Insucesso Escolar em Portugal – Cantando e Rindo…
A situação escolar em Portugal é catastrófica. Isto é-nos confirmado a nível internacional pelo Estudo-PISA da OECD e pelos últimos dados estatísticos fornecidos pelo Ministério da Educação ( GLASE) sobre o insucesso escolar em Portugal nos últimos nove anos.
Os resultados do Teste PISA que compara a nível internacional o rendimento escolar dos alunos em 40 países tem sido sucessivamente um testemunho, a alto nível, da ineficiência do nosso sistema escolar. Portugal ocupa na lista das nações um lugar baixíssimo. Dos 40 países investigados em três sectores do saber, os alunos portugueses encontram-se no 30° lugar em Matemática, 28° em Leitura e 32° em Ciências Naturais.
Dos valores apresentados pelo ME (GLASE) relativamente ao período que vaí de 1994 a 2003, a gravidade da situação é gritante. torna-se mais evidente atendendo aos destinos individuais não referidos. Assim, em 2003, do milhão e meio de estudantes do ensino básico e secundário que frequentavam as escolas portuguesas, 280.000 alunos reprovavam. A percentagem de retenção escolar no ensino básico até ao 9° ano foi constante (13%) nos 9 anos apresentados no estudo.
A taxa de retenção e de desistência no ensino secundário (10.° ao 12.°) ainda foi maior, verificando-se uma média de 34,33 % relativa ao período de referência. Um em cada três alunos chumba. Em 2003 mesmo 43,5 % dos alunos do 12° não faziam todas as disciplinas , culminando o ensino tecnológico com 53,6 por cento de chumbos.
Uma nação em agonia e ninguém se interessa
Uma catátrofe a nível individual e nacional se atendermos não só às vítimas do sistema, aos destinos individuais, como também aos prejuízos não só económicos nacionais aderentes à situação. Para quem sabe ler, isto significa um atestado de incompetência a todo o sistema escolar a nível de estruturas e de recursos humanos. Uma hipoteca para o futuro num país que irresponsavelmente tem vivido para inglês ver. Onde está a voz dos intelectuais, dos políticos e dos jornalistas? Que preparação levam os alunos para um mundo cada vez mais em mudança, mais competitivo e global? Quem sociedade sucederá duma elite medíocre portuguesa embuçada?
No estudo nota-se um desaferimento crasso na passagem de um ciclo para o outro: se no no fim do 1° ciclo do Ensino Básico (4° ano) chumbam 8,4 %, no 5° ano já chumbam 14,9%; no 6° ano, fim do 2° ciclo chumbam 14,6% e já no 7°ano,início do terceiro ciclo do Ensino Básico, chumbam 24,4%; se no 9° ano ficam retidos 15% já no início do Ensino Secundário, no 10° ano chumbam 34,8%. Um factor imediatamente evidente nestes dados é a falta de aferimnto e de díálogo entre as escolas (ou ciclos) que passam os seus alunos dum estabelecimento ou dum ciclo para o outro. A mão esquerda não sabe o que faz a direita.
Os dados tanto da Administração Portuguesa, como os da organização internacional responsável por PISA apontam para uma conclusão, ou melhor, para um diagnóstico: uma administração deficiente que se limita a administrar a miséria, uns sindicatos apenas interessados em defender os interesses pontuais da classe, uma classe política irresponsável e uns responsáveis pela educação adormecidos, desatentos e desinteressados pelo futuro dos seus educandos e da nação.
De Crise em Crise : Tal Escola, Tal Nação
Urgência duma Comunidade Educativa
Um dos grandes males das sociedades modernas é a falta de disciplina e de conceitos concludentes. Se este é um problema internacional a questão em Portugal eleva-se à terceira potência. Vai sendo tempo de Portugal despertar e de olhar menos para os outros tal como fazia nos séculos preparatórios da nacionalidade e dos descobrimentos e investir na própria identidade e assim poder dar novos mundos ao mundo. Deixemos de nos tornar cada vez mais estrangeirados para nos tornarmos mais portugueses, mais universais. A salvação não vem de fora nem de ladainhas muitas vezes repetidas por ideologias já de segunda mão. De fora têm vindo ideologias que encantam um povo desatento e que se vê na necessidade de se refugiar em festas de futebol e em orgias de fogos, para fugir à realidade decadente consumidora. Apostemos nas raízes da nossa cultura e na tradição que nos tornou grandes. Aí encontraremos os valores que nortearam o sucesso, conscientes porém que indivíduo e sociedade estão sempre em contínuo processo de renovação sendo ao simultâna e reciprocamente condicionantes e condicionados.
Um novo Perfil de Professor – Cada Escola com um Perfil próprio
Na nação como na escola não chegarão professores empenhados na sua disciplina, mas professores pessoalmente empenhados numa relação pessoal professor-aluno, numa relação pessoal de comunidades: comunidade docente e comunidade discente; não chega o diálogo é preciso relação e comunhão íntima. Na relação dum eu-tu consciente de que o próprio eu nasce dum tu.
Urge que a escola deixe de ser um sumatório de indivíduos, uma massa amorfa de pastores e ovelhas não identificados e desmotivados. A comunidade nasce de pessoas capazes de assumir responsabilidade e exercita-se já na responsabilidade comunitária escolar em serviço mútuo, na autoconsciência e na capacidade de poder adiar a satisfação imediata. A comunidade escolar terá que se preocupar com a terceira coluna: a comunidade dos pais, a terceira coluna da comunidade educativa. A escola precisa de ideias claras e valores assentes; menos dever e mais ser. Todos os intervenientes terão de trabalhar na elaboração dum conceito de educação consensual à margem de partidarismos e de ideologias; neste sentido não se poderão culpar individualmente os pais pelos diferentes hábitos e sistemas educativos, atendendo a que partidos e ciência os tem considrado cubaias e presa. Cada escola precisa de menos regulamentação e necessita dum perfil que a distinga das outras, que se torne ela própria com um sentimento de pertença com uma identidade própria, um distintivo em que alunos e professores falem da sua escola de modo semelhante ao daqueles que falam do seu grupo de futebol ou do seu grupo de música. A falta de perfil das escolas uma consequência de responsabilidades delegadas deve-se tanto à rotina como a ideologias da moda assim como a um experimentalismo leviano, tudo isto baseado no abdicar da própria identidade.
Nesta Europa desorientada e confusa e em Portugal não há um consenso político nem científico de como educar, tornando-se a escola presa fácil de ideologias partidárias ou de experimentalismos precoces. Há muito que Portugal se encontra num processo de tranformação de valores em que, em nome duma liberdade que não existe, se negam rituais, disciplina, ordem, educação… Parece querer-se um campo pedagógico frágil. É também fatal um espírito modernista mal entendido contra elites. Precisa-se uma nova educação: educar para elites responsáveis e não para craques ou afortunados que se alistam numa ou noutra organização, seja ela partidária, massónica, futebolística ou religiosa; não chega uma elite de postos. Em pedagogia não há nada de novo que já não fosse expresso num ou noutro método já velho. As ciências da pedagogia e da psicologia necessitam de maior independência deixando de estar tanto ao serviço de ideologias ou modas. A escola tem qu se tornar num centro de vida e de interesses comprometedores em que a palavra relação seja honrada. O docente mais que um cientista é um educador. A sua formação tem de ser mais completa e a sua escolha obedecer a critérios mais rigorosos. O critério de funcionário público tornou-se anacrónico numa sociedade moderna e democrática. Não deveria ser prioritária a motivação pela segurança do funcionário público. A este sistema público estão inerentes vícios de classe acrescentados dos vícios próprios da administração que se inclina a conservar.
Saber, juventude e um pouco de ingenuidade e de didática não são suficientes para se formarem homens e mulheres conscientes e responsáveis na realização dum sonho e duma realidade pessoal e nacional.. Não se trata apenas de transmitir saber e de avaliar o aluno. Este tem que descobrir-se como consciência num processo de crescimento sem fim. Mais que nas notas, o padrão de avaliação e de medição da actividade de professor/aluno deve verificar-se no desenvolvimento da personalidade e das competências específicas de cada aluno, à sua medida e da comunidade.
Rigor não exclui solicitude e encorajamento. Mais relação e respeito e menos medo e hierarquia. Um projecto consciente exige mais dos professores e dos alunos. Discilplina é a base da liberdade responsável.
O sentido da personalidade, o respeito mútuo, e a consciência de nos encontrarmos a caminho duma transcendência que supera a própria nação, são, entre outros valores cristãos, meios avalizados e provados ao longo da nossa história e que poderiam tornar-se mais xobjecto de estudo análise e aplicação num sistema escolar precário, sempre em crise, perpetuador de crise.
Um cultura iconoclasta que apenas substitui os seus santos de igreja pelos santos ou corifeus da ideologia, da literatura, da cultura ou da política não passa de uma cultura de beatas, que se engana a si própria : imagens de imagens ; e os seus corifeus: cegos guiando outros cegos…
Professores, políticos, jornalistas, já vai sendo tempo de deixarmos de jogar às escondidas com o povo e com a nação. Até quando teremos de continuar a ser um povo de fugida?…
António da Cunha Duarte Justo
Professor de Língua e Cultura Portuguesas na Alemanha
Email: antonio.justo@web.de
Tel: 0049 561 407783