PORTUGAL SIGNO DO DESENVOLVIMENTO E DA DECADÊNCIA DA EUROPA

Só um Portugal-Espanha unidos e empenhados com as antigas colónias conseguirão afirmar-se

A Europa global começou em Portugal e acabou em Portugal. O globalismo atual já não se baseia em identidades nacionais, mas em grupos de interesses económicos e ideológicos com estratégias globais.

As potências mundiais do futuro, atendendo às novas tecnologias, afirmar-se-ão através do ar e do mar! Os EUA, a China e a Rússia já estão muito activos também no domínio dos oceanos sem que os Países Lusófonos estejam atentos ao que isso significa para o seu futuro. Uma das surpresas com que se poderão ver confrontados seria a das grandes  potências virem a usar a mesma estratégia que as potências europeias usaram no século XIX na Conferência de Berlim onde transformaram o direito colonial histórico às regiões de África em direito de ocupação efectiva (militar), o que prejudicou Portugal e favoreceu as potências bélicas surgentes e continuou a manter a África no servilismo. O mesmo poderia acontecer em relação aos direitos dos países marítimos no que toca ao seu direito às correspondentes zonas marítimas! A consequência seria que estes países, uma vez estabilizadas as suas fronteiras naturais se empenhassem sobretudo na defesa dos seus mares e numa estratégia de agrupamento baseada em afinidades culturais e históricas.

Portugal foi o país que transformou a história europeia em história mundial, passando, a partir de então, a Europa a determinar o destino de outros povos, ao deixar de estar ocupada com ela mesma e em torno do Mediterrâneo; com os “Descobrimentos” passou a abrir-se aos grandes oceanos e continentes; Portugal foi também o primeiro país que alargou as suas fronteiras fora da Europa (Ceuta 1415) numa reacção oposta à muçulmana.

Quase enigmático torna-se o facto de Portugal ter sido a primeira potência colonial da Europa, e a sua última…  Portugal era demasiado pequeno para a global empresa que iniciou e enfraquecia à medida que outras potências europeias disputavam o comércio dos produtos e matérias primas que a Europa não tinha. Assim Portugal tornou-se em país semicolonial a partir de 1890 devido ao “ultimato” inglês, na sequência do qual teve de ceder a Rodésia (mapa cor-de-rosa!) à Inglaterra (efeitos da Conferência de Berlim que dava resposta ao desejo imperialista de alguns países europeus); a crise do mapa cor-de-rosa apressou em Portugal a passagem do sistema monárquico para o republicano! Salazar ao ver Portugal a perder a terra debaixo dos seus pés, numa reacção de fuga ao real (luta imperialista entre União Soviética e EUA), ainda se lembrou de considerar Portugal como o último bastião do Ocidente (na velha vertente da europa das nações): esquecera-se que o proselitismo religioso que motivara a presença da Europa no mundo tinha passado a ser  substituído pelo proselitismo socialista fomentador de uma nova ordem mundial (imperialismo bipolar) a afirmar-se a partir da primeira guerra mundial ao lado de um capitalismo a reformular-se. A ideia de Salazar revelou-se como retrógrada ou como fuga, mas se considerada sob a situação das lutas imperialistas atuais poderia ser hoje uma mais valia no sentido de uma Europa e de uma África dignas de hoje. Isto na sequência de uma lógica ainda de perspectiva europeia, que na altura já se encontrava a perder!

Preferimos então continuar as pegadas na nuvem do sonho, aquela evasão tão característica do ideário português que devido a tanto sonho de olhar fixo no longe se esquece de olhar e construir a realidade concreta que fica à frente do próprio olhar (É verdade que então as potências europeias andavam demasiadamente ocupadas consigo mesmas (também na sua reconstrução pós-guerra) impedindo-as de perceberem o que  acontecia em torno de Moscovo e de Washington em termos de geopolítica mundial e o que verdadeiramente se passava nas colónias portuguesas).  Aqui, Portugal deixou de expressar o caminho da Europa para se perder numa visão política idealista longe de qualquer realismo e contexto histórico para seguir as pegadas de Moscovo (25 de Abril e apressada descolonização); entretanto Moscovo caíra (1991) e Portugal com a Europa seguiram os deuses bárbaros a imperar no Olimpo de Bruxelas. Portugal deveria abandonar a sua política de subsistência e reflectir a sua realidade (ibérica) que não é meramente europeia (para lá dos Pireneus) mas também oceânica e com a Espanha e os antigos países de língua lusa e espanhola se prepararem para uma nova ordem mundial em processo. Há que, no meio da luta assanhada entre os novos imperialismos, não se deixar levar apenas pela enxurrada das potências em litígio para se defenderem também  objetivos regionais políticos no sentido de uma política de concepção ibérica (não nacionalista) em união com os povos acabados de se libertar do colonialismo europeu (doutro modo poderão passar todos a sofrer sob o novo imperialismo mental e militar agora a reformular-se).

Já Camões se lamentava de uma característica de um povo poético (Portugal) que se afundaria em “tristeza, ganância e tédio”! De facto, no seu modo específico de ser, Portugal construiu “um mundo português”, um Portugal onde cabia o mundo, mas onde, como parte, desaparece, também por ser tão pequenino. Ficou a tristeza, a ganância e o tédio, hoje cuidados por uma plêiade decadente de tecnocratas novos-ricos virados para o Olimpo de Bruxelas descuidando os interesses de uma península ibérica e seus empenhamentos com os seus irmão além-mar! No sentido luso em vez de nos metermos em politiquices ideológicas com o Brasil (como fez Rebelo de Sousa, na última visita ao Brasil) seria chegada a hora de o apoiar na empresa de se afirmar na América latina (independentemente de os ventos ideológicos soprarem do ocidente ou do oriente).

Com o 25 de Abril comprimiu-se Portugal e a Europa, passando estes a recolher-se para dar passagem a novas potências! Pena é o tal mundo português ter voltado – sozinho sem os lusófonos – apenas à periferia de uma União Europeia que, por miopia, lhe estreita a visão obrigando-o a não se aproveitar do mar, aquilo que tem em abundância (a tristeza, o tédio e a ganância levam-no a não se preocupar suficientemente pela construção de um mundo luso): se uma Alemanha se preocupa por fomentar os povos vizinhos a leste porque não se preocupa a Europa latina por enriquecer os povos vizinhos africanos e Portugal-Brasil-Angola por favorecer os países lusófonos?

Ao velho realismo da ínclita geração e ao proselitismo de outrora sucedeu-se o oportunismo político e a indiferença empacotada no politicamente correcto. Para sair deste marasma terá de se voltar para o mar (não contra a Europa  mas como expressão dela), falar menos de Caravelas, de gaivotas e de rosas do vento, para se virar para a realidade de afazeres terrenos que o envolve e ao mesmo tempo não perder o ideal e a missão de outrora, aquele sonho-vida que, por pouco tempo, tornou Portugal grande. Não chega continuar a perder-se no sonho dando-se ao fado rotineiro de repetir o seu “destino” de produzir “navegadores” e emigrantes!…

É de observar que no destino de Portugal se espelha o reduzir da Europa já não a descobrir, mas a ser descoberta e querida sobretudo por aquilo que tem de transitório. 

Antes da primeira guerra mundial tínhamos a Europa das nações que dominava 90% do mundo (colonialismo motivado sobretudo por razões económico-comerciais) + imperialismo (motivado por razões económico-expansionistas); com a primeira guerra mundial inicia-se a passagem do poder das potências nacionais europeias para a grande potência surgente Estados Unidos; numa perspectiva europeia as guerras deixavam de ser europeias para se tornarem mundiais. Da segunda Guerra Mundial estabiliza-se o mundo dividido em dois blocos rivais: o dos EUA com o capitalismo e o da União Soviética com o socialismo (1). Neste espaço de tempo a Europa vai-se autodestruindo politicamente internando nela social e culturalmente o materialismo da luta socialista marxista e do capitalismo, de maneira antagónica; a Europa entra assim em contradição consigo mesma, o que a leva a deixar de existir como grandeza global. Simultaneamente vai perdendo o seu caracter latino ter passado a apoiar em África a autodestruição do seu poderio colonial que então, na África ainda disponível, passou a ser disputado entre a União Soviética (socialismo) e os USA (capitalismo); entretanto o Islão vota a acordar sendo de compreender o esforço do Irão por adquirir as armas nucleares.

O modo como Portugal (símbolo da Europa) cedeu as suas colónias ao socialismo é o melhor sinal  indicativo de uma Europa então já decadente e fraca (já sem valores ancorados na tradição), com ideais e valores apenas de caracter jurídico-mental e, politicamente sem tino, dividida entre os interesses do imperialismo socialista e os interesses do imperialismo capitalista anglo-americano, não elaborou um modelo de mundivisão humanista, democrático e solidário entre seus povos e vizinhos para se deixar levar na onda do poder mundial bipolar (socialista e capitalista) em vez de criar um modelo inclusivo dos dois, como elementos complementares onde a fraternidade e o povo sejam o ponto de partida e o ponto de chegada. Um sintoma do que se passa é a guerra económica que a Europa iniciou contra a Rússia deixando-se levar pela narrativa americana nos nossos Media que conseguiu, com eficácia, apagar a imaginação do povo europeu e deste modo apagar-lhe o espaço para a esperança de um agir próprio.

 Não quer isto dizer que se tivesse de ser contra a independência das colónias, pelo contrário, mas que o seu processo de independência tivesse sido também um empenho de Portugal e de toda a Europa numa visão de estratégica libertadora comum. O destino da Europa deveria ser comum ao da Rússia, África e das Américas, mas os imperialismos dos EUA e da Rússia obstaculizaram o caminho. E agora, numa altura em que as potências mundiais se digladiam deveria ser chegada a hora de uma Europa renovada assumir a missão de construir uma ordem mundial nova baseada não na contradição mas na inclusão complementar, com uma ética que parta da pessoa, e não da instituição (constantinismo), em termos de relação pessoal como preanunciado no modelo original cristão.

Portugal pode considerar-se como ponto charneira na mudança de matrizes do poder global! Foi-o com os descobrimentos e foi-o ao abandonar as “províncias ultramarinas” (fim do colonialismo nacionalista) ao imperialismo ideológico da União Soviética que se encontrava em concorrência com o imperialismo capitalista anglo-americano! Enquanto a esfera da União Soviética e dos EUA se alargavam, a das nações europeias estreitava. Portugal e a Europa, descuidaram-se em relação a Washington e Moscovo, abandonando a África obrigando-a a manter-se num empasse, enquanto na Europa num processo de entropia se ia perdendo o cunho latino (“romano”) e afirmando o espírito anglo-americano acompanhado pelo maçónico! Também a África e suas independências nacionais teriam merecido mais dedicação pelos interesses nativos e menos abandono a ideologias estranhas que também as subjugavam.

Portugal e a Europa deixam de existir como grandeza global ao autodestruir-se interna e culturalmente através de um socialismo materialista irreflectido e abdicando de si mesma para dar lugar à apropriação americana que exprime o cúmulo da sua alienação nos seus mercenários em Bruxelas julgados grandes por copiarem o que os USA ditam. A guerra económica contra a Rússia encherá compêndios (1).

Desde os anos 60 os EUA e a União Soviética esforçavam-se (através do fomento de instabilidades e aquisição de influência em zonas africanas) por ocupar o lugar deixado ou a deixar pelo colonialismo europeu. Os líderes africanos encontravam-se numa de orientação para o socialismo ou para o capitalismo. Entretanto, fizeram a experiência de que tanto o modelo americano como o modelo soviético não os ajudam. Entrementes, a China veio como mais um concorrente na tentativa de ganhar a África e já tem mais de 10.000 empresas em 46 estados africanos.

Não se trata agora de construir um mundo português, mas de reconhecer que na sua pequenez se poderia encontrar o mundo todo a descobrir-se em cada parte, podendo esta tornar-se a missão europeia. Primeiramente, porém, Portugal e Espanha teriam que se descobrir, politicamente, como unidade ibérica para redescobrirem a sua alma atlântica, de maneira a conciliarem o caracter doutrinal ocidental com o caracter pragmático oriental e assim iniciarem uma nova maneira de ser e estar mais baseada em compromissos do que em supremacias.

Cada época ou geração elabora a sua narrativa sem se dar conta que esta faz apenas parte de um género em que o passado é continuado de maneira mais ou menos latente no presente. O mal e o bem do passado encontram continuidade no mal e no bem do presente e nós ficamo-nos por contemplar as narrativas atacando o mal no passado para não ver o mal do presente. A colonização continua, sob outros pretextos, mas com as mesmas fundamentações. Da colonização dos territórios passou-se a investir mais na colonização das mentes: a discriminação permanece, só que mais refinada e escondida de maneira a não ser notada à primeira vista, mas a ser identificada em próximas gerações.

Só um Portugal-Espanha unidos e comprometidos irmãmente com as antigas colónias conseguirão afirmar-se na nova contextualização global a delinear-se. Doutro modo a Península Ibérica fica entalada entre o Atlântico e os Pireneus!

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo

 

(1) A implosão da União Soviética (1991) a que se sucedeu o globalismo (marca economia liberal) apressou depois o surgir económico da China no palco mundial.

A ENERGIA DAS PALAVRAS

Palavras e ideias atuam sempre nos que as dizem e nos que as ouvem, chegando, por vezes a ter um efeito hipnotizador. Nas ideias e nas palavras encontra-se o combustível que leva ao bom e ao mau agir.

A atmosfera de crise em que vivemos favorece discursos divisionistas e como tais legitimadores de guerras entre pessoas e povos. O discurso do ódio joga com os factores de identificação (luta do ego por ser e aparecer) que se alimentam de visões de confronto, especialmente num discurso que faz uso da política e da religião, como “comunicação” divisionista do que é teu e do que é meu.

A primeira condição para a paz começará pela transformação individual (homem, conhece-te a ti próprio) porque também na relação a dois se encontra o princípio da autoafirmação (definição) pelo recurso ao poder.

Palavras, imagens, sentimentos e acções andam interligados e são ordenadas segundo a própria experiência. Cada um associa uma ideia diferente a determinadas palavras. Uma palavra dita num sentido pode ser captada noutro sentido. Assim as palavras são portadoras de felicidade e infelicidade e são tão poderosas que a elas se seguem reacções e sentimentos que podem superar as forças de quem os sente.

O efeito de palavras tóxicas ou salutares podemos observá-lo directamente na reacção das pessoas com quem convivemos habitualmente.

Podemos também observar o efeito de palavras negativas no enfraquecimento do nosso sistema imune de defesa, e no equilíbrio mental, como provam averiguações e experiências feitas.

Creio que até certas doenças que adquirimos são o efeito de palavras e situações negativas. Começa-se por enfraquecimento na alma, que depois se passa a expressar em sintomas corporais.

Um ambiente com enfermidades psíquicas deprime tornando-se em ambiente enevoado, a que falta o sol e, onde não há sol, a vida definha. Todas as ideias e as palavras são expressão do nosso ser corporal e espiritual, influenciando-se mutuamente. O uso de palavras positivas, promove um comportamento procriador no sentido positivo.

O poder das palavras e da linguagem torna-se mais benéfico e eficiente quando parte de um fundo espiritual.

A oração tem um efeito muito positivo porque dá acesso a uma realidade superior, da qual flui a energia divina com encantador poder curativo.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

A ARTE DA SUBORDINAÇÃO

O filósofo Roger Garaudy, no seu livro “Rumo a uma guerra Santa?” diz: “Sócrates já observava que entre os doces de um confeiteiro e os remédios de um médico, não há dúvida quanto à escolha das crianças. Mas os senhores do espectáculo não se contentam em considerar seus espectadores como crianças. Um mestre na manipulação das almas, Adolf Hitler, dizia: “diante de uma plateia, para conseguir adesão, viso o mais estúpido e, nele, o que existe de mais baixo: as glândulas lacrimais ou sexuais… E ganho sempre. À minoria crítica, cuido dela de outra maneira”.

Quando era ainda pequenito e fazia alguma pergunta mais esquisita ou intrincada a minha mãe, por vezes, ela respondia-me: “a curiosidade é filha da ignorância”!  Não contente com a resposta, dirigia-me depois a meu pai na certeza de que ele me confirmaria que a curiosidade é mãe da sabedoria!

Compreendo hoje que o senso crítico era assim já cuidado na medida em que não é suficiente contentar-se com uma só resposta. O importante é perguntar e para não ser embaraçado e para aprofundar o diálogo não será pior responder a uma pergunta com nova pergunta como fazem, muitas vezes, os jesuítas!

Não chega a satisfação do espírito subordinado a uma resposta é importante manter o cérebro vivo da criança curiosa e atenta!

O importante não era a resposta que procurava de minha mãe ou de meu pai mas a caminhada que me levava a eles!

Como pensar mete medo a quem manda torna-se importante aprender a pensar para que seja o pensamento humano a mandar! O pensamento tornar-se-ia no melhor meio de chegarmos todos à compreensão porque o saber não tem limites e muitas coisas permanecem ocultas ao nosso saber!

Se não fosse a alma não haveria perguntas, bastaria o pasto; mas na crítica como na pergunta interessante é procurar descobrir-me a mim mesmo!

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

DOCUMENTA – A EXPOSIÇÃO MUNDIAL DE ARTE EM KASSEL

Um espaço experimental de liberdade artística durante 100 dias

A D15 abriu a 17.06 e estende-se até 25.11 sob a direcção artística do colectivo indonésio Ruangrupa (1).

A Documenta (2), pretende ser um lugar de liberdade artística, de diálogo aberto, de diferenciação em vez de pensamento a preto e branco, muito embora a sua conotação seja vermelha! A artista Tania Bruguera ao referir-se à D15 diz:” se há um lugar para falar com segurança sobre questões inseguras, é este”. A singularidade da D15 reside em ser um espaço experimental de liberdade durante 100 dias.

Durante estes dias, a arte estará exposta em 30.000 metros quadrados com 1.500 artistas e tem a visita de 3.000 jornalistas de todo o mundo; os organizadores contam com a visita de 750.000 pessoas interessadas em arte que visitem Kassel só por motivo da Documenta.

Tradicionalmente, a Documenta tem uma postura politicamente crítica que pretende fornecer directrizes para o futuro, muito embora essa boa intenção se afirme, muitas vezes, à custa do menosprezo da tradição e de valores ocidentais. Um laboratório experimental sem surpresas também não teria graça nenhuma!

A documenta tenta ser uma expressão do diálogo mundial com artistas empenhados! Pretende quebrar estruturas. No centro da mensagem da da D15 deve estar a solidariedade, a participação e a orientação comunitária em vez da individualidade, a ganância pelo lucro e a luta pelo poder.

A D15 quer quebrar as fronteiras entre arte e vida, entre estética e activismo (pinturas, esculturas e modelos de economia alternativa), como afirmam expertos na HNA.

Os artistas querem transmitir a mensagem que tudo é arte (como já dizia o artista Boys já dizia na „documenta 7“) na tradição de continuar a luta contra o belo e contra a perfeição, hoje em dia, muitos artistas não colocam ênfase no domínio da técnica.  Eles querem mudar a nossa percepção, não só através da mente, mas também através de novas formas de compreensão emocional e intuitiva (3). Cozinhar, tal como estar juntos, é também arte onde se pode participar. O foco não está nas obras de arte, mas sim no trabalho colectivo. Nota-se um anseio por voltar à aldeia.

Com as suas iniciativas, a D15 quer dar voz a pessoas que de outra forma não seriam ouvidas na esfera pública global.

Ruangrupa da indonésia traz a Kassel a perspectiva pós-colonial com os seus artistas convidados. A memória dos efeitos da escravatura, da dominação, exploração, perseguição e repressão, uma constante da história mundial é aqui localizada.

Os curadores do Ruangrupa intitulam-se Gruanrupa durante 100 dias. Durante o documenta, as primeiras letras do primeiro e último nome de todos aqueles que atuam na Documenta devem ser alteradas; por exemplo, António Justo seria alterado para Jntonio Austo durante o documenta (o mesmo se fez com o nome de alguma rua). O Sul global está presente também como elemento de auto-purificação da democracia (nos preparativos para a D15 a direcção artística Ruangrupa provocou uma discussão acesa sobre racismo e antissemitismo ao referir-se à política de Israel e palestinenses). De facto, quando se foca a própria imagem na própria perspectiva, nunca se sai do beco sem saída.

De uma maneira geral, a D15 segue o ritmo próprio de outras Documentas (realizações de cinco em cinco anos)  funcionando como amplificadoras do Zeitgeist.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

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(1) Ruangrupa é um colectivo de artistas indonésios de Jacarta, fundado em 2000. Na autoimagem da organização sem fins lucrativos, as ideias artísticas devem ser promovidas e desenvolvidas num amplo contexto de exposições, festivais, workshops e investigação (refere Wikipédia).

(2) A Documenta em Kassel é a exposição mais importante de arte contemporânea a nível mundial. De cinco em cinco anos desde 1955, apresenta as tendências atuais na arte contemporânea e ao mesmo tempo oferece espaço para novos conceitos de exposição

(3) O Absolutismo na Arte: https://antonio-justo.eu/?p=2259   O Olimpo da Arte e da Ideologia: https://www.triplov.com/letras/Antonio-Justo/index.htm

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LIBERDADE A SER SUBORNADA NAS DEMOCRACIAS LIBERAIS

A Sociedade europeia aberta autossacrifica-se por negar os Padrões éticos que causaram a sua Evolução e Abertura

A democracia liberal deixa de oferecer garantias de humanidade e de sustentabilidade ao produzir uma crescente atitude político-social autoritária e uma postura de autodefesa autocrata que se serve de medidas legislativas e burocráticas limitadas a corrigir as desfigurações do sistema. Uma sociedade vital não pode limitar-se a ser aberta para o exterior e, ao mesmo tempo, destruir os padrões que a definem e lhe dão coerência a nível interior.  

No início da era digital reconhecíamos nas novas tecnologias de comunicação e informação uma grande potencialidade para democratizar a sociedade e víamos nela a possibilidade de dar também voz aos que não têm voz e, ao mesmo tempo, a possibilidade de moderar e contrabalançar a demasiada influência de elites politico-económicas, regimes políticos, hierarquias estatais e privadas na formação da opinião pública e no desenvolvimento da consciência dos povos. As instituições, porém, conseguiram ganhar a dianteira domando essas potencialidades, na consciência de que quem domina a informação tem o cidadão na mão e naturalmente o poder sobre a ordem estabelecida!

Em particular, não há proteção suficiente contra máquinas de filtragem e de censura arbitrária de plataformas de monopólio como Google, Facebook, etc. Além disso, os direitos civis digitais são relegados para segundo plano no que diz respeito aos interesses da indústria e do governo.

A liberdade de expressão e a liberdade de receber e transmitir informações e ideias sem interferência da autoridade pública e privada é cada vez mais condicionada a interesses de instituições. Mesmo a posição parlamentar sobre o #DigitalServicesAct (DAS) da EU não satisfaz os direitos fundamentais na rede e transmite parte da decisão sobre a liberdade de imprensa e de opinião à direcção do Facebook & Co. A liberdade de expressão como direito fundamental de importância elementar só poderia ser restringida pelo legislador e não deixada aos critérios de uma empresa.

A esperança de que, com a queda da União Soviética, a democracia liberal seria o sistema para o futuro, como anunciava o cientista político Francis Fukuyaman, não se confirma e cada vez deixa mais a desejar.

Entretanto observa-se um maior controlo do Estado com medidas de intervenção na rede a pretexto da defesa de moral pública. Naturalmente terá de haver regulação para se impedir a criminalidade, mas sem que o Estado se promiscue, doutro modo aumenta o processo de entropia da nossa civilização e  amplia a desconfiança num regime que, cada vez mais, põe em perigo a liberdade social e a democracia ao pretender construir um monstro com pés de barro.

Liberdade é o âmago do desenvolvimento humano e da democracia liberal, mas, numa sociedade aberta de valores meramente abstratos, a elite política reconhece-se incapaz de manter socialmente a sua liberalidade e por isso já procura comprometer empresas privadas globais na tarefa política de controlar a sociedade. Bruxelas tem trabalhado em textos tendentes não só a desconstruir a cultura europeia, mas também a permitir uma maior promiscuidade entre estado e privado no intento de diminuir a liberdade do cidadão para mais facilmente mecanizar e burocratizar a sociedade (a burocratização e a administração devem, ao mesmo tempo, substituir a espiritualidade da sociedade) a sociedade. Os nossos tecnocratas decretam já hoje medidas controladoras da personalidade humana que, pouco a pouco, legitimam instalar entre nós o modelo chinês que concebe o cidadão apenas em termos de funcionalidade dentro da máquina estatal! Nesse sentido a máquina de Bruxelas serve-se de agendas devotadas à desestabilização e desconstrução dos fundamentos da cultura europeia minando assim os princípios mais elementares da dita democracia (valores vitais como o da vida e da liberdade começam a ser subjugados aos princípios da funcionalidade, dado o sistema pretender ser a premissa ordenadora dos valores).

A política ao ver-se confrontada com grandes problemas sociais criados pela própria sociedade liberal, reconhece a própria incapacidade de regular uma sociedade humana orgânica, e, para se desviar do problema, aposta no centralismo total implementando para tal o controlo digital da população não tendo sequer escrúpulos em delegar competências de controlo de caracter público às grandes empresas privadas de comunicação social, como Facebook, Google, etc ….

Atualmente o baralho (de realidade, opinião e ilusão) é tal que a liberdade social parece oscilar, como o pêndulo de um velho relógio de sala, movido por forças sociais já indetermináveis porque a rosa dos ventos perdeu a orientação …

Embora todos nós tenhamos direito às nossas opiniões e a decidir do que é importante na nossa vida e do que é nosso, não estamos isentos do enquadramento limitativo do direito do Estado e da sociedade em que se vive. A lógica não tem a última palavra a dizer numa sociedade plural e multifacetada, (porque exige muitas diferenciações), tendo, por isso de ser supervisionada pela Razão de caracter mais abrangente do que a ordenação de factos ou ideias numa linha lógica linear de conclusões inequívocas. O facto de uma democracia liberal – como a sociedade europeia aberta – ter vantagens, por tentar dar resposta à questão da diversidade, a liberalidade não a iliba dos problemas sociais internos que ela mesmo cria e em muitos casos a deslegitimam (imigração desregrada consequência do poder político-económico imperialista transforma-se em cavalo troiano dentro da cultura europeia).

Observa-se na sociedade ocidental a tendência para se insistir na liberdade da heteronomia e por outro lado numa intervenção cada vez mais directa do Estado contra a autonomia e contra a liberdade do cidadão assumir responsabilidade pessoal. Muitos deixaram-se levar na onda contra o presidente dos EUA Trump, o que veio a possibilitar aos administradores das redes sociais expulsá-lo; aqui o que é grave é o facto de se constituir um precedente perigoso e o transfer de poderes do Estado para empresas particulares (este reconhece assim a sua incompetência própria de regulador isento da sociedade) pondo em perigo o cidadão e o sistema democrático.

Assim se cria o pretexto de se poder proibir informação enganosa sem a necessidade de definir o que é enganoso e que parâmetros são usados para chegar a tal. De facto, a pergunta a ser primeiramente resolvida seria: assunto enganoso porquê; enganoso de quem e para quem? Considera-se como factual a informação mais conforme no sentido do regime ou da população e como fack o que as questione ou que seja realmente notícia falsa com objectivos escuros? E quem deve decidir sobre o caminho pré-determinado a seguir? O problema reside na circunstância de muitos factos serem susceptíveis de diferentes interpretações e de serem ordenados para determinados fins que alguns poderão querer que o povo siga. Naturalmente também há notícias construídas, fotos manipuladas, etc. e tudo isso vem complicar a situação, mas há que estar atento a uma paulatina chinesação dos aparelhos do Estado.

Muitos acusam a liberdade de ser  o princípio de muitos problemas (ou de parte dos problemas) mas aí reside um equívoco porque só a liberdade pode dar resposta aos problemas que a sociedade vai apresentando: só a liberdade humana aliada à identidade comunitária chamada a realizar-se e a servir toda a humanidade no respeito mútuo de cada um pode dar resposta aos problemas do nosso tempo e não o erro globalizado do liberalismo arbitrário avassalador deixado às leis do mais fortes numa sociedade considerada mercado de grupos e instituições que tem criado problemas incalculáveis à construção de um futuro mais humano.  veja-se o poder que empresas digitais e empresas globais já têm de determinar disposições e preços sem que os atingidos tenham possibilidade de intervir porque o estado que os devia defender também é sócio na defesa de interesses e na sua especulação porque vê alguns dos problemas resolvidos e também recebe os seus dividendos através dos impostos (quanto maior o custo do produto mais o Estado ganha).

Embora condicionados à morte somos chamados à liberdade! Querer reduzir a liberdade à mera materialidade ou a um mecanicismo de caracter funcional e pragmatista corresponde a uma atitude desumana porque faria da pessoa uma peça; a liberdade e o espírito são o sol que tudo vivifica e estes pertencem à pessoa e não às instituições; estas só têm relevância pelo serviço que prestam e pela memória que possibilitam no andar da história.

Nos últimos anos, a liberdade de expressão tem sido cada vez mais ameaçada, não só por um Estado faminto de impostos e cada vez mais controlador e colecionador de dados, mas também por actores privados, como bancos e corporações tecnológicas ao serviço dos gigantes da economia; por este andar chegaremos a um tempo em que o cartão do banco inutilizará o cartão do cidadão. O controlo generalizado em via e a censura são males, venham eles donde vierem.

Não é de confiar num Estado zeloso que determine a medida do discurso político a ser admissível. As grandes plataformas tecnológicas Google, Face Book, etc., não têm legitimidade para controlar o cidadão e o Estado, ao conceder-lhe competência para tal, está a demonstrar a sua incompetência para governar a sociedade que criou e parece estar a tornar-se ingovernável com meios democráticos; as empresas têm a sua lealdade para com os seus accionistas porque foram criadas com a finalidade  de ganharem dinheiro para eles.

 

Uma limitação de liberdade pelo governo só seria justificável se ocasionalmente limitada no tempo, mas tem de estar sempre sob a pressão crítica de ter de se justificar perante o cidadão. O cidadão crítico desempenha uma função importante na defesa das massas de uma censura indiretamente institucionalizada para reduzir a liberdade de expressão e de opinião. Mas também é de compreender a atitude de muito cidadão que, resignado, cada vez se refugia mais na sua vida privada, como já é de observar em camadas da juventude. A gravidade da situação em que nos encontramos (medidas Corona e propaganda em relação à Rússia-Ucrânia, etc.) conduz a posições extremistas e motiva conservadores a defenderem medidas estatais drásticas e move também os progressistas a defenderem a limitação da liberdade individual e civil como preço a ser pago para se conseguir progresso ou uma reconstrução social no sentido socialista.

Na fase do regimento Corona, a liberdade foi simplesmente subordinada ao valor da saúde e agora que temos o regimento da guerra na Europa tudo passou a ser condicionado à segurança (o comportamento assumido por governantes e média e a maneira indiferenciada como é acatado pela generalidade do povo faz duvidar da capacidade social para defender a liberdade). Isto é também sinal da falta de critério e de maturidade da classe dirigente que se comporta de maneira cínica como dominadora da consciência social e olha só para o momento sem considerar o futuro. A política ao valorizar apenas valias individualizadas falha contra o critério que pressupõe o equilíbrio e a referência integral de todos os valores humanos e sociais a preservar.

Não é suficiente ir-se vivendo nem chegam as ondas sucessivas criadas na sociedade para dar sustentabilidade a um povo e menos ainda a consequente atitude relativista de uma democracia liberal limitada a fazer caminho sem missão nem metas; embora se tenha a impressão que a democracia  liberal seria o sistema político capaz de dar resposta à questão da diversidade nas sociedades europeias, a EU na sua ideologia de sociedade liberalista está a conduzir-nos a grandes problemas porque não chegam o valores abstratos liberais que os nossos tecnocratas nos querem impor como mundivisão  aberta (valores europeus); estes revelam-se incapazes, de darem resposta a uma vida orgânica existencial de cidadãos e de sociedade já despojados num globalismo impulsionador de (e servido por) sociedades anónimas e secretas que, para se afirmarem no Ocidente, se tornam demolidoras da família, da pátria e de um tecto espiritual comum.  O seu radicalismo contra o regionalismo e contra a província desqualificam as suas pretensas boas intenções de criarem uma humanidade sob um só tecto universal materialista e sem metafísica.

A liberdade pela liberdade torna-se insustentável porque levaria a um estado caótico da existência de indivíduos sem instituições nem órgãos ordenadores. A liberdade manifesta-se como factor dinâmico competidor entre o indivíduo e as suas organizações institucionais; esta tensão tem de ser mantida em equilíbrio muito embora pendular.

Creio que o liberalismo democrático, que na qualidade de ocidentais tanto afirmamos, poderá ter a sua lógica linear como método de resposta à diversidade de problemas e exigências criadas depois da segunda guerra mundial, mas, numa ordem globalizante, não resolve os próprios problemas sociais por ele criados e menos ainda outros problemas existenciais e de sentido que este liberalismo mercantilista aberto e sem fronteiras cria. Creio que o problema da razão, nas suas tentativas de alinhamentos lógicos se torna num pau de dois bicos ao apostar numa narrativa de perspectiva unilateral que subordina a vida do cidadão ao aspecto utilitário sociológico-político. Sem abandonarmos a polis teremos de reconhecer a natureza (família, aldeia e regionalismo), como lugar de vida autêntica e de orientação, doutro modo o globalismo servido por democracias liberais terá como consequência lógica a criação de governos autoritários servidos por oligarcas.

©  António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo