo, contra uma democracia de elites a querer viajar sem bilhete.

O herói é o cidadão honrado que procura superar-se a si mesmo, superar a adversidade, guiado por ideais nobres ao serviço dos outros. Ela está consciente que a mediocridade arrasta mediocridade e o exemplo do bem arrasta o bem.

Não podemos continuar a suportar uma democracia geradora de mediania; a democracia está em perigo, precisa de heroísmo popular se quer ultrapassar a miséria do pensar correcto do dia-a-dia e sair do medo da insegurança assistida.

No momento do perigo, a nação consciente cria o heroísmo correspondente. Precisamos duma cultura que produza políticos, heróis do bem-comum, que exonerem a elite dos anti-heróis do bem-comum e da guerra. 

António da Cunha Duarte Justo

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A FARSA DA SÍRIA – Já não há Guerras Civis só há Guerras Democráticas no Interesse das Potências!…

 

 A Guerra dos Interesses económicos e geoestratégicos

António Justo

Em tempos democráticos também a guerra tem de ser democrática!… Por isso o espírito democrático ocidental, das grandes potências, tudo faz para que a guerra seja democrática e como tal surja do povo, mas lá fora, onde a democracia ainda não vive bem. Então os revoltosos chacinam e a TV alegra-se por poder mover a veia sentimental dum povo padecente não da guerra mas da sua “paz”. Depois a maioria dos cidadãos protesta e grita para que seus estados intervenham para porem cobro à barbárie alheia. Passados dois anos de desinteresse na formação dum governo de coligação do presidente Assad com os revoltosos, os janotas do poder (EUA, Inglaterra e França), cheios de compaixão pela dor dos seus, depois de terem enchido os seus rebeldes de armas até aos dentes, levantam as vozes, apregoando a intervenção mortífera como solução, em nome da humanidade. Como no Iraque e noutros lugares intervêm então para porem fim à cólera e depois se irem embora deixando a peste.

Só para relembrar: a Síria é o palco dos interesses entre dois pretendentes a serem potências hegemónicas no mundo islão: dum lado os interesses da Turquia (apoiados pelos EUA) como ponta avançada dos sunitas e do outro lado os interesses do Irão como representante dos xiitas. No Iraque também havia o mesmo conflito entre xiitas e sunitas e urdiram-se os mesmos pretextos para depor Saddam Hussein. Depois da intervenção armada dos EUA e coligação, a situação e as lutas entre os grupos rivais é muitíssimo pior que no tempo de Saddam Hussein.

Na Síria não há uma guerra civil, há uma guerra de rebeldes ao serviço de interesses estrangeiros (e dos extremistas islamistas) contra um estado de direito que por muito torto que seja, o seu direito não é menos torto do que o direito dos pacifistas armados. No seguimento doutras mentiras, à mentira do Iraque juntar-se-á a mentira da Síria. A pretexto de armas químicas pretende-se justificar uma intervenção militar. De qualquer modo a punição do uso de armas químicas só viria castigar Estados e nunca rebeldes que as usassem!…

Tal como na fase da motivação da população para a intervenção no Iraque, os meios de comunicação social quer europeus quer dos EUA, fomentam a histeria dum público aberto e preparado para toda a espécie de manipulação. Constroem-se cenários e multiplicam-se informações contraditórias para confundir quem só tem tempo para assimilar os títulos dos jornais e viver de uma opinião formada principalmente de desinformação. Para nós, os cidadãos bem viventes do Ocidente, também nos convém o engano que os nossos eleitos nos propagam. Confiamos-lhe a preocupação do nosso bem-estar e dele também faz parte a posse duma boa consciência. Por isso ficamos-lhes gratos por nos enganarem porque além do lucro do domínio temos o proveito da boa consciência. Somos alimentados a falar dos barbarismos dos outros, bem como dos barbarismos doutros tempos para não notarmos o aziúme das barbaridades de que vivemos. O não saber também ajuda a viver!

Hoje, no tempo das culturas globais, um conflito local passa a ter significado global, dado, as potências terem transferido as guerras para as regiões onde decorre o negócio. Hoje as linhas de batalha decorrem onde os interesses das potências colidem. Antigamente eram as monarquias que regiam os povos, hoje são as oligarquias das grandes potências. Por isso se passa da época das guerras para a das guerrilhas. Praticamente deixa de haver guerras civis para haver  guerras democráticas de relevo internacional!…

 

Como se constata, até a guerra se democratizou, sim, porque parte do povo. A estratégia muçulmana tem-se revelado como a de maior eficiência da nossa época, pelo que é aplicada com sucesso também pelas potências ou pelos países que pretendem sê-lo (caso da Turquia e do Irão). O Ocidente deixa nos seus países os estilhaços da guerra e eles trazem para o Ocidente os filhos da guerra.

 

Sim, o cidadão anafado prefere não saber para melhor viver! O futuro é sempre prometedor porque é futuro; não importa qual!

 

António da Cunha Duarte Justo

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POBRE SÍRIA PARA ONDE VAIS

A guerra muçulmana entre Sunitas e Xiitas ao serviço dos EUA e dos lóbis de armamento internacional

António Justo

A Síria é o palco da guerra muçulmana entre a confissão dos xiitas e a dos sunitas. A luta de influências entre os dois grupos é bem-vinda aos países da Nato porque lhe oferece a oportunidade de combater a influência russa na região e de fortalecer a Turquia como bastião avançado da NATO numa região que se pode estender pela Ásia Central, Rússia, Cáucaso, China, etc. Com a intervenção militar dos EUA, o Ocidente quer fomentar a soberania do islão sunita (Turquia) sobre o islão xiita (Irão). A Nato com a Turquia e a Arábia Saudita apoiam os rebeldes sunitas e a Rússia com o Irão apoiam o governo sírio e os rebeldes xiitas (xiitas Hezbollah).

Baschar al Assad, presidente da Síria, pertence aos muçulmanos Alevitas (uma comunidades islâmica liberal com raízes no islão xiita mas que não segue os 5 deveres do Islão, nem o seu sistema de direito-sharia, e não frequenta a mesquita, nem interpreta o Corão à letra e reconhece mulheres e homens como iguais – um argueiro no olho islamista). Como se vê a Síria oferece-se como o melhor campo de batalha para as rivalidades entre NATO e Rússia, entre as facções sunita e xiita, entre Irão e Arábia-Saudita, entre Ocidente e Irão, dando oportunidade a todos estes para apoiarem os seus grupos rebeldes e em nome deles transformar um conflito religioso local num conflito político-militar regional. Por isso a imprensa internacional dá tanta importância aos rebeldes que camuflam interesses estratégicos estranhos à Síria e no fim só se aproveitam os extremistas religiosos e o Ocidente na reconstrução. Resumindo: na Síria alinham-se os interesses dos aliados EUA, Turquia, Arábia-Saudita e dos sunitas contra os interesses da Rússia, do Irão e dos xiitas.

O conflito descarregado na Síria é quase uma cópia da “Guerra dos 30 anos” entre a confissão protestante e a confissão católica; por trás do conflito religioso encontrava-se o conflito entre o sacro império germânico e a Áustria (dinastia dos Habsburgo) que envolveram, nessa guerra, a maior parte dos países da Europa. Tal como na guerra dos 30 anos do séc. XVII em que os conflitos religiosos entre católicos e protestantes davam oportunidade aos países e principados europeus para tentarem impor o domínio duns sobre os outros, repete-se hoje um conflito religioso muçulmano não declarado entre as duas confissões na Síria, Paquistão, Afeganistão, Iraque, Egipto, Líbia ao serviço de tendências hegemónicas da NATO, Rússia, Turquia, Arábia-Saudita e Irão.

Os Média ocidentais estão, duma maneira geral, ao serviço duma informação confusa e confundidora, dado estarem também eles ao serviço dos interesses estratégicos e económicos do Ocidente; por isso favorecem uma intervenção do Ocidente contra a Síria. Quem paga a factura é o povo ocidental com impostos e a obrigação de receber os refugiados que o Ocidente produz e o povo muçulmano obrigado a manter-se sob o jugo divino e sob o jugo regimes despóticos. Este conflito, que não deveria ser nosso, só serve a escalação do poder e os interesses das indústrias de guerra e de reconstrução. Uma intervenção militar seria mais um acto da selvajaria que o Ocidente e a Rússia, com gosto, atribuem a outros povos não tão “desenvolvidos”.

António da Cunha Duarte Justo

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