EDUCACAÇÃO EM TEMPO DE MUDANÇA E NA DISCIPLINA DE CIDADANIA

Reflectindo sobre a Influência dos Ares do Tempo

António Justo

O andar da sociedade, visto sob o prisma da responsabilidade individual e política, deixa muito a desejar por sobretudo nadar no sentido da corrente do tempo; parece não suportar a reflexão filosófica e até a educação se vê orientada para o sucesso e o lucro a curto prazo que se vêem-se acolitados por um moralismo superficial e intolerante a caminho da servidão.

Pretender  que se aprendam atitudes como se aprende uma técnica de serviço utilitário poderá ser o melhor caminho para se estabelecer um regime autoritário; o nosso pensar do tempo aposta em valores abstratos  não querendo orgânicas jerarquias (diferenças) no comportamento nem no pensamento (o pragmatismo e a eficiência tornaram-se no “bem” do tempo e espalham a crença de que com leis e semáforos vermelhos tudo se regula!). Consequentemente (1) na educação cívica não estão em foque a relação interpessoal (virtudes pessoais) nem a formação de atitudes de humanidade; fomentam-se sobretudo comportamentos mecânicos (aptidões de concorrência)  relativos a poderes e interesses grupais, a valores anónimos acompanhados de ícones do passatempo e da moda. Chega que tudo funcione e basta ter toda a pessoa em função; o sentido do Estado e o que parece interessar é apenas ver a máquina a funcionar, tudo ao serviço dos órgãos de interesse, na sua qualidade de componentes da máquina. Já Immanuel Kant recomendava a termos a coragem de usar a nossa própria razão para nos libertarmos da imaturidade autoinfligida.

Cada um é, por outro lado, considerado dono do mundo que se encontra dentro do seu computador (um mundo artificial que não o real!). Já não precisa de conquistar espaços nem de ser, bastam-lhe logaritmos e chavões de pensamento para aparecer! Cai-se assim numa educação utilitarista (2) que educa para a funcionalidade e para o progresso esquecendo o “educando” na sua qualidade de pessoa, pessoa integral!  A Informação é manipulada encontrando-se sobretudo em posse de fábricas de inteligência (técnicos de ideologias e de estratégias) e cada vez mais em posse de multinacionais como Facebook e Google (Deste modo, impercetivelmente, une-se o poder político ao poder privado na mesma tarefa de controlo do cidadão – da cidade e do Estado).

A Palavra, a informação  é a energia criadora originária  e permanente, por isso Deus falou e o evangelista João escreeu: „No princípio era a  Palavra, (a In-formação)”;  ela está sempre no princípio da cultura, do discurso, da formação e da criação; ela forma a pessoa que cria novos mundos, novas civilizações; essa mesma Palavra (in-formação), no reino vegetal, forma as plantas, todos os seres na qualidade específica de convergentes de informação (in-formação em processo de definição).

Por isso os poderosos se apropriam da palavra (informação), tornam-se autoridades (à imagem de deuses e não de Deus!), formatando-a, a seu modo, decidem sobre o significado e o sentido da palavra (ideia moldada).

A Palavra (in-formação)  que no princípio era divina e, como tal, parte de todos, em que cada um poderia sentir e decidir sobre significado e sentido, foi timbrada em nomes, frases opacas e, ao deixar de ser processo, deixou de estar no princípio para ser reduzida a gramática do tempo (poder) e assim, como objecto, tornar-se apenas em narrativa localizada e, deste modo, poder ser usada para reduzir os outros a consumidores (acaba-se a relação pessoal para a substituir pela conexão funcional; acaba-se com a comunidade e correspondente virtude/moral para se criar a sociedade do cidadão e correspondentes leis exteriores dependuradas em valores abstratos). Torna-se urgente proteger a gene divina da palavra (in-formação) que se encontra ameaçada porque o que é processo se torna em objecto limitado e deste modo passa a ser propriedade de alguns: os proprietários do espírito materializado.

Ao reflectirmos sobre a in-formação (Palavra) estaremos a proteger o seu ser divino em nós e nos outros. Se observarmos os ares que nos rodeiam notamos que não nos querem ver como seres direitos, como pessoas, como sujeitos criadores do mundo, desejam-nos tortos formatados como consumidores ou seres amarrados à sua trela (informação petrificada!). Quer-se transformar a Verdade (processo relacional) em crença apropriada, ou na narrativa que nos contam. O espírito do tempo quer uma sociedade “sã” que nos faz seus pacientes.

O entusiasmo pela técnica prepara o caminho para o abstracto numa narrativa sem poesia para ser contada e não precisar de ser explicada nem vivida (o velho “sacerdócio” foi substituído por tecnocratas ao serviço do sistema à custa da pessoa!). A sociedade competitiva de consumo não educa para a compreensão da pessoa e das coisas no sentido que lhes é próprio de complementaridade e humanidade, mas sim no sentido de autoafirmação, de concorrência (rivalidade), de exclusão e de funcionalidade. A governação baseada no crescimento justifica a desumanização da pessoa e da sociedade porque os fins passam a justificar os meios como se pode ver na sociedade consumista e de maneira extrema em regimes totalitários como a Coreia do Norte e a China!

Sem nos deixarmos oprimir por racionalizações nem por perturbações emocionais, importará começar por aprender a lidar consigo mesmo e a desenvolver o espírito de discernimento, de descoberta (curiosidade) e de humildade. Isto no sentido de tentarmos ter a coragem de deixarmos de ser ovelha e ao mesmo tempo não termos medo de reconhecer a necessidade de cães de guarda e de pastores! Cada pessoa traz em si o cordeiro e o lobo o que justifica uma educação no sentido prático de um humanismo cristão.

O espírito do tempo globalista para justificar um centralismo tecnológico anónimo vai, pouco a pouco, destruindo os biótopos culturais pessoais e regionais no equívoco de que só assim poderá ter poder directo sobre o indivíduo (pessoa reduzida a cidadão) e sobre as nações ou povos! Certamente também por isso se vai tendo a impressão de se pretender uma sociedade e indivíduo só mente, sem Deus, sem pessoa, sem alma, sem terra, sem família e sem mãe. Pretende-se um mundo só paterno com mente e sem coração. Não chega educar para a filantropia, é necessário integrar, na educação, a prática de olhar os outros (os diferentes numa relação pessoal e não só de interesses) com o olhar de Deus, com o olhar deles e assim descobrir em cada um Jesus Cristo, o irmão (e isto independentemente de instituição, etnias, culturas, crenças e ideologias). O olhar de Deus é materno e faz dos outros irmãos gerando-os como filhos. Isto implica educar para a transformação (e não para a confrontação, competição) a acontecer na transversalidade de espírito e matéria, de feminilidade e masculinidade, de integridade e engano.  Será necessário aprender a dar sentido à própria existência sem ter de continuar atrelado às necessidades artificialmente criadas e que se concretizam no ter dinheiro para as satisfazer ou no exercício de meras funções. Trata-se de descobrir a própria dignidade (personalidade) e não de ter apenas uma ideia dela sem que se torne virtude. A reflexão sobre a dignidade leva à minha descoberta de ser sujeito e não objecto numa inter-relação de sujeitos. Para isso seria necessário aprender a tratar-se a si mesmo com dignidade.

Vivemos num estádio cultural em que tudo é encaminhado para a exploração do intelecto e visto a partir do intelecto (ângulo cerebral causal a caminho da inteligência artificial): valores e normas, são transferidos e adquiridos num canto do cérebro. Não se pretende a consciência de identidade, de homem todo; no máximo quer-se um perfecionismo que parte da insegurança para gerar instabilidade servida por valores meramente abstratos.

Inicialmente temos de aprender a tratar-nos a nós próprios com amor e, concludentemente, trataremos os outros como nos tratamos a nós mesmos. Então dispensaremos modelos a seguir e deixaremos de andar a correr atrás de uma felicidade pressuposta fora de nós. A educação para a cidadania não deveria partir de medidas que consideram o outro como objecto de valores propostos a adquirir porque na sua lógica esses valores puramente abstratos pretendem transformar os outros em objectos, tudo numa coerência funcionalista, num clima social de valorizações e avaliações que no fim de contas serve sobretudo a classe dominante.

A cultura é deixada ao desbarato da decadência e ao desgaste dos ares do tempo.  A educação para a humanidade e para a paz não pode continuar a manipular o ensino tal como fazem os regimes que dão mais importância ao domínio da Universidade, da escola, dos média, que aos bancos (estes são transversais e comuns a todos os regimes não podendo ser anulados, apenas nacionalizados), porque sabem que aquele é que permanecerá como estabilizador do sistema.

A educação frisa a pessoa e a sociedade! Como podemos querer pessoas humanas e uma sociedade solidária se não entendemos nada do que está a acontecer com a educação escolar e social?

Educar para a paz é educar para a transformação, nunca para a confrontação porque a transformação pressupõe a transversalidade dos polos (extremos).

Penso que uma ótima maneira de encontrar apoios para o processo da própria transformação será dialogar com a natureza, entrar num templo e aí, sem ouvir ninguém, entrar-se numa de intuição, deixando o coração transcender e dizer: “Tu estás aí, eu estou aqui, no nós estamos juntos a fazer caminho”. Nesse estado, poder-se-á, mais facilmente, entrar em contacto consigo mesmo, através do silêncio, da natureza, do ouvir o mar e o respirar da montanha na transversalidade dos nossos sentidos. Então poderá iniciar-se uma transformação interior que primeiramente poderá criar um sentimento de dissidência para mais tarde se poder respirar o universo em nós, a humanidade em nós. Nessa atmosfera se nota também o emperramento em nós mesmos e as incongruências com o mundo das ideias ou intenções e propósitos que vinham de fora (expectativas) e não de nós! Então, pelo menos por alguns momentos, dar-nos-emos conta, da necessidade em nós, de sermos sujeitos e não objectos. Então dar-nos-emos conta do perigo de nós mesmos e da família sermos reduzidos à prática do eu penso, quero e compro; dessa distância poderemos observar o modo como somos sorvidos pela atracção do espírito do tempo na enxurrada social.

Então, quando me transformo já não me encaixo neste modo de viver social, mas como a transformação não pode ser alcançada sozinha, presto atenção a com quem vou. Aí mais sentirei a necessidade de criar ou me integrar numa comunidade própria.

Precisamos todos de uma interajuda mútua e autêntica. Isto pressupõe experienciar-se a si próprio, interna e externamente, e não menosprezar a actuação; essa entreajuda não se dá tanto como ajuda a alguém, mas como um ajudar-se a si próprio a experimentar o outro e a si próprio em comunidade.

Na sociedade civil as relações movimentam-se entre grupos de interesses em que cada grupo normalmente trata de proteger os bens/interesses da própria sociedade ou grupo. Como cada organização, cada partido, luta para a sua comunidade, a solidarização grupal impede, geralmente a solidariedade geral, porque lhe falta o interesse comunitário (cofunde-se a defesa do bem do grupo com o bem comum). Isso não implica que se recuse a homogeneidade entre os grupos.

Por isso uma sociedade solidária necessita de uma formação não só a nível de indivíduo e de sociedade, mas sobretudo a nível de pessoa e de comunidade!  Para uma educação para cidadãos adultos e consequentemente para a paz, não chegam os dados sociológicos nem as leis; para isso é necessária a vida transmitida pela filosofia, pela ciência e pela religião!

Cito de um autor desconhecido: “Não importa o tamanho do primeiro passo, mas sim em que direcção ele vai”. Para chegarmos à redescoberta da pessoa, da dignidade individual de cada um poderia ajudar um processo maiêutico de educação, como queria Sócrates como método filosófico para chegar ao saber.

António CD Justo

Teólogo e pedagogo

©Educação, in Pegadas do Tempo

 

  •      (1)  Em grande parte, encontramo-nos envolvidos num ensino e num discurso público enganadores! Fala-se de educação, querem-se mudanças, mas apenas de discurso: repudiam-se ovelhas e pastores, para os substituir por súbditos e tecnocratas (estes vestidos com a pele de ideias abstratas). Na sequência segue-se um ensino baseado em ilusões na peugada de convicções ideológicas ou de ideias gerais.
  •      (2)  Necessita-se de uma aprendizagem que dura toda a vida como resposta a um chamamento de fidelidade a si mesmo e à comunidade, tudo envolvido, a caminho numa pedagogia libertadora reflectida, num pensar e agir a vida a partir da pessoa, do povo (que não dos interesses corporativos), ou seja, a partir de Deus.

PROIBIDOS PRODUTOS PLÁSTICOS  DE USO ÚNICO NA UNIÃO EUROPEIA

Desde o dia 3 de Julho são proibidos, em toda a Uniao Europeia,  produtos plásticos de uso único (via única). Esta medida da EU levará o  comércio a afastar-se do plástico.

Produtos descartáveis de plástico (para deitar fora) são responsáveis ​​por 70% de todo o lixo marinho na UE..

A regra não se aplica a  cigarros com filtro de plástico, absorventes higiênicos e copos para viagem embora fossem possíveis alternativas.

Só na Alemanha, são usados 320.000 copos descartáveis ​​para café e similares, por hora.

As empresas municipais de eliminação de resíduos gastam muito dinheiro com a eliminação.

Com medidas deste género, esclarecimento e boa vontade, contribui-se para um meio ambiente mais saudável para o planeta.

António CD Justo

Pegadas do Tempo,

DOMINGO DIA DE DESCANSO – INSTITUÍDO A 3.07.321

O Domingo foi declarado por Constantino, Imperador Romano, a 3 de julho de 321, como dia feriado.

Com a declaração deste dia como dia feriado, o imperador não só respondeu a exigências cristãs, mas celebrou-se também a si mesmo porque ele mesmo tinha o cognome de “Sol invictus”. No tempo romano o primeiro dia da semana era invocado como o dia do deus sol (die solis).

Os governantes por vezes tentam influenciar a vida dos seus súbditos introduzindo dias feriados para se celebrarem a si mesmos ou os seus feitos!

O Domingo, dia da celebração da ressurreição de Jesus, também convinha aos cristãos como dia Santo. O princípio do descanso sabático dos judeus foi assim transferido para o Domingo.

Em tempos da flexibilização da vida laboral, as empresas estão muitas vezes interessadas em quererem aproveitar-se do Domingo como dia de trabalho. Excepções são naturais como em hospitais, etc., mas generalizar o Domingo como dia de trabalho seria mau para a saúde e sinal de desrespeito da própria cultura. O Domingo deve ser mantido como dia de descanso.

Também a ciência chegou à conclusão de que, para certos trabalhos, é melhor trabalhar uma hora a mais durante a semana, mas poupar o dia de descanso.

A investigadora Christine Syrek da Universidade Bonn-Rhein-Sieg, nas suas investigações, resume: “Precisamos do contraste nas nossas actividades profissionais. Se estou sempre a ser desafiado mentalmente, é bom para mim comprometer-me fisicamente no meu tempo livre e vice-versa…, precisamos da distância mental do trabalho” (1).

Há línguas que usam a palavra “Domingo” (Dia do Senhor) para designar o primeiro dia da semana.  Há outras línguas que usam a palavra “dia do Sol”, para designar o primeiro dia da semana; este é, entre outros, o caso na língua alemã com a palavra Sonntag.

António CD Justo

Pegadas do Tempo

  • (1) Veja-se HNA 3.07.2021

HOMOSSEXUAIS – DUAS MEDIDAS?

UEFA recusou a Iluminação da Arena do Estádio de Munique com as Cores do Arco-íris

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, criticou o Presidente da Hungria, Orban, alegando que a lei húngara estigmatiza os homossexuais. Por outro lado, a EU e a imprensa cala quanto ao agir do Emir do Qatar que os lança na prisão.

A crítica contra Orban faz-se sentir muito na Europa; contra o Emir do Qatar, não se ouve nenhum protesto para que o futebol mundial no Qatar não seja perturbado. O negócio não permite criticar o Qatar e por outro lado, a luta parece querer-se cingida à sociedade europeia.

Segundo noticia a imprensa alemã, o Parlamento húngaro aprovou há uma semana uma lei que restringe os direitos de informação dos jovens e crianças sobre a homossexualidade e a transexualidade. “A lei prevê a proibição de livros, filmes e outros conteúdos acessíveis a crianças e jovens em que a sexualidade retratada se afaste da norma heterossexual. Além disso, qualquer tipo de publicidade em que homossexuais ou transsexuais apareçam como parte da normalidade será proibida”.  O governo justifica o pacote legislativo como esforço de proteger o “direito das crianças à sua identidade de género concebida à nascença” (HNA 24.06.2021).

Pelos vistos a opinião pública europeia está a ser envolvida na luta do Género (Gender), também a pretexto do futebol como se houvesse países bons e países maus.

Estranho é o facto do aproveitamento de um jogo de futebol em Munique (Alemanha-Hungria) para se fazer dele um jogo de propaganda política, como se em Munique a Alemanha estivesse a jogar contra uma equipa de anti-homossexuais. Os políticos aproveitam-se oportunisticamente da boleia do futebol e de ONGs para tentar ganhar pontos em partes da população.

A UEFA rejeitou um pedido do lóbi Gay para iluminar a arena do Campeonato Europeu de Munique com as cores do arco-íris (1). O empenho da política pela igualdade pressuporia como consequência lógica o boicote do Campeonato do Mundo no Qatar. Consequentemente teriam de ser questionadas as participações no Campeonato do Mundo e dos Jogos Olímpicos noutros países.

A política, para não usar um padrão duplo em futebol, haveria de ser consequente e firme, ou ficar-se completamente fora dos assuntos de Estado de outras nações.

O clima já carregado politicamente não deveria ser transportado para o futebol. O Futebol deveria tornar-se num espaço cultural onde, em vez da prática de subornos e de lutas, se passe a substituí-las por jogos. O jogo possibilita a sublimação dos instintos baixos da pessoa e da sociedade.  

Há que criar eventos e formas de jogo social onde os bons ganhem sem desprezarem os outros e sem se considerarem, só eles, os bons da fita. Mais que ser contra algo importa ser-se a favor de algo! Não é justo classificar o outro para o pôr numa gaveta ou num canto qualquer.

Quem se aproveita da arena pública como se ela fosse mero campo de luta não deve esperar compreensão mesmo por parte de pessoas que defendam a sua causa. O lóbi Gay (LGBTIQ) abusa da sua força e deste modo prejudica-se também.

É de questionar uma política que, em vez de unir e integrar os diversos movimentos e interesses sociais, aposta na divisão da sociedade para mais facilmente a dominar. É uma pobreza de espírito usar-se o tema homossexualidade de forma polémica. Deste modo fomenta-se o formar de trincheiras. Cada um deve poder viver a sua sexualidade em paz sem que esta se torne em arma de guerra para dividir ou afirmar-se contra alguém!

António CD Justo

Pegadas do Tempo

  • (1) O Arco-íris apropria-se a simbolizar união, construção de pontes no sentido de uma sociedade  mais justa, tolerância e empatia com todos, indiferentemente  da origem, crença ou género. A tolerância, respeito e solidariedade com diferentes comunidades sejam elas Gay (LGBTIQ) ou não, não justifica que qualquer uma delas se apodere do brilho do Arco-íris para atacar outras comunidades. O decisivo são as virtudes (acções) que as suportam.

 

 

NOTÍCIAS NEGATIVAS ATRAEM MAIS A ATENÇÃO

O Abuso com as más Notícias nos Media

António Justo

As pessoas reagem mais fortemente às más notícias do que às boas notícias, segundo confirma um estudo da universidade de Michigan, na revista científica “PNAS” (1).

Os resultados oferecem a demonstração transnacional  (experimentação feita em 17 países e 6 continentes) mais abrangente dos preconceitos de negatividade até ao momento, mas também servem para destacar uma variação considerável em nível individual na capacidade de resposta ao conteúdo de notícias”.

As notícias negativas atraem a atenção do humano deixando mais rastos no seu caminho; também por isso os  jornais e noticiários das TVs se servem de tantas más notícias.

Um ambiente de Media (meios de comunicação socia) diversificado não deveria subestimar o público, deixando-se orientar pela tendência da massa nem por interesses meramente mercantis.

Em geral os “feitores” de notícias e as redacções dos jornais e TV conhecem a psicologia do ser humano. Talvez este, na sua reacção  siga a lembrança ancestral dos tempos em que ainda vivíamos  na selva, expostos a toda a espécie de perigos! Nos tempos primordiais, o perigo viria dos animais e actualmente parece vir do próprio homem.

Por isso reagimos primeira e primariamente a tudo o que pode constituir  perigo ou é negativo: a reacção de medo ou de indignação tornam-se naturais.

O que acontece em muitos Media mostra observar-se  em algumas áreas da arte! Aí faz-se uso do escândalo como método de activar a atenção para o instinto, reagindo por primeiro a emoção em alarme de defesa ou de ataque contra algo. O medo e os problemas da herança passada encontram-se presentes em todos nós, mas, por vezes, compensámo-los noutros sectores da vida do dia  dia!

Um grande abuso e injustiça a que hoje assistimos e em que somos envolvidos  é a tendência de filmes e de agências noticiosas para se fixarem no negativo da História ou de acontecimentos; deste modo manipulam a consciência de massas indefesas que não têm, muitas vezes, pré-informação suficiente de assuntos complexos apresentados de maneira a serem compreendidos só a preto e branco.

No “ar do tempo” que nos envolve tudo se fixa no negativo, numa atitude de autodefesa,  talvez para irmos tendo a sensação, como o homem primitivo, de que o perigo vem de fora; ao registarmos que o perigo está fora ficamos com a sensação que nos encontramos acolhidos em lugar seguro!

Precisamos de uma cultura da benevolência e da esperança que não abuse do medo nem do instinto primário. Ao continuarmos a mesma estratégia de in-formação pela negativa somos levados a viver num cenário de ameaça, com o perigo de assumirmos a  a atitude do melro que no jardim vai picando a terra para descobrir a minhoca que quer comer e, a cada bicada que dá, levanta a cabeça, olhando à esquerda e à direita, antes de se atrever a nova bicada.

O medo e o perigo movimentam em nós mecanismos de defesa que, por vezes fomentam a necessidade de  controle de tudo e de todos! O medo e o prigo, criam em nós o inimigo e fomentam o outro como adversário.

Em tempos sentidos perigosos  mais atenção é dada à negatividade. O bem que fazemos (optimismo) passa desapercebido e o mal fica no horizonte da observação (pessimismo). Uma criança que não sentiu o calor do coração humano num regaço e uma sociedade determinada pelo egoísmo fixado nas necessidade primárias, é natural que sofram e desenvolvam um horizonte  sobretudo pessimistas e se refugiem  numa atitude de auto-controlo e de controlo social numa cultura virada para a morte!

Qual será o selo branco, a estampagem que nos leva a caminhar em direcção contra o sol e nos leva a ver a realidade do que nos envolve, dentro da própria sombra? A falta original já foi remida; seria agora a hora de começarmos a andar em direcção à luz!

António CD Justo

Reflexões, Pegadas do Tempo,