ISLÃO E SOCIEDADE OCIDENTAL – MASCULINIDADE CONTRA FEMINIDADE

O Corão constitui um progresso para as tribos árabes e um atraso em relação aos povos da Bíblia

Por António Justo

Os maometanos não permitem a dúvida no seu sistema de pensamento, não se sentindo estimulados a procurar a verdade porque a sua cultura reduz a verdade à letra do Corão, à Sharia e à Suna – um sistema fechado que se afirma pela ambivalência e uma autoridade subjugadora.  O Corão, a Sharia e a Suna fixam conceitos e práticas, de formato antropológico e sociológico próprio da região árabe e do século VII. Estes, aliados ao patriarcalismo transmitido nas tribos daquele território, expressam-se numa vontade firme de transformar o mundo numa província árabe e de tornar todo o cidadão do mundo num fiel de Alá e de Maomé (1).

O islamismo, como tem um caracter masculinizante acerbado, subjuga também o caracter da feminilidade religiosa à sua maneira masculina de ser e de estar política, social e individual; consequentemente a religião passa a ter um caracter mais público e institucional que pessoal: o Homem é concebido em função de uma ideologia-instituição que se identifica só em termos religiosos. A cultura consegue assim afirmar o caracter institucional masculinizante sem ter a contrapartida da força do indivíduo moderadora do colectivismo nem o contributo religioso feminizante que incremente a sua evolução.

 

Feminidade invertida

A estratégia religioso-política serve os interesses do poder, pelo que o seu princípio motor machista é levado até às suas últimas consequências; o seu exemplo original encontra-se, no estilo de governação, nas invasões islâmicas e na sua base da economia (2) baseada na escravização, pagamento de impostos pelos vencidos e saque: matavam os homens vencidos para disporem das mulheres como escravas do sexo e mercadoria de venda.  Nesta vida a mulher islâmica, no espírito da referida trilogia, não tem valor em si e é inferior ao homem (3).

A sociedade ocidental conseguiu uma certa moderação do princípio masculinizante, mas parece agora ter chegado a um estado de desenvolvimento patinante que, em vez de desenvolver a feminidade, acentua uma feminilidade invertida; nela parece revelar-se uma certa nostalgia dos tempos em que a masculinidade criava posições/papéis claros na sociedade ( masculino domado não a estimula pelo que parece tender a voltar ao tempo de matriz puramente masculina e que hoje se revela numa autoagressão cultural transportada por uma esquerda radical  como se afirma na deputada alemã Stefanie Von Berg que confessa: “a nossa sociedade mudar-se-á e o nosso Estado mudar-se-á radicalmente… Sou de opinião  que dentro de 20 a 30 anos já não teremos nenhuma maioria étnica… e é bom que seja assim”. O brilho e o vigor dos imigrantes barbados parecem criar fulgores em mentes femininas e medos em mentes masculinas.  Uma autodepreciação fermenta a cultura e uma forma nostálgica do caos e da guerrilha; parecem exercer grande atracção e motivar muito do pensamento, hoje propagado, pela esquerda que, por outro lado, provoca o surgir de uma reacção exaltada da direita que luta pelo equilíbrio da balança exagerando no outro polo. A História é como uma balança que se alterna no sobrepeso dos seus pratos e onde uma força de razão nela encoberta faz surgir sempre uma contra-força que fomenta o equilíbrio de forças dos polos para um novo continuar da accao humana. Umas vezes é o espírito conservador que domina outras vezes é o espírito progressista, numa competição que dá forma à vida.

O guerreiro-estratega Maomé teve o mérito de unir as tribos da região sob uma língua comum e de lhes dar um livro sagrado (o Corão) que lhe possibilitasse a unidade; para o efeito imitou os povos da Bíblia (judeus e cristãos), adaptando a Bíblia em função do seu projecto – o livro (Corão) a criar para os seus destinatários, os clãs árabes.

Maomé, a princípio, tinha-se entusiasmado com a espiritualidade e com a superioridade dos povos do livro (Bíblia) como revelam os escritos do seu tempo espiritual de Meca. No contacto com a masculinidade excessiva dos clãs árabes, que não reconheciam os seus ensinamentos, chega à conclusão que, para os dominar, terá de usar da brutalidade e da violência que então passa a legitimar com as suras de Medina no Corão (Com a mudança de Maomé de Meca para Media, Alá mudou de opinião, abandonando, o espírito poético,  o seu caracter espiritual feminino. Comparando as suras de Meca com as de Medina chega-se à conclusão que Deus mudou de opinião; abandonou o espírito mais próximo do NT para afirmar o AT: um Deus conciliador e pacífico passa a ser um Deus guerreiro!). O problema da interpretação do Corão vem também do facto de os imãs receberem a orientação de seguirem e pregarem nas mesquitas as suras de Medina (A feminilidade é subjugada à Umma)!

No islão, a falta de equilíbrio entre a polaridade da masculinidade e da feminilidade ainda é mais acentuada e perturbada que noutras culturas; nele sobressai uma relação revolta com o feminino, com o princípio da feminilidade, que é relegado para o plano meramente particular e privado e para as fantasias masculinas do Harém e das virgens no paraíso (paraíso em função do homem). Esta evasão no sentido de satisfazer as necessidades de prazer do homem conduz a uma vivência extrema da polaridade masculina em desperdício da feminilidade contida na mulher real. Para a vida real reserva-se a funcionalidade! A afirmação exacerbada das energias da masculinidade sobre as energias da feminidade (do princípio masculino sobre o feminino), que se encontra de forma sistemática e coerente no islamismo, tem criado um certo fascínio em pessoas, instituições e ideologia de matriz acentuadamente masculina. A confissão dos Alevitas, embora muçulmana, consegue salvar a feminilidade da espiritualidade religiosa refugiam-se na mística, interpretando para isso o Corão alegoricamente, não o seguindo à letra.

As religiões, em geral, têm um caracter feminino (a espiritualidade) enquanto a política é de caracter masculino e o princípio da masculinidade política tem-se revelado como o princípio dominador no exercício do poder de modelo patriarcal.

Em Medina, Maomé redirecionou as revelações, deixando o carácter mais feminino e poético das suras de Meca, em serviço de uma masculinidade política de confronto e de oportunismo (hommo religiosus é transformado em homo politicus). A partir de Medina (622) já não domina a espiritualidade, mas sim o mero interesse político: o código, a lei. onde se manifesta a agressividade politica sem qualquer espírito feminino nem qualquer tempero de uma religiosidade integradora dos polos. A religião é masculinizada e empregada no sentido do poder político e da subjugação individual e social; as próprias orações assumem um caracter meramente ritual diário que serviam também para poder controlar (através da presença na oração) o grau de fidelidade política a Maomé. Por isso se pergunta com razão, ao ler-se o Corão; como é que Deus mudou de opinião passando de uma mensagem ainda pacifica em Meca para uma revelação guerreira e agressiva em Medina?

Maomé entendeu mal o Novo e o Antigo Testamento ao tentar adaptá-los ao seu projecto político e militar de unificar os clãs árabes através do Corão. Com o Corão, a Sharia e a Suna, efectua-se um retrocesso histórico do desenvolvimento antropológico e sociológico em relação à História (da filosofia espiritual) do tempo, ao retroceder para o patriarcalismo do AT sem contemplar o desenvolvimento deste, entretanto operado pelos judeus nos seus comentários. Este atraso foi o preço a pagar pela unificação dos povos árabes.

O cristianismo, embora existisse numa sociedade de matriz masculina, conseguiu, de certa maneira, defender a mulher e deste modo colocar a feminilidade na ordem do dia ao individualizar a espiritualidade e ao impor a monogamia ao homem; a indissolubilidade do casamento tornou-se num grande passo também pedagógico em defesa da feminidade. Naturalmente, povos com matriz vincadamente patriarcalista, apesar do equilíbrio da feminidade e masculinidade em Jesus, continuaram a fazer sobrepor a masculinidade à feminidade nas instituições e na política.

(De não esquecer o caracter dinâmico e de desenvolvimento inerente a uma certa disputa dos dois princípios/energias – masculinidade e feminilidade: o equilíbrio dos dois princípios/energias suporia uma sociedade altamente desenvolvida na vivência da solidariedade e irmandade em que o princípio motivador de desenvolvimento externo deixaria de ser o princípio do poder para se tornar no princípio do amor).

O meio em que Maomé atuava era rude e ele estava muito preocupado com a união dos clãs árabes sob um mesmo tecto cultural (religião e língua); neste sentido não podia incluir no seu ideário o caracter revolucionário da filosofia Jesuína que era de caracter muito feminino e como tal crítico em relação à instituição; o seu plano era outro.  Por isso, para impedir a complicação que reinava na cristandade e nas lutas entre o império romano do ocidente e o império bizantino, onde o poder secular e o poder religioso não eram inequívocos, ele cria uma religião – o islamismo – onde poder político e poder religioso se identificam. Deste modo a identificação individual, política e religiosa torna-se clara; não interessa a multicultura secular e religiosa, o que importa é instalar um só latifundiário, à maneira do deserto sem grandes altos nem baixos. Para isso a rasoura da obediência e da submissão tornam-se em meios eficazes para uma estratégia de guerra (Jihad) e consequente economia do saque e da escravização que a apoie.

Maomé estava interessado numa língua do poder (mensagem político-religiosa) com lugar para a violência e para a ambivalência; por isso reduz a espiritualidade a rastos de feminilidade visível na forma poética da expressão. Esta lírica é usada como casca para envolver o Jihad e no sentido de fortalecer a sua narração meramente masculina (de poder).

Além das razões políticas que Maomé tinha para afirmar a brutalidade masculina, ele tinha sido abandonado pela mãe que odiava. Casou com Chadidscha judia/cristã muito mais velha que ele e que poderia ser considerada a mãe do Islão (Maomé duvidava dele mesmo e das visões que tinha, mas Chadidscha apaziguava-o e encorajava-o no sentido de construir uma espiritualidade, que com a sua morte sofreu). Quando Chadidscha morreu (619), antes da Egira para Medina, Maomé tornou-se mais agressivo. Segundo o autor islâmico Hamed Abdel-Samad, no seu livro “Maomé” o mundo árabe revive a doença de Maomé.

Acentua o polo da masculinidade e com a tradição social e mina a revolução operada por Jesus Cristo (Novo Testamento) que em parte se tinha distanciado da instituição farisaica do Templo (poder da instituição) e introduzido uma nova compreensão e consciência de pessoa que se tempera em termos da feminilidade e da masculinidade, numa relação equilibrada entre indivíduo-instituição, indivíduo-comunidade. Jesus introduz o princípio da domação da masculinidade patriarcal desenfreada (domínio do mais forte) apresentando a vivência de uma divindade que já não se define em termos de instituição nem de poder violento; ao contrário de Alá, o Deus de Jesus Cristo, embora tenha sido muitas vezes abusado,  não é definido em termos nem em função de uma raça ou cultura (embora não tenha faltado tentativas de o funcionalizar!); de facto Jesus – o filho do Homem – apresenta toda a humanidade como filha de um só Deus, independentemente da sua origem, confissão e cultura; deste modo provoca a desfuncionalização do divino, uma certa desinstitucionalização de Deus, que não é reduzível a uma mera instituição externa ou cultural nem a uma só interpretação sua, mas acentuando nele o caracter pessoal e comunitário; privatiza (familiariza) Deus a quem chama Pai (independentemente da sua instituição ou cultura) de maneira a Deus poder ser encontrado no íntimo do coração de cada um e ser experimentado também em comunidade (“onde dois ou três se encontram em meu nome lá está Deus”). Jesus Cristo, homem-Deus, é o protótipo do Homem e da humanidade.

O que faz da Cristandade cristianismo é o amor pela pessoa, pelo povo, por todos os animais, pela criação; amor que Jesus Cristo personificou e através dele experimentado, e intuído, na fórmula da Trindade, onde o amor divino está presente em tudo, até ao último átomo (na tridimensionalidade formulada em Deus Pai-Filho-Espírito Santo que supera a visão patriarcal da bidimensionalidade Céu/Terra, Todo-Poderoso/escravo, homem/mulher, quando a visão de um Deus uno e trino possibilita a ponte entre o criador e o criado através da filiação). O criado traz em si a semente, o gene divino (filiação) que se encontra já preanunciada no génesis na maçã da árvore da vida e na relação ente Adão e Eva que depois se matura no novo Adão (JC). Deus Pai cria, os frutos da vida, acto esse que se repete no dar à luz.

 

A fantasia dos Haréns dá asas à masculinidade

São conhecidos os Haréns muçulmanos onde o Senhor pode ter 4 mulheres e quantas escravas/concubinas quiser. Harém é também o lugar reservado do palácio onde vivia a mãe do sultão, as irmãs e outros parentes do sexo feminino, as suas quatro esposas (kadın), as concubinas.

No Império Otomano as concubinas do harém eram quase exclusivamente não-muçulmanas; eram provenientes de muitos países dado ser proibido escravizar muçulmanas, o que levava ao corso. Este costume fazia parte da economia de costume muçulmano. A europa foi fustigada durante séculos pela pirataria e corso praticado especialmente pelos povos vizinhos muçulmanos.

O Palácio de Topkap em Constantinopla (Istambul), construído aquando da conquista de Constantinopla pelos muçulmanos em 1453, era a residência dos sultões, com 300 salas para o Harém do sultão, onde chegaram a  viver 2.000 mulheres.  Em 1633 estavam mais de 800 mulheres à disposição do sultão; o Harém não era apenas um lugar de prazer sexual para o sultão, era mais um lugar de reprodução dinástica ao serviço da política imperial. Os haréns estavam sob a guarda e instrução de eunucos pretos (escravos castrados na adolescência). A população pobre era monogâmica.

O Professor Robert Davis, da Universidade de Ohio, no seu novo livro, ”Escravos Cristãos, Senhores Muçulmanos: Escravidão Branca no Mediterrâneo, Costa Bárbara e Itália, 1500-1800”,  conclui que de um milhão a 1,25 milhão de cristãos foram escravizados por piratas e corsários muçulmanos, nesse espaço de tempo em que  saqueavam tudo o que encontravam (navios, cidades, etc.), reduzindo as populações à escravatura, e obtendo também enormes lucros com o regaste de cristãos. Usavam os escravos para venda, como remadores de galeras, trabalhadores braçais e concubinas de senhores muçulmanos, também para os Haréns.

Durante séculos, numa sociedade também ela de matriz masculina, os Haréns fascinaram a fantasia dos homens europeus que à vista da perspetiva de um Harém, com tantas mulheres e com cada uma à espera ansiosa da sua vez, criou uma literatura europeia própria. O Harém e toda a poesia nele esgotada era o paraíso terrestre como antecâmara do céu onde os folguedos se multiplicavam. Esta literatura cometeu, em grande parte, o mesmo erro da historiografia muçulmana: não dizer nada sobre a vida real das mulheres. Uns e outros reservam o seu melhor lugar para a fantasia. E a fantasia do homem ainda é o céu onde as mulheres por alguns instantes são deusas!

A economia do harém é uma humilhação para as mulheres. Em vez de ser criticada pela história, é aproveitada pela literatura europeia para excitar a fantasia de povos que se deliciam do que acontece fora e assim se desculpam da discriminação da mulher que acontece também dentro.

As amazonas, rainhas da imaginação masculina, tornam-se no lugar onde o homem procura a vida e esquece que o faz à custa da grande massa das mulheres que passam uma vida real de “mendigas”. (Sura 4, versículo 38) afirma: “Os homens são superiores às mulheres” pela ordem dada por Deus na terra e pelo facto de as alimentar. No Corão também se encontram versículos em que se recomenda ao homem moderação e generosidade.

Mustafá Kemal Atatürk fundador da Turquia moderna (1923) proibiu a poligamia, o mesmo fez a Tunísia. Noutros países muçulmanos é permitida.

A obra de Kemal Atatürk encontra-se a ser sistematicamente destruída pelo presidente Erdogan. Ele consegue fazê-lo porque embora o Ocidente declare com os lábios que é defensor da feminidade, de facto encontramo-nos num período extremamente masculinizante, apesar de alguns salamaleques em relação à mulher. A grande obra para mulheres e homens de boa vontade será conseguir uma melhor complementaridade de masculinidade e feminidade. (Um dia, se leitores interessados desejarem publicarei livro em que refletirei sobre a riqueza da feminilidade e da masculinidade num balance equilibrado).

© António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo (história e português)

Pegadas do Espírito no Tempo,

  • (1) “E combatei-os até que  não  haja  nenhuma  perseguição  e religião  que  não  seja  inteiramente  por  Alá.  Mas  se  eles desistirem,  então  por  certo  Alá  está  vigilante  ao  que  eles fazem.”—Sura 8:40 “Oh  Profeta,  insta  com  os  crentes  para  que    Se houver vinte  de  vós  que  sejam  constantes,  eles  vencerão duzentos  e  se  houver  uma  centena  de  vós  que  sejam constantes,  eles  vencerão  um  milhar  dos  que  descrêem, porque eles são um povo que não compreende” Sura 8:66 “Matai os Mushrikun [idólatras] onde quer que os encontreis e fazei-os prisioneiros e sitiai-os e ponde-vos à espera deles em toda o lugar de emboscada. Mas se eles se arrependerem e observarem As-Salat [a oração] e pagarem o Zakat [imposto de caridade], então deixai livre o seu caminho.”Sura  9:5 “Combatei aqueles dentre o povo do Livro [Judeus e Cristãos] que [1] não crêem em Alá, [2] nem no Último Dia,[3] nem consideram como ilegítimo o que Alá e o Seu Mensageiro [Maomé] declararam ser ilegítimo [4] nem seguem a verdadeira religião [i.e. o Islão], até que eles paguem a Jizyah [imposto] com a sua própria mão e reconheçam o seu estado de sujeição.“Sura 9:29
  • (2) Maomé na sua despedida relatada pela sua história no discurso do monte Arafat, confirma que a economia islámica se baseie na espada contra o não islâmico:
    “Hoje, a vossa religião está concluída e a graça de Deus realizada na vossa vida. E dou testemunho de que o Islão é a vossa religião. Oh povo muçulmano, estais proibidos de derramar sangue entre vós ou de vos roubardes uns aos outros ou de vos aproveitardes uns dos outros ou de roubardes as mulheres ou as esposas de outros Muçulmanos. A partir de hoje, não haverá duas religiões na Arábia. Eu desci em nome de Alá com a espada na minha mão e a minha riqueza surgirá da sombra da minha espada. E quem discordar de mim será humilhado e perseguido”. Também quem morre no Jihad vai directamente para o Céu sem ter de esperar pelo juízo final, como interpretam a Sura 61:11-14. Maomé é o Mensageiro de Alá, E os que estão com ele são rigorosos contra os descrentes e afectuosos entre si próprios. —Sura 48:30
  • (3) Antes de rezar: quem se tornou impuro (por usar os sanitários ou por tocar numa mulher ou num cão, por exemplo) deve purificar-se. (Sura 49:11) O Corão diz que é preciso o testemunho de duas mulheres para se equiparar ao de um só homem: “E chamai duas testemunhas de entre os vossos homens; e se não houver dois homens disponíveis, então um homem e duas mulheres, de que vós gosteis para testemunhas, de modo que se uma das duas mulheres se enganasse por falta de memória, então uma pudesse recordar à outra. —SURA 2:283 Na Suna lê-se que Maomé explicou assim a razão desse ensino: O Profeta disse: “Não é o testemunho de uma mulher igual à metade do de um homem?” As mulheres disseram: “Sim”. Ele afirmou: “Isso é por causa da deficiência da mente da mulher” Noutra Hadith: É permissível ter relações sexuais com uma cativa depois de ela estar purificada (da menstruação ou do parto). No caso de ter marido, o seu casamento é anulado depois de ser feita cativa.

 

 

TRIBUNAL EUROPEU DE OLHOS VENDADOS PELO VÉU ISLÂMICO

Empresas poderão proibir o uso de símbolos religiosos, políticos ou filosóficos

António Justo

O Tribunal Europeu de Justiça, por decisão incontestável de 14.04.2017, deixa à discrição das empresas a decisão de proibir ou não o uso do lenço islâmico no trabalho, sob determinadas condições. Para os 28 juízes do tribunal europeu, os interesses da economia têm caracter prioritário em relação à confissão religiosa ou partidária; as empresas podem proibir o uso de símbolos religiosos, políticos ou filosóficos aos funcionários, no caso de estes se tornarem perturbadores do negócio no contacto com os clientes.

A decisão do tribunal parece inocente, mas pode ter consequências alargadas, pois ao conceder às firmas privadas o direito de neutralidade, na consequência, mais obrigação terá o Estado de praticar a neutralidade nas suas instituições. A consequência que se pressupõe a entrar pela porta traseira é uma rígida separação entre estado e religião. Por outro lado, corresponde à privatização também da política e praticamente ao desfavorecimento da cultura autóctone. A justiça deu um tiro no próprio pé!

Em países civilizados a liberdade religiosa é um direito fundamental e ninguém deve ser discriminado por razões religiosas. A missão do estado é garantir a paz social e a neutralidade do Estado; consequentemente o direito de igualdade de trato (não discriminação) pressupõe que a maioria tenha de se colocar ao mesmo nível da minoria (tratamento igual para todos: um assunto que provocará insónias!). No caso, quem mais sofrerá, a longo prazo, são as instituições cristãs que viam muitos dos seus símbolos, costumes e hábitos tidos com coisa natural, em sociedades de reminiscência cristã, e como tal naturalmente apoiados por muitos Estados. Agora com os muçulmanos, que não só se entendem com direito ao espaço público, mas que também o exigem, surgirão problemas para a sociedade acolhedora para os quais não encontra resposta nem está preparada. O Estado laico e as organizações partidárias, como representantes de ideologias, terão também elas de se colocar no terreno das ideologias, ao terem de se defrontar perante o Islão que é uma religião-política que reúne num só sistema o foro mundano (César) e o foro divino. Numa sociedade, cada vez mais islamizada, isto trará consequências graves quer para o poder secular quer para a organização e agrupamento partidários do Estado. O factor religioso e ideológico ganharão mais espaço público e político e a atmosfera social assumirá um caracter mais jacobino. Por outro lado, o Estado secular, ao não ter em conta a tradição cultural dos autóctones, torna inoperante o equilíbrio até agora criado nas sociedades pelas forças da aculturação e inculturação.

Já vai sendo tempo de a Europa se ocupar dos aspectos negativos do islão e dos aspetos positivos que podem significar os muçulmanos. A política seguida de 1950 até agora tem sido irresponsável para com as sociedades acolhedoras e irrefletida para com os imigrantes muçulmanos ao preocupar-se apenas com o seu desenvolvimento económico e negligenciando a sua modernização religiosa e cultural.  Assim, em vez de se fomentar a visão da Turquia de Atatürk fomentou-se o islão do véu islâmico e dos interesses veiculados pelas associações turcas de interesse

No caso do islão tem-se a ver com uma religião política e o islão do lenço é, precisamente a representação de uma força politizada contra os muçulmanos modernistas e contra uma Europa consciente, que desejariam ver a afirmação de um islão europeu. Isto não quer dizer que se deva proibir o lenço muçulmano, embora seja símbolo da afirmação do islão retrógrado e contra os muçulmanos progressistas na Europa; no islão do lenço, trata-se de um islão à lá Erdogan, em que as comunidades muçulmanas turcas, a viver noutros países, correspondem a comarcas pessoais (não territoriais) no estrangeiro da turquidade e do avanço muçulmano. Como a verdadeira fidelidade é concebida em termos de religiosidade nacional, a dupla nacionalidade revela-se, em muitos casos,  num apelo à infidelidade para com os países de acolhimento. A realidade que se observa e constata: gerações turcas a viverem há 60 anos na Alemanha continuam imunes aos valores democráticos ocidentais ao votarem maioritariamente em Erdogan que desde o início da sua carreira política trabalha no sentido de destruir o estado moderno da Turquia criado por Atatürk para o transformar num fascismo religioso.

Aqui só poderá ajudar uma relação motivada pela bilateralidade de direitos e deveres em relação (neste caso) à Turquia e ao Ocidente; e isto pelo simples facto de se ter de criar proporcionalidade e clareza na política e nos interesses (Não pode ser que os muçulmanos se considerem num país de acolhimento como grupo de identidade estrangeira – um estatuto religioso com direitos de afirmação grupal especial – enquanto os imigrantes na Turquia (ou país muçulmano) sejam considerados apenas como indivíduos e como tal sem direito a afirmarem-se como grupos. A Turquia e países muçulmanos teriam de dar os mesmos direitos às minorias imigrantes dos seus países tal como as suas minorias emigradas pretendem do estrangeiro. Doutro modo uns têm um livro que os defende e os outros encontram-se à chuva por não possuírem livro que os abrigue. Aqui teriam de entrar em acção os políticos com tratados bilaterais que consignem os mesmos direitos e oportunidades bilateralmente; doutro modo em vez de se proporcionar o desenvolvimento de uma interculturalidade respeitosa e mútua afinca-se a luta da multiculturalidade (uma guerrilha sub-reptícia).

O direito europeu não se deveria deixar levar pelas ondas emocionais do tempo. Com a decisão do Tribuna Europeu, os juízes submetem demasiadamente o direito ao critério do humor de opiniões e confissões que arbitrariamente poderão ser consideradas, em qualquer altura, como argumento de perturbação da ordem pública. A justiça terá de estar atenta para, também ela, não se turquizar, abandonando padrões racionais ocidentais pelo facto de se ver confrontada com novas realidades sociais.

Entretanto, é de referir que o tratamento não igual nem sempre é discriminador (idade, sexo…).

A discussão pública sobre o islão é superficial e inocente porque se prende em exterioridades como o bocado de pano que as mulheres muçulmanas colocam ou não na cabeça e como tal perde-se no acidental em vez de se dedicar à linha de princípios e práticas. Mais importante que o lenço a cobrir a cabeça seria pesquisar e falar do que o lenço encobre ou guarda dentro da cabeça.

Importante seria que estado, religião e ideologias trabalhassem em estreita colaboração e m diálogo e na bilateralidade de reconhecimento de umas às outras, em benefício do povo e do país. Doutro modo a coexistência torna-se desconfortante e catastrófica porque se afirma o oportunista e a falsidade em vez do diálogo franco e aberto. Para isso teremos de nos deixar de olhar de lado uns aos outros. Temos de falar todos do essencial e deixarmos de andar a apresentar mezinhas com este ou aquele exemplo de pessoas individuais ou episódios esporádicos que não representam a instituição, mas servem em grande parte para se ir adiando a resolução do problema que terá de passar intelectualmente pela controvérsia para se poder chegar à concórdia. Não chega a boa vontade nem meias verdades; precisa-se também de vontades esclarecidas e de discernimento na procura de uma verdade que é complexa..

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e pedagogo

In Pegadas do Espírito

A TURQUIA CONSEGUE MAGISTRALMENTE MOBILIZAR O NACIONALISMO TURCO E NÃO TURCO

Ministros da propaganda da omnipotência presidencial na Turquia – os novos “mártires”?

António Justo

 

Os Factos

Dia 11.03 o governo holandês não permitiu a aterragem do avião do MNE turco, Cavusoglu, que vinha fazer propaganda no consulado de Roterdão; no mesmo dia a ministra da família Syan Kaya entra na Holanda vinda da Alemanha de carro e é circundada de polícias e solicitada a sair do país. (A Holanda sob pressão política com eleições legislativas na quarta-feira quer dar um sinal de quem é senhor na própria casa, o que leva o governo a agir precipitadamente).

No dia 12, Cavusoglu, num comício de propaganda na cidade francesa de Metz, disse que a Holanda tinha de ser responsabilizada.   Recep Tayyip Erdogan reage também fazendo acusações de nazismo e fascismo contra os Países Baixos (como já tinha feito contra a Alemanha) e pede sanções contra a Holanda.

Em política, na luta dos grupos de interesses quem ganha tem razão

Na falta de argumentos para a defesa da mudança da Constituição turca, o actual presidente Recep Tayyip Erdogan, puxa todos os registos nacionalistas para conseguir alargar os seus poderes presidenciais no espírito do império otomano. Erdogan quer apagar da Constituição turca o espírito moderno ocidental introduzido na Turquia por Kemal Atatürk, seu fundador.

Na luta entre os grupos de interesses, no palco da arena política, o governo turco consegue o que quer: mobilizar os nacionalistas e fascistas turcos dentro e fora do país e consegue simultaneamente a desorientação nos andares superiores da EU, que tem sido muito benigna em relação à tentativa do partido de Erdogan para estabelecer um sistema presidencial omnipotente na Turquia. A Europa cala-se porque precisa da Turquia e precisa do povo. Precisa da Turquia por interesses das elites económicas, mas estes concorrem com os interesses do povo.

Erdogan conseguiu a atenção que queria e, para quem não está informado da omnipotência que Erdogan pretende com o referendo, fica com a sensação de que a Turquia é vítima. Gente bem-avisada opina que seria melhor deixar a Turquia fazer a sua propaganda entre eles, como fez no passado. Então deveria ser facilitada  também a propaganda da oposição. Por outro lado, a actual propaganda para o projecto em vista contradiz os valores constitucionais dos países da EU e os propagandistas viajam à custa do Estado turco (excepto a oposição!)

A Holanda, ao tomar uma decisão governamental soberana, serviu, porém, os interesses do governo turco empenhado numa discussão meramente emocional e demagógica sobre o referendo. O regime de Erdogan, conseguiu já maior coesão interna levando a própria oposição a defendê-lo  ao criticar a Holanda. Erdogan conseguirá também ter um pretexto para mudar o seu embaixador na Holanda e colocar lá um diplomata ainda mais empenhado no seu partido.  A Alemanha, também intitulada de nazismo por Erdogan, fecha os olhos e não toma decisões a nível de governo em relação à propaganda turca na Alemanha e deixa aos municípios a questão de impedimento ou não da propaganda turca na Alemanha com os ministros turcos.

O que os governos deveriam aprender da lição é o problema que os tucos trazem com o seu estatuto de dupla nacionalidade. De facto, o regime político e jurídico alemão e de outros países da EU encontram-se diametralmente opostos ao fascismo pretendido pelo sistema presidencial turco. Os imigrantes que votam por ele são infiéis aos valores defendidos pelas Constituições dos países onde vivem. É ambivalente a atitude de quem exige e usufrui dos valores democráticos dos países onde vive e quer para o seu país a institucionalização de valores antidemocráticos.

Vivemos num mundo maluco! O governo turco que pretende a omnipotência do chefe de Estado para o seu regime ataca de fascistas os governos de grandes democracias como a Alemanha e a Holanda.

Boa tarde Europa, boa noite Turquia! O amanhecer de uma e outra só pode ser enevoado e turbulento.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Espírito no  Tempo

É O ISLÃO A CAIXA DE PANDORA DA CIVILIZAÇÃO?

Impulsos para uma discussão honesta sobre o Islão

António Justo

Da falta de transparência numa discussão torcida

Dizer que «Alcorão não apela à guerra, mas à justiça» como faz o Xeque David Munir (Imã da Mesquita de Lisboa) é torcer e esconder a realidade literal e factual da linha oficial islâmica; uma tal afirmação sobre muitas suras do Corão faz lembrar um recurso a frases do tipo de interpretação das Sibilas sob inspiração de Apolo! Entre a objectividade das frases do Corão e uma interpretação individual (não oficial: o islão não permite anotações interpretativas ou explicativas do Corão) esconde-se a realidade das intenções numa confusão sempre oportuna, à margem das obras que se praticam.

Em tempos modernos, o recurso à ambiguidade como maneira de se desenvencilhar de situações embaraçosas não ajuda os muçulmanos nem os interlocutores.A alternativa é a reforma!

Naturalmente, um público pouco informado dá-se por contente com o primeiro aperitivo que se lhe apresente para alimentar a mente. Já vai sendo tempo de entrarmos num diálogo sério e com exigência, num encontro de olhos nos olhos de modo a deixar-se o estilo de discurso de subterfúgio e a atitude amaneirada e diplomática dos nossos salões de discussão. Isto adia o desenvolvimento do islão e apenas serve o negócio dos diferentes funcionários, interessados em ajuntar públicos mal servidos, ao serviço de diferentes grupos de interesses (numa união enganadora subterfugiada no uso do pensamento politicamente correcto) que têm medo de discussões de alto nível filosófico, teológico, sociológico e antropológico e como tal sem lugar para controvérsia. Não há lugar para a controvérsia porque os grupos de interesse estão empenhados na dfesa do status quo e nãointeressados na verdade que interessaria ao indivíduo e ao povo.

É também para admirar a vontade de uma sociedade do mainstream meramente ouvinte e de boca aberta na escuta de explicações que nos distraem e desviam do mundo dos factos que determinam o nosso viver e o de gerações futuras.

David Munir conhece certamente o princípio islâmico da Hudaybiyyah (método de enganar e obter vantagens). Esta tradição assenta no tratado de paz assinado por Maomé em Hudaybiyyah e onde este  se compromete a não atacar a cidade de Meca por um período de dez anos; os representantes de Meca confiaram no acordo feito com Maomé mas este aproveitou-se da confiança dos adversários no acordo para se preparar e assim poder atacar Meca com sucesso; passados dois anos, atacou Meca que em 24 horas venceu completamente, porque inesperadamente atacada. Este proceder de Maomé passou a ser um princípio da estratégia de guerra para o islão (O mesmo princípio aliado à Taqiyya constitui, como se vê da História, a tática de comportamento adaptado por minorias islâmicas enquanto vivem numa sociedade em minoria: como exemplo bem próximo temos o Kosovo e a Albânia).

Yasser Arafat, assinou o acordo de Oslo com Israel em 1993 para receber terras dos Judeus. Passados 8 anos quebrou o acordo (nem esperou 10 anos) e declarou a segunda revolta em 2.000, causando uma imensa confusão. Arafat conseguiu apaziguar alguns adversários que inicialmente estava contra o contrato, dizendo “Lembrem-se de Hudaybiyyah”!

Enganar e obter vantagens é também o outro princípio islâmico da taqiyya que consiste na prática da simulação (fingir a mundivisão), consiste, em casos embaraçosos, em dissimular a própria crença religiosa e em poder usar da mentira desde que isso sirva o Islão ou o crente! O princípio da Taqiya assenta na Sura 3:28, que diz: “Os crentes não devem tomar os incrédulos em vez dos fiéis como amigos. Quem faz isso já não tem nenhuma comunidade com Deus. É diferente, se estiverdes na frente deles (ou seja, os descrentes) e se tiverdes realmente medo deles”. A amizade com não muçulmanos só é justificada em caso de medo! Outras suras justificadoras da Taqiyya: Sura 49:13 e Sura 16:106

Uma mera tentativa de explicações do Corão para pessoas não muçulmanas, querendo interpretar a palavra jihad e outros solicitações do Corão à guerra e ao assassínio em nome de Alá, como algo descontextuado, vai contra a realidade muculmana e corresponde a lançar poeira sobre os olhos dos ouvintes, dado essa interpretação (que implicaria uma abordagem histórico-crítica) não ser praticada nos países islâmicos e continuar a não ser assumida pelas lideranças islâmicas. É preciso ter-se muita confiança sobre si mesmo e ser-se muito insensível à realidade dos factos para se conseguir passar a mensagem de que o islão é uma religião da paz. (O que não quer dizer que ele não tenha em si também potencialidades para se tornar numa religião da paz!)

A compreensão e o desconto que se pede para os apelos à violência nos textos sagrados islâmicos seriam de compreender se no islão fosse permitida uma abordagem que admita a análise histórico-crítica (que tivesse em conta o contexto humano e cultural da época e a pessoa de Maomé) e possibilitasse uma visão literária e não apenas literal dos textos (refira-se aqui, em abono da verdade, que também há algumas seitas cristãs que interpretam toda a Bíblia à letra; os seus estragos não são tão grandes porque se reduzem a grupos pouco numerosos e que não se afirmam como gueto). O que o Corão, a Sharia e os ensinamentos de Maomé precisam é de uma abordagem que lhes permita não continuar a interpretá-los hoje como se vivêssemos no contexto de Maomé. De resto muitos referentes do islão vêem-se obrigados a fazer uma apresentação enganosa de muitos textos.

Que os muçulmanos ajam como agem não é de admirar porque a sua estratégia de afirmação de grupo tem resultado em benefício da expansão islâmica, o que é de estranhar é o facto de pessoas formadas no espírito iluminista abdicarem das capacidades de discernimento e do espírito de procura da verdade em benefício das boas maneiras. Quem não for amigo da verdade também não serve como amigo do Homem.

 

Islão sem reforma é um engano para a ocasião

Quem for amigo do islão estará certamente interessado na sua reforma porque só desta forma ele poderá sobreviver ao saber da juventude muçulmana e contribuir para a paz no mundo.

Já não chega defender-se os interesses da religião ou da política, chegou a hora de se colocar a pessoa humana e o cidadão em primeiro plano independentemente das suas crenças ou tendências. A dignidade humana não pode ser posta de lado por muito amor e respeito que se possa ter por uma cultura ou religião. Só apresenta caracter de sustentabilidade a instituição que defenda os interesses do Homem que se expressam na inviolabilidade da dignidade humana e na sua liberdade. Sim, até porque Deus, na compreensão cristã, encarnou no Homem, independentemente da sua crença numa relação de amor que cria comunidade.

Isto de se querer apresentar exteriormente um islão vestido à maneira ocidental é um engano duplo ad intra et ad extra. Um engano para os de fora porque se faz dizer aos textos o que eles não dizem e que as autoridades islâmicas consequentemente impedem de dizer ad intra e é também um engano ad intra porque impede uma verdadeira discussão entre os funcionários do islão.

De facto estes são os mais perigosos porque são contra um islão moderno – um euro-islão em construção como alguns muçulmanos na Alemanha e não só. O muçulmano Prof. Dr. Bassam Tibi já confessou ter de capitular da visão de um islão humanista europeu porque vê que a política e a grande maioria das instituições europeias promovem um “islão de lenço na cabeça” um islão da sharia, só interessado numa discussão de um islão torcido a viver da dúvida e da insegurança dos outros.

Para que o Corão seja entendido e compreendido como código de vida para os muçulmanos modernos, os funcionários do Islão terão de começar por permitir o acesso histórico-crítico aos seus textos e deixar de os aferir e interpretar à maneira de Maomé (profeta e guerreiro) sem atender à revelação divina através da História e dos tempos. Naturalmente, o Corão ao pretender ser tido na sua leitura como a inlibração de Deus (Alá) impede qualquer interpretação liberal.

A Verdade não se encontra só no caminho caminhado

Naturalmente, não é possível eliminar as limitações humanas dos textos nem da História; pior ainda seria se permanecêssemos presos nelas. Assim também não é possível eliminar o preconceito da sua interpretação, atendendo às conotações da inspiração que cada época faz na sua interpretação como reacção à necessidade de se alinhar numa narrativa aberta mas coerente.

Cada pessoa, cada sociedade precisa de um certo enquadramento que lhe dê identidade e expressão própria e neste processo de identificação surge o problema dos caixilhos porque pretendem delinear as fronteiras da verdade quando ela é uma realidade sem fronteiras. Aqui se situa o problema do preconceito e a tática da confusão como maneira de se afirmar. O preconceito fundamenta a pretensão de se possuir a verdade encerrada no caixilho da própria visão ou entendimento. O Corão e o Islão pretendem-se como a verdade absoluta e derradeira da História humana, cometendo assim o equívoco de identificar os confins da verdade com a cultura árabe. Este comportamento verifica-se ainda hoje na prática das sociedades muçulmanas que consideram as minorias como seres de segunda ou terceira classe. (Porque não exigem os funcionários islâmicos da diáspora os mesmos direitos para as minorias que vivem nos seus sistemas como exigem para os seus crentes na diáspora; porque não se manifestam os representantes do islão na diáspora contra as barbaridades que seus irmãos cometem na África e na Ásia? – Não o fazem porque o Corão não o permite, não serviria o islão e o islão é contra a bilaterada em termos de igualdade de direitos religiosos e humanos).

Também a necessidade de uma “cidadania integrada, integradora e activa” não pode implicar uma discussão do faz de conta, pronta a engolir cobras e lagartos, doutro modo corresponderia a um marcar passo das culturas e abdicar do chamamento de todos à verdade (para lá dos enquadramentos culturais) a que toda a humanidade está chamada, em nome do desenvolvimento, a ver o mundo como um tecido comum que todos tecem. Só o conhecimento e o diálogo franco e aberto proveniente da diversidade religiosa poderão fomentar uma sociedade de alta competência, diversificada e oleada pelo respeito mútuo, sem cair na necessidade de se impor gato por lebre.

A preocupação da política pela igualdade e pelo equilíbrio dos grupos a agir no tecido social não deveria impedir um diálogo que para ser profícuo terá de seguir as regras do velho discurso da controvérsia. O respeito de uns pelos outros e o chamamento à descoberta da verdade não podem deixar-nos alinhar numa realidade do pós-facto em que a emoção e o oportunismo se tornem como orientadores da sociedade. A ideia e a procura da verdade são a luz que ilumina o nosso caminhar.

Continua num artigo próximo que tratará sobre razões do desinteresse numa discussão honesta e digno sobre o Islão.

© António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Espírito no Tempo

 

DE EDUCAÇÃO ASSIM ATÉ JESUS GOSTA

Uma estruturação equilibrada da pessoa precisa de programas e ritos

 António Justo

Acabo de visitar uma família amiga muito querida e desanuviada. Dela faz parte o Daniel, de quatro anos, muito reguila e maroto (sinal de saúde e inteligência). Passou-se uma tarde alegre sem que a criança no Daniel passasse desapercebida. À despedida, o Daniel já me considerava parte da casa e por isso me fazia caretas. A mãe, pensando que ele já estava a entrar de chancas, disse para o filho: “Não faças isso, o Jesus não gosta!”

Quem não gostou fui eu e o Daniel. E isto motivou-me a escrever este texto.

Não gostei da frase porque a mãe está, assim, a transmitir ao filho a ideia de um Deus controlador, fazendo de Jesus, no caso, um auxiliar de educação pela negativa. Ainda bem que não disse “Deus castiga!”

Na educação é relevante ter-se em atenção a imagem de Deus que se transmite às crianças. Cristãos conscientes não baseiam a educação em proibições nem autoritarismos. Procuram, no respeito mútuo, não só amar mas também mostrar que amam, para, deste modo, proporcionarem calor emocional, aquele sentimento de comunidade, fruto da vivência da relação íntima, mais fortificada quando é acompanhada de brincadeira. Naturalmente na educação também é necessário estabelecer limites até porque as crianças, por vezes, não têm consciência dos limites ou querem experimentar até onde podem ir.

 

O Deus de Jesus Cristo é o Deus do amor. Por isso a educação cristã deve transmitir à criança a mensagem de que é incondicionalmente amada por Deus independentemente dos seus serviços prestados. A educação cristã contradiz assim a norma social que avalia as pessoas pelos serviços que prestam.

Cada criança precisa de receber muito amor, estima e apreço de forma gratuita. Sintonia e compaixão são virtudes que contemplam de maneira especial as necessidades das crianças que não devem ser submetidas apenas à rotina do programa da vida diária.

A melhor maneira de educar é o exemplo que se dá na vivência da fé no dia-a-dia. Coisa não fácil quando somos puxados por tantos afazeres que por vezes nos impede de tomar consciência da presença e das necessidades do outro.

A educação cristã nas famílias além de contribuir para a sua boa higiene psíquica, espiritual e social desempenha um papel salutar na sociedade.

Uma família para se expressar, criar laços e ter uma existência equilibrada e salutar precisa de ter rituais que se repetem regularmente e que dêem oportunidade para criar momentos fortalecedores da identidade e de comunidade. Assim, uma tarefa familiar (lavar a louça!), um beijinho ao levantar, ao chegar do trabalho e uma oração ou leitura de alguma história edificante ao deitar criam momentos comuns e oportunidades de aproximação que doutra maneira se perderiam no programa individual de cada um.

Segundo estatísticas alemãs, uma família cristã reza pelo menos uma vez ao dia com os seus filhos. Constata-se como muito importante a oração antes do deitar, a oração da noite ou a leitura na bíblia para crianças; estes e outros ritos ajudam a transmitir a fé e o sentido de comunidade familiar. O que se faz em conjunto fomenta laços de amizade. Também a frequência regular do culto religioso tira a criança de uma certa anonimidade e dá-lhe projecção social, além de fazer a experiência de oração pública a Deus. Na paróquia a criança vive a fé também através do envolvimento social. A frequência dominical da liturgia além do aspecto religioso é um elemento estruturador de vida e cria na pessoa sociabilidade e prepara para o silêncio interior e para se ver numa perspectiva que não só a individual.

Muitas paróquias onde a afluência dos fiéis é grande, ainda apostam na rotina de uma missa dominical mais dirigida para adultos (criando enfado nas crianças e preocupação nos pais). Urge o imperativo de conceber o culto com para-liturgias (actividades) a partir da perspectiva da criança. Muitas actividades dominicais tornam-se em incómodo e aborrecimento para a criança. Uma má experiência da criança no serviço litúrgico na tenra idade torna-se, mais tarde, na maior vacina contra a frequência da missa dominical, devido à experiência na infância vivida. Há diferentes tipos de espiritualidades e as crianças também têm a sua maneira de experimentar e expressar espiritualidade.

As crianças desenvolvem muitas das suas potencialidades fazendo. O participar no serviço litúrgico com sketchs, com pequenas cancões ou recitações, ou, também, no serviço de acólitos, em actividades de escuteiros, etc., torna-se em verdadeira iniciação de desenvolvimento e enriquecimento da personalidade individual e social de quem participa.

Em família também há momentos menos felizes em que algum dos membros perde a paciência por se encontrar sobrecarregado por algo que não controla e então não reage adequadamente a alguma atitude do filho.

O emprego da violência deve ser tabu em família, mas se por acaso cai uma esquecida, uma bofetada, isto é considerado como resultado da própria fraqueza e como tal acompanhado de um acto de contrição comum, acompanhado de uma reflexão sobre o acontecido e porquês sem querer incriminar ninguém (O bater ou uma bofetada falta ao respeito e ao caracter inviolável da pessoa que já o é inteira na criança). A violência não pode ser justificada cristãmente mas reconhecida e reparada no reconhecimento da fragilidade humana. O emprego da violência é brutal e fomenta a brutalidade. Uma maneira de se integrar o positivo e o negativo na pessoa, para se não ter a necessidade de se refugiar nalguma abstracção, poderia, quando uma criança não está a ser tão boa, ser considerada como um Jesus abandonado e quando a pessoa faz tudo bem, ser considerada Jesus ressuscitado. Sim, em cada um de nós há um Jesus abandonado (na cruz) e um Jesus ressuscitado. De educação assim até Jesus Cristo gosta.

O desejo de transmitir a fé à criança e a experiência concreta de comunidade torna-se cada vez mais premente em famílias cada vez mais stressadas porque determinadas externamente e numa polis que pensa promover sociedade sem a experiência da comunidade, caindo no equívoco que é suficiente um comportamento com um conjunto de princípios individuais regulados por leis e éticas morais ad hoc.

Grande parte dos pais cristãos sentem uma certa tensão e preocupação pelo facto das crianças se encontrarem expostas a uma sexualidade permissiva e grosseira imposta pela sociedade e até por programas escolares de caracter ideológico. Isto e uma total privatização em torno do computador, pode impedir a criança no seu desenvolvimento (falta de contacto social imediato). Há cristãos mais conservadores ou mais progressistas. Em sociedade muitas famílias cristãs são exemplares. Quem convive com diferentes tipos de clientes nota, muitas vezes, uma grande diferença de comportamento entre eles. Geralmente quem tem uma educação religiosa consciente é mais altruísta e tem maior capacidade de empatia.

Investigações sociológicas mostram que pais com prática religiosa regular se sentem bastante seguros na educação e nota-se “entre eles uma harmonia digna de nota em questões educativas “.

Para terminar permito-me colocar aqui uma oração que quando era pequenito repetia em situações que poderiam meter medo. Naturalmente corresponde a uma pedagogia popular nem sempre reflectida; mas muitas coisas valem também pelo efeito que provocam!

São Bartolomeu me disse, que não tivesse medo de nada, nem da noite nem da sombra, nem do que tem a mão furada…Quatro cantos tem a casa, quatro velinhas a arder, quatro anjos me acompanhem, esta noite se eu morrer.

 

© António da Cunha Duarte Justo

Pedagogo

Pegadas do Espírito no Tempo