A INDIGNAÇÃO JACOBINA NEUTRALIZA A RAZÃO

A Ideia de Vítima fomenta a Identificação

A meteorologia política depende dos altos centros ciclónicos de interesses e das consequentes trovoadas com rajadas de chuva causadas na população pelos meios de comunicação social.

Se olhamos para a política de informação sobre a Ucrânia tem-se a impressão que os Media se encontram em estado de excepção, alinhando tudo num ritmo de marcha marcial e na mesma direcção. A intensidade da marcha é tão violenta que muita gente já só repete o que ouve ou tem medo de dizer o que pensa.

Bernd Ttegmann adverte no Cícero 02 2022: “A liberdade de uma sociedade mede-se pela sua abertura. Quanto mais autoritário é um regime, mais rígido é o seu discurso público. Porque o que não pode ser discutido em público não pode tornar-se objecto de críticas aos poderosos”.

O discurso público cada vez se torna mais indiferenciado e autoritário e os políticos não se atrevem a dizer a verdade ao público preocupando-se mais em como empacotá-la para que este a possa aceitar! Manobra-se assim a opinião pública no sentido de se criar identificação fora de qualquer compreensão ou argumentação, o que cria um ambiente de hipocrisia. Num tal ambiente, passa a governar o medo dos de baixo e dos de cima! Na Alemanha já 30% de cidadãos desconfiam dos políticos!

O uso do crivo mental passa a ser um recurso tanto para emissores como para receptores! Formalmente reconhece-se a liberdade de informação, mas, concretamente, não, porque esta quer-se serviçal. Gera-se assim um sentimento de identidade e de identificação em torno da NATO baseado em estereótipos e mera diabolização do adversário. Dá-se alimento a um nacionalismo disfarçado, à semelhança do do sec. XIX que, impercetivelmente, vai aproximando a nossa democracia liberal à democracia oligarca da Ucrânia. O sentimento de vítima de parte da Ucrânia é transposto para o povo europeu gerando uma atitude de identificação e de indignação tão fortes que neutralizam a razão e a visão dos interesses do povo e da história europeia. Uma Europa, que deveria preocupar-se em ser melhor do que era, torna-se pior ao abandonar a bandeira da razão para seguir a bandeira do sentimento de vítima arvorado em absoluto movente de interesses obscuros. A estratégia de alinhar o povo em torno de uma vítima foi conseguida mobilizando o cidadão atrás da sua bandeira.

Daí, a grande importância da existência de distintos grupos de interesses numa sociedade que, em disputa, possibilitem a expressão de diferentes perspectivas para melhor se avaliarem os factos sociais e melhor se deliberar sobre eles. Numa sociedade democrática cada vez mais complexa, precisamos de moderadores para se evitarem soluções radicais e o surgir de autocratas ou de oligarcas.

Precisamos de Media críticos dos governantes e atentos, doutro modo correm o perigo de se tornarem seus meros altifalantes formadores da opinião pública. Nesta observa-se um clima de indignação refratária a argumentos que pelo tal se tornariam incómodos e perturbadores.

A liberdade de expressão tem sido submetida ao fragor rítmico da marcha do pelotão em vez de se dedicar à análise e à avaliação das acções, seus pressupostos e intentos.

Aqueles que não acolhem inquestionavelmente a guerra na Ucrânia, todas as medidas anti corona, etc., são rotulados publicamente como demagogos ou populistas perigosos e alguns chegam até a perder amizades pelo facto de não seguirem a corrente dominante (a ideologia chega a sobrepor-se à amizade!). Quem pretende uma opinião diferenciada é considerado perigoso ou colocado sob clima de pressão, a ponto de ter de se justificar em vão perante pessoas que não reconhecem argumentos porque só conhecem opinião feita.

Os formadores de opinião pública conseguiram incutir no povo o refrão da sua ladainha: nós encontramo-nos “do lado certo”, “nós somos os bons”, como se a realidade factual não fosse mais complexa e a maldade ou a bondade se lograssem empilhar de um lado ou do outro (1)! As elites conseguiram o aplauso das massas e apelidar a opinião dissidente de “controversa”! Desta maneira coloca-se no papel de Pilatos!

A indignação cria uma espécie de vigília no cérebro humano que remove parte das suas capacidades mentais para o colocar num estado de excepção e assim o disponibilizar para o radicalismo jacobino. Nós, ocidentais, estamos a perder, mais e mais, a consciência de que nos encontramos em estado de regressão!

Pelo que se tem observado nestes últimos meses,  Selensky decide o que temos de acreditar e fazer e os nossos governantes em vez de pensarem em estratégias de paz e compromissos alinham-se numa procissão de “reis magos” na direcção de Kiev. Mero porta-voz da NATO não quer saber de povo, de Europa preferindo seguir a lógica de que conflitos são resolvidos derrubando o adversário! Sabe, porém, que as vítimas da guerra serão o povo ucraniano e o restante povo europeu, ao ignorar a realidade factual que só haverá vencidos mesmo que a Rússia se posicione melhor, a preço de uma guerra nuclear.

Em épocas de indignação o “argumento” passa a ser uma palavra, uma imagem, uma vítima! Numa contenda como esta em que os mais diversos interesses se encontram em jogo, não chega declarar o infractor desumano ou minar-lhe a reputação! Independentemente dos erros de governantes, por trás deles encontram-se interesses de estados e de povos.

Torna-se desmoralizador verificar que aqueles que defendem a moralidade são vistos como extremistas e não considerar que aqueles que estão no poder defendem interesses conflituosos e como tal, uns e outros dignos de análise e não serem simplesmente considerados como maus. É deprimente observar que quem não segue pela rua de sentido único do mainstream é depreciado ou considerado pária. O atrevimento e a cegueira já é tal que já se atrevem de qualificar de “extremistas cristãos” pessoas defensoras da paz e adversas à guerra.

O verdadeiro preservador da liberdade humana está alicerçado na humanidade de cada ser humano. O ponto fraco dos indignados é procurarem identificação e difamação à margem da compreensão ou dos argumentos.

A lógica de guerra, como tem sido seguida, conduz a sociedade europeia a um beco sem saída! Os lobistas da Guerra dizem que é preciso ganhar a guerra e investir nela quando sabem que a guerra está perdida e que quem paga a factura é o povo e o atraso da História!

Muitos deixam-se levar pela palavra de ordem “Si vis Pacem, para Bellum (se queres paz prepara a guerra), quando essa posição levada ao exagero é uma posição característica do poder, do poder militar. Mas o que mais me entristece é constatar que essa frase, só, dá razão ao poder e, na consequência, perdido é quem não se mete debaixo do guarda-chuva dos mais poderosos.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

(1) No conflito entre os USA e a Rússia na Ucrânia só há um lado: o lado da destruição.

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QUEM MANDA NA EUROPA É O SECRETÁRIO GERAL DA NATO?

Crítica à Base Aérea dos EUA na Alemanha

O Presidente dos EUA Biden disse sem fingimento:  “Putin queria a Finlandização da Europa. Ele terá a Natoização da Europa”. Revelador do estado de dependência dos políticos europeus é o facto de esta frase não ter sido, pelo menos em parte, contestada, sendo por eles aceite, sem qualquer observação, como se fossem meros feitores dos USA na Europa. A guerra explica e justifica tudo e os nossos feitores sabem que ninguém lhe pede contas porque, na realidade, o povo está ausente! Sim, agora tornou-se claro, o que só alguns sabiam: para os USA e para a Europa: quem manda na Europa é o senhor Stoltenberg, secretário geral da NATO. (De notar que esta posição pressuporia uma reflexão sobre uma política europeia própria depois da experiência do colonialismo europeu e sua passagem para o imperialismo americano agora em luta com oimperialismo russo  e de seguida com o da China!).

Na Cimeira da NATO em Madrid, os 30 Estados membros decidiram aumentar o número de soldados em maior disponibilidade de destacamento de 40.000 para 300.000. A Alemanha quer contribuir para tal com uma divisão (15.000 soldados) e liderar uma brigada de combate de 3.000 a 5.000 soldados para a Lituânia.

A Presidente da Igreja evangélica do Palatinado, Dorothee Wüst, num fórum em Kaiserslauten, advertiu que a existência da base militar americana em Ramstein, não deve ser aceite como normal. Uma base americana a partir da qual, se presume que, os drones (1) mortíferos são controlados, não pode ser uma parte normal da região para os cristãos, informou o HNA (27.06.2022). Na região a base aérea americana não é, de uma maneira geral contestada pelo povo.

Os USA têm regularmente mais de 90.000 soldados estacionados em bases americanas na Europa. A base militar americana mais importante, fora do seu país encontra-se em Kaiserslautern (Ramstein); a partir daqui, têm regularmente missões em África e na Ásia. A base de Ramstein é o Centro logístico para as forças armadas dos EUA) e é uma das 20 bases militares dos EUA na República Federal, e é considerada a base europeia mais importante para o transporte aéreo das forças dos EUA. A Base Aérea alberga cerca de 53.000 americanos e dependentes dos EUA (tem cerca de 8.400 soldados). A “Comunidade Militar de Kaiserslautern” tem seus próprios centros comerciais, escolas secundárias, etc. Oficialmente, aplica-se lá a lei alemã, mas com restrições (2). Diz-se que os Estados Unidos operaram a partir de Ramstein durante suas missões de drones no Iêmen. Dois anos atrás, a Média alemã e do Leste Europeu noticiou as entregas americanas de armas e munições aos rebeldes sírios. Os EUA têm bases militares em 80 países.

Com os quartéis na Alemanha, os soldados americanos podem chegar mais rapidamente a outros países em caso de combate ou de guerra sem que os EUA sofram as consequências directas no próprio país.

Na Alemanha é assustador verificar que o partido dos Verdes, que era antes o partido da paz e da ecologia, se transformou num dos principais partidos promotores da guerra e do envolvimento da Alemanha nela! Encontramo-nos numa situação desastrosa para a Europa e para o povo ucraniano. A Europa parece, por destino ou por opção ter de andar atrelada aos interesses dos USA.

Nos políticos alemães é de observar uma atitude febril por rápida militarização. O mais grave é que a EU irá para onde for a Alemanha! Na sociedade alemã há também grupos de cidadãos atentos que apelam para a razão e comedimento!

Segundo os números da NATO, a força das tropas alemãs em 2021 era de 189.100, a da Polónia de 121.000. As forças da NATO têm um total de cerca de 3,3 milhões de militares, sendo os EUA responsáveis por 1,35 milhões.

A favor da autonomia política e militar da Europa em relação aos EUA é, também, de ter em conta o factor das mudanças políticas na vida interna dos EUA. Dentro de dois anos, próximas eleições americanas, poderia ser eleito um Trumpista, o que obrigaria a Europa a reorientar-se, por não ter política própria!.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

(1) Um drone é um veículo aéreo ou subaquático não tripulado que é controlado à distância por humanos ou controlado por um computador integrado ou subcontratado e portanto (parcialmente) autónomo.

(2) Consultar: https://www.dw.com/de/ramstein-us-milit%C3%A4rbasis-in-deutschland/a-61593746

 

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A TURQUIA BLOQUEOU AS PÁGINAS DE INTERNET DO CANAL” VOZ DA ALEMANHA” (DW)

A Deutsche Welle (“Voz da Alemanha”) queixou-se do bloqueio de todo o seu website na Turquia. Todas as 32 línguas transmitidas foram bloqueadas na noite de quinta-feira (30.06.2022), relata a imprensa alemã. Ao mesmo tempo, também a oferta da emissora estrangeira norte-americana Voice of Ameica foi bloqueada.

A Turquia exige que as emissoras internacionais sejam licenciadas na Turquia. A Deutsche Welle argumenta que “o licenciamento teria permitido ao governo turco censurar o conteúdo editorial”.

A Turquia sente-se encorajada a tal medida porque, seguindo uma certa lógica, o que se aplica às emissoras russas na EU, não se vê porque não deva ser aplicado pela Turquia a outras.

Meios de comunicação que não defendam os interesses directos dos governantes tornam-se num factor perturbador dos sistemas. Naturalmente tais chantagens contradizem a independência dos Meios de Comunicação Social.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo.

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CAUSA DA CRISE ALIMENTAR GLOBAL:  GUERRA DA RÚSSIA NA UCRÂNIA E BLOQUEIO CONTRA A RÚSSIA

A guerra da Rússia contra a Ucrânia e o boicote económico do Ocidente contra a Rússia e a especulação provocaram uma escalada dos preços dos alimentos e dos combustíveis a nível global e um grande aumento da fome no mundo.

O preço do óleo de cozinha na Síria aumentou 39%; a farinha de trigo no Líbano aumentou 478%. Aqueles que sofrem de fome aguda em todo o mundo, este ano, irão aumentar para 323 milhões

A Rússia foi o principal exportador mundial de trigo e produtos à base de trigo em 2020/21. A Rússia tinha uma quota de 20% do mercado mundial de exportação de trigo, farinha e produtos de trigo. A Rússia e Ucrânia produzem juntos mais de um quarto do trigo comercializado no mundo, 29 por cento da cevada mundial, 15 por cento da cultura mundial de milho e três quartos do óleo de girassol do mundo (1). 75,8% do óleo de girassol mundial vem da Rússia e da Ucrânia. 80% do trigo do Quénia é importado, vindo metade da Ucrânia

O Egipto anunciou reduzir as importações de trigo em 500.000 toneladas por ano. Como reacção os preços mundiais desceram automaticamente: custo de 27 kg que na bolsa custava 12,85 dólares americanos caiu para 9,26 Dólares.

Os cinco maiores produtores de cereais do mundo (2):

MILHO: 1º Estados Unidos da América, 2º República Popular da China, 3º Brasil, 4º Argentina, 5º Índia

TRIGO: 1º República Popular da China, 2º Índia, 3º Rússia, 4º Estados Unidos da América, 5º França

ARROZ: 1º República Popular da China, 2º Índia, 3º Indonésia, 4º Bangladeche, 5º Vietname

CEVADA: 1º Rússia, 2º Austrália, 3º Alemanha, 4º França, 5º Ucrânia

SORGO (PAINÇO): 1º Estados Unidos, 2º Nigéria, 3º Sudão, 4º México, 5º Etiópia

MILHETO 1º Índia, 2º Níger, 3º República Popular da China, 4º Mali, 5º Nigéria

AVEIA: 1º Rússia, 2º Canadá, 3º Austrália, 4º Polónia, 5º República Popular da China

TRITICALE: (Híbrido de trigo e centeio): 1º Polónia, 2º Alemanha, 3º Bielorrússia, 4º França, 5º República Popular da China

CENTEIO: 1º Alemanha, 2º Polónia, 3º Rússia, 4º República Popular da China, 5º Dinamarca

MILHO VERDE: 1º Estados Unidos da América, 2º México, 3º Croácia, 4º Nigéria, 5º Indonésia

Os maiores exportadores agrícolas do mundo são:  Estados Unidos – U$ 118.3 bilhões, Holanda – U$ 79 bilhões, Alemanha – U$ 70.8 bilhões, França – U$ 68 bilhões, Brasil – U$ 55.4 bilhões…

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

(1) https://www.deutschlandfunk.de/ukraine-weizen-getreide-export-blockade-welternaehrung-100.html.

(2) Todos os números são baseados em dados da FAOSTAT (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) (a partir de 2017):[2]

 

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ALGUMAS MULHERES NO AFEGANISTÃO PODEM ESTUDAR ATRAVÉS DE ONLINE

O programa “Jesuit Worldwide Learning” negociado com os Talibãs nas províncias de Bamyan, Daikindi e Ghor vem permitir que as jovens mulheres continuem os seus cursos online.

Mais de metade dos participantes são mulheres. Elas recolhem as suas tarefas no centro de aprendizagem e estudam em casa. Muitas estão mesmo inscritas em universidades internacionais, tais como a Universidade Católica de Eichstätt.

A revista Kontinente missio 6/7 2022 relata que no programa “cada um ensina um outro”, os/as jovens transmitem os seus conhecimentos nas aldeias.

O Padre Peter Balleis SJ, director do programa, sublinha: “Em tempos de escuridão, os jovens precisam de um raio de esperança… e quando as escolas voltarem a abrir, os professores jovens e bem formados estarão já preparados”.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

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