ANTISSEMITISMO – UM CARCINOMA ALIMENTADO PELO PRECONCEITO E PELA INVEJA

Judeus preocupados com o crescente Antissemitismo na Europa

 

António Justo

O antissemitismo é irmão do racismo; ambos têm de comum o ódio e o desdém pelo outro.

Segundo estudos feitos recentemente, o crescente antissemitismo estará em relação com o aumento dos muçulmanos nas metrópoles da Europa. Antissemitismo, como racismo, é um fenómeno muito complexo com muitas causas e explicações; ele surge, sobretudo em tempos de crise, quando se procura desesperadamente fazer um diagnóstico dela. O mal encontra-se na cabeça e no coração das pessoas; a solução é defrontarem-se os problemas e não as pessoas.

No mundo há 14, 2 milhões de Judeus. Em 1990 o número de judeus na França era de 518.000 e em 2016 era de 467.000. Em 2005 viviam 108.289 judeus na Alemanha e em 2016 viviam 98.594.

Em Portugal fala-se de “30% dos Portugueses descende de Judeus“,  mas o número de portugueses que se confessam praticantes da religião judaica, são cerca de “2.500, havendo certamente os que vivem o seu judaísmo confinado ao lar; a maioria são os sefarditas que são maioritários e os asquenazitas; quanto às correntes a maioria é ortodoxa, havendo uma pequena comunidade progressista em Lisboa, e grupos de oração da corrente conservadora (Masorti) em Sintra e Almada” (como responde Filipe de Freitas Leal, à pergunta que lhe fiz) . No Brasil há cerca de 100.000 judeus.

Judeus a sair da França, da Alemanha e de alguns países europeus devido ao antissemitismo

Muitos judeus temem pela sua segurança e ao sentirem-se ameaçados, optam por tornar-se invisíveis (deixam de trazer a kipá – gorra circular, com o significado de humildade perante Deus) e outros emigram para Israel, o que deixa muita pena nos países onde se encontram porque constituem uma comunidade integrada e que sobressai pelo seu trabalho em benefício de toda a sociedade.

Na Alemanha a revista “Berlin Judeu” passou a ser entregue em envelope neutro, para que os assinantes não sejam identificados e a probabilidade de inimizades não cresça. Depois das demonstrações em Berlim 2014, contra a guerra de Gaza e do atentado de Paris, muitos judeus sentem-se ameaçados. O Conselho Central dos Judeus na Alemanha adverte que: esconder-se não é o melhor caminho, mas que talvez não seja bom trazer a kipá em bairros com elevada percentagem de muçulmanos. Observa-se um crescente antissemitismo nos jovens muçulmanos.

O historiador Michael Wolffsohn menciona os resultados de uma pesquisa de 2016 sobre preconceitos contra judeus onde se verifica que 18% dos alemães e 56% dos muçulmanos, na Alemanha, têm preconceitos contra judeus e na França a quota é de 20% de população geral e 63% dos muçulmanos.

O director do Conselho Central dos Judeus na Alemanha diz no Süddeutsche Zeitung: “O antissemitismo faz parte da educação de algumas famílias muçulmanas. Através de gerações é transmitida às crianças, por todo o lado, a sensação de que os muçulmanos são reprimidos em todo o mundo por culpa dos judeus “. Welt am Sontag, também cita: “Muitas dessas pessoas que vieram para a Alemanha, vêm de países onde o ódio aos judeus e a hostilidade a Israel são razões de Estado”.

As teorias da conspiração de que os judeus governam o mundo é outra forma indirecta de antijudaismo. De facto, cria-se a impressão que se teria de aniquilar Israel para que não haja anti-judaismo.

O jornalista alemão Jakob Augstein concretiza: “Antissemitismo congrega ódio, racismo, teorias da conspiração e esoterismo”.

Reúne-se tudo numa só coisa; o ódio que une, é uma constante histórica intercontinental que se repete. Esconde-se no jogo de um “sim… mas” (p.ex.: o que os extremistas fazem é mau … mas os americanos estão na base!…).  Também há outras argumentações sem lógica, mas que estabilizam a indiferença e o antissemitismo; identificar o Estado de Israel com o judaísmo. O acoplamento das ideias “política do governo” de Israel com os Judeus é inadmissível. Israel serve de pretexto para o antissemitismo ser globalizado. 

 Uma política do olhar desviado tem facilitado o aumento alarmante do antissemitismo e da xenofobia na Europa. O interesse das classes dirigentes em não se defrontarem com os problemas e a tolerância de espaços livres à direita e à esquerda possibilitam viveiros de intolerância e de violência. O tema antissemitismo e xenofobia dividem a sociedade e é instrumentalizado para fins politiqueiros.

Torna-se insuportável a hipocrisia com que se combatem gestos e frases dos Nazis e não se ligue ao ódio cultivado e justificado a partir de uma instituição religiosa que age do centro da sociedade com frases sagradas fomentadoras do racismo e da exclusão e onde se equipara os judeus a “macacos e porcos” (Sura 5:60 no Corão). O problema está no facto de as frases do Corão não estarem sujeitas à análise histórico-crítica, sendo por isso de tomar à letra.

Mal da cultura que, em vez de deixar o amor e a compreensão como herança, deixa o ódio para os vindouros.

O povo judeu é dos mais pequenos do mundo, mas aquele que mais contribuiu e contribui para o desenvolvimento do mundo.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo,

LUTERO GARANTE A EMANCIPAÇÃO COMO PRINCÍPIO IMPULSIONADOR DA IDADE MODERNA – Apresentação do meu livro

O Legado de Martinho Lutero nos 500 anos de reforma

 

Ideais entre Dependência religiosa e Dependência política

Por António Justo

Celebram-se este ano os 500 anos da mitológica afixação das 95 teses de Lutero na porta da igreja do Castelo de Wittenberg, em 1517. Com este acto de rebeldia, seguido por muitos teólogos da altura, inicia-se um processo de relevância axial histórica: o eixo do desenvolvimento passa a assentar sobretudo na afirmação do polo da individualidade sobre o da comunidade. A afirmação da dignidade e autoridade individual como contraposição à autoridade institucional vai tornar-se no princípio emancipador (individual e social) de toda a Idade Moderna; hoje encontra a sua expressão social num sistema plural democrático sempre em renovação.

Com a acentuação do polo da individualidade sobre o polo da comunidade (instituição – o nós), o eixo da História (económico-socio-cultural) passou dos países de maioria católica do Sul para os países maioritariamente evangélicos do Norte. Principalmente a pessoa de Lutero tornou-se o rosto do longo movimento emancipatório germinado durante a Idade Média. É o grande catalisador das ideias medievais que vão impregnar a modernidade como processo de emancipação.

O protestantismo além de içar a bandeira das forças emancipatórias e democráticas deu-lhe forma institucional e deste modo conferiu-lhe sustentabilidade…

Solicito a divulgação da publicação de minha autoria, “Lutero garante a Emancipação como Princípio impulsionador da Idade Moderna”, publicada em e-book e em papel na  Amazon .

Uma profícua leitura!

António da Cunha Duarte Justo

Nota: Uso a designação “Idade Moderna” no conceito de “Tempos Modernos”, designação usada pelas correntes historiográficas anglo-saxónicas – período ainda não acabado.

Pegadas do Tempo,

 

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NOVO PARTIDO NA ALEMANHA QUER INICIAR A REVOLUÇÃO AZUL

A Hora dos Conservadores na Europa

 

Por António Justo

Os Factos

Uma civilização à procura do sentido, um predomínio de temas de esquerda determinadores da cultura e da política, a presença social de um Islão conquistador, um globalismo avassalante, um eleitorado desconfiado de partidos e da classe política, constituem os principais ingredientes com que se tempera e determina a vontade do eleitor. A Alemanha, a Áustria e a Suiça são significativos representantes dos sintomas e dos indícios de desenvolvimento do futuro social na Europa.

 A AfD tornou-se na terceira força política no Parlamento alemão com uma quota de 12,6%, o que corresponde a 94 deputados; a CDU/CSU viu o resultado reduzido para 33%, o SPD para 20,5%, os Verdes para 8,9% e o FDP conseguiu os 10,7% e A Esquerda os 9,2%. A ascensão da AfD deve-se a muitos erros da classe política do regime vigente e por ter conseguido mover eleitores que eram abstencionistas e deslocado para si votantes da CDU (Merkel) e do SPD. Relevante é o fenómeno dos partidos mais à esquerda terem perdido substancialmente votos e os partidos populares CDU/CSU e SPD verem a popularidade a emigrar para a direita.

As lutas internas na AfD entre forças conservadoras moderadas e forças radicais levam Petry à cisão com o partido e determinam o surgir de “O Partido Azul” que quer uma política nacional liberal. A diretoria de „O Partido Azul“ „Blauen Partei“ é formada por  Michael Muster (presidente), Thomas Strobel e Hubertus von Below. Frauke Petry mantem-se ainda encoberta.

 

“O Partido Azul” – A Cor dos Conservadores!

 

Após a eleição do Parlamento alemão, em setembro, Frauke Petry anunciou a sua retirada da AfD (Alternativa para a Alemanha). 

 Frauke Petry ,  ex-presidente do partido AfD, comunicou a 13 de outubro a fundação de um novo partido com o nome de “Die Blaue Partei” (O Partido Azul”). Permanece primeiramente no Parlamento alemão como deputada, não ligada a uma fracção. O passo de Petry é compreensível dado já antes ter procurado, em vão, conduzir a AfD para um curso de “política real”. Para Petry, a AfD tinha-se deixado influenciar pela ala da direita nacionalista. Ela quer um “conservadorismo razoável”, um partido conservador liberal.

Petry, que, com os seus companheiros, fundara o partido uma semana antes das Eleições federais, quer iniciar um Fórum dos Cidadãos,”Blaue Wende” / ‘Mudança Azul (ou Rrevolução Azu)l’ no qual cada cidadão, independentemente da cor, se pode engajar com ou sem pertença ao partido “. Para Petry “Azul representa conservador, mas está também para uma política liberal na Alemanha e na Europa. Azul é a cor, que primeiramente tornou a CSU politicamente popular na Baviera. Trata-se de estabelecer isso a nível nacional”. Petry quer ganhar também conservadores decepcionados;

O seu modelo político é o CSU (União Social Cristã) da Baviera e a CDU dos anos oitenta (altura em que fazia a crítica ao espírito da geração 68); ela afirma que a „islão político” é contra os valores alemães, defende a expulsão da Alemanha de estrangeiros que cometam crimes e o fortalecimento das fronteiras alemãs.

De facto, a presença social de um Islão gueto, intransigente e hegemónico, está a determinar a atmosfera social e política na Europa. O seu caracter medieval possibilita uma conotação social crítica a um modernismo ao mesmo tempo bem-intencionado e irresponsável.

A partir de novembro, “O Partido Azul” pretende começar com eventos públicos a partir da Saxónia e depois em todo o país.

Os Polos (Esquerda-Direita) determinam o Movimento do Centro

A sociedade, tal como a pessoa ao andar, apoia-se ora na direita ora na esquerda. Assim consegue andar mais ou menos direita!

O panorama político europeu e em especial a política alemã encontram-se em convulsão depois de uma época em que a geração 68 abusou da influência da esquerda em todos os sectores da sociedade. As eleições alemãs e austríacas são os melhores indicativos da mudança dos ventos. As forças internacionalistas e de esquerda acentuaram demasiado a sua presença nos Estados europeus fortalecendo o seu polo em desfavor da ala direita social criando-se assim um desequilíbrio social e cultural na Europa. De momento assistimos a uma sociedade descontente consigo mesma e à procura de novos caminhos, mas com a pretensão de uma correcção em favor do polo da direita.

Atendendo à incontinência da política da geração 68, seguida na Europa, com o consequente enfraquecimento do polo conservador, nota-se agora uma saturação, em toda a sociedade; a ideologia de esquerda cometeu o erro de se entranhar na sociedade de forma jacobina arrogante, dogmática e polarizadora como se expressa ainda no moralismo do “pensar politicamente correcto” em voga – uma espécie de pensar de tesoura na cabeça como órgão inconsciente de autocensura. Consequentemente, o nacionalismo e o polo da direita tenderão a aumentar. O medo do islão fortificado com um certo cepticismo em relação à união europeia e ao euro ajudam a rebelião em curso.

O vácuo político actual deve-se também ao facto de os partidos conservadores, especialmente a CDU se ter desenvolvido de maneira a assumir os temas da esquerda do SPD e dos Verdes e a uma insatisfação geral da população com os partidos do regime.

O partido AfD continuará como forte força política para conservadores, patriotas, liberais do mercado e para amantes da lei e da ordem – uma constelação sem limites à direita em contraposição a uma paisagem política tolerante de partidos sem limites à esquerda.

Frauke Petry, encontra-se num horizonte ainda não definido; continua a ser uma estrela com grande carisma, mas, o problemático das estrelas é que só brilham durante a noite!

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo,

“PÁRTENON DOS LIVROS“ DA DOCUMENTA 14 EM KASSEL – UMA CENSURA DA CENSURA

 

António Justo

O Pártenon dos livros proibidos, no âmbito da Documenta 14, é uma obra de arte de protesto contra a censura praticada ontem e hoje em todo o mundo. Nele encontram-se, como que em mosaico, 50.000 livros proibidos, envolvidos por plástico a fazer de fachada do Pártenon, entre outros: “A Bíblia”, “Ulisses”, “Os Versos Satânicos”, O Principezinho, ” Os Sofrimentos do Jovem Werther “,” Alice no País das Maravilhas “, etc…

O Pártenon dos livros proibidos, encontra-se por 100 dias – o tempo da Documenta 14 – na praça Friedrichsplatz ao lado do Fridrericianum (antiga biblioteca), onde foram destruídos 350.000 livros num incêndio provocado pelo bombardeamento dos Aliados em 1941. No mesmo largo tinham sido queimados 2.ooo livros a 19.05.1933 no âmbito da “Acção contra o Espírito não-alemão “.

O Fridericianum foi concluído pelo Conde de Hesse-Kassel, Frederico II, em 1779; o edifício foi um dos primeiros museus públicos da Europa e também usado como biblioteca pública.

Muito do dinheiro, que Frederico recebia do aluguer dos seus soldados ao rei da Grã-Bretanha, para combater do lado britânico, na Guerra da Independência Americana, foi aplicado na criação de parques públicos e investido nas artes. Ainda hoje impressionam os parques e os muitos carvalhos com mais de 200 anos nos parques da cidade de Kassel.

O Pártenon dos livros proibidos, é uma réplica do formato do Pártenon de Atenas, o berço da democracia.

O objectivo da artista Marta Minujín, com o Pártenon dos livros proibidos,  era conseguir 100.000 livros proibidos oferecidos por pessoas privadas e por livrarias para o Pártenon .

Esta é certamente a melhor peça da Documenta 14.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

UMA MUÇULMANA EXEMPLAR – SEYRAN ATES

A Fundadora da primeira Mesquita inovadora: “Mesquita Averróis-Goethe”

 

António Justo

Seyran Ates, nasceu em Istanbul (1963); aos seis anos emigrou para a Alemanha; frequentou os estudos de direito em Berlim, especializando-se em direito penal e em direito de família. Já, durante os estudos, apoiava mulheres vítimas de violência caseira.

Como advogada defende vítimas de “crimes da honra”, mulheres casadas à força ou maltratadas pela família. Em 1984 um marido matou uma sua cliente no seu consultório; Ates ficou gravemente ferida e teve uma experiência de quase-morte. Apesar disso, Seyran Ates continuou a empenhar-se na defesa de mulheres oprimidas, conseguindo trazer para a opinião pública alemã um aspecto escuro de muitas mulheres que sofrem em silêncio devido à pressão patriarcalista.

Em 2006 abandonou a sua carreira de advogada, por algum tempo, devido a ameaças.

Depois de ter publicado o livro “O Islão precisa de uma revolução sexual” recebe contínuas ameaças de morte e e-mails transbordantes de ódio e ideias de abuso sexual, o que a levou novamente a abandonar a carreira de advogada em 2009.

A ativista de direitos humanos “vive em constante perigo de vida” porque se dedica à defesa da liberdade de outros. A muçulmana encontra-se sob proteção policial, dia e noite, com vários polícias.

 

Na luta por um rosto feminino para o Islão

 

A 16 de Junho de 2017, Seyran Ateş abriu a “Mesquita Ibn Ruschd-Goethe” em Berlin (um projecto de ligação da cultura árabe à cultura ocidental, daí o nome “Mesquita Averróis-Goethe”). É a primeira mesquita progressista na Alemanha; está aberta às correntes islâmicas sunita, xiita, alevita e sufi. O uso do nicab e do xador são proibidos por serem expressão de submissão ao homem e símbolo de um islão anacrónico (1).

Seyran Ates, quer uma mesquita onde o Corão não seja interpretado à letra e, assim, tornar possível uma interpretação moderna que  possibilitae uma educação para a liberdade, para a responsabilidade individual e para a paz universal.

As mesquitas na Alemanha não perdoam a Seyran Ates, ser a cofundadora da mesquita liberal Ibn-Rushd-Goethe-Mesquita onde rezam mulheres e homens uns ao lado dos outros e onde às vezes uma imã orienta a oração ritual.

Na imprensa da Turquia, Ates é apostrofada de “traidora da pátria e de terrorista”. “A repartição turca para os Assuntos Religiosos (Diyanet) incita a plebe mafiosa turca na Alemanha” (HNA) e  acusa Ates de querer modificar e reconstruir a religião.

Ates chama a atenção para a hipocrisia que, muitas vezes, se apresenta com duas caras:” Eles sorriem para ti e mentem-te na cara”.  É contra o uso do lenço islâmico (Hijab), contra os casamentos forçados e contra os crimes de honra. Também, devido à sua experiência amarga, desabafa: “Onde a Religião só serve a demarcação/separação, revela-se contra a democracia”.

A atitude de Seyran Ates torna-se numa ousadia promissora para o Islão (e para a paz na Europa) na medida em que lhe possibilita, por um lado,  a saída do gueto, o abandono do acorrentamento aos costumes da Arábia do século VII e, por outro, a abertura à pessoa, à feminidade,  à História e a outras culturas. No seu projecto, “Mesquita Averróis-Goethe, é apoiada por muçulmanos liberais de todo o mundo (2).

Entre outros louvores foi-lhe atribuída a condecoração Cruz Federal de Mérito, pelo Estado alemão.

 

Conclusão

 

A “Mesquita Averróis-Goethe é uma iniciativa válida e digna de imitação para tornar o islão compatível com a Europa e com outras culturas. O Islão só será reformado pela acção das mulheres. Nelas há que apostar para que não continuem a fomentar um estilo de cultura arcaica aliciante de instintos de homens árabes e doutras culturas! Só elas poderão trazer ao Islão um rosto feminino e recuperar a feminilidade que ele reprime e assim dar-lhe um rosto mais equilibrado e mais humano!

Também no surgir da Europa houve tempos em que a autoridade do grupo ou da instituição atafegava a personalidade individual e em especial a mulher (hoje isso acontece de maneira mais subtil e suave). Embora o ocidente tenha defendido sempre a dignidade de toda a pessoa humana, independentemente de ela ser mulher ou homem, os costumes e tradições reprimiam a mulher em relação ao homem. É importante que mulheres de cultura árabe, em contacto com a cultura ocidental, ganhem força e sejam motivadas a provocarem um desenvolvimento antropológico do islão de maneira a criar mais justiça, solidariedade e igualdade de trato entre homens e mulheres de modo a possibilitar, a cada qual, redefinir a sua ipseidade para agir a partir de uma liberdade responsável e humana porque individualizada.

Encontramo-nos todos no mesmo barco e se o islão não se muda toda a humanidade será retardada e se a sociedade ocidental não se mudar também, a personalização do indivíduo passará a ser abusada no sentido de o desumanizar, transformando-o novamente em mero objecto ou instrumento da instituição e da ideologia ad hoc. Cabe ao Cristianismo e à sociedade ocidental, que deram origem aos direitos humanos, à democracia e à tolerância do Homem como tal, tornar-se consciente do processo em via num momento em que as constelações de poder mundial se redefinem. Cada povo, cada cultura tem o seu valor específico a integrar na construção de sociedade mais justa e pacífica. Por isso todos devemos estar gratos quando uma mulher como a muçulmana Ates procura fazer com que o islão reconheça a feminidade como um vector do desenvolvimento, tal como o vector da masculinidade que se tem afirmado desequilibradamente! Não só a sociedade religiosa, mas também as sociedades seculares são responsáveis pelo que acontece: na Europa tem-se afirmado o islão do lenço e as estruturas governamentais colaboram com instituições muçulmanas duvidosas  interessadas apenas no poder e na hegemonia das mesquitas turcas na Alemanha (na colocação de professores de religião islâmica em escolas do Estado os Ministérios da Educação da Alemanha colaboram com a federação das mesquitas turcas (Ditib) que é apoiante de Erdogan e não apoia iniciativas que fomentem a integração ou impliquem renovação do islão; de maneira geral, apoiam o islão do lenço, e não dão  apoio aos defensores de um “protestantismo muçulmano”.

De facto, o ser humano, antes de ser membro de uma sociedade religiosa, étnica, política ou cultural, é Homem e como tal traz em si a ferocidade selvagem mais ou menos escondida, tal como a gene divina. O problema é que todos cheiramos a Homem e não queremos reconhecer a maldade latente que em nós trazemos e depois procuramos justificá-la ou desculpá-la para passar o assunto ad acta! A discussão é importante e mais importante é ainda o testemunho que Ates mostra.

 © António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo

  • (1) Há dias , no fim de uma aula, um simpático muçulmano trintanão, dirigiu-se a uma colega professora de alemão, dos seus 50 anos, e disse-lhe: porque é que pinta os lábios e se veste assim, se já é casada? Na sua mentalidade genuína até tinha lógica a sua pergunta! Porque precisa uma mulher casada de se arranjar de maneira atractiva se já tem um homem a quem pertence?! Porque traja assim, se isso é uma manifestação de liberdade e como tal uma provocação aos homens que, por natureza, andam à caça e mais à solta?!
  • (2) As mentalidades relativas a matrizes religioso-culturais formadoras de identidade (individual e cultural) não se mudam em poucas gerações. Durante a Idade Média a sociedade e cada indivíduo (de uma maneira geral) vivia, em grande parte, de maneira inconsciente no ventre da comunidade pois a individualidade ainda se encontrava em gestação. Houve, naturalmente, muitas excepções que tinham a ver com a posição e papel social de elites, que possibilitaram uma burguisação da consciência da pessoa. A Idade Média no renascimento (processo de emancipação) deu à luz o indivíduo como personalidade com autoridade própria (autonomia que só a sociedade industrializada concretizou a nível político com a democratização). Como se vê a pessoa “autónoma” é parida no século XV-XVI e demorou cinco séculos a produzir a pessoa autónoma de extremismos egoístas que hoje exagera em relação à comunidade tal como antes a comunidade (instituição) exagerava em relação ao indivíduo. O Islão ainda se mantem hoje nos princípios da sua Idade Média, quanto ao seu ser antropológico. O contacto íntimo dos muçulmanos imigrados com a Europa leva as pessoas mais sensíveis a descobrir-se como pessoas: a iniciar um processo que não poderá ser de renascimento porque a filosofia muçulmana não possui nela o factores que provocariam um renascimento, mas a capacidade de se abrir a outras mundivisões sociológicas e antropológicas; foi isto o que aconteceu a Ates. Ela estaria com alguns poucos no princípio do “protestantismo” muçulmano – a época propícia para produzir hereges e protestantes! Por isso, a nossa missão é dupla: apoiar as pessoas ousadas que, ao descobrirem-se como pessoas, descobrem os direitos humanos e apresentar uma análise crítica à doutrina muçulmana. Esta teima em oprimir a mulher e em afirmar-se e definir-se pelo contra em relação a outras culturas. Esta matriz fundamental, que parte do princípio que só uma sociedade do homo religiosus é legítima, terá de ser reestruturada num modelo de mundivisão que permita uma nova concepção de Homem e de sociedade, o que pressuporá uma opção pela inclusão e o distanciamento de uma mundivisão baseada nas estruturas mentais e sociais “árabes” do século VII. É triste ver como uma sociedade ocidental se comporta em relação ao Islão dos imigrantes: hipocritamente fecha os olhos e não quer saber porque saber (e não só levianamente opinar) tornar-nos-ia mais responsáveis e levar-nos-ia a ajudar mais as mulheres a libertarem-se da sua situação de escravizadas e de transmissoras dos padrões patriarcalistas islâmicos;  também não deixaríamos os imigrantes muçulmanos abandonados a si mesmos e tomaríamos medidas para que a colonização interna entre os muçulmanos, que se processa no ocidente, não ficasse entregue a mesquitas e grupos radicais apoiados pela Arábia Saudita, Qatar ou um islão de lenço turco. Infelizmente a esclarecida Europa continua interessada em cobrir a ignorância porque dela vive melhor a “boa” gente.