PISA – TESTE SOBRE EFICIÊNCIA ESCOLAR EM 65 PAÍSES


Resultados agora publicados revelam grandes diferenças

António Justo


PISA, (“Programme for International Student Assessment”), é o maior teste de aproveitamento escolar mundial desde 2000 e que se realiza num ritmo de três anos. É organizado pela OCDE e conta com 300 cientistas que, com os seus colaboradores espalhados pelo mundo, elaboram e avaliam os testes. Participaram 65 nações, com 470.000 alunos, entre elas a OCDE com as 34 nações industriais mais importantes do mundo. São testados alunos de 15 anos. Além dos resultados (notas) e situação familiar, social escolar do aluno são investigados os métodos de aprendizagem e a motivação. São examinados os ramos do saber: Leitura e compreensão de texto (L), Matemática (M) e Ciências Naturais (CN).


Os resultados da investigação realizada em 2009 e ontem publicados provocam grandes discussões na opinião pública de nações conscientes da importância da formação e do seu significado para o desenvolvimento dos países na concorrência internacional. Muitos Governos desenvolvem programas para saldarem as deficiências reveladas nos testes.


Os países asiáticos Coreia do Sul, Japão com Schanghai, Hongkong e Singapura, acompanhados da Finlândia, Canadá, Nova Zelândia e Austrália encontram-se, em todos os ramos, na posição dos10 primeiros classificados. A Coreia do Sul e Finlândia revelam os melhores resultados da investigação. Schanghai obteve o primeiro lugar nos três sectores testados: L, CN e M.


A Suiça ocupa, na hierarquia, os lugares 14 em L, 15 em CN e 8 em M. A Alemanha atingiu os lugares: 20 na L, 13 em CN e 16 em M. A França os lugares 22 em L, 27 em CN e 22 em M. A Inglaterra o lugar 25 em L, 16 em CN e 28 em M.


Portugal ocupa o lugar 27 em L, o lugar 32 em CN e o lugar 33 em M. A Espanha encontra-se abaixo de Portugal ocupando o lugar 33 em L, 36 em CN e 34 em M.


Entre outros, Portugal, Espanha, Itália, Grécia encontram-se abaixo da média dos Países da OCDE. Os países da OCDE alcançam em média o lugar 26 em L, 28 em CN e 20 em M. Em relação aos resultados de PISA 2006, Portugal melhorou nos três ramos. Em 2006 tinha alcançado os lugares 31 em L, 37 em CN e 37 em M.


O pior resultado dos países da OCDE em todos os testes atingiu o México. O Brasil ainda se encontra mais abaixo na escala.


Duma maneira geral o ensino público estatal revela piores resultados que o ensino público particular.


A leitura com a compreensão de texto é a porta de entrada para a aprendizagem. Ler e escrever são técnicas culturais que determinam o sucesso ou o insucesso profissional posterior.


PISA confirma que há uma correlação entre o grau de formação e o grau de pobreza social. Os resultados dos alunos dependem também da origem social e da escola que frequentam. Quanto mais crianças da sociedade desfavorecida houver numa turma, piores se revelam os resultados.


Na Leitura as meninas têm melhores resultados que os meninos, correspondendo essa diferença a um ano escolar.


A investigação mostra também que a remuneração dos docentes e o grau de autonomia dos estabelecimentos de ensino são factores de influência nos resultados. Por sua vez, também a autonomia local, a disciplina e a boa relação entre professores e alunos originam melhores resultados. Sem disciplina na escola, a/o docente não conseguirá dedicar-se aos mais fracos.


A criança deve ser iniciada na leitura, o mais cedo possível pelos pais e pelo jardim infantil, segundo a mundivisão subjacente à investigação PISA. Se uma criança tem vontade de ler deve corresponder-se ao seu desejo.


Naturalmente que se pode questionar a predominância da formação intelectual em desfavor da formação artística e emocional… Numa sociedade de mercado a humanidade conta pouco, numa sociedade socialista ainda conta menos!


A OCDE vai lançar em 2011 um programa de ajuda aos cidadãos em geral para melhorarem as suas competências.


Saber é poder e o povo não pode nada porque sabe o que o poder determina que saiba!


António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

Luz do Mundo – O Papa, a Igreja e os Sinais dos Tempos

BENTO XVI ABRE-SE AO JORNALISMO CONTEMPORÂNEO
“Luz do Mundo – O Papa, a Igreja e os Sinais dos Tempos”

António Justo

O livro, “Luz do Mundo – O Papa, a Igreja e os Sinais dos Tempos”, resulta duma entrevista efectuada de 26 a 31 de Julho, onde Bento XVI em Castel Gandolfo respondia, uma hora por dia, às perguntas directas e pessoais do jornalista  Peter Seewald.


Bento XVI dá assim continuidade aos livros-entrevista “O sal da terra” e “Deus e o mundo”, resultantes das entrevistas que o outrora comunista Peter Seeweald fizera ao então ainda Cardeal Razinger.


Esta nova forma de abertura ao jornalismo contemporâneo possibilita a leitura a um público mais abrangente que o das encíclicas.


No livro “Luz do Mundo”, o chefe supremo de 1.200 mil milhões de católicos, toma posição no respeitante aos problemas da Igreja e da sociedade, falando, sem subterfúgios, sobre si, o seu pontificado, a alegria do cristianismo, os abusos na Igreja, o ecumenismo, a sida, mesquitas e burca, o modernismo, o progresso, a droga, a sexualidade, Pio XII, a mulher, o celibato, etc. Ao ler-se o livro acompanha-se um Papa sublime e humilde, que, no centro da vida, quer dar vida à fé e trazer fé à vida.

Dá prazer ler os escritos lúcidos dum homem sábio, fiel a Deus e à humanidade, que, neste momento crucial da História humana, constata que “é absolutamente inevitável um exame de consciência global.” Não chega guiar-se pelo ponto de vista “ da factibilidade e do sucesso.” Para evitarmos certos aspectos destrutivos do progresso “devemos reflectir sobre os critérios a adoptar a fim de que o progresso seja verdadeiramente progresso”. A sociedade ocidental encontra-se numa encruzilhada que conduz ou a um secularismo que não tem nada para contrapor aos grandes problemas da humanidade ou a uma nova questionação sobre Deus. Reconhece que “muitas coisas devem ser repensadas e expressas de um modo novo.”

O anúncio do Evangelho não pode ser consensual: “Se o consenso fosse total, teria de me interrogar seriamente sobre se estaria a anunciar realmente o Evangelho todo”. Reconhece porém que não se tem apresentado suficientemente o potencial libertador e o sentido da fé em Deus. “O cristianismo dá alegria, alarga os horizontes.”


Nota-se que Bento sofre pelo facto dos Media e dos críticos da Igreja condicionarem a modernidade da Igreja às questões que têm a ver com os sexos.


Torna-se nefasto e desastroso para a Europa e para o mundo o caso do modernismo europeu reduzir a imagem da Igreja católica ao seu trato do sexo e condicionar a sua aceitação à sua maneira de encarar a sexualidade. Uma Europa que deve a sua configuração ao Cristianismo e um mundo que tem no catolicismo o seu primeiro modelo implementador de globalização, não revelam carácter ao rebelarem-se como filhos pródigos renitentes na sua primeira fase de abandono e repulsa.


Estes filhos pródigos apoderaram-se de grande parte dos média, das políticas e das administrações, controlando grande parte da opinião públicada e dos centros do poder e tratando a Igreja como sua rival. Os preconceitos mediáticos e a desinformação tornam cada vez mais necessária a abordagem directa dos textos papais.


Contesta o relativismo propagado afirmando que “o homem tem de procurar a verdade; ele é capaz da verdade. É evidente que a verdade necessita de critérios de verificação e de falsificação”. E mostra o seu desconsolo sentindo-se “decepcionado sobretudo por existir no mundo ocidental esse desgosto com a Igreja, pelo fato do secularismo continuar tornando-se autónomo, pelo desenvolvimento de formas nas quais os homens são afastados cada vez mais da fé, pela tendência geral da nossa época de continuar sendo oposta à Igreja”.

Lamenta a cegueira do mundo ocidental onde muitas pessoas não distinguem entre o bem e o mal; reconhece na Europa forças destrutivas e manifesta esperanças nas pessoas fora da Europa. Questiona uma sociedade em que as sondagens se tornam “o critério do verdadeiro e do justo.” Para a Igreja “a estatística não é a medida da moral”.

Preocupa-o a nova intolerância propagada por um laicismo activista que em nome da tolerância se aproveita para afastar símbolos religiosos dos espaços públicos e assim safar o cristianismo da Europa. “A verdadeira ameaça frente à qual nos encontramos é que a tolerância seja abolida em nome da própria tolerância… Existem regras ensaiadas de pensamento que são impostas a todos e que são depois anunciadas como uma espécie de tolerância negativa…. há uma religião negativa abstracta que se transforma em critério tirânico e que todos devemos seguir… Ninguém é obrigado a ser cristão. Mas ninguém deve ser tão pouco obrigado a viver a «nova religião» determinada como única e obrigatória para toda a humanidade… O que importa é que procuremos viver e pensar o cristianismo de tal modo que ele absorva o moderno que é bom e está certo e, ao mesmo tempo, se separe e diferencie do que é uma contra-religião.”


Apela à defesa da fé como catalisadora do mal num mundo secularista agressivo. Este quer o ser humano inteiramente disponível ao seu domínio e à sua ideologia reduzindo-o a indivíduo e a coisa sem dignidade divina. “Porém, a presença divina revela-se sempre no Homem.”


Para Bento XVI razão e fé não são contraditórias; vê na fé um serviço crítico e um limite razoável da razão. Doutro modo, o Homem, ao fazer-se a medida de todas as coisas, reduz e desumaniza a criação. O Homem sem Deus, destrói-se a si mesmo e a criação, sem se sentir responsável perante ninguém.


No que respeita ao sacerdócio da mulher, Bento XVI diz que o facto dos apóstolos terem sido homens levou esta prática a ser assumida pela Igreja como norma, sentindo-se ele, assim, condicionado pelo direito. Ao argumentar com a norma consuetudinária deixa o campo aberto à discussão teológica. De facto o NT também diz:”…o que ligares na terra será ligado no céu…” Bento também testemunha que “o significado das mulheres – de Maria a Mónica até Madre Teresa de Calcutá – é tão proeminente que, de muitas maneiras, as mulheres definem o rosto da Igreja mais do que os homens.”


Quanto ao uso do preservativo o “grande Mestre” aponta para a possibilidade da casuística: um método da Tradição que faculta, em casos de conflito entre princípios morais, a possibilidade de optar pelo princípio maior (neste caso a defesa do corpo e da vida é mais relevante que a proibição do uso do preservativo para impedir a natalidade). A Igreja não se pode encostar aos adaptados que têm apenas respostas fáceis e ideologia para oferecer. Ela é acontecimento, milhares dos seus membros entregam-se abnegadamente na ajuda aos infectados pela SIDA. Bento XVI atesta que “onde quer que alguém queira obter preservativos, eles existem. Só que isso, por si só, não resolve o assunto. É preciso fazer muito mais”. “A mera fixação no preservativo significa uma banalização da sexualidade, e é precisamente esse o motivo perigoso pelo qual tantas pessoas já não encontram na sexualidade a expressão do seu amor, mas antes e apenas uma espécie de droga que administram a si próprias”… O uso do preservativo é legítimo “em casos pontuais, justificados… o preservativo pode ser um primeiro passo na direcção de uma sexualidade vivida de outro modo, mais humana.” Solicita a” humanização da sexualidade”.


Quanto à homossexualidade, ensina: os homossexuais “merecem respeito” e “não devem ser rejeitados por causa disso”.

Relativamente à possibilidade de renunciar ao papado responde “Se o papa chega a reconhecer com clareza que física, psíquica e mentalmente já não pode suportar o peso do seu ofício, tem o direito e, em certas circunstâncias, também o dever de renunciar.”

Segundo ele, também as feridas da Igreja “têm para nós uma força purificadora e, no final, podem ser elementos positivos“. De facto, na Igreja como na natureza encontra-se a contradição, não fosse ela vida.

A droga “destrói os jovens, destrói as famílias, leva à violência e ameaça o futuro de nações inteiras”.


A humanidade alcançou os limites do seu crescimento. A solução cristã, para sair da crise e para resolver os problemas do ambiente e da humanidade, não vem de iniciativas da economia de mercado mas da metanóia, da mudança da consciência individual. Bento, o Cristianismo, aposta na pessoa e crê na sua capacidade de mudança através do aprofundamento da consciência individual numa perspectiva de fé.


O Papa sublinha a esperança cristã e a necessidade de colocar Deus em primeiro lugar para que a Igreja seja a luz de todo o mundo.


A Igreja, como organismo vivo é processo e não uma instituição que se deixe regular apenas por leis externas. O Papa não pode nem deve dar resposta imediata a tudo. Ele é como a Constituição dum país. Da Constituição não se podem esperar respostas muito específicas. Para isso estão as leis, para isso há a pastoral que tentará dar respostas adequadas a situações específicas, “in loco”, tal como as leis do Estado fazem, tendo como inspiração o espírito da Lei Fundamental.


Em caso de conflito de consciência o Cristão está chamado a orientar-se pela própria consciência, como advogava já S. Tomás de Aquino. É também um princípio cristão que o amor está por cima da lei.


Resta aos cristãos e ao mundo “encontrar palavras e modos novos para permitir ao homem destruir o muro do som do finito.”


António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

DIGNIDADE CONSTITUCIONAL PARA A LÍNGUA


Associações alemãs insurgem-se contra a Inundação de Palavras inglesas

António Justo

Associações de protecção da língua e da cultura entregaram ao parlamento alemão 40.000 assinaturas de apoio à exigência de protecção da Língua alemã pela Constituição da República. Na Constituição deve ser registada a frase:”A língua da BRD é alemão”. Esta iniciativa encontra apoio no presidente do Parlamento.


A língua deve ser protegida como bem cultural e como “elo de união da nação” e ao mesmo tempo como “a chave para uma melhor integração”.


O emprego de palavras inglesas impede muitas vezes a clareza da língua e pressupõe que todos dominem o inglês.


Puristas da língua registam uma invasão de anglicismos na Alemanha que já atinge 7200 palavras (www.anglizismenindex.de). Querem que palavras inglesas sejam traduzidas em alemão; por exemplo mainstream por “gosto das massas”.


Na França, onde a língua se encontra ancorada na Constituição tornam-se possíveis decisões de tribunal tendentes a proteger o consumidor. Segundo uma lei de 1994 os franceses podem exigir que no seu lugar de trabalho se fale francês. Empresas internacionais usam apenas a língua inglesa sem que, documentos e programas de computador, sejam traduzidos em francês. Decisões de tribunal deram razão a queixas de Sindicatos contra firmas, como refere HNA.

Aportuguesar as palavras estrangeiras


No mundo global e virtual em que nos movimentamos não podemos prescindir de estrangeirismos. Estes são um meio enriquecedor da língua desde que não sejam assumidos directamente da língua donde provêm mas sejam adaptados ao génio da língua. Um estrangeirismo como “destacar” enriqueceu a língua trazendo uma outra conotação específica que o seu correspondente vernáculo “distinguir” não tem ou não deixa ver directamente.

Também há palavras que reflectem diferentes consciências, como a palavra “elite” em vez de “escol, fina-flor”.


Naturalmente que quem fala bem uma língua estrangeira tende, por vezes, a empregar certas palavras estrangeiras por serem mais concisas ou mesmo por preguiça em procurar termo equivalente. Por outro lado há os vaidosos que querem mostrar a sua importância e desejam distinguir-se do resto mediante o emprego de estrangeirismos. Aportuguesar os termos ingleses constitui uma tarefa importante para o enriquecimento da língua. Naturalmente, sem pressões dum lado e doutro.


A pressa moderna leva-nos a deixar pontos e vírgulas, sem olhar ao pormenor. Muitos dos termos novos pertencem a uma linguagem tecnológica precisa e fria sem a carne da alegria da imagem para saborear. Trata-se de manter o olhar atento para o vivo. Os interesses económicos desempenham grande papel no seu desenvolvimento. O português, como língua inter-cultural encontra-se sob grande pressão da concorrência. O Brasil empenha-se de maneira especial porque está consciente do seu valor económico e cultural para o Brasil.


A língua já tem categoria constitucional em 18 países europeus. A eficiência prática depende da legislação e das decisões dos tribunais.

A linguagem vernácula é dificultada por interesses económicos e por textos modernos sem preocupação pela pureza, correcção e clareza da língua. A leitura de textos clássicos é cada vez mais dificultada. O mundo cultural também não faz excepção à lei mercantil do barato. A necessidade de comercialização da língua, também através de romances feitos à pressão, torna tudo mais leve e de curta duração. As editoras precisam de nova mercadoria, para apresentar a consumidores apressados.


Numa era em que se usam cada vez mais programas de computador como correctores da língua notam-se muitas vezes substratos ideológicos na escolha e disponibilização de termos.

Cada língua transmite o seu sentimento de vida. Através da fala entramos no génio dum povo.


Ela faz parte integrante da nossa consciência. Entrar no espírito duma outra língua é como navegar noutro continente e mergulhar numa nova consciência. Daí o respeito a ter por cada língua.


António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

Saúde das Crianças em Perigo – Demasiado Consumo de TV / Computador


Uma sociedade doente produz crianças doentes

Necessidade de Aulas de Teatro nas Escolas

António Justo


Antigamente havia três ou quatros doenças típicas de crianças. Hoje o seu espectro revela-se enorme, especialmente com as doenças psíquicas. A nossa sociedade económica, política e cultural não tem lugar para a família nem para as crianças. Quer apenas forças de trabalho. Tudo se orienta e roda em torno do emprego que cada vez se torna mais absoluto nas suas exigências. A Sociedade fomenta Crianças doentes.


Segundo estatísticas do Estado do Hessen da RFA, um em cada dois alunos já participou, pelo menos, numa terapia. De Janeiro a Março de 2010, os pediatras prescreveram, neste Estado, 6763 psicoterapias, 9091 terapias de movimento e 10136 terapias da fala a crianças.


Segundo a investigação da Caixa de Previdência Técnica, alunos que vêem mais de duas horas de TV por dia são enviados com mais frequência para a terapia do que alunos com menor consumo de TV.


Cada vez há mais crianças sem “sentimento do corpo”. A falta de sensação corporal torna-se dramática.


Estatísticas de toda a Alemanha revelam que crianças, que em média se sentam mais de duas horas perante a TV, não aprendem bem a falar e revelam problemas a nível de movimentação.


Habituados à TV, Computador e telemóvel não conseguem uma comunicação racional nem um movimento equilibrado.


A este problema junta-se o stress de muitas crianças com um programa de calendário muito apertado. A sociedade exige demasiado rendimento intelectual das crianças sem que lhe proporcione um equilíbrio emocional. As crianças desconhecem o seu ambiente.

Caminha-se para o modelo de sociedade de Esparta.


A criança precisa duma relação com um tu para se desenvolver de maneia integral e sadia. A TV, o SMS, não substitui um tu. Neste sentido seria melhor a ocupação com um animal (especialmente no caso de filhos únicos ou de grandes diferenças de idade). Este consegue proporcionar o desenvolvimento de sentimentos que muitas vezes os educadores não proporcionam, devido ao stress em que se encontram envolvidos e que transmitem às crianças.

Obrigatoriedade de Aula de Teatro nas Escolas

O que mais prejudica as crianças é a falta de atenção por parte de pais e adultos e a falta de amigos da mesma idade. Compensam no mundo virtual, o que a vida real lhes não dá. São portadoras de sintomas que dão nas vistas e que revelam o mau ambiente que as circunda e que provoca tais sintomas. A criança precisa imenso da brincadeira e do jogo ao ar livre ou no ginásio com outras crianças. Aí, além de formarem a personalidade, aprendem a resolver conflitos e libertam energias e agressividade acumulada.


As escolas que estejam atentas à realidade social que as envolve e que queiram tornar-se exemplos para o futuro terão de criar horários escolares de teatro em tempos úteis de currículo. Nos internatos das ordens e congregações religiosas é comum, por boas razões, haver representações de teatro e outras artes musas. Hoje torna-se uma exigência para toda a escola e para todos os alunos. Toda a escola deveria consagrar, pelo menos, duas horas lectivas semanais ao exercício de teatro. Este envolve toda a personalidade e ajuda o aluno ao equilíbrio mental, emocional e locomotor.


Toda a criança, na idade escolar, pelo menos até aos 12 anos, precisa não só de disciplinas que fomentam a abstracção e a racionalidade mas também disciplinas que desenvolvam a emocionalidade através de disciplinas como desenho, canto, música, dança e teatro.


Um Estado que não reconhece a necessidade do equilíbrio entre as capacidades intelectuais e emocionais dos alunos, terá de empregar, de futuro, grandes somas na medicina e na defesa contra a criminalidade.


António da Cunha Duarte Justo

Pedagogo

antoniocunhajusto@googlemail.com

INTEGRAÇÃO DOS IMIGRANTES NA EUROPA: UM PROBLEMA MUÇULMANO

Sarrazin provoca uma Tempestade na Opinião Pública alemã

António Justo

A turbulência em torno da pessoa de Thilo Sarrazin e do seu livro“Deutschland schafft sich ab” (A Alemanha abole-se a si mesma) não parece querer amainar. Sarrazin, ex-ministro das Finanças do Estado Federado Berlim, trata, no seu livro o tema da integração dos muçulmanos nas sociedades para onde emigram, de maneira demasiado clara e indiplomática. Um assunto mantido tabu pela classe política, pela opinião publicada e pelos intelectuais, vem mostrar a divisão entre os alemães.


A Tese de Sarrazin

Os problemas da integração “surgem exclusivamente nos migrantes muçulmanos… e isto deve-se ao fundo cultural islâmico”.

É  de opinião que a sociedade alemã se estupidifica mais nas próximas gerações, pelo facto de a população alemã se estar a alhear à cultura enquanto os muçulmanos migrantes geram mais filhos, diminuindo assim o potencial intelectual da sociedade anteriormente liderado pela classe média.

Segundo o autor, “os turcos na Alemanha geram o dobro das crianças do que corresponderia à sua percentagem na população”. “Os Turcos invadem a Alemanha tal como os ‘kosovares’ invadiram o Kosovo: através duma taxa de natalidade superior”.

Vê na fecundidade muçulmana “uma ameaça ao equilíbrio cultural da Europa e um risco para o modelo cultural europeu”. Segundo o relatório 2010 da Conferência dos Ministros da Educação dos estados federados da Alemanha, nas grandes metrópoles Frankfurt, Munique, Colónia e Estugarda, mais de metade de todas as crianças até aos três anos tem base migrante.

Sarrazin lamenta a baixa quota de turcos dispostos a aprender bem a língua alemã prejudicando assim a própria carreira escolar que se reflecte no facto de 54% dos turcos entre os 25 e os 36 anos não terem concluído a formação profissional. Os resultados das escolas alemãs nos estudos comparativos de PISA baixam devido ao insucesso escolar dos turcos na Alemanha. Sarrazin receia assim a diminuição do quociente médio de inteligência da sociedade alemã baseada na vontade procriadora da classe mais baixa. Parece desconhecer porém os factores ambientais. Os turcos certamente não serão mais estúpidos que os outros imigrantes. Estudos provam um nível intelectual inferior das crianças turcas mas não que sejam mais estúpidas.

Com montes de estatísticas apresenta a tese de que os turcos, com muita emigração em busca da assistência social alemã, “certamente não contribuíram para o nosso bem-estar”. Atesta que “em todos os países da Europa, os migrantes muçulmanos custam mais do que a mais valia económica que trazem”.


O autor best-seller atesta e testemunha, com números, o que o povo pensa.

Contrapõe o direito do Estado “a decidir, ele mesmo, quem quer receber no seu país ou na sua sociedade”, ao abandono deste direito aos partidos.

O tema da integração muçulmana (sua resistência à integração) passou a dominar a floresta das folhas dos jornais. Uma Alemanha, que integrou milhões de polacos nos finais do século XIX e 12 milhões de desterrados depois da segunda guerra mundial, sente-se impotente perante 4 milhões de muçulmanos no país. Atrapalha a Alemanha o facto destes parecerem, na sua grande maioria, contentar-se com a prática da religião e o reagrupamento familiar, levando uma vida em contraposição e à margem do país acolhedor. O facto dos problemas da França com os seus 5,5 milhões de muçulmanos é visto pelos alemães como um problema consequente da colonização francesa. Silencia-se que a economia moderna explora, de maneira agressiva, os autóctones da classe média e baixa e os migrantes.

O barómetro da excitação atingiu alta intensidade e não parece haver lugar para uma aberta. Uma opinião pública pautada pela norma da boa educação correcta e pelo tabu social, em que “sobre estrangeiros ou se fala bem ou não se fala”, acorda estremunhada e revela não ter soluções contra o medo sub-reptício da balcanização da sociedade.


Reacção da classe política ao livro de Sarrazin

As elites reagiram com nervosismo e irreflexão: exigiram a sua expulsão da direcção do Banco Alemão e a sua expulsão do partido SPD. A liberdade de opinião é um bem a cultivar enquanto não se pertence à classe privilegiada!… A direcção do partido quer expulsá-lo mas a base compreende-o e mais de 2.000 cartas foram recebidas na central do partido. 90% eram a favor de Sarrazin.

Os políticos temem o escândalo duma realidade que se quer silenciada. Não admitem que um dos seus questione o pensar correcto que é o dogma hodierno das classes dirigentes. Daí a necessidade destas em desacreditá-lo e em declará-lo como apóstata. Conseguiram afastá-lo da direcção do Banco Alemão mediante a sua indemnização duma pensão vitalícia farta, evitando assim perder um processo em tribunal.

O Povo apoia-o e as chefias dos partidos atacam-no. Com a sua crítica, ele atinge o sistema partidário que em vez de o discutir o ataca a nível pessoal. Na sua repulsa primária, a política distanciou-se ainda mais do povo já em dissidência da política (por este andar, o partido dos não votantes atingirá os 40%). Na Europa, cada vez mais se assiste a reacções histéricas entre políticos e povo. Numa sociedade em que as elites se afastam cada vez mais do povo, estas não querem acolher Sarrazin nas suas fileiras, nem um povo que exige vontade de integração aos muçulmanos.

A má consciência política relativamente ao problema da imigração faz-se sentir numa campanha concertada contra Sarrazin, uma crítica virada apenas contra o seu estilo e ignorando a realidade do conteúdo. Mais uma vez se misturam alhos com bugalhos. Com Sarrazin a classe média aproveita para manifestar o seu descontentamento perante uma política que a tem ignorado e manifesta-se o descontentamento perante uma opinião pública dominada pela esquerda liberal que açama a voz da burguesia e da raia-miúde que construiu e levantou a Alemanha pós-guerra!


Na espiral dum silêncio político envenenado surgem brechas que se tornarão explosivas nas campanhas eleitorais. Segundo prognósticos estatísticos, se Sarrazin fundasse um partido receberia 20% de apoiantes.

As opiniões polémicas que Sarrazin expressa sobre a atitude dos partidos, fruto da negligência destes no que toca à imigração turca, que sob o manto da reunião familiar passou de 750 mil turcos para três milhões habitantes de ascendência turca, deixarão rasto profundo na sociedade. Quatro milhões de muçulmanos, em grande parte, vivendo em guetos e em torno das suas mesquitas, com os piores resultados escolares em termos comparativos com outros migrantes e com manifesta falta de vontade de integração, metem medo a muito alemão que se sente atraiçoado pela política e vive com a impressão que a classe política não protege o próprio país nem a própria cultura e se coloca ao serviço de egoísmos e oportunismos individualistas ou de classe.

O medo e o oportunismo têm muito poder numa sociedade habituada a varrer para baixo do tapete o lixo que produz e os problemas não resolvidos desde os anos 60. Assim o CDU/CSU e Liberais fecharam sempre os olhos aos problemas, no que tocava aos estrangeiros, vendo-os apenas como mão-de-obra barata que vinha solucionar os problemas duma economia em expansão. Os Verdes cresceram sob a bandeira dos estrangeiros e da ecologia, colhendo agora os frutos que se expressam nos resultados das eleições; o SPD preocupou-se em integrá-los no partido, atendendo ao potencial que significam em termos de votos para o futuro.

Sarrazin, embora político, não gosta do jogo preferido dos políticos: o Pingue-pongue; gosta mais de futebol! Quer ver a bola na baliza ao exigir medidas reais para a integração dos muçulmanos no país. As suas exigências correspondem, em parte, à legislação vigente na USA, Canadá e Austrália.

No fim de contas, fica a impressão de que os alemães preferem continuar a falar alemão macarrónico com os estrangeiros, não tolerando que Sarrazin, o povo, fale alemão claro. Este descreve um estado de facto mas num tom exaltado e metendo, por vezes o pé na poça. E os seus críticos abusam do moralismo ‘multiculti’ para encobrir os próprios erros e para disciplinar ideias da direita e/ou assegurar resultados eleitorais. O problema em aberto é que os políticos passam e os problemas ficam.

Depois da campanha contra Sarrazin os partidos parecem voltar à normalidade começando agora a pronunciar-se por uma discussão aberta e falando da necessidade de integração.


Europa em efervescência

Thilo Sarrazin provoca na Alemanha uma discussão que já se vai fazendo sentir noutros países europeus. A Holanda que nos anos 80 era modelo nas medidas de acolhimento e apoio aos imigrantes manifesta agora, com reacções xenófobas, que o seu latim chegou ao fim.

Por toda a Europa se sente um fervilhar inquieto no povo. Este vê a pobreza a imigrar para a Europa e sente-se mais depauperado pelos próprios Estados onde as leis e os impostos asfixiam cada vez mais o cidadão laborioso. Uma insatisfação cada vez mais explícita contra o agir da classe política estabelecida terá como consequência a formação de novas forças políticas. A crise económica e financeira leva os perdedores da sociedade a revoltarem-se contra as elites que cada vez mostram mais desprezo pelos de baixo.

As camadas média e baixa da sociedade sentem-se inseguras num momento em que a oligarquia da União Europeia, as famílias partidárias e a sua burocracia se tornam mais fortes.

Os problemas económicos cada vez mais reais, a esterilidade das mulheres europeias e a resistência muçulmana à integração e correspondente vontade procriadora, levam muita gente a sentir o Islão como uma ameaça à própria cultura.

Muitos constatam que os explorados de ontem reagem agora – via imigração e procriação – explorando as leis existentes, a liberdade religiosa e a providência social, vivendo em gueto em torno das suas mesquitas e afirmando-se contra a sociedade acolhedora. Emigram para fugirem à desumanidade social dos países de origem mas temem os valores da nova sociedade.

Entretanto o estrato social inferior autóctone descobre-se como parte da classe social multi-étnica precária entregue a uma concorrência selvagem. Por outro lado uma classe secular vê na atitude muçulmana contra a emancipação, contra o indivíduo e contra o iluminismo uma ameaça às conquistas republicanas. Vê-se confrontada com uma religião eminentemente política, sem política que a confronte. A força ideal reage e aproveita os fracos do poder económico.

A raiva do povo nunca foi boa conselheira mas a incúria política não pode continuar a ser a resposta a problemas a resolver agora, em termos bilaterais.

Os “populistas” terão sucesso porque os nossos políticos revelam menos inteligência do que o Povo em geral.


“Deutschland schafft sich ab” é um livro incómodo para alemães e muçulmanos. O livro reflecte a opinião do povo, a opinião dos que mais sentem os ventos fortes e frios do turbo-capitalismo. Em relação aos outros estrangeiros e seus descendentes concorre para uma discussão mais adequada, uma vez que a imprensa alemã estava habituada a tratar os problemas especificamente turcos sob o manto de “problemas dos emigrantes e seus descendentes”.

Ressentimento por um lado e arrogância pelo outro não resolvem o problema. A integração do mundo turco e árabe na Europa é demasiado complexa para se poder solucionar com simples posições de pró e contra.

Nem a xenofobia nem a arrogância das elites resolverão os problemas de pessoas oprimidas económica e/ou culturalmente. Em tempos de crise todos tendem a sobre-reagir! Na casa em que não há pão todos ralham mas ninguém tem razão!


Na nossa sociedade em ebulição é de preferir um inimigo verídico a um amigo falso.

António da Cunha Duarte Justo

Alemanha, 5 de Outubro de 2010