Dos Tabus ou Assuntos proibidos
Desde 1955 até 2022 morreram mais soldados alemães por suicídio do que no cumprimento do seu dever militar! Neste espaço de tempo suicidaram-se 3.973 soldados e em serviço morreram 3.300 (1).
Como se pode ver no Site das Forças Armadas alemãs, desde a fundação da Bundeswehr em 1955 morreram 3.3349 membros da Bundeswehr em serviço no cumprimento do seu dever, 116 dos quais em destacamentos no estrangeiro ou missões reconhecidas.
Mortos em serviço (3.349): de 1956 a 1959 total 231; 1960-1969 total 1153; 1970-1979 total 720; 1980-1989 total 425; 1990-1999 total 330; 2000-2009 total 344; 2010-2019 total 111; 2020-2021 total 45.
Mortos por suicídio (3.973): de 1957 a 1959: total 69; 1960-1969 total 631; 1970-1979 total 869; 1980-1989 total 835; 1990-1999 total 537; 2000-2009 total 822; 2010-2020 total 210. 24 suicídios deram-se em missão no estrangeiro (entre 1998 e 2020).
Tanta vida jovem tão cedo truncada. Tanta gente a autodestruir-se num mundo tão dedicado à destruição!
O fenómeno dos suicídios mereceria um estudo aprofundado sobre eventuais causas e medidas preventivas a serem tomadas em conta e um estudo comparativo sobre tais casos noutros países.
No mundo matam-se por ano cerca de um milhão de pessoas.
É bom que se fale sobre o assunto porque tabus e medos sociais podem servir de amplificadores dos problemas e muitas vezes encontram-se apenas ao serviço de terceiros. É preciso falar-se mais, sem preconceitos também sobre o suicídio em geral.
O suicídio em geral é também fruto de uma tragédia individual e uma cobrança que o morto deixa ao meio ambiente e à sociedade em geral.
Não se trata aqui de procurar culpas e muito menos ainda qualquer culpa individual; importante é pensar-se sobre o assunto no sentido de podermos estar mais atentos e melhor compreender. O suicídio é um problema complexo e multifactorial!
Há tanta gente ignorada e esquecida, tanta pessoa perdida no meio da multidão. O suicídio acontece num momento crítico da vida, em que o sentido se esvai; isto atinge tanta gente que quereria ser alguém, mas não encontra lugar para ser árvore erguida nem tão-pouco relva do chão. Há tanta gente a morrer com seus sentimentos e valores enterrados no seu interior; são pessoas exaustas fragilizadas que se encontram em situações que consideram de beco sem saída.
Geralmente o desejo de viver permanece, mesmo quando a vida já fumega; o problema é que muitas vezes não se nota a fumarada que vai na casa do vizinho. A dificultar tudo isto é que todos temos tanta coisa para dizer e tão pouco tempo disponível para ouvir! A dificultar a situação junta-se o facto de vivermos sob a pressão social de nos mostrarmos sempre de óptima saúde e bem-dispostos, como se na vida tudo corresse bem.
Precisamos de mais momentos de pausa, de mais circunstâncias para desabafar e também de estarmos atentos para podermos ouvir. Não há que ver o suicídio apenas como uma vida fracassada porque a razão dele está também numa soma de fracassos numa vida feita de si mesmo e das circunstâncias. O suicídio revela um problema de saúde pública (também de falta de sensibilidade social), porque o inclinado ao suicídio vive num sofrimento profundo sem esperança que alguém o aceite e compreenda e além disso há problemas sociais que prejudicam o bem-estar de cada um. Por vezes, o propenso a suicida prefere viver o silêncio do que ouvir possíveis conselhos e julgamentos. É uma situação muito complicada que tudo envolve.
Segundo estudos 90% dos suicídios em geral poderiam ser evitados.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo
(1) https://www.bundeswehr.de/de/ueber-die-bundeswehr/gedenken-tote-bundeswehr/todesfaelle-bundeswehr