SCHRÖDER, O CHANCELER ALEMAO QUE CONDUZIA À DIREITA COM O PISCA-PISCA A INDICAR PARA A ESQUERDA

A ALEMANHA E A EUROPA
O Chanceler Schröder sem maioria parlamentar
Schröder, com a intenção de perder a confiança da maioria parlamentar e assim possibilitar novas eleições, pediu ontem (1.07.05) o voto de desconfiança positiva ao parlamento, já que a alternativa da demissão seria desonrosa para ele. Contra a vontade, a maioria dos deputados da coligação e naturalmente a oposição corresponderam à solicitação de Schröder. Assim se consome a tragicomédia com 296 votos contra (da oposição), 148 abstenções (dos contrafeitos) e 151 a favor dele(dos rebeldes e consequentes). De seguida Schröder contactou o Presidente da RFA Köhler que terá tempo até 22 de Julho para decidir sobre a dissolução ou não dissolução do Parlamento. Prevê-se o placeat do presidente atendendo a que todos os partidos e 72% da população, segundo estimativas, anseiam por novo governo; restam entretanto algumas dúvidas constitucionais da legitimação do acto, atendendo a que a crise parlamentar é artificial ao que o tribunal constitucional poderia obstar, não sendo isto provável dado aqui não se tratar apenas de manobra partidária para dominar a oposição. Suposto que serão ultrapassados estes obstáculos, haverá eleições antecipadas de um ano a 19 de Setembro de 2005. Assim chega ao fim a tragicomédia do governo Schröder/Fischer

De facto o governo de Schröder tem metido água por todos os lados, além de não ter respeito pelo parceiro de coligação os Verdes que se colaram ao poder mais preocupados com ideologias dialéticas e com postos. Há três anos ganhou as eleições apenas com a promessa de diminuir substancialmente o número dos desempregados e com a mobilização massiva do ressentimento antiamericano. Entretanto iniciou uma política de desmontagem da política social com a consequente subjugação ao neoliberalismo e com um estilo de governo apressado baseado no parecer de comissões.
Por um lado faltava-lhe a legitimação do eleitor para o seu programa e o apoio da esquerda socialista do seu partido; por outro perdeu muitos dos estados federados para a oposição e com isto a maioria dos estados pertencentes à Câmara dos Estados Federados (órgão constitucional) cujo voto é necessário para aprovação de muitas leis. Schröder não se sentia legitimado porque o seu programa com a Agenda 2010(reforma do estado social) foi apresentado depois das eleições correspondendo a um programa de desresponsabilização social à custa da classe média e trabalhadora. Com isto criou-se no próprio partido uma oposição à sua política. Ao perder definitivamrnte a base do seu partido, causa a divisão dentro da SPD e a fundação ( partido populista esquerdista retrógadoWASG – Alternativa Trabalho e Justiça Social) duma união paridária de coligação com o PDS(Comunistas) que se candidata para as próximas eleições federais. A nova formação partidária Lafontaine/Guisy, união da esquerda, obterá entre 6% e 9% dos votos a nível federal: mais um problemas para os partidos estabelecidos…
O maior sintoma da fraqueza de Schröder manifestou-se a 6.02.04 quando se viu obrigado a entregar a presidência do partido a Franz Müntefering. Aqui a sua derrocada é já previsível. (O destino do governo socialista em Portugal virá a ter um fim semelhante, atendendo a que também ele não apresentou aos votantes um programa que agora impõe).
Schröder falhou na política europeia ao querer, a todo o custo, impôr-se com a França como o eixo da Europa e impôr a Turquia à UE; falhou internamente vendo o desemprego aumentado para practicamente 7,5 milhões e ao provocar a insegurança nos trabalhadores que vêem subir o número de horas semanais de trabalho com simultânea redução do vencimento, além de verem questionados direitos tarifários; tem falhado, ano após ano,contra as orientações do pacto de estabilidade económica europeia. Schröder, homem do poder, tem um mérito neste momento: o de querer legitimar-se e o de não querer impedir o desenvolvimento da Alemanha, que se encontra num empasse desde há anos. Assim, só lhe restou a conciliação de defesa da própria honra com os interesses da esquerda do próprio partido e a legitimação para a sua política. Típico dos agentes mais característicos deste governo (Schröder, Schily, Joschka Fischer, Trittin e companhia, militantes da geração 68): nasceram e fizeram-se rua, na luta contra a burguesia e contra o Estado, no desprezo pela massa popular, tendo sido toda a construção das sua personalidades o accionismo rectórico político e moralista; racionalistas à la France, peritos no contra e com algumas ideias válidas (ecologia e energia renovável) passarão à história sem grande rasto; criaram a nível europeu uma rede que actua e propaga os seus vícios nos vários estados da UE, a partir de Bruxelas e Luxemburgo.
Schröder tem o “mérito” de ter conseguido disciplinar a classe operária, na disponibilidade do capitalismo liberal, sem grandes protestos organizados, conduzindo-a a uma atitude fatídica de resignação que facilitará medidas ainda mais radicais, no sentido de criar uma classe proletária dependente, mais igual a si mesma em toda a Europa, na ilusão da justiça!…
Que fica do governo de coligação PSD / Verdes?
Fica a ideologização da sociedade, o abandono da energia atomar , uma lei de imigração, o matrimónio de homosexuais, o envio de soldados em missões no estrangeiro e a não participação directa na guerra do Iraque, um SPD dividido. Enfim, uma sociedade mais pobre e desorientada, uma sociedade cada vez mais preparada para grandes conflitos sociais internos nos vá rios países europeus. A Alemanha está no caminho da desumanização do homem europeu : é ao mesmo tempo sintoma e factor de si mesma e da europa..
Embora Schröder seja um mestre em encenações e a sua contraente Angele Merkel da CDU (Cristãos Democratas) não seja beneficiada nesse sentido, ela tem a ganhar com os eleitores já cansados e inpacientes.Schröder, para poder ganhar as eleições anuncia já uma mudança de curso da política iniciada. A arrogância da geração 68 que ocupou os ministérios e muitas dos lugares cimeiros nas instituiões alemãs não tem conceitos, apenas tem conseguido remendar e reduzir-se a bombeiros numa sociedade cada vez mais desmantelada e à disposição.
Assim acaba uma legislatura em que o maquiavelismo político e as meias verdades não só frustaram eleitores como causou grandes dores de barriga aos deputados que tiveram de , sem dignidade, contra a própria vontade e convicção, obedecer à vontade do partido acabando o seu mandato um ano antes do que para que foram eleitos. Uma contradição: o chefe de governo pede o voto de desconfiança no seu governo e mantem a confiança da sua fracção que o apoia nas próximas eleições.
Schröder, quando assumiu as rédias dos destinos do povo alemão, no seu juramento perante o Parlamento negou-se a fazer referência a Deus, contra o que era costume até então; agora termina a mesma tarefa sem a referência à verdade, manipulando-a e sem respeito pelo Parlamento. Quanto ao povo, foi reduzido a mero espectador, a mero factor de trabalho cuja identidade se define pelo consumo, e tudo isto, o que é mais grave, por um partido que se diz com alma proletária. Facto é que o povo é cada vez mais massa embora farto da hipocrisia e das inscenações. O povo certamente que apoiará a oposição na pessoa de Angela Merkel que fará da Alemanha o que Margret Thatcher fez da Inglaterrra.
O cidadão quer a mudança mas não espera nada do próximo governo; pressente que a situação está pior do que os políticos apresentam. Está em marcha uma Europa entregue ao destino e ao fado de políticas irresponsáveis que desviam o produto do trabalhador europeu para outras zonas mais rentáveis ao capitalismo desenfreado! A vantagem dos cristão democráticos: não venderão de modo tão barato a alma europeia (a sua cultura).
Permanecerá o problema: Para quando a prioridade para os cidadãos?
António da Cunha Duarte Justo
Alemanha 2.02.2005

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António da Cunha Duarte Justo

Actividades jornalísticas em foque: análise social, ética, política e religiosa

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