Em Tempos de Distanciamento e decorrentes Carências
António Justo
Celebrar o dia do beijo em tempos de coronavírus, onde o cumprimento do regulamento implica que se mantenham as distâncias, pode colidir com os positivos aspectos fisiológicos, sociais e culturais da proximidade e do beijo.
Há muitas espécies de beijos: beijo de saudação, beijo romântico, “beijo de boa noite”, “beijo aéreo”, “beijo francês”, “beijo íntimo”, “beijo socialista”, “beijo de Judas“, etc.
De acordo com a Wikipédia, o beijo fortalecerá o coração e o sistema imunitário, (também há riscos, como transmissão de herpes, etc.). Até hoje, o beijo recorde registado no Guinness durou 33 horas.
Acho importante falar aqui do beijo como manifestação e fomento de relação (expressão de amor, amizade e reverência).
Em psicologia costuma dizer-se que o hábito de beijar é uma imagem-espelho da relação. Com ele pode também avivar-se o estado da relação.
Um beijo mais prolongado relaxa todo o sistema nervoso e estimula um verdadeiro cocktail hormonal que flui através do corpo inteiro. A este propósito, referem os especialistas que 34 músculos faciais são ativados e também milhões de bactérias iniciam o seu intercâmbio. Para alguns o beijo é apenas a chave da porta de entrada para o sexo. Mas não, o beijo não implica tal e é muito mais que isso!
O beijo é como que as asas da relação. Imagine-se uma relação sem asas; por muito sexo que haja ela não chega às alturas da amizade nem às profundezas da intimidade.
O beijo implica um andar de mãos dadas, um acertar o passo e, num ritmo adequado, possibilitar a abertura de todos os sentidos para, sem perder a própria individualidade, se possibilitar um evento a dois, uma dança tipo tango que envolve a sintonia também do ambiente.
O exercício do beijo poderia ser no início uma espécie de tirocínio, um exame de aprovação para uma vida comum bem beijada e também, segundo a circunstância, ser uma oportunidade para colocar os problemas no cabide, ou um motor de arranque para nova subida. No exercício do beijo se poderá notar se há vocação comum e capacidade de aumento.
Beijos em geral, beijos românticos, ou melhor, aquilo a que alguns chamam “fazer marmelada” acontecerão duas ou três vezes ao dia. Li no HNA que, segundo estatísticas, uma pessoa que atingiu os 70 anos de idade ” já passou cerca de 76 dias da sua vida a beijar-se”.
Segundo um estudo na Alemanha, homens que se despedem com um beijo, quando vão para o trabalho, aumentam cinco anos a sua longevidade.
Uma outra vantagem dos beijos quilométricos é conseguir que a paixão bloqueie o exagero de uma vida mental de ideias fixas. Sim porque a fixação em ideias pode impedir o encontro gratificante de uma relação a dois a transcender-se: uma maneira de ser e estar em relação eu-tu-nós!
No sentido da felicidade deixo à consideração a seguinte frase de Fernando Pessoa: “Ser feliz é encontrar força no perdão, esperanças nas batalhas, segurança no palco do medo, amor nos desencontros. É agradecer a Deus a cada minuto pelo milagre da vida.”
A antiga Igreja cristã conhecia o beijo da paz como um sinal de reconciliação completa: “Saudai-vos uns aos outros com o beijo sagrado”(2 Cor 13:11). Com o tempo passou a chamar-se-lhe ósculo da paz.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo