COMO PROTEGER-SE DA PRESENÇA TÓXICA NA SOCIEDADE

Somos feitos de Informação e ter-se a Consciência dela é o Pré-requisito para se ser livre

Nas sociedades avançadas assiste-se a um sentimento crescente de desconforto e a um aumento de doenças nas populações. No contacto com amigos e conhecidos verifica-se que muitos sofrem de solidão, de falta de sentido, de medo do futuro e com depressões, devido à presença exagerada dos Média e da política no espaço público; em geral, o cidadão já não se sente em casa na sociedade nem no mundo em que vive. Também a sensação de se ser ameaçado em espaços públicos pela violência importada está a crescer cada vez mais sem que os políticos sejam realistas e politicamente sensatos e pensem as coisas até ao fim; em vez de tomarem medidas adequadas escondem-se em ilusões ou “discursos dominicais”. Pequenas e grandes coisas são aproveitadas pelo discurso político-partidário e criam reacções histéricas na política, nos meios de comunicação social e na população. No meio disto tudo a estrutura social perdeu a sua estabilidade anterior.

E surgem até relações ácidas dentro de famílias e grupos de amigos devido às aragens vindas de centros ciclónicos geopolíticos, centros que, embora de fora, nos dominam até ao nosso espaço privado e íntimo pelo facto dos tentáculos geopolíticos se prolongarem até ao mais interior de todas as estruturas da nossa sociedade; tal sofrimento é confirmado por investigações científicas. Como somos feitos de informação genética e cultural (e informação propagada depois de selecionada por quem tem a informação restrita que é elaborada   de modo a motivar divisões sociais legitimadoras do Poder estabelecido que democraticamente se fundamenta na opinião “Individual” do cidadão) e sobretudo conduzidos por informações transacionais de caracter executivo, domina uma opinião pública autoritária (publicitada) que reprime a formação de uma opinião individual própria e responsável; esta  é morta à nascença porque a pressão pública impede a formação e valorização da consciência individual: mas só esta seria capaz de garantir o âmbito livre. Esta é também reprimida pela informação difundida que se serve da activação de memória nociva para perturbar a pessoa de maneira a desestabilizá-la e assim torna-la objecto.

Também deveria ser chegada a hora de tocar todas as campainhas de alarme na sociedade, quando a colectividade em geral se torna cada vez mais doente e quando em universidades alemãs, como na Uni Kassel, se verifica que mais de um quarto dos estudantes são cronicamente doentes, com 22% dos estudantes a sofrer de doenças mentais (psicológicas), como revela uma investigação da Universidade (Junho 2024).

Por vezes a situação é tão grave que até dentro do nosso círculo de conhecidos chegamos a saber de casos de jovens que sem dizerem nada se suicidam. O estado de saúde subjetivo aumentou especialmente devido ao impacto das Medidas contra a Pandemia e com a implementação da guerra na Ucrânia e nos nossos meios de comunicação. Uma emoção social implementada com fins menos claros chega a provocar em muitos de nós a mutação do próprio eu levando-o a identificar-se com a vontade da opinião publicitada. Esta alienação de nós mesmos torna-se destrutiva a nível individual e de sociedade. (Demolidora da pessoa porque a instrumentaliza e arrasadora da sociedade porque entregue a quadrilheiros sem respeito nem noção do que é uma sociedade de Irmãos a criar).

A vida moderna, caracterizada pela presença omnipresente dos meios de comunicação social e por intensas discussões políticas de caracter unilateral e doentio bloqueiam os nossos próprios filtros de proteção; tal facto pode levar-nos à alienação de nós mesmos a ponto de aumentar a nossa ansiedade e até criar depressão. Então deixamos de viver nós mesmos e a sociedade passa a viver em nós sem que tenhamos a possibilidade de controlo sobre ela; nesse caso a parte mais humana em nós sofre desatinadamente possibilitando então diversas doenças corporais e psíquicas. Chegados a este sofrimento há que tomar medidas bastante radicais no sentido de se proteger e defender a própria alma de influências tóxicas externas. Para tal torna-se necessário desenvolver estratégias de autodefesa porque se encontra em via a destruição da própria identidade em benefício de uma identidade social destrutiva que vive de interesses e de clivagem contra a moral humana oriunda do fundo do nosso interior cada vez mais difícil de resguardar.

Nesse sentido é de começar a fazer-se abstinência no consumo de Telejornal ou de outros programas que criem ansiedade e preocupação e isto até por uma questão de higiene mental. Como alternativa há a hipótese de se recorrer à Mediateca onde se encontram em memória referências bibliográficas de monografias, publicações periódicas, documentos audiovisuais como suporte eletrónico. Eu, por exemplo costume ver reportagens sobre animais, sobre a naturezas, reportagens de comboio pelas várias regiões dos diferentes continentes e temas que me dão consolação; deste modo evito a constante cobertura mediática que ameaça assenhorear-se da conduta das nossas vidas. O tempo que se dedica à família e aos amigos torna-se mais agradável e proveitoso.

Geralmente escolhemos os melhores produtos culinários para termos o prazer de alimentar bem o nosso corpo. O mesmo cuidado há que ter na escolha do que se consome para formarmos a mente e a alma; geralmente seguimos a rotina consumindo o que o Telejornal e o jornalismo nos apresenta. O jornalismo segue, porém, o status quo e os interesses das elites que geralmente procuram colocar-nos na condição de alinhados na sua fila e o que têm em demasia se deve ao que de nós tiram e que, por cima, ainda é usado para nos formatarem segundo a sua medida. Naturalmente a vida que nos é dado ter ocupa-nos demasiado não nos deixando tempo para reflectirmos  e notarmos o que se passa bem como o que fazemos e seus porquês.

Neste caso, só pode ser útil arranjar-se tempo para reflexão; de facto todos nós precisamos de ter um tempo só nosso. Tal como o nosso estómago precisa de cerca de três horas para digerir os alimentos corporais também o nosso espírito precisa de momentos e espaços próprios para reflectir tudo o que entra na nossa mente. Doutro modo seremos dirigidos e manipulados por ela sem notarmos que ela foi alimentada por forças interesseiras que misturam na informação (alimento mental) muitas drogas e produtos que nos amarram a eles como o cão à sua trela. Daí ser necessária atenção plena e para isso não esquecer a meditação, a oração e o desporto. A reflexão ajuda-nos a tornar-nos conscientes de nós próprios e das nossas necessidades, também de gozos corporais e espirituais que para serem eficientes terão de acontecer sob a direção da própria consciência desperta. Se dedicarmos todos os dias pelo menos dez a vinte minutos de pausa – o momento diário da digestão do espírito – então, com o tempo conseguimos adquirir uma atenção plena e usufruir do momento presente – o Kairós (para isso não precisamos de nenhum curso embora este possa ajudar, se não pretender fixar-nos no método ou em qualquer pessoa ou guru: neste caso isto também não passaria de uma alienação).  A reflexão ajuda também a manter a mente clara. Além do mais, todos nós, cada pessoa e cada célula se encontram interligados e em ressonância com o todo, que para uns se expressa em Deus e para outros no universo/natureza. Momentos de pausa nas tarefas do dia-a-dia e também tempos de retiro ajudam a concentrar-nos no momento presente e a fomentar a capacidade de discernimento. A reflexão regular sobre os próprios valores, objetivos e prioridades ajuda-nos a ter mais clareza sobre as próprias/autênticas necessidades. Doutro modo somos levados a correr atrás das necessidades da moda, mas não das nossas.

Para nos ajudar a desligar dos estressores externos e a libertar-nos de energias agressoras que sentimos em pessoas com quem contactamos, a mim ajuda-me fazer um exercício de respiração abdominal e por vezes sacudir do próprio corpo, com as mãos, a negatividade sentida. Deste modo adquire-se mais facilmente a paz interior. Mas o que me dá mais equilíbrio e confiança é a oração, sendo através dela envolvido num processo de vivência que tudo une e leva a entender.

Em tempos de seminário usava como estratégia de autoconhecimento e para identificar melhor os meus processos internos (incómodos da vida cotidiana) recorria à escrita de um diário onde anotava pensamentos e sentimentos e esta actividade criava tranquilidade. Hoje, para tal, dedico-me à escrita que é o resultado de um mundo que embate em mim e que procuro compreender e exprimir; na expressão dos pensamentos e sentimentos surge uma sensação de equilíbrio e de integração numa comunidade em desenvolvimento. (Neste sentido imagine-se que cada pessoa escrevia um diário e a história da sua vida!)

Devido à pancada que tenho da necessidade de escrever continuamente sei que negligencio o corpo, o que me dá um pouco de má consciência,  porque sei que o corpo para se sentir melhor precisaria de actividades desportivas; a modos  de compensação todos os dias passeio um pouco na natureza e esta entra no meu caminhar através da inspiração  no interior do meu ser passando então a sentir no corpo uma vibração de gozo e agradecimento por me encontrar no fluxo da vida. Processa-se uma união de alma e corpo com a natureza e o espírito onde o divino inspira e expira comigo; então tudo aliado ao alegre sorriso do pôr-de-sol origina uma aragem de paz e sossego.

Não é fácil integrarmos no nosso dia-a-dia estratégias importantes que nos protejam contra influências externas e efeitos tóxicos pois já desde pequeninos fomos condicionados a seguir o que outros queriam e até a obedecer sem saber porquê. Por isso temos uma certa dificuldade em dizer “não” quando nos sentimos sobrecarregados e sem tempo para nós mesmos, aquele tempo que precisaríamos para nos sentir bem.

Torna-se importante interessar-se de forma mais consciente por familiares, amigos e pessoas boas pois essas é que nos podem apoiar e ajudar a levar uma vida estabilizada. Esse tempo não é gasto nem sequer empregue para o passar porque passa a ser o próprio tempo o tempo criativo reservado para cuidar da saúde emocional e mental.

Vivemos sob a pressão criada de termos que nos ordenar do lado do “bom” ou do “mau” e por isso as opiniões pessoais são destituídas e com elas a própria criatividade  porque à opinião pessoal real não é possibilitada também a alternativa de se poder posicionar entre o bom e o mau e para tal não há espaço  por causa dos padrões maniqueístas que dominam a sociedade e o indivíduo. Relevantes actores a agir no palco da sociedade, por razões de poder, não deixam espaço para a dúvida criativa porque esta, assumida pessoalmente, se tornaria na certeza individual que os destronaria. Sem alternativas ao dirigismo centralista anónimo permanece como consequência a tribalização da sociedade.

Por isso qualquer pessoa que advirta e se expresse criticamente em relação ao governo ou às elites dominantes globais será rotulada como negacionista da elite do sistema e da democracia! O mais trágico da situação é que a população em geral aceita como verdadeiro tal rótulo porque a consciência da sociedade é processada e formatada neste sentido por aqueles que estão no poder e vivem melhor nos patamares de cima do sistema. Por isso o sistema procura difamar todo aquele que pretende prestar um contributo para que o sistema melhore substancialmente e isso é lógico porque os beneficiados do sistema teriam de restituir algo do seu supérfluo ao povo mas sentem-se protegidos porque contam com a humildade do povo, que, por natureza de grupo se sente inclinada para aceitar a condição de ser rebanho a ponto de não poder reconhecer os seus genuínos interesses nem quem os defende. Saudável seria uma atitude humilde e de serviço comum ao povo e às elites que o orientam.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

 

DEMOCRACIA EM CRISE DEVIDA AO COMPORTAMENTO DO PODER ECONÓMICO-POLÍTICO E À INFORMAÇÃO DIGITAL PIONEIRA DE NOVOS CAMINHOS

Sofrimento individual e social como Sintoma de má Governação

O Relatório da EIU Índice de Democracia 2023 (1) mostra que menos de 45,5% da população mundial vive numa democracia e apenas 7,8% dela tem uma “democracia plena” que garante não só eleições e separação de poderes, mas também outras liberdades e direitos sociais. 40% da humanidade vive sob um regime autoritário.

As populações dos países europeus e, com elas a democracia, sentem-se inseguras e vêem-se ameaçadas a vários níveis: individual, cultural, económico, tecnológico e ideológico. O nosso sistema político-social, embora fale muito em cidadão, vive da negação de ele mesmo na qualidade de pessoa e da transformação da nossa identidade em mero cidadão segundo modelos externos por ele predeterminados. E deste modo somos erroneamente classificados de acordo com a nossa posição social, inclinação partidária e religiosa.

A nossa personalidade passa a ser determinada por interesses alheios e, assim, contra a originalidade individual própria e contra a singularidade característica de cada ser humano. Sobretudo hoje em dia, a influência da sociedade em nós mesmos adoece-nos porque nos desilude connosco próprios e nos aliena de tal forma que já não vivemos nós próprios, passando a sociedade a viver em nós e isso cria nas pessoas um sentimento de solidão e de abandono.  

Somos treinados para nos enquadrarmos em grupos políticos ou sociais e a desistir da nossa identidade pessoal para passarmos a assumir a máscara deles e, com elas, podermos assim negar ou demonizar a identidade dos outros e deste modo, passarmos indiretamente, a negarmos também a própria identidade. Isso cria inquietação em nós, e essa inquietação já social, é um verdadeiro aviso interior: uma dor de alerta para estarmos vigilantes e nos distanciarmos das propagandas. Porém, o fatídico é que nos deixamos guiar por aqueles que nos tornam inseguros e deste modo nos adoecem! A propaganda tende, em geral, a ser uma lavagem de cérebro, e a desviar-nos da possibilidade de nos deixarmos guiar pela nossa intuição. Por isso um método importante para nos defendermos é darmos mais valor a nós próprios através da reflexão que leva ao verdadeiro conhecimento de si próprio. Neste sentido, se pretendermos preservar a nossa integridade pessoal, saúde e paz, torna-se importante um estratégico distanciamento da sociedade política de modo a observá-la como se se tratasse de assistir a um espectáculo de circo.

As campanhas políticas e a imprensa que as apoia, vistas de perto, são o melhor exemplo do método concertado para nos tornar rebanho! Política e socialmente, de uma maneira geral, só somos estimados e percebidos se renunciamos à nossa própria identidade pessoal em benefício de máscaras exteriores, da política, do poder dos outros, de modo a vivermos dentro de um colectivo mas sem comunidade!…

E tudo isto à custa do que é mais importante em nós mesmos: a renuncia à singularidade da pessoa (selbst) que somos e sua inerente dignidade.

Em tempos passados, ameaças semelhantes da realidade política não passavam para a consciência da maioria da população porque apenas a  alta classe média tinha acesso à informação e desse modo ficava ilesa das doenças sociais provocadas pela política e seu discurso;  agora, através do desenvolvimento das tecnologias, a informação tornou-se mais democrática e através da sua presença nas redes sociais aumenta-se a tensão entre os mediadores e intérpretes da informação e a população em geral, entre os de cima e os de baixo.

Ao tomar-se consciência de como os interesses do poder funcionam e são aplicados, surge uma desconfiança geral não infundada de sermos doutrinados no sentido de o que vale é a agressão/divisão nas sociedades de uns contra os outros e não a colaboração, aquela estratégia que possibilitou o verdadeiro desenvolvimento da humanidade.

Esta atitude de exclusão (que mostra a contradição entre os interesses do povo e das elites) foi particularmente evidente na sociedade alemã e francesa e suas elites depois do governo da Pandemia Covid 19 e do início da guerra na Ucrânia. A partir daí  as elites europeias revelaram os verdadeiros interesses que se encontram nas governações mediante a estratégia comum usada de apresentarem não os factos mas a interpretação deles, através dos meios de comunicação, como sendo a interpretação ad hoc a verdadeira realidade (a realidade pós-fática), e assim manterem as populações do seu lado.

O que costumava governar o mundo era o trabalho da economia, agora que tem de ser reduzido a um mundo multipolar dividido, os políticos vêem-se como seus capangas obrigados a unir a população com a concentração de informação. Na Europa, a perda de confiança nos respectivos partidos políticos e no Estado dececiona o arco do poder nos governos e parlamentos. Isto funciona a favor do meio da sociedade, que se vê tornar-se mais independente do arco do poder político que a representa. O geral da sociedade, acompanhado por uma classe média mais consciente, questiona as ações dos governos e assim surge aqui e acolá rebelião entre o povo, o que constitui uma ameaça real para a elite dominante.

A sociedade encontra-se em profunda mudança e o arco do poder sente-se ameaçado por parte dos cidadãos e com ele os meios de comunicação social que que antes viviam de maneira solidária com ele, veem a sua posição de poder também ameaçada e, solidariamente voltam-se hipocritamente contra a base da sociedade. Tudo demasiado tarde porque controlar as tecnologias e fontes de informação não é suficiente, porque o mal vem de cima (política de desconstrução cultural e contra os interesses das populações) e da incapacidade de governar sob diferentes requisitos e condições sociais. Ao fazê-lo, identificam o sistema democrático com os seus próprios interesses de elite como se fossem eles próprios o Estado ou a Democracia em pessoa ao lutarem unicamente contra os sintomas fracos da sociedade que as próprias elites criaram nomeadamente: Chega, AfD, Le Pen, Giorgia Meloni, comunistas, etc., quando estes poderiam ser tomados como indicativo da necessidade da correcção da política ideologicamente  globalista e de economia liberalista unilateral seguida até aqui.  

A brutalização da linguagem pela elite política e pelo o populismo estão a aumentar os conflitos e a linguagem está a tornar-se um acelerador político da luta entre interesses não conformes. A ascensão dos chamados partidos populistas vindos de baixo tem muito a ver com o populismo vindo de cima, onde a batalha de interesses se torna mais óbvia e os interesses dos grupos étnicos reivindicam uma parte do poder.

A opinião de que a Alemanha tem “uma democracia robusta” só existe porque a elite dominante (a esquerda governante em Berlin) conseguiu afirmar de forma muito esperta e disfarçada os seus próprios interesses em massivas manifestações populares. Como correctivo importante na Alemanha, revela-se uma parte vigilante da população que obriga os governantes a ter em conta os interesses conflituantes que se manifestam na sociedade.

Porém na Alemanha a imprensa e os governantes dão mais interesse e espaço a palavras provocantes de extremistas da direita (AfD), pelo facto de serem concorrentes do arco do poder, do que a brutalidades e assassínios em plena rua praticados por extremistas islâmicos. Além disso, os partidos do governo sabem muito bem que os muçulmanos que têm a nacionalidade alemã votam neles. E já é possível adquiri-la passados três anos de estadia.

Conheça a Alemanha directamente desde 1980 e nunca houve uma Alemanha tão degradada como a actual a ponto de se tornar num atraso para a Europa.  Na Europa, os países dependem da UE e, portanto, cada povo tem padrões diferentes,e como os problemas têm de ser resolvidos em harmonia e para tal não se olha a meios (O fim passou a justificar os meios!).

Os Estados que devem a sua grandeza à qualidade da democracia e se encontram na vanguarda das nações deveriam primeiro lutar internamente pela verdadeira democracia, para poderem ser um sinal brilhante para o mundo. Na verdade, se olharmos para a situação da população mundial, temos de compreender que as pessoas mais pobres da nossa democracia são também as que mais têm a perder se a democracia enfraquecer, mas a política e a economia manifestam-se mais interessadas na afirmação do poder do que da democracia.

Nos EUA e na UE, a qualidade da democracia está a diminuir fortemente e a atmosfera política de guerra, baseada na palavra-chave “tornar-se eficiente para a guerra”, espalha a convicção na sociedade de que vale a pena a agressão em vez do diálogo e do compromisso. É assim que os conflitos sociais e as agressões são refinados mesmo na Europa. Cada um alimenta os outros de acordo com seus interesses. Até à guerra da Ucrânia, o crescimento económico era o combustível que unia o espírito dos europeus. Os interesses geoestratégicos exagerados do capitalismo liberal provocaram os interesses dos sistemas económicos autocráticos e, na consequência, os interesses económicos entre polos geopolíticos provocaram a guerra.

Depois da forma ocidental de governo, a democracia, reivindicada como particularmente estratégica através da influência económica e política, os estados autocráticos defendem-se organizando-se sob o domínio da sua ideologia. Para se defenderem adequadamente, organizam-se na aliança económica (BRICS) baseada no modelo da ordem mundial americana e com o tempo militarmente no modelo da OTAN.

Como resultado, um mundo que antes era controlado pelo poder dos mais fortes do mundo (EUA) criará uma nova realidade geopolítica mais baseada no princípio da cooperação entre os mais fracos, uma espécie de democratização do poder económico a nível mundial.

Os valores democráticos estão vinculados a todas as pessoas e, portanto, são imortais. Nesse sentido, a formação de bolhas do poder e de filtros da informação devem ser evitados. Isto pressupõe que surjam iniciativas de caracter humano, desde a economia à política e às expressões sociais. As pessoas serão cada vez mais capazes de colocar o pé na porta da política, da economia e das ideologias.

Um factor confortável e beneficiador da uma democracia mais democrática são as novas tecnologias virtuais (também as redes sociais, tão combatidas pelo poder estabelecido consciente de que possuir o monopólio da informação é garantir o poder e ter o povo na mão). A bandeira das principais instituições e grupos de interesse será cada vez mais moldada pelo povo. A democracia é complexa, mas não tem alternativa e continua sempre a ser um processo individual e social muito dependente da política de informação dado a informação ser a base da formação da consciência social. Este é um ponto nevrálgico que exige especial vigilância do cidadão.

Os slogans “aberto à diversidade – fechado à exclusão” perdem toda a base democrática se forem aplicados à custa da cultura maioritária e forem dirigidos contra ela no sentido de servirem só interesses económicos contra o bem-comum das populações. A vigilância em relação ao poder político e à defesa da democracia deve partir de baixo, primeiramente da sociedade civil. As elites parecem querer ignorar que o povo não é tão ignorante como parece e com o tempo pedir-lhes-á contas.

Cada vez precisamos de mais sinos na sociedade como sinal de alerta e estímulo para a conscientização humana a nível individual e comunitário, em regime de democracia, coisa que não é tão evidente como parece. Todos nós, seja na Europa, na América, na China ou na Rússia, estamos desafiados a escolher entre o Diabo e Deus, tendo ao mesmo tempo de assumir que Deus e o Diabo estão presentes em todo o lado e até em nós, embora, muitas vezes, de maneira muito discreta. Trata-se de descobrir e promover o gene divino que se encontra em cada pessoa e de o fazer valer como ele se expressa de nascença em cada pessoa. Papel do “Diabo ou Demónio” (“entidade intrigante”) é colocar uns contra os outros para poder ter poder sobre eles. Somente juntos criaremos uma cultura de paz onde não haverá mais lugar para se colocar uns contra os outros. Para todos Precisamos todos de oportunidades iguais, liberdade de expressão, liberdade de reunião, sendo o preço o amor ao próximo. O mundo e a comunidade somos todos nós.

 

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

(1) Relatório da EIU Índice de Democracia 2023. O relatório do Índice de Democracia da EIU analisa a relação entre democracia, guerra e paz e analisa os impulsionadores geopolíticos do conflito. Também fornece uma explicação das mudanças nas classificações globais e uma visão geral regional aprofundada:  https://www-eiu-com.translate.goog/n/campaigns/democracy-index-2023/?_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt-PT&_x_tr_pto=sc

A PALAVRA

 

PALAVRA

“No princípio era o verbo 

e o verbo se fez carne”

 

O espírito revela-se na palavra,

Ora masculina, ora feminina                

Dela a essência do ser se lavra,

O sulco da vida, na lavoura divina 

 

Cada sílaba canta a verdade,

E no verso, a alma se faz notar.

Verbo divino em comunidade,

És a eterna chama a iluminar.

 

Da voz emerge o som profundo,

Eco do cosmos, divino mar.

Palavra que abraça o mundo,

É a essência de Cristo a pulsar.

António CD Justo

Pegadas do Tempo

http://poesiajusto.blogspot.com/

 A modo de ajuda para se entender algum dos aspectos de interpretação da poesia:

Já quando era estudante do secundário me interessava muito pela fenomenologia das religiões e por tudo o que a vida nos brinda. Creio que o interesse me surgiu quando na aula de História se tratou da mitologia grega e foi referido o mito de Prometeu. Encontrava-me a estudar no seminário dos salesianos em Mogofores.  Foi então que tive como que um momento eureca em que passeia a ter uma compreensão e um interesse especial pelas narrativas míticas dentro do cristianismo e fora dele. Verifiquei que o mito transmite uma verdade mais abrangente do que as verdades históricas. Desde aí passei a intuir que não existia só o aspecto narrativo a nível histórico, mas também paralelamente a narrativa mítica de significado mais profundo, além de outros métodos de procurar saber sobre a realidade.  Então impressionou-me sobretudo o mito de Adão e Eva que intui como um alargamento do mito de Prometeu que roubou o fogo aos deuses do Olimpo para o dar à humanidade. Mais tarde mexeu especialmente comigo a revelação de Deus a Moisés no monte Sinai quando este perguntou a Deus na sarça ardente como o deveria apresentar ao povo e Deus lhe respondeu “Eu sou o que sou, eu sou o tornar-me.…”. Uma outra Palavra que me acompanha em tudo é a expressão do evangelista João quando diz “No princípio era a Palavra/a Informação e esta tornou-se carne e ainda o mistério da Trindade do 1=3 e 3=1 (que entendo como a fórmula de toda a realidade)  e também a incarnação em que Jesus Cristo se torna o protótipo de toda a pessoa, de toda a humanidade e de toda a realidade. Isto entusiasma-me porque vejo aqui todas as filosofias incluídas e o Cristianismo como espaço aberto a toda a discussão séria. Isto entusiasma-me e leva-me a ver no Cristianismo um modelo exemplar de filosofia e ética para toda a humanidade. Da meditação destas revelações para toda a humanidade deduzo todo o meu pensamento e transmito-o indirectamente no que escrevo, havendo em tudo m fio condutor.

No mistério da encarnação constata-se o pulsar divino ligado ao pulsar humano e ao pulsar de toda a criação. De facto, estamos todos ligados uns aos outros e com a natureza fazendo parte de um só corpo e de um só espírito; em Cristo temos a divindade que nos une e sustenta e no Jesus temos a união de espírito e matéria; portanto em Jesus se revela também o Cristo cósmico.

Nas experiências do nosso dia-a-dia verificamos que tudo se encontra ligado e por vezes sentimo-lo através de intuições e até de se pressentir o que o outro sente ou pensa sem que o diga. Geralmente andamos muito distraídos com as narrativas que nos são apresentadas no nosso dia-a-dia e resta-nos pouco tempo para nos dedicarmos a entendermo-nos a nós mesmos e o que se passa em torno de nós. Cada pessoa é como que um microcosmo em que se encontra tudo reunido em ponto pequeno: o macrocosmo no microcosmo e o microcosmo no macrocosmo!

António CD Justo

 

MORAL SECULAR E MORAL CRISTÃ EM DIÁLOGO

Ética e Moral em contexto de Globalismo e Interculturalismo

 Moralidade é a resposta a nível de conduta a princípios, valores e regras de comportamento que orientam o ser humano para o bom viver em sociedade no sentido de alcançar a felicidade. A moralidade pode ser entendida como dimensão do ser humano ou como uma forma de consciência. Implica a capacidade de julgar o que é certo e o que é errado independentemente do código moral jurídico ou religioso porque dependente da consciência individual interna.

A ética (filosofia moral) serve-se das diferentes concepções de moralidade para buscar princípios universais que orientem o comportamento humano, no âmbito do certo e do errado e procura estabelecer padrões e princípios de comportamento do bom viver para todas as pessoas.

A moral é mais pessoal e culturalmente circunstanciada, estabelecendo o seu comportamento no âmbito do bem e do mal; centra-se mais nos valores e nas normas, variando de cultura para cultura e de pessoa para pessoa, podendo ser moldada pela educação, experiência pessoal e influências culturais.

A moral secular situa-se fora das tradições religiosas embora integre delas muitos valores secularizados que em vez de assumirem uma relação com Deus buscam a fonte da sua orientação comportamental apenas na razão, na ciência e na legislação estatal. Valores da ética secular:  solidariedade, justiça, compaixão, cuidado. Serve-se por vezes práticas budistas como meditação secular para adquirir concentração plena e redução de estresse.

A moral cristã baseia os princípios éticos que orientam o comportamento humano em Deus, na tradição, na razão e no agir de Jesus Cristo. As normas morais cristãs, pelo facto de estarem sujeitas à consciência pessoal de cada um não contradizem o caracter universal da moral apesar do código formal que as envolve (no cristianismo a consciência individual é a soberana). Parte de um só Deus como elo comum de toda a humanidade e em que todo o humano tem a mesma dignidade inviolável baseada na filiação divina independentemente de crença ou descrença.

Neste artigo usarei os termos moral e ética de maneira indiferenciada embora a ética se refira aos princípios/valores gerais e a moral se refira a esses valores aplicados que expressam a sua diferenciação nas diferentes religiões e culturas.

Enquanto a moral secular acentua o falar de valores, a moral cristã acentua a virtude (atitudes humanas), isto é, valores aplicados.

Na procura de distinguir o que é certo e errado a moral secular busca princípios éticos fundamentados na razão, na experiência humana, na ciência e na filosofia. Os seus adeptos fundamentam a sua moralidade em princípios racionais, como a busca da felicidade, o bem-estar humano, a justiça, a igualdade, a liberdade e os direitos individuais. Esta moral vai-se adaptando às mudanças sociais e culturais no tempo e orienta o seu agir a partir das consequências que podem causar.

A ética secular geralmente orienta a moralidade pelas consequências das acções praticadas tendo em vista o caracter utilitário delas. O padrão de orientação para a moral correcta verifica-se  nas consequências positivas para a maioria das pessoas.

Na procura de distinguir o que é bem e mal a moral cristã baseia-se nos ensinamentos da Bíblia, na autoridade divina e na tradição da Igreja acompanhada da razão e do Paráclito. Estes fornecem uma base sólida para as normas éticas e dão mais segurança às pessoas e às comunidades por não correrem o perigo de se perderem no abstrato, no geral e no espírito do tempo.

Princípios morais cristãos importantes são o amor a Deus e ao próximo, a justiça, a misericórdia, o perdão, a virtude e a espiritualidade. Jesus Cristo é o movente de toda a vida de um cristão; ele é o protótipo da vida a seguir-se.

Adeptos da moral secular chegam a acusar o cristianismo de ter uma moral absoluta e imutável e como tal não flexível às mudanças do tempo porque baseada nos preceitos da fé. A flexibilidade da moral cristã revela-se no respeito pela consciência individual considerada soberana e pela presença do Espírito Santo como forma de expressar a revelação de Deus a nível individual e no processo histórico. Também a ciência teológica se ocupa das questões de fé ao longo dos tempos em contínuo diálogo com a sociedade e com as diferentes filosofias, servindo-se do instrumento da razão e possibilitando diversidade de interpretações e práticas (a teologia do Espírito Santo possibilita um aferimento de caracter “democrático„ ao desenvolvimento individual e social ao longo da História (a revelação de Deus também através da História).

A moral secular é mais flexível porque mais virada para a mudança reduzindo o espectro da sua ocupação ao utilitário pragmático e funcional sem grande compromisso com o passado sendo orientada para e pelo resultado da acção. Também há muitas sobreposições e influências mútuas entre a moral cristã e a moral secular! Esta surgiu em grande parte daquela. Numa sociedade de caracter globalista e multicultural a moral secular possibilita um diálogo acessível a todas as culturas e biótopos culturais dado empregar a razão na elaboração dos seus princípios. A sua prioridade de acentuação na igualdade, na justiça social e nos direitos individuais fomenta principalmente a igualdade e a justiça social.

As desvantagens visíveis na moral secular devem-se sobretudo à precaridade das suas fundamentações a nível de fontes e de autoridade e a não considerarem a pessoa integral pois deixam fora do seu âmbito questões espirituais e existenciais profundas.  O seu campo limitado ao certo e ao errado, obriga a viver-se num processo dialético de debates contínuos e a uma falta de consenso.

A flexibilidade da moral secular pressupõe como consequência o relativismo moral que conduz à atitude de cada cabeça sua sentença e ao possível descrédito de tudo o que é institucional possibilitando um estado cultural confuso e caótico que só viria a servir a institucionalização de um poder autoritário global anónimo preocupado apenas em seguir o espírito do tempo ou em determiná-lo. Por outra parte, em termos sociais, a moral cristã, na sua tendência    para se fixar sobretudo na tradição, revela uma certa inflexibilidade perante as mudanças sociais dando a impressão de chegar atrasada na história. A moral cristã, ao não seguir o politicamente correcto e o espírito do tempo, dá mais garantia de sustentabilidade histórico-social por prestar mais atenção ao homem integral, precisando assim de mais tempo para tentar perscrutar os sinais dos tempos.

A consciência secular aspira a bens terrenos relativos a espaço e tempo enquanto a moral cristã é orientada por bens transcendentes e absolutos. O cristianismo ao valorizar a consciência individual como actuante em todas as instituições reconhece a energia da relação pessoal como movente de tudo. Descorou, porém, o empenhamento na formação da consciência laica-social que hoje em política é determinante. Disto se aproveita o socialismo marxista que aposta nas massas dirigidas e no Estado enquanto o cristianismo em termos político-sociais se esvai na pessoa e no povo.

Como se torna hoje muito visível nos temas aborto, eutanásia, gender, ativismo LGBT, etc. a moral secular ao seguir o espírito do tempo (e não tanto a racionalidade) cria leis que provocam tensões sociais por entrarem em conflito com a moral cristã.

A sociedade, porém, precisa de instituições alternativas estáveis não só viradas para o presente e deste modo temperem o encanto do novo e do provisório de modo a  garantir mais responsabilidade humana e histórica no desenvolvimento humano.

Mais que fixarmo-nos nas vantagens e desvantagens dos dois sistemas morais importa que se entre num diálogo relacional de complementaridades interinas, pois se a moral secular se baseia na razão e na igualdade, a moral cristã oferece uma base moral sólida e confiável (muito embora mais exigente e idealista). No meio de tudo isto há que ter em conta que a sociedade humana é heterogénea e com diferentes estádios de consciência.

Em termos sociais, ambos os sistemas morais têm suas vantagens e desvantagens e complementam-se. Crenças, valores e contextos individuais e culturais entremeiam-se de maneira a pessoas integrarem elementos de ambos os sistemas no comportamento do seu dia a dia e na própria compreensão da sua moralidade.

A substituição da moral pelas leis tornar-se-ia incongruente porque o direito não tem por natureza algo imanente que o fundamente.

 

Com a industrialização e depois das duas grandes guerras, a Europa viu surgir grande quantidade de mão-de-obra imigrante para dar resposta às necessidades económicas e ao crescimento industrial.

Limitar a consciência às necessidades primárias é deixá-la à mercê dos ventos sem saber para onde nos levam e facilitar a organização de poderes hegemónicos e formatadores de consciência de caracter anónimo. As necessidades meramente corporais e individuais limitam o âmbito das possibilidades e a necessidade aliada à emoção chega a obscurecer o espírito. Não chega o cogito ergo sum até porque também o cogito pode ser irrefletido e limitado. Freud não chegou a compreender o que era a consciência, mas pôde reconhecer que o inconsciente era o seu outro (lado).

Como as pessoas traziam consigo a sua cultura religiosa específica como forma de identificação surgem na sociedade europeia morais religiosas diferentes, lado a lado. Por outro lado, o globalismo e movimentos ateus, e agnósticos aumentam criando na sociedade a necessidade de criar sistema éticos que vinculem todo o cidadão independentemente das suas ligações religiosas ou não religiosas.

Assim surgem tentativas a nível religioso e não religioso de apresentar valores consensuais de referência com validade para uma sociedade querida multicultural e diversa.

Preocupados com a paz social e em estabelecer plataformas mínimas base de entendimento que possibilitem as diferentes religiões a viverem pacificamente na sua convivência cívica, surgiu a necessidade de se moldar a sociedade com um mínimo de princípios éticos comuns. Dedicaram-se a esta tarefa cientistas e teólogos como Hans Küng que criou a Fundação Ética Mundial (Global Ethic Foundation) que defende valores básicos comuns em todo o mundo, baseados em pontos análogos já existentes nas diferentes religiões.  Procuram assim normas e padrões éticos de caracter consensual para um mundo melhor!

As regiões e as culturas andam a diferentes velocidades. Perante a constatação de o Islão se manter por natureza cerrado em si mesmo, surge também a preocupação da criação de um Islão liberal na Europa, missão dificílima atendendo aos condicionalismos impostos pelo Corão + Sharia (preceitos) + os Ahadith ou Ditos e Feitos de Maomé. Em países como a Alemanha criaram-se faculdades de caracter teológico para formação de académicos formados no islão: certamente uma maneira indirecta de formar também imames abertos ao discurso teológico e a uma certa compatibilidade com os valores ocidentais. (Atendendo ao caracter meramente funcional da pessoa no islão, ele é beneficiado pelo socialismo, no discurso público).

Importante é centrarmo-nos na realidade da pessoa humana integral e na situação sociológica do pós-guerra na Europa. Nesse sentido aplicam-se as diferentes disciplinas de antropologia filosófica, a metafísica e disciplinas que dão sentido e complementam com fundamento os diferentes saberes sobre o Homem nos diferentes biótopos culturais, analisando-os   a nível das diferentes perspectivas científicas, sejam elas física ou ciências humanas, como sociologia, teologia, psicologia e medicina. Dar uma resposta numa só perspectiva corresponderia, no experimento de uma sociedade multicultural hodierna, a restringir a realidade.

Um Estado de caracter globalista e secular orientado pela economia e pelo comércio sente a necessidade de criar uma ética secular não baseada na crença em Deus nem na religião e substituir para isso a religião pela ciência e Deus pela razão e o humanismo por um utilitarismo mecanicista. Assim, enquanto a moral cristã faz derivar os princípios éticos do evangelho e da razão, a moral secular apresenta princípios éticos reducionistas baseados na razão e na ciência na esperança de com eles criar um elo comum a toda a humanidade.

A razão procura fundamentar valores como dignidade humana, respeito, justiça, compaixão e empatia, baseando-se no direito abstrato de que todas as pessoas são iguais com iguais chances e direitos perante a lei (de notar que já aqui o direito/lei natural contradiz o direito positivo!).

Assim temos o humanismo cristão fundamentado e resumido na Pessoa de Jesus Cristo e na tradição comunitária eclesial e temos o humanismo secular fundamentado na razão e nos interesses da sociedade. A ética cristã é de caracter relacional pessoal (antropológico) de conotação metafísica e a ética secular é de caracter funcional individual abstrato (sociológico) de conotação materialista (sendo o valor da pessoa concebido em função do colectivo).

Representantes da moral secular acusam a moral cristã (ou religiosa) de fundamentar o seu comportamento no medo do castigo divino indo contra a autonomia individual. Isto corresponderia, porém, a abordar a problemática de um modo reducionista porque se uns teriam medo de serem castigados (medo do pecado) os outros orientar-se-iam pelo medo das penalizações previstas nas leis. Nesta perspectiva apologética, tanto a espiritualidade cristã como o idealismo secular fundamentar-se-iam igualmente no medo: no medo do castigo no além ou no medo de castigo no aquém. Os princípios éticos não podem ser reduzidos nem à religião nem à ideologia política, podendo-se, contudo, expressar em diferentes morais e costumes!

Temos a fonte dos valores morais baseados na fé, no amor ao próximo e a crença secular orientada por princípios racionais relacionados com a justiça, a ciência, a psicologia …

Na moral secular prevalece o caracter social político tendo como fulcro e fundamento de tudo o bem da sociedade, a funcionalidade do colectivo (marxismo dialético) enquanto a moral religiosa cristã se orienta sobretudo para o bem da pessoa integrada na comunidade. Na moral secular o centro é a sociedade e a integridade do cidadão vem da sociedade (o cartão do cidadão indica a pertença nacional) e na moral cristã o centro é a pessoa universal, mas numa relação íntima com a comunidade: modelo trinitário do 1=3). Na moral cristã o soberano é o indivíduo e na moral secular o soberano é o colectivo.  Em nome da comunidade temos mandamentos e regras e em nome da sociedade temos leis e regras (a diferença essencial situa-se no conceito religioso de pessoa como realidade relacional (veja-se o Mistério da Trindade em que comunidade e pessoa são um e como tal a dignidade humana é parte inerente à pessoa humana), e no conceito moral secular o indivíduo é concebido como caracter funcional e como tal um autónomo mas apenas em função do coletivo (sociedade). Daí os valores serem concebidos na moral cristã ad intra enquanto na moral secular serem considerados ad extra (sistema de princípios éticos baseados em valores providentes da razão, orientados pela ciência e controlados pela lei constitucional. A atitude humana é orientada por princípios, por isso se coloca grande valor na tolerância para com os outros autónomos enquanto a ética religiosa coloca valor na relação amorosa (amor ao próximo) entre todo o humano.

A ideia da moral secular de que atitudes éticas constituem elas mesmas a própria recompensa não tem em conta a natureza humana e carece de sentido que vá além das necessidades individuais e sociais (e como tais limitadas a um tipo de sistema ou regime político-social de mero controlo exterior, na lei). O ser humano passa a ser o fim de e em si mesmo, o que contradiz o desenvolvimento aberto da natureza, pois em toda ela se constata que há um sentido e este se processa de baixo para cima, do simples para o complexo; da matéria para o Espírito e a Páscoa une a matéria ao espírito de maneira sublime; de maneira tão sublime que pode equacionar nela o espírito como origem e fim de todas as coisas (processo este também analogicamente transportável para a física quântica)!

A consciência secular aspira a bens terrenos relativos a espaço e tempo enquanto a moral cristã, de pés na terra, é orientada por bens transcendentes e supremos. O cristianismo ao valorizar a consciência individual como actuante em todas as instituições reconhece a energia da relação pessoal como movente de tudo (teologia trinitária). Descorou, porém, o empenhamento na formação da consciência laica-social que hoje em política é determinante. Disto se aproveita o socialismo marxista que aposta nas massas dirigidas de caracter formatado e no Estado enquanto o cristianismo em termos político-sociais se esvai na pessoa e no povo.

Os arquitetos de uma nova sociedade tentam criar uma supraestrutura comum, mas confrontam-se com uma sociedade multicultural com fronteiras culturais e religiosas e com diferentes medidas do que é certo e do que é errado e do que é bem e do que é mal (veja-se cristianismo, islão e materialismo); além disso, uma certa fixação em contextos antigos pode criar problemas de confronto com as novas maneiras de ser e de estar. Caso semelhante se dá nas diferentes maneiras de ver entre gerações e nas diferentes mundivisões laicas.

A ideia do caminho verdadeiro ou dos iluminados (“Iluminação” de quem se sente superior ou senhor da verdade!) pode causar conflitos e promover rigidez, inflexibilidade e medo ou vergonha no convívio social.

No cristianismo a união de fé e razão na base do amor, como elo de toda a relação que se concretiza na atitude de amor ao próximo, é suficiente para superar orgulhos e sobreposições porque o seu suporte é a humildade na base de uma humanidade de irmãos em serviço dos mais carenciados (Esta atitude mal-entendida levou existencialistas ateus a defenderem os mais fortes criando, em contraposição, a ideia do Super-homem (que no conceito de Jean-Paul Sartre se transcende a si mesmo, vivendo num mundo sem sentido e como tal livre de moldar a própria existência).  A Ética cristã supera, porém, os obstáculos que a moral secular lhe quer pôr apresentando-se como superior por pretender dar resposta a uma sociedade pluricultural com a sua moral secular baseada na ideia de razão, empatia, bem-estar e experiência humana. A ética secular apresenta-se como alternativa baseando os princípios morais na razão, na empatia e experiência humana que nas (religiões e mitos foram resumidas em doutrinas. A ética cristã entende toda a realidade como relação e concebe toda a pessoa com dignidade inalienável independentemente da sua origem ou confissão.

O problema poderá surgir no Islão que se considera superior a outras culturas (a nível individual é natural que cada pessoa se identifique com a sua crença seja ela religiosa ou secular). Mas é claro que quer a pessoa secular quer a religiosa tem as suas limitações e riquezas tal como todas as culturas entre si. Para o cristão toda a humanidade é filha de Deus o que se pode verificar na ideia dos cristãos anónimos (os não cristãos) ou dos Cristos abandonados.

A pessoa é mais que a sua convicção ou mundivisão e por isso não pode ser avaliada pela sua simples convicção nem pela sua função social. Os sistematizadores de uma moral secular ficam-se por vezes no abstrato; os princípios que proveem da ética mundana não são consistentes porque se perdem e não geram atitudes, mas ideias ou valores gerais abstratos longe de qualquer comunidade. Em nome de pretender ser uma ética abrangente com princípios racionais para todos numa sociedade de caracter abstrato, julgam-se superiores cometendo o mesmo erro que atribuem aos religiosos com as suas convicções. De facto, a nível objetivo é difícil encontrar-se verdades vinculativas para toda a pessoa dado a certeza pertencer ao âmbito subjectivo.

A ideia da globalização e da moral secular não pode passar por cima dos diferentes “biótopos” culturais nas suas diferentes maneiras de ser, estar, pensar, sentir e agir! Utilizar apenas a razão como medida padrão da pessoa e da sociedade, nas suas inter-relações, seria como querer reduzir as estações do ano a uma só estação e transformar a sociedade como que num planeta com uma só zona climática.

A biodiversidade tem uma correspondência não apenas de caracter analógico na diversidade individual e cultural. A pretensão de querer transformar a sua multiplicidade numa monocultura latifundiária cultural não passaria de um artifício apenas racional com fins utilitários com uma preocupação meramente administrativa. A pessoa humana não pode ser submetida a uma filosofia apenas individualista nem apenas coletivista; a ipseidade é o intermeio das duas.

O fomento da autonomia e da livre vontade, que a moral secular (contraditoriamente) quer ver como propriedade sua, esquece que a pessoa mesmo “autónoma” se define também pelo outro (um tu) e se encontra integrada num meio social e cultural: uma pressupõe a outra. Uma moral secular que diz querer respeitar os valores individuais e suas próprias decisões baseadas no respeito pelos seus próprios valores e convicções, opera de maneira reducionista; fica-se pela confusão do indivíduo com a comunidade sem definir a sua inter-relação constitutiva e transfere apenas o problema da persuasão das comunidades para os indivíduos, mas de maneira a estes em última análise se dissolverem na sociedade como a gota no oceano!

Com a visão unilateral da pessoa humana reduzida à fórmula racional e funcional (mecanicismo) também não resolvem o problema da relação social como acusam a moral religiosa de o não fazer.  Não chega uma monocultura da razão, do colectivo, do humanismo e da liberdade como algo específico quando a religião cristã dá resposta a isso através do livre-arbítrio e da pessoa com valor/dignidade única como imagem de Deus; o mais alto grau da dignidade humana radica na qualidade de filhos de Deus (a súmula de todo o ideal quer religioso quer secular!).

A ética secular assumiu da moral cristã (amor ao próximo, compaixão, felicidade individual) valores que designa de amizade, empatia, compaixão e bem-estar.  A moral cristã dá mais relevo ao aperfeiçoamento da responsabilidade do comportamento individual e à felicidade individual partindo da felicidade individual para a felicidade social, enquanto a ética secular acentua o caminho inverso do bem-estar e da responsabilidade social (o que corresponde à visão marxista que indirectamente legitima os quadros dirigentes ou o Estado em detrimento das bases “proletárias”). Na ideia da filiação divina do humano e no amor ao próximo (dedicação activa) já se encontra o princípio da dignidade humana, do respeito, da empatia e da diaconia social. Contudo também se verifica que o catolicismo não produz tantas pessoas políticas como o protestantismo ou o islão. Este é um défice que o catolicismo terá de tomar mais em conta no sentido de mais se empenhar a nível político no desenho da sociedade futura (embora toda a instituição represente mais fortemente a masculinidade de uma sociedade de matriz masculina, a instituição por muito que se esforce por fazer uma integração a nível de papeis e funções na sociedade não satisfaz porque carece de uma verdadeira integração do princípio da feminilidade na matriz político-social: neste aspecto, embora a Igreja católica seja o lugar da feminilidade ela contradiz-se a si mesma ao persistir em afirmar a masculinidade dominante na sua instituição).

Uma característica essencial de uma comunidade é o sentido de comunidade; este cria a sua conexão (atitude) vital resultante da experiência e da prática individual no grupo.

A ética secular não responde ao caracter da atitude baseada na virtude e na experiência transcendente comunitária. Exemplos de ética secular na prática incluem direitos humanos, ética ambiental e bem-estar animal. Por outro lado, em nome da multiculturalidade a secularidade procura apresentar as deficiências de ajustamento de comunidades religiosas à sociedade multicultural e por outro lado esquece as próprias deficiências provenientes de uma visão meramente mecanicista e utilitária.

A dignidade humana de filhos de Deus (que transcende toda a subjetividade e instituições humanas) é o fundamento da moral cristã (todos são filhos de Deus) que implementou o humanismo de que o movimento secular se apoderou desviando a sua origem para a razão; a moral cristã ultrapassa essa limitação colocando a dignidade humana como algo inerente a ela devido ao caracter divino inerente ao humano integral não podendo, por isso, ser apenas um derivado da razão.

(A assistência social como hoje a conhecemos deu-se devido à secularização da assistência religiosa em instituições do Estado como derivado da prática das instituições da Caritas e da diaconia na tradição das primeiras comunidades cristãs e da Idade Média. Pouco a pouco o Estado foi assumindo ao longo da História o caracter humanitário do cristianismo. A declaração dos direitos humanos embora seja de caracter universal tem diferentes aplicações e interpretações por exemplo numa Europa e numa Arábia.  Não se trata aqui de ver quem descobriu a roda, nem de querer acabar com todos os caminhos anteriores ao pretender tudo coberto pelo alcatrão da razão e da ciência. Dignidade humana, autonomia e comunidade são factores complementares que não se podem colocar uns contra os outros, tal como não se deve afirmar o Estado à custa da religião nem a religião à custa do Estado; a realidade social em que nos encontramos obriga uns e outros a atuarem numa atitude de subsidiariedade e de complementaridade sem se combaterem para assi se iniciar uma cultura de paz.

No cristianismo a dedicação aos precários surge de uma atitude amorosa (caritas) e não apenas da sua dignidade baseada na razão ou em objectivos ligados apenas a sistemas de organização social. O bom trato é independente do status social e se há uma predileção é pelos mais necessitados.

A base da razão e o bem-estar das pessoas não são razões suficientes para dar consistência à moral secular. O razoável mais natural é afirmar a diversidade dos biótopos culturais que na sua realização contribuem para um melhor espelho da felicidade da sociedade e do globo (na natureza e sua paisagem temos um sobreiral ao lado de um pinhal e de um eucaliptal sem que um espaço tenha de negar o outro nem de excluir outros!). No interesse da consistência social e de um futuro diverso e aberto seria de se fomentar a consciência da complementaridade a nível de natureza e das culturas o que corresponderia a ter uma visão a-perspectiva de uma realidade que apesar de tudo caminha na busca do melhor (O cristão diria encontramo-nos com Deus a caminho de Deus). O livre arbítrio pressupõe uma visão não determinista do mundo ao contrário do que certas ciências naturais pretendem.

A razão e o pensamento crítico são instrumentos de grande auxílio nos momentos de se tomarem decisões. Também a ética cristã considera imensos factores, entre eles a razão, na avaliação ou tomada de decisões.  Por exemplo a ética cristã mantem a orientação de não julgar definitivamente alguém: assim não se pode afirmar que um assassino cometeu um pecado mortal porque para o qualificar como tal teria de analisar-se a situação, a gravidade do acto, o motivo, a maturidade psicológica da pessoa e depois de tudo isto o decidir de vontade livre praticar o acto na consciência de querer fazê-lo sabendo que é mau.

Não é fácil aproximar-se de uma análise objetiva. Também há preconceitos individuais e sociais que influenciam os processos de decisão. A razão e o pensamento crítico são pressupostos na tomada de decisões sejam eles pessoas cristãs ou seculares. A razão e a ciência não são propriedades laicas nem podem constituir padrão único de análise da pessoa nem da sociedade. A responsabilidade de uma decisão pressupõe também a análise das consequências a nível individual e comunitário. O facto de empatia e compaixão serem qualidades universais independentemente da convicção não as tornam características base de uma sociedade secular pelo simples facto de possibilitarem uma sociedade justa. Querer fazer derivar o respeito e o reconhecimento da dignidade humana da justiça social seria cair num círculo vicioso dado a justiça partir da dignidade e do respeito.

A substituição da divindade pela ciência, como pretende a moral secular, também não é consistente dado a própria ciência estar sujeita a mudanças e à confirmação de hipóteses. A moral profana necessita do Estado e este revela-se de caracter frágil no decorrer do tempo. Os laços de solidariedade e de justiça social são insuficientes para vincular uma consciência, deixando-a presa ao direito positivo variável, e como tal manca no que respeita à motivação e ao compromisso com a justiça e a solidariedade social. Numa sociedade multicultural, fixar-se na narrativa religiosa ou na secular apresenta sempre um risco atendendo às diferentes morais seculares e às diferentes morais religiosas.

A liberdade iluminista e liberalista prevê o indivíduo livre de qualquer imposição alheia, mas um tal ego desvinculado da comunidade não encontra motivação para a solidariedade e para a justiça (ficando presa à nuvem da fantasia). Também uma moral de deveres não motiva suficientemente para o empenho colectivo até porque a justiça plena é totalmente impossível. A tradição cristã acentua a coesão comunitária e a autonomia individual através do livre-arbítrio e da autoconsciência soberana individual (esta é uma maneira realista da relação de compromisso entre o caracter institucional necessário e o indivíduo soberano!).

Na moral secular a pessoa não é propriamente autónoma porque depende do ditado da sociedade. A pretensão de substituir a autoridade pelo direito positivo também ela não evita a tensão e conflito entre os direitos individuais e o Estado de direito.

A autoridade moral não pode ser preceituada e querer baseá-la em estatísticas seria algo aleatório. Garante de sustentabilidade será de respeitar e aperfeiçoar o que a natureza e a cultura original nos deixou como herança e meio de sobrevivência.

Uma moral secular também não se pode aproveitar da ética ambiental e da responsabilidade pela “nossa casa” comum só pelo facto de hoje ter muita aceitação ou para dar resposta ad hoc a um problema. Nem o biocentrismo nem o antropocentrismo podem dar resposta integral pelo facto de serem por natureza sectoriais e os diferentes valores são de caracter transversal em relação a todo o humano, ganhando expressão própria no biótopo cultural que deve ser respeitado.

Observa-se que uma sociedade ao tornar-se multicultural, para se justificar e autoafirmar inclui nela a luta contra a tradição da maioria e contra a tradição servindo-se para isso de um liberalismo maléfico que conduz ao individualismo deserdado. O espírito contemporâneo utiliza  para isso a filosofia relativista  que privilegia as subculturas minoritárias contra a cultura maioritária (identidade cultural) e contra as suas instituições; nesse sentido afirma-se o relativismo cultural e até o relativismo dos valores em geral e em particular o próprio humanismo; esse relativismo favorece o aparecer de imensos biótopos estranhos ou adversos à cultura maioritária (agendas, ONGs e ideologia marxista); uma vez perdida a cultura perde-se também a sociedade/povo que, na consequência, passaria a ter uma expressão  meramente individualizada, caótica e autoritária.

Também na relação geopolítica se observa um fenómeno estranho, mas talvez coerente em si. A sociedade ocidental que se encontra num estado decadente afirma-se aberta no sentido de abdicar dela mesma para fomentar guetos islâmicos dinâmicos e favorecer a matriz marxista socialista. E a nível de política externa fomenta a instabilidade de Estados, apoiando, contra o poder estabelecido, a rebeldia dos diferentes biótopos culturais dentro do país!

Numa sociedade multicultural permanecem por resolver muitos problemas de fundamentação dos valores e práticas morais ou de justificação de direitos.

O ideal seria cada parte, conforme o seu biótopo (habitat) cultural, atuar de maneira complementar interactiva com contribuições próprias no sentido de aprimorar o entendimento social e o respeito mútuo relativamente aos diferentes valores e direitos. Por natureza da pessoa humana a sociedade multicultural terá de viver sempre em situação de luta e compromisso.  Para se evitarem sociedades paralelas seria de seguir o princípio natural da integração num processo de aculturação e inculturação que substituiria a multiculturalidade pela interculturalidade e por fim conduziria à assimilação.

No experimento de um mundo a tornar-se multipolar, tanto as morais religiosas como as morais seculares terão de empreender uma relação de convívio harmonioso na consciência de que são membros ou especificidades dinâmicas de um só corpo. Se no passado dominavam as morais religiosas, no presente tende a impor-se uma moral à la carte e, a nível de supraestruturas, uma moral secular materialista de conotação marxista e maoista. O globalismo e uma certa política dirigista da ONU deveriam evitar o estabelecimento de uma monocultura humana e respeitar os “ecossistemas” na sua expressão geográfica, bio-tópica, culturo-tópica e de habitat. Nesse sentido seria de se integrar a nível individual e social o Princípio Jesuíno: a Deus o que é de Deus e ao Estado o que é do Estado salvaguardando a soberania da consciência de cada pessoa sem que esta pretenda exercer a soberania sobre o outro. Pressupõe-se, para isso, o reconhecimento recíproco na base do diálogo e do compromisso, na certeza, porém de que a resposta dada pelo cristianismo como modelo abrangente para toda a humanidade tem um caracter de matriz a não perder.

Na competição de civilizações e culturas, no final, a cultura que respeita e mantém a lealdade a uma tradição dinâmica e à base da sua filosofia (religiões e tradições) afirmar-se-á de maneira sustentável (o liberalismo e individualismo agudo de que hoje padecemos não passará de uma constipação provocada pelo exagero do espírito anglo-saxónico iniciado com a reforma. Tudo cresce de baixo para cima na direção do sol e não o contrário. É por isso que a civilização ocidental, sem renunciar ao que foi alcançado, deve reconhecer o pai e a mãe da sua cultura: o judaico-cristão como mãe e o greco-romano como pai.

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo

MANIFESTAÇÃO ISLAMISTA EM HAMBURGO CONTRA OS VALORES OCIDENTAIS

Reivindicação de Teocracia como Forma de Incursão?

A marcha islâmica de 27 de abril em Hamburgo reuniu mais de 1000 manifestantes com dizeres como: “Alemanha = valores da ditadura” e o „Califado é a solução”(1)!

A disputa contra a ofensiva islamista na Europa encontra os seus limites na própria doutrina islâmica e nos interesses ideológicos partidários empenhados em ganhar clientela e em concretizar agendas contrariadoras da opinião maioritária. Por isso no que toca às palavras dos políticos vale o ditado de Lutero: “Muitas palavras, pouca oração”!

Os governantes, além do mais, não agem porque não se interessam em conhecer a doutrina islâmica que se encontra no Corão + Sharia + Ditos e Feitos de Maomé (os Ahadith) e que impede até os próprios muçulmanos liberais de se insurgirem em público contra o extremismo islâmico.

Embora precisemos da alteridade e do estranho para moldar o nosso eu, não precisamos de abrir mão do nosso nós para fazer isso. A agenda anglo-saxónica, que nos domina também através de agendas provindas da ONU onde se esconde a intenção de desconstruir a cultura ocidental e em especial o catolicismo (na qualidade de instituição global), favorece agendas políticas sob a orientação de minorias contra qualquer consenso. A democracia está a ser querida ao serviço das minorias contra a maioria, segundo o padrão de pensamento do mundo anglo-saxónico secundado pelo socialismo. A Alemanha mostra isto de modo exemplar principalmente com a aplicação da ideologia dos Verdes no programa da coligação governamental. Também no que diz respeito à manifestação islamista se mostram coniventes ao renunciarem a participar em aconselhamento interpartidário sobre medidas a tomar contra os atuantes na manifestação.

Numa altura em que os muçulmanos pretendem que nas cidades alemãs haja iluminações das ruas das cidades no tempo do Ramadão, tal como acontece na cultura cristã na época do Natal, estas e outras actividades islamistas desacreditam as autoridades camarárias que já determinaram haver iluminação no tempo do Ramadão.

Muçulmanos que se sentem moralmente superiores não hesitam em defender a luta contra a ordem básica democrática livre e contra o estado constitucional. Segundo sondagens feitas num dos Estados da RFA, 49% dos alunos islâmicos preferem o Califado = teocracia ao sistema de valores europeus (2)! Embora tendo razões factuais para serem críticos perante o sistema ocidental, como cidadãos dele, é incoerente repeli-lo.

Na Europa e em especial na Alemanha assiste-se à infiltração de associações de mesquitas como Ditib nas instituições escolares para que o fascismo islâmico seja garantido de maneira sustentável. O regime político usa dois pesos e duas medidas no trato de partidos concorrentes ao poder político e no trato de movimentos ou instituições islâmicas adversas à cultura ocidental. O islão é favorecido pelas elites por constituir um movimento que ajuda a abater uma sociedade maioritária baseada nos valores tradicionais ocidentais. O islão serve os interesses delas pelo facto de a pessoa no islão não ter valor próprio, mas apenas na medida em que funciona em benefício do sistema, do colectivo. Neste sentido torna-se incompreensível que Höcke do partido AfD seja levado a tribunal por expressar slogans nazis e, por outro lado, islâmicos que exigem a abolição da ordem constitucional da República Federal da Alemanha e a queiram ver substituída pela desumana lei Sharia sejam tolerados por governantes e pelos Media.

O Movimento Califado está proibido de operar na Alemanha desde 2003, mas age através de plataformas online como a “Muslim Interaktiv”. O Califado desde a morte de Maomé em 632 é um sistema baseado na lei islâmica (Sharia). O Califa é como que o deputado (substituto) de Maomé e não conhece distinção entre poder religioso e poder secular.

Do partido FDP surgiram vozes apelando para que apoiantes do Califado (teocracia) sejam deportados do país (mas também este apelo é em vão dado muitos dos manifestantes terem nacionalidade alemã ou dupla: a maioria são jovens).

Uma realidade que os políticos não quererem reconhecer é o facto de a radicalização dos muçulmanos ser protegida e baseada no Corão, na Sahria (preceitos) e nos Ahadith (ditos e feitos de Maomé) que são ao mesmo tempo direito religioso e direito civil e constituem a base da orientação dos muçulmanos no mundo. Este sistema político sob forma religiosa é tão coerente e eficiente em si que mesmo passados séculos são formadas monoculturas islâmicas ou independências políticas como aconteceu no Kosovo e na Albânia que no século XV começou a ser islamizada aquando da invasão turca).

O Islamismo está a espalhar-se pela Europa e não se limita à determinação do vestuário nem à imposição de hábitos alimentares nas instituições públicas; ele consegue já determinar o que pode ou não ter espaço na cabeça das pessoas e tem grande influência política exagerada dado ter uma representação desproporcional nas instituições políticas e sociais.

Os manifestantes não podem ser expulsos porque já nasceram na Alemanha tendo por isso um passaporte alemão ou possuem dupla nacionalidade.

A ameaça dos islamistas é negligenciada porque a luta contra o antissemitismo e contra o extremismo de direita é considerada uma prioridade no interesse do negócio partidário. A vontade política é outra. Quando vozes críticas contra os islamitas não se enquadram no cenário político estas passam a ser difamadas ou a não ser levadas a sério. Há extremistas cuja luta vale politicamente a pena combater, como a AfD porque o combate a ela (indevidamente identificada com os conservadores), reverte em benefício dos partidos do arco do poder. A movimentação das manifestações de massas populares foi implementada por governantes.

Sharia é a doutrina islâmica de normas constituinte da ética islâmica de um muçulmano frequentador da mesquita. Vemos isto no Irão e no Afeganistão, onde a sharia se aplica. O debate sobre isto é consensualmente indesejado política e mediaticamente. Um aspecto positivo do sistema muçulmano no meio das massas europeias será o fazer acordar a Europa para os seus valores de caracter universal.

Urge uma política que respeite toda a pessoa, seja ela muçulmana, cristã, budista, etc., e que respeite os direitos da maioria e assuma responsabilidade no que toca à defesa da cultura ocidental que deu origem aos direitos humanos expressos também na democracia aberta. O pensar politicamente correcto explora a contradição ao inverter a realidade dando primazia a grupos minoritários e desrespeitando as maiorias populacionais (inverte a ordem das coisas ao colocar a excepção em primeiro lugar e a regra em segundo. A tolerância, o bom gosto e o critério querem-se reversíveis e transversais!

António CD Justo

Pegadas do Tempo

(1)  https://www-ndr-de.translate.goog/nachrichten/hamburg/Nach-Islamisten-Demo-in-Hamburg-Forderungen-nach-Konsequenzen,musliminteraktiv102.html?_x_tr_sl=de&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt-PT&_x_tr_pto=sc

(2) https://www.youtube.com/watch?v=orlsR_v_jBw