Europa – Entre o Fundo de Resgate Euro e a Criação de Títulos-Euro
António Justo
O pacote de resgate é uma medida provisória para salvar, do risco da bancarrota, economias fracas da zona euro. Países, como a Finlândia, que não querem ver o seu empréstimo reduzido a fundo perdido, exigem garantias para o seu próximo empréstimos de emergência à Grécia. Torpedeia assim as intenções dos parceiros europeus. Estes não têm tido coragem para enfrentar os problemas inerentes à criação do Euro. Têm-se limitado a circundar o problema como o gato à volta do leite quente.
Também a ampliação do fundo de resgate (EFSF/ESM), agora em negociação, não é mais que a tentativa de adiar soluções, além de se revelar ineficiente para os próximos candidatos (Espanha e Itália).
Títulos do tesouro da EU serão a melhor maneira de se criar um instrumento equilibrador de diferentes economias e, ao mesmo tempo, fomentador de regiões com estruturas deficitárias. Isto terá como consequência maior inflação e o enfraquecimento do Euro, o que não agrada às economias fortes interessadas num Euro forte e estável. Com a criação de títulos EU (Euro) toda a Comunidade seria chamada a contas. Os países mais ricos passariam a ser os credores (assumindo o risco) e ao mesmo tempo co-financiadores dos juros dos países com défices estruturais. Isto impediria os especuladores globais de levarem os países endividados à ruina com juros astronómicos e obrigaria os países fortes a deslocar empresas para a periferia. Os países fortes receiam que os países devedores, com a introdução de Títulos a nível de EU, deixariam de ter pressão para evitar fazer dívidas.
O preço da EU e do Euro traz consigo a solidariedade dos mais ricos para com os mais pobres exigindo aqueles, em contrapartida, mais disciplina destes. As tácticas dilatórias de países nórdicos, como a Alemanha, só serão compreendidas em sociedades disciplinadas e habituadas à estabilidade económica e social; tal não se dá nas sociedades latinas, o que explica animosidades entre as nações latinas e as nórdicas. Aqui não se poderá esperar justiça equitativa. Quem trabalha e tem mais produtividade terá que pagar mais!
Para se salvar a EU e o Euro, os países fortes não têm outra alternativa senão aceitar Títulos-Euro ou fazer transferência de dinheiro e bens para os países da periferia. Quem suporta a maior carga são e serão os alemães. Se quiserem estabilidade na EU terão que a pagar ou optar por adequarem os seus costumes aos latinos, o que corresponderia a um empobrecimento da Europa.
A distribuição da carga na união monetária traz consigo mais centralismo e mais dirigismo dado que quem paga quer receber algo em troca. O Sul terá mais dinheiro na algibeira mas mais presença nórdica na orientação dos destinos da EU. A situação é tão complicada e as economias do norte e do sul são tão diferentes que, neste processo, numa primeira fase, só poderá haver descontentes dum lado e do outro. O maior problema estará na perda de independência nacional e na destruição dos diferentes biótopos culturais europeus. Tudo cada vez mais igual, tudo em serviço de Mamon.
O descontentamento já chegou aos andares superiores dos Estados
Ontem, o presidente da RFA, Christian Wulff, homem reservado, criticou o Banco Central Europeu (EZB) por ter comprado títulos (bonds) de alguns Estados. O Artigo 123 do tratado sobre o modo de trabalhar da EU proíbe, para assegurar a independência do Banco Central, o EZB de comprar títulos de dívidas. Wulff critica também a política dos governos: “O pecado contra a geração jovem tem que acabar”. O desenvolvimento faz lembrar um jogo de dominó: “Primeiro os bancos salvaram outros bancos e depois os Estados salvaram os bancos, depois uma comunidade de Estados salva alguns Estados. Quem salva no fim os salvadores?” A política não se deve deixar “conduzir (como puxados) na argola do seu nariz, por gerentes de bancos, por agências Rating ou por Media voláteis”. A política tem actuado como um acossado. De facto não tem defendido as aquisições da economia social de mercado, como protectora da necessária solidariedade, nem impede a ganância anti-social dos jogadores globais.
Todas as iniciativas, como o plano de resgate do euro para tornar a zona euro resistente às especulações tem deixado todos descontentes. A Europa e os europeus encontram-se a saque.
A repartição da dívida por todos os Estados da zona euro através de obrigações-euro constitui um sapo difícil de engolir especialmente para a Alemanha. A queda do euro ou a exclusão de países da zona euro teriam consequências sociais irreparáveis para a estabilidade europeia. Será óbvia a cooperação na política económica e fiscal. Para defender o espaço económico europeu não chega defender o Euro, é urgente uma política de transferência de riqueza para os países pobres ou através de Euro-Bonds (títulos) assumir a responsabilidade das dívidas dos países mais carentes. Doutro modo estes serão impossibilitados de equilibrar os seus orçamentos estatais, por terem de pagar juros usurários a especuladores sem escrúpulos.
Todos terão de participar na solidariedade: países, bancos, credores, contribuintes e não contribuintes. A situação é demasiado problemática para nos fecharmos em nacionalismos ou em receitas simplistas.
António da Cunha Duarte Justo
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