A Alemanha como Touro da “Vaca Europa” e seu Bode expiatório

Germanofobia encoberta em Afirmações generalizadoras e Argumentação do Tipo Preto ou Branco?

Por António Justo
O Frankfurter Allgemeine de hoje diz: “A peça teatral ateniense é altamente medíocre”. Medíocre é também uma imprensa que tendenciosamente demoniza a Alemanha como sendo a responsável pela crise da Grécia que junta em si os sintomas do seu sistema corrupto aos de uma Zona Euro desorganizada e mal ajustada. Tanto a Grécia como a Alemanha fazem parte do mesmo sistema em que nenhum dos países se pode ilibar de erros e virtudes.

Fala-se muito do Diktat alemão e da sua prepotência económica. Argumenta-se com as suas atrocidades da História especialmente numa imprensa que antes se virava contra o imperialismo americano e agora acha como suficiente reduzir os problemas da Europa e do globalismo à agressão económica da Alemanha. Acho graça que num país como Portugal, num jornal como o Público, um jornalista como Boaventura Sousa Santos, no artigo “A Alemanha como problema” se socorra da pedrada “nazista” para fomentar sentimentos antigermânicos em vez de colocar a problemática em termos do liberalismo económico liberalista e no contexto de uma Europa feita de nações e de mentalidades extremamente divididas.

Do colonialismo para o imperialismo económico

Não há que definir uma Alemanha como o touro da vaca Europa nem tão-pouco como seu bode expiatório! O facto é que nos encontramos num mudo extremamente complicado e em plena guerra económica. O problema da Alemanha é produzir demais e o dos outros países é produzirem de menos e consumirem demais. Numa economia meramente mercantilista querer comparar exigências de nações com 80 milhões de cidadãos e de alta tecnologia e produtividade a outras com uma dezena de milhões e pretender colocá-las em igualdade de decisão seria ingénuo ou mera ideologia que, contra a realidade, querer tornar igual o que é desigual.

Vassalos da economia ou/e vassalos das ideologias?

Aos colonialismos europeus sucederam os imperialismos dos USA e russo e agora encontramo-nos em pleno imperialismo económico selvagem. Esta é a realidade a enfrentar que tem andado pelos países em desenvolvimento e agora atinge os europeus e em especial os seus vindouros. Os tempos mudaram, antigamente havia guerras hoje há guerrilhas; ontem dominava a arrogância bélica hoje a arrogância económica; ontem prestávamos vassalagem à França e à Inglaterra, hoje prestámo-la a Bruxelas. Sejamos realistas, procuremos é reduzir o nível da vassalagem com propostas económicas sem nos tornarmos também vassalos de ideologias.

A queda do Muro de Berlim (1989) e a correspondente reunificação tiveram como consequência a fortaleza da Alemanha. Que esta tente disciplinar os países europeus como se disciplina a si é uma questão discutível tal como a das diferentes mentalidades na maneira de encarar e resolver os problemas.

Com a criação do euro é consequente a concorrência económica desigual porque se dá entre sistemas económicos e de finanças diferentes; há que corrigir o sistema e canalizar as energias para se não ser vítima delas.

No altar da democracia, os sacerdotes da crise simplificam a questão; para explicarem as desigualdades de um sistema desigual, precisam de uma vítima e de um pecador: da vítima Grécia e do pecador Alemanha. O problema não está tanto no sermos alemães, portugueses ou gregos mas no facto de nos encontrarmos todos no redemoinho financeiro que, através das dívidas, quer a subjugação das soberanias nacionais a uma soberania hegemónica económico-financeira.

Não chega defender o soberanismo dos fracos contra o soberanismo dos fortes; a discussão terá de ser no sentido da inclusão económica e cultural de uns em relação aos outros. Na época do globalismo e da reorganização das nações em zonas de influência económica, o mito de soberanismos iguais distrai-nos da ocupação no essencial, não passando de ecos da revolução marxista cultural. Partir de que “no contexto europeu, o soberanismo ou o nacionalismo entre desiguais é um convite à guerra„ é não querer compreender que o preço da União Europeia será bem caro e terá de ser pago com facturas de soberania. Como se pode construir uma Europa de bases democráticas quando a economia em todos os países europeus não se submete à democracia e, na realidade, todas as democracias pretensiosamente soberanas se submeteram à economia? Importa será como resolver o dilema.

Trabalhar mais e viver menos ou vice-versa?

Também a mim me agradaria mais o estilo da forma de viver à maneira Sul, uma maneira mais católica; só que agora que o Sul professa os mesmos actos de fé dos benefícios do capitalismo protestante não é justo que se condenem estes, porque então o problema passaria a ser a inveja.

O tão desgastado argumento do respeito pela diversidade implicaria consequentemente o reconhecimento de que o desigual para viver mais trabalhará menos e consequentemente terá de deixar o alemão trabalhar mais para que consiga poder mais à custa do seu viver menos. Não seria correcto querer comer a fatia do bolo e exigir, ao mesmo tempo, que ele fique inteiro! O espírito pacífico da convivência em dignidade democrática e o respeito pela diversidade implicaria então o aceitar a prepotência, a nível económico do irmão mais forte e tentar arranjar-se com ele na consciência de preservar a irmandade e de uma concorrência humana. O facto é que toda a Europa se encontra endividada, toda ela se tornou refém da guerra fria entre política e economia.

Os argumentos baseados num saudosismo dos tempos da guerra fria e de um mundo bipolar correspondem ao mundo de ontem. Quem não reconhece isto terá de perder as energias a mostrar os podres da Alemanha e a esconder os seus. Por vezes tem-se a impressão que a Alemanha é responsabilizada pela falta de inteligência de quem assina contratos, não aplica eficientemente os fundos ou vende a sua soberania em troca de postos a nível europeu e mundial. O que está a acontecer não é bom para a Europa nem para nenhum país europeu. A Europa para arrepiar caminho terá de moderar o turbo-capitalismo e o marxismo cultural.

O sadismo de lamber o sofrimento das próprias feridas com o sofrimento desejável para os outros nunca será bom conselheiro e não ajuda ninguém. Se não queremos continuar todos a jogar ao faz-de-conta e ao esconde-esconde das mentalidades, se queremos contribuir para um desenvolvimento humano da sociedade europeia, haverá que purgar os vícios que herdamos do tempo das invasões francesas e corrigi-los com uma aproximação comedida à Europa nórdica ou renunciar ao consumismo de que tudo, e em especial a cultura, é vítima. A germanofobia é tão grave como a xenofobia alemã; uma implementa a outra.

Concluindo

Uma Zona Euro sem um sistema económico e de finanças aferido torna-se em ilusão e engano e dará razão à nossa sabedoria popular que diz “casa onde não há pão todos berram e ninguém tem razão”.

Se nos encontramos em tempos da guerra económica haverá que conter a Alemanha levando-a a investir os seus lucros na periferia. Combater o nacionalismo económico alemão com o nacionalismo político das nações torna-se desadequado em termos de objecto e de tempo… A receita para a Europa não pode pressupor a contenção económica alemã.

Antes de acções precipitadas de um discurso sobre a saída do euro, Portugal e os países mais débeis deveriam pedir um ajusto de contas quanto à distribuição de investimentos e implementar com o tempo a criação de um imposto de solidariedade em todos os países da Zona Euro que seria investido nos países da periferia económica. Durante uma certa fase o pagamento dos juros aos credores deveria, também ele, estar condicionado ao correspondente investimento nos países onde é quebrado.

Torna-se cada vez mais corrosivo o espírito xenofóbico popular que se manifesta até em cabeças bem pensantes. Se se é pela reintrodução do Escudo seria importante uma discussão de base económica mas que, querendo ou não, tem que contar com a maior potência económica que é a Alemanha e, de uma maneira ou de outra, condicionará os hábitos de produção e concorrência de mercado.

Conheço um pouco a mentalidade dos povos do sul e a mentalidade da Alemanha; por isso sofro dos dois lados, por isso me custa ouvir os de uma mentalidade contra os da mentalidade dos outros, sem perceber que por trás de uma mentalidade se revela uma maneira de ser e estar com um determinado agir.

O povo alemão pode ter os defeitos que tiver mas é um povo consciente, trabalhador, disciplinado, bem estruturado, corajoso, altruísta, honesto e leal. Se trabalha mais não os devemos invejar por também comer mais mas também ele não nos deve invejar nem ter pena por vivermos mais e comermos menos.
António da Cunha Duarte Justo
In “Pegadas do Tempo” www.antonio-justo.eu

A PROVOCAÇÃO ELEVA O EFEITO EMOCIONAL

Ângela Merkel em diálogo com uma pretendente a asilo

António Justo
Há grupos que apostam na missiva emocional como único critério de interpretação e explicação de factos complexos que exigem abordagens complementares para serem tratados com seriedade. Nestas andanças da opinião pública há muitos que recorrem da mal-interpretarão e da provocação, para elevarem o efeito emocional que, por vezes, chega mesmo a embotar a razão.

O governo alemão organizou uma série de Eventos sob o título “Viver bem na Alemanha”. Entre eles conta-se o “diálogo com o cidadão” de Ângela Merkel com 32 alunos em Rostock, onde uma jovem palestiniana chorou e a chanceler se dirigiu a ela e a afagou.

Este encontro de 15.07 foi o 99° evento de diálogo é o segundo com a participação directa da chanceler. Nele a jovem libanesa Reem, a quem, depois de 4 anos de estadia, ainda não foi reconhecido o estatuto de refugiada, falou sobre a sua vontade de querer viver a vida sem preocupação de futuro como vivem outros jovens e referiu-se à sua situação e de outros refugiados ou pretendentes a tal que vivem na insegurança.

A Chanceler disse que o governo prepara uma lei que facilita a situação para pessoas em situação como a dela e que um processo de asilo não deve levar tanto tempo a ser concluído. Referiu que há muitos milhares de pessoas no Líbano e milhares de milhares de pessoas em África que desejam vir para a Alemanha mas a “A Alemanha não pode acolher todos” os que querem vir do Líbano, da África, etc.

Passados momentos a jovem começou a chorar e a chanceler dirigiu-se a ela para a afagar e referiu-se ao projecto de lei em vista que simplificará a duração do processo.

Os jornais em toda a Europa aproveitaram-se do assunto para difamar e mal-interpretar o evento. Os títulos de muitas notícias fomentaram o preconceito contra a Doutora Merkel e contra políticos como se os políticos fossem sempre pessoas sem sentimentos.

A exploração da parte emocional dos temas não serve a objectividade e deforma a opinião porque não contempla a parte factual-racional tornando-se mal-intencionada ao saber que há um determinado público que só tem acesso a notícias emocionais.

A imprensa sensacionalista logo titulou “Merkel Rainha de coração frio” sugerindo que Merkel não deveria só afagar a jovem que chorava mas prometer-lhe a estadia.
Uma Chanceler, pelo facto de o ser, não pode arbitrariamente passar por cima das leis que regulam um estado de direito; se além de a consolar fizesse uma excepção para a família Reem logo o cidadão se levantaria e atacaria a Chanceler porque também ela tem de obedecer às leis.
Foi uma experiência difícil para a jovem e para a Chanceler. Experiências destas podem ajudar a humanizar a feitura das leis. No caso da pretendente a asilo, a quem não foi concedido ainda o direito de asilo e que se encontra na Alemanha com a família há quatro anos, pode vir em seu benefício um projecto de lei que prevê a permissão de estadia na Alemanha (não podendo ser deportados) para pessoas que vivam há mais de 4 anos na Alemanha e mostrem boas condições de integração (conhecimento da língua, etc. como revela a jovem Reem).

Junto o site onde se pode ver toda a conversa entre Ângela Merkel e a jovem: https://www.gut-leben-in-deutschland.de/SharedDocs/Blog/DE/07-Juli/2015-07-15-dialog-kanzlerin.html?nn=1328644
António da Cunha Duarte Justo
www.antonio-justo.eu

IDEOLOGIA DO GÉNERO OU GENDER – CREDO ESTRATÉGIA E PROGRAMA

Marxismo cultural em Acção – Destruir Pessoas para criar  Indivíduos

Por António Justo
No princípio dominava a natureza; as suas leis eram comuns ao ser humano nos seus primeiros passos do processo de humanização e de socialização; em seguida surgiram os grupos organizados (tribos, povos e nações) que elaboraram uma cultura feita de costumes leis e normas em diálogo aberto com a natureza; a cultura num acto de sublimação da natureza cria a lei/orientação moral à imagem das leis que governam a natureza (tentativa de superar o mero instinto para possibilitar a criação de paisagens culturais: diferentes tribos, nações, etc.). Natureza e cultura reconhecem-se mutuamente numa orientação analógica crescente do simples para o complexo, do elemento para o órgão e deste para o corpo natural e social. No momento histórico de que somos também protagonistas assistimos à inversão das leis do crescimento natural e espiritual; observa-se a tentativa de se estabelecer uma nova matriz social que comporta um retrocesso no sentido do órgão para o elemento (e tudo sob o pretexto da igualdade e de se criarem supraestruturas de caracter global: quer-se um corpo sem órgãos, uma cabeça sem membros, quer-se uma mudança paradigmática na cultura. Nesta já não se observa a organização, definição e crescimento do simples para o complexo mas a destruição da ordem orgânica natural e cultural no sentido da desintegração caótica em nome de uma moral matemática desenraizada ao serviço das leis do mercado em que o lucro é moral e o dinheiro felicidade. Nega-se a tradição como elemento da identidade para se viver do negócio do momento presente.

Há leis biológicas, leis naturais e leis culturais; há duas formas de se chegar ao saber: o saber indutivo adquirido pela experiência (leis biológicas da natureza) e o dedutivo adquirido a partir da ideia; os dois saberes encontram-se numa relação de feminilidade e masculinidade; um sem o outro é irreal e infecundo; a grande mentira da ideologia do género, parte do princípio de que o que se pensa é a realidade, dando-se ao luxo de afirmar o saber teórico (ideologia) contra o saber experimental (biologia). Em nome de uma revolução cultural colocam a intenção de educar o povo acima de qualquer princípio ou dado real.

UE tornou-se no Sistema de Controlo de Valores e Normas dos Países europeus

O que se pretende para a economia já se encontra implementado no controlo da cultura! No dia 9 de junho de 2015, longe da população, o Parlamento Europeu aprovou a sua resolução controversa “Estratégia da UE para a igualdade entre homens e mulheres a partir de 2015”. Esta contém orientações a aplicar pelos parlamentos nacionais. Em nome de uma justiça necessária no trato entre homem e mulher, procura-se desintegrar a feminilidade e a masculinidade comuns à mulher e ao homem para as colocar em luta reivindicativa como se partes complementares fossem opostos. Tudo isto ao serviço não do homem nem da mulher mas do igualitarismo comunista. O Parlamento “solicita à Comissão para assegurar que os Estados-Membros permitam o pleno reconhecimento do género preferido de uma pessoa perante a lei”. Em texto claro: o que vale não é o sexo que se tem biológico (homem ou mulher) mas o que se pensa dele. Partem do pressuposto que o gênero não é definido com base na genética e nos cromossomos, mas que é apenas uma construção social devida à educação e, como tal a ser repelida, no sentido de um indivíduo que deve ser desenroupado do que constitui a sua “persona” (personalidade) e daquilo que os pais lhe transmitiram.

Há papéis da mulher e do homem que são aquisições ou expressões culturais mas o papel de pai e mãe é de ordem natural da criação tal como o ser homem ou mulher. O ser humano não pode ser visto apenas como um produto cultural; da sua essência faz também parte a natureza, o seu caracter sexuado.

Negam os elementos constitutivos de identidade cultural (do género) adquiridos, para poderem legitimar a manipulação em via na confecção de um novo ser humano sob novos parâmetros, e reduzir o elemento cultural à praxis dos animais (animalogia) no sentido de uma revolução da sociologia. Para isso negam o conceito da pessoa humana (identidade relacional realizada no e dentro do relacionamento) para a reduzir a mero indivíduo, a um abstracto totalmente independente de qualquer vínculo ou relação (um ser tabula rasa), como quer e legisla a esquerda (maioria) no Parlamento Europeu. Tudo isto se dá no sentido de gerar um ser sem identidade e como tal facilmente manobrável por quem detém o poder (que se quer também oculto e anónimo). Aqui junta-se a ideologia capitalista que quer um ser apenas indivíduo – cliente do seu mercado – ao marxismo cultural socialista que pretende uma sociedade de pessoas reduzidas a indivíduos iguais – proletários servidores da nomenclatura.

A Ideologia do género nega diferenças características do homem e da mulher negando assim a sociedade, a natureza e a ordem divina da Criação. Antes da queda começa a decadência!

A porta-voz (Beatrix von Storch) do Grupo Europeu ECR considera que “a UE é um enorme sistema de controlo de valores e normas”. Para isso seve-se de orientações para toda a UE em matéria de educação sexual nas escolas, de direitos de adoção para transsexuais, abolição de eleições livres por quotas nos parlamentos, de medidas em favor do aborto e em desfavor da maternidade; esta é, por vezes, tida como impedimento de emancipação e de igualdade para a mulher. O olimpo da Europa e do mundo quer transformar os países em casas onde eles mandam. O referido documento de estratégia serve-se da igualdade para impor ideologia. Nessa igualdade tornam-se anacrónicas toiletes separadas, clubes de futebol só de homens ou de mulheres.

A advogada eliminação das injustiças laborais ou sociais que ainda existem entre homem e mulher dá-se de maneira selectiva e masculina sem comtemplar a masculinidade e feminilidade ou papéis característicos de um género.

Servem-se da ideia da igualdade entre homens e mulheres, da libertação do sexo, da luta contra os indicadores de gênero (masculino / feminino) para concretizar uma ideologia de base marxista e ateia e tudo isto legitimado pela premissa dos direitos da pessoa.

A estratégia de afirmação ideológica é implementada através de agendas políticas, a nível legislativo, universitário e político com objectivo de indoutrinação ao serviço da revolução cultural em via. Dissociar a pessoa humana da natureza e da herança cultural fora de qualquer complementaridade torna-se dogma do momento.

Quer-se um relativismo subjectivista de tal ordem que sujeite a lei natural à lei cultural. A ideologia do Género, ao prescindir dos dados biológicos para fomentação da nova ordem teria como consequência lógica matematizar até os nomes das pessoas e terras. De facto, também neles se expressam vestígios culturais mais ou menos sexuados: assim uma consequência da ideologia do género seria substituir o meu nome demasiado testemunha de socialização e aculturação (António da Cunha Duarte Justo – com vestígios de domínio e de sujeição) num nome livre e emancipado que se expressaria no nome “Um de Dois Três e Quatro”.

Meteram mãos à construção de uma nova sociedade e de uma nova identidade individual sem especificidades e sem referência como se o género não tivesse nada a ver com a diferenciação sexual nem com a biologia reduzível a uma opção individual que torna arbitrária a definição de homem ou mulher tal como a união homossexual ou heterossexual. Chega-lhes a ideia cópia de que a necessidade cria o órgão. O que não recai sob o metro da igualdade é considerado discriminação. Para a ideologia do género tudo se reduz a uma questão de escolha: sobrevaloriza a opinião e a intenção à margem do factor natural. A ideologia do género dá grande relevo à opção homossexual por testemunhar a afirmação dos iguais contra a afirmação do diferente que a natureza pretende mas deve ser contrariada pela estratégia radical do género. As forças da masculinidade e da feminilidade inerentes a toda a natureza, à sociedade e à pessoa humana mereceriam uma outra impostação.

Mudança da matriz linguística sobretudo ao serviço da Mentira

A ideologia do género, a ponta avançada do marxismo cultural, pretende uma mudança de matriz antropológica e criar uma nova consciência social através da manipulação da matriz linguística à imagem da manipulação genética. Através da manipulação da linguagem consegue-se manipular a consciência individual e social. Tudo isto acontece sob o pretexto de libertação da mulher (mais uma vez instrumentalizada) como se fosse possível desintegrar da biologia e da sociedade a masculinidade e feminilidade na qualidade de elementos distintivos e de energias complementares.

Hoje o pensar correcto assume de forma acrítica a ideologia gender na linguagem corrente (exemplo: a senhora “presidenta” em vez de a senhora presidente, como se a palavra presidente não fosse comum aos dois – S.m. e f. – (tal como a doente, o doente, etc). Na sequência da ideologia seria consequente introduzir o neologismo “presidento” também para o masculino)…

Parentalidade contra Paternidade e Maternidade

Em vez da complementaridade/subsidiariedade de sociedade e natureza de mulher e homem querem deles seres abstractos mais desencarnados e como tal mais facilmente reduzíveis à ditadura de ideologias. Manifestam-se contra as funções reais de paternidade e maternidade querendo-as ver reduzidas ao conceito tribal de parentalidade, numa tentativa de voltar ao caos original em que a individualidade se perdia numa massa anónima desorganizada.

A insistência da luta ideológica contra o sistema ético actual, contra a família, contra uma sexualidade integrada (com lugar para a regra e para a excepção), contra o fundamento bíblico do humanismo cristão, mais que uma tentativa de valorização da pessoa tenciona disponibilizar o ser humano para uma nova matriz civilizacional que terá como cúpula metafísica a economização da sociedade (mercado) e a mercantilização do ser humano (proletário ou cliente).

Projectam uma antropologia alternativa servidora de ideologias internacionalistas, globalistas e economicistas. Como consideram a mulher e o homem como produtos ou meros papéis culturais à margem da biologia, pretendem afirmar um género para lá do sexo e da natureza. Consideram como adversas às suas intenções ideológicas as matrizes culturais passadas que se conexavam à maneira de biótopos culturais numa relação entre cultura e natura. Querem o divórcio destas.

Uma ligação da ética e dos comportamentos sociais a uma metafísica do deus dinheiro e lucro com a consequente redução da pessoa (com toda a carga cultural de contextos sociais e geográficos que traz) a um mero indivíduo desprovido de enraizamento simplifica a administração e “comercialização” de produtos e indivíduos. Esta estratégia pensa melhor servir a organização de um governo mundial. Querem espíritos sem corpo e corpos sem espírito numa estratégia do divide et impera. Querem ignorar a masculinidade e a feminilidade da pessoa, os dois princípios que possibilitam a abertura e o desenvolvimento. Afirmam a igualdade contra “uma abertura recíproca à alternidade e à diferença” de caracter bíblico e natural. Arbitrariamente, toda a experiência milenária é lançada a bordo para a sociedade ser submetida a uma ideologia do género que quer subordinar a natureza a uma nova cultura aleatória.

O facto de a mulher ter sido enquadrada num patriarcalismo cultural que a tornou vítima de uma masculinidade social que a relegava à categoria de criança (exemplo, a criança como a mulher eram tratadas pelo nome e os homens pelo nome de família) deveria ocasionar uma consciencialização de reacção inclusiva e não reactiva; doutro modo reagem aplicando o parâmetro masculino de que se dizem vítimas.

A afirmação ideológica aninha-se a nível universitário legislativo e político na sequência das estratégias das instituições da EU e dos EUA e praticamente fomentadas pelas famílias políticas de esquerda.

Directrizes europeias obrigam os países membros à implementação de leis escolares reguladoras do ensino sobre a actividade sexual, a regulamentação da família, o aborto, etc.

Aquilo que a natureza, a cultura humana e a tradição cristã conseguiram tornar compatível e complementar através dos séculos é agora separado à força e em nome de uma ideologia abstracta que pretende formatizar o homem e a sociedade por princípios matemáticos, como se a pessoa fosse só intelecto e prescindisse do corpo e do espírito.

Se partíssemos da realidade natural e cultural do ser sexuado homem e mulher, em que ele e ela reúnem na mesma pessoa e de forma diferente os princípios masculinidade e feminilidade, a discussão e estratégia de se criar mais justiça individual e social entre homens e mulheres seguiria um outro caminho menos masculino e agressivo e tornar-se-ia mais pacífico (feminino) porque inclusivo. (A não ser que se parta do princípio que a luta é a única maneira de se desenvolver!). A consequência desta luta cultural fomentará os vícios dos dois polos.

Não reconhece os princípios complementares da evolução (a selecção e a colaboração) como forças complementares. Não reconhece que toda a natureza e toda a sociedade são construídas a partir da diferença numa tensão de afastamento e aproximação à imagem das ondas do mar; o movimento cria a tensão criadora que mantem “as águas” da vida vivas e possibilita o desenvolvimento de cultura/sociedade e natureza. Toda a natureza aspira pela comunhão do sol do universo e do sol do amor que se incarna em cada pessoa. A sociedade com a correspondente cultura é como a floresta na resposta à geografia e ao clima possibilitadores de biótopos diferenciados. Nem a geografia pode abdicar do clima tal como a natureza humana não pode abdicar da cultura que lhe confere identidade própria, o mesmo se diga em relação ao indivíduo e à cultura envolvente.

Concluindo

A masculinidade e a feminilidade não podem ser reduzidas a um masculino e a um feminino limitado a circunstâncias de papéis e funções de um só polo nem consequentemente a uma sociedade de matriz masculina. O domínio do homem sobre a mulher são deficiências a ultrapassar na base da sua imagem divina. Naturalmente que não há sol sem sombra nem sombra sem sol; somos limitados, resta-nos compreender e embarcar com corpo e alma para admirar e louvar o sol e a sombra no sentido de criar mais justiça e relação equilibrada.

Masculinidade e feminilidade realizam-se e desenvolvem-se nas relações interpessoais numa visão a-perspectiva que reconhecendo a realidade vital da tensão interpolar aspira a sempre novas sínteses (ao encontro dos polos que mantem em si a força do regresso a si para de si retomar nova força para se reencontrar de novo). A ideologia do género encontra-se em contradição com a natureza e com todas as culturas e religiões. Pode porém, na força da reacção contribuir para o desenvolvimento no momento em que foge do outro polo. Mas na luta em via, instigada pelo marxismo cultural, o que está em jogo não é tanto a beneficiação da mulher mas sim a instrumentalização dela para sub-repticiamente se conseguir um ser humano e uma sociedade segundo o paradigma marxista comunista.

As premissas da ideologia do género partem da neutralidade do sexo e não da complementaridade: distingue entre o sexo biológico do indivíduo (homem ou mulher) e o género ou sexo psicológico da pessoa (culturalmente adquirido), uma espécie de carapaça psicológica obtida (uma segunda criação) determinada pelo ambiente. Pretende negar a natureza humana tal como Deus a criou na sua complementaridade de homem e mulher (Gn 1,27), menosprezando a uma realidade onde a feminilidade e a masculinidade são partes constituintes da pessoa humana/natureza. Quer fazer de pessoas distintas mas complementares (homem e mulher) apenas indivíduos iguais de modo a perverter a natureza. Partem da realidade homem e mulher como constructos sociais.

Em geral, nascemos com um sexo biológico definido (homem ou mulher), não é sexualmente neutro; a sociedade acrescenta-lhe características próprias segundo o meio em que se insere. Isto porém não pode anular o sexo biológico em favor do sexo psicológico ou género. Apesar das influências sociais não haverá alternativa ao desenvolvimento da mulher e do homem como seres naturais.
António da Cunha Duarte Justo
Teólogo e pedagogo
In “Pegadas do Tempo” www.antonio-justo.eu

NECESSIDADE DE UMA CONFERÊNCIA DA DÍVIDA,A CRISE DA GRÉCIA CASTIGA FORTEMENTE OS PORTUGUESES + Outras notícias

UM FACTO QUASE ANEDÓTICO

Em Dusseldórfia, uma mulher de 56 anos foi condenada a pagar uma multa de 200 euros por difamação, por ter dito “Tu garota” (Du Mädchen) a um polícia. Ela acompanhava o marido no carro quando este teve um controlo de trafego da polícia.
Na sala de tribunal a mulher procura defender-se afirmando que não tinha dito „Tu garota” (Du Mädchen) mas sim “um conto de fadas” (n’Märchen). Três testemunhas polícias contradisseram-na e o marido dela, vendo o caso mal parado, disse: “Ela nunca diria uma coisa dessas a um touro”. Então houve grande alvoroço na sala!
A mulher teve que pagar a multa mas o homem foi consolado para casa.
PS: Devo esclarecer que na Alemanha os jovens costumam apelidar os polícias de “touros”!

A CRISE DA GRÉCIA CASTIGA FORTEMENTE OS PORTUGUESES

A crise castiga as economias fracas obrigando-as a pagar juros mais altos pelos empréstimos e ajuda a economias fortes baixando-lhes os juros das suas dívidas.

Com a crise da Grécia dos últimos dias os juros da dívida a 10 anos de Portugal subiram em 30 pontos para 3,0380% enquanto os juros a 10 anos da Alemanha desceram 15 pontos para 0,74% e para a França desceram 9 pontos para 1,1880%. A Espanha paga pelas suas dívidas 2,3450% de juro e a Itália 2,3920%.

A Crise da Grécia é o barómetro da crise europeia. A UE apoia o negócio dos bancos e castiga os cidadãos.
Portugal tinha, no final de 2014, uma dívida pública de 225,28 mil milhões de euros o que corresponde a um endividamento de 21.604 euros por cidadão. Em 2014, Portugal teve de pagar aos credores perto de 7,2 mil milhões de euros de juros da dívida pública. Esse valor representa cerca de 4,3% do PIB. (Este ano terá de pagar mais ou menos a mesma quantia)
A Alemanha tinha 2.170 mil milhões de euros de dívida, o que corresponde a 26.867,26 euros por cidadão.

PROTECÇÃO DE FALÊNCIAS BANCÁRIAS NOS 28 PAÍSES DA UNIÃO EUROPEIA

Na Alemanha e na UE a partir de 3.07 tem vigor a proteção contra falências bancárias. Cada cliente bancário tem a sua conta bancária protegida até 100.000 Euros por cliente e por banco.

DESPESAS COM O ORÇAMENTO DE DEFESA NA ALEMANHA E EM PORTUGAL

As Forças Armadas Alemãs dispõem de um orçamento anual de trinta e três mil milhões de euros. O correspondente orçamento das Forças Armadas de Portugal é de 2.216,1 milhões de euros (Cf. orçamento do Estado 2015: http://www.jn.pt/infos/pdf/relOE2015.pdf)
A despesa militar da Grécia é de 3,3 mil milhões de euros. (A Troika exigia da Grécia que poupasse 5 mil milhões de euros no seu orçamento geral).
A Alemanha gasta por ano 1,2% do Produto Interno Bruto no orçamento de defesa. Os EUA gastam 4%.

TEMOS PAÍSES MAS FALTAM-NOS NAÇÕES – NECESSIDADE DE UMA CONFERÊNCIA DA DÍVIDA

O que está em causa é o neoliberalismo globalista e a carruagem dos estados a ele atrelados que abdicam da própria soberania.
Os políticos, para melhor sobreviverem depois de cada legislatura, exportam sistematicamente a dívida e o sistema financeiro serve-se da dívida permitida pelas classes políticas atreladas ao Estado para impor a austeridade interna e viver das desigualdades dos países; cada vez se pode falar menos de nações!
Para se resolverem os problemas da Europa a sério, teria de ser convocada uma Conferência da dívida de todos os países da UE. Uma resolução dessa conferência teria de anular grande parte das dívidas dos países em situação mais frágil. Há já precedentes como no caso da Alemanha depois das duas grandes guerras pelo facto de se encontrar arruinada e destruída. O sistema neoliberalista destrói sistematicamente as economias nacionais frágeis. São movimentados dinheiros para servir credores do mundo financeiro que levam à bancarrota do Estado e serve somente o mundo financeiro. Desde 2008 (crise dos bancos) o PIB da Grécia desceu 27%; a taxa de desemprego atingiu os 28% (da juventude 50%. A Troika deveria perdoar metade das dívidas de países em situação como Portugal e Grécia. Fazê-lo para com a Grécia e não para com outros seria uma imposição injusta. Doutro modo os lobos continuarão a uivar e o povo d correr descalço para casa.
A crise da dívida na Grécia é a crise da dívida da União Europeia. O referendo da Grécia embora malfeito terá bons resultados: no caso do sim à austeridade teria de haver eleições antecipadas.

PERÍODO DE CARÊNCIA PARA POLÍTICOS

O parlamento alemão acaba de aprovar uma lei que estabelece um período de espera para mudanças de emprego, no caso de cargos públicos relevantes. Ministros, membros do governo e secretários de estado não podem passar directamente da sua ocupação política para empregos na economia. São obrigados a observar um período de carência que vai de um ano até ano e meio. Uma boa medida no sentido de dificultar o suborno e o tráfico lobista entre política e economia.

SUBSÍDIO DE HABITAÇÃO NA ALEMANHA

A partir de 2016 o subsídio de habitação para pessoas com baixos rendimentos será aumentado para os 870.000 domicílios carenciados da Alemanha. Assim, um agregado familiar de duas pessoas, em vez de 115 Euros, passa a receber um apoio de 186 € mensais para a renda de casa.

O DESEMPREGO

O desemprego na Alemanha atingiu agora o número mais baixo de desempregados desde 1991, segundo revelam os Média alemães. Actualmente encontram-se 2,711 milhões de pessoas desempregadas.

AUMENTO DAS REFORMAS

As reformas tiveram um aumento de 2,1% na Alemanha ocidental e 2,5% na Alemanha oriental.

TSIPRAS QUER O LEITE E CONTINUAR A TURRAR A VACA

Tsipras começou por tentar que a Troika renunciasse aos 240 mil milhões de dívida sem se comprometer sequer em reorganizar o país sem se importar com as consequências para os países da zona euro em situação semelhante. Agora apela ao não no referendo e ao mesmo tempo defende um perdão de 30% da dívida. Faz um referendo demagogo e não apresenta plano para o dia a seguir! Tem-lhe chegado a ideologia
A Grécia teve a primeira bancarrota em Março de 2012. Os credores perderam mais de 100 mil milhões de Euros (a quota que Portugal teve de perdoar na altura foi superior a 600 milhões de euros). Actualmente a Grécia encontra-se de novo em situação de insolvência. No fim de Junho não conseguiram pagar a parcela de crédito no valor de 1,6 mil milhões de euros. Em Julho e Agosto teriam de reembolsar o BCE em 6,7 mil milhões de euros de títulos governamentais. No caso de não pagarem o BCE terá de parar o auxílio de crédito de emergência. Neste caso os bancos gregos cairiam imediatamente na bancarrota. Tsipras tem conseguido trazer os políticos europeus presos pela argola de nariz porque sabe da fragilidade do sistema e sabe que não há regulamentação para o caso de uma saída do euro.
No caso de a Grécia voltar à Dracma podia desvalorizar os próprios produtos e encarecer as importações. Uma medida destas poderia levar a economia grega a produzir produtos antes importados.
Teria a vantagem de ganhar a soberania sobre a própria moeda e de poder chantagear a UE com a sua posição estratégica entre interesses americanos, europeus, russos e muçulmanos.
A Alemanha poderia perder entre 60 e 85 mil milhões de euros no caso de a Grécia ir à insolvência e sair do euro. No Tratado de Maastricht, está escrito que nenhum país se responsabiliza pelas dívidas do outro.
António da Cunha Duarte Justo
www.antonio-justo.eu

O PAPA SEM FILTRO – O PAPA DA POBREZA DA ECOLOGIA E DA MISERICÓRDIA

Tema “Família” no 2° Sínodo dos Bispos em Outubro

António Justo
No vaticano sopra um vento sul forte, um vento oceânico de fora da Europa que, ao suflar nas batinas da Cúria romana, habituadas à brisa mediterrânica, causa perplexidade. Francisco I, no seu discurso de 22 de Dezembro diagnosticou 15 doenças em pessoal da Cúria e em muita outra gente acomodada que não se controla: “Alzheimer espiritual”, “terrorismo das conversas”, críticas aos “fariseus”, são palavras não diplomáticas que abanam muitas árvores da cúria chegando a atingir até as raízes de alguns “cedros do Líbano”.

No vaticano, como na política há posições controversas, uns mostram-se mais comprometidos com a doutrina, outros com a praxis, como é natural numa tradição de dialética frutífera entre doutores e pastores. A um Papa teólogo segue-se um Papa pastor. É profético e quase de obrigação programática o facto de a História ter reunido dois Papas ao mesmo tempo sob o mesmo tecto romano, como que a avisarem: a praxis é a flor da doutrina; a pastoral não se deve dissociar da doutrina embora aquela deva constituir um desafio a esta. Um grupo conservador receia que Francisco I mude a doutrina quando ele apenas quer pôr a pastoral na ordem do dia. Aguentar a tensão é o que a Igreja católica sempre conseguiu tornando-se assim em modelo institucional para a humanidade.

De facto, a Igreja encontra-se em diferentes contextos; foi a primeira instituição global quando os países nasciam e lutavam ou lutam ainda pela sua identidade regional; como tal, a Igreja tem diferentes rostos segundo os continentes e as culturas subjacentes, o que poderá originar diferentes práticas pastorais.

Francisco I também manifesta compreensão para com os gays de boa vontade que “não se devem condenar, mas pelo contrário ser integrados na sociedade”. As suas expressões espontâneas e palestras livres na missa matinal tornam-se motivo de observações teologais por parte de alguns prelados.

O Papa pretende a reevangelização do mundo. Até os seus críticos reconhecem nele grandes qualidades incontestáveis. Ele sabe olhar as pessoas nos olhos. Ao escolher a Casa Santa Marta (a casa de hóspedes do Vaticano) para residência preferiu o contacto directo com a realidade universal. O Papa revela-se à altura dos tempos e tem sido muito oportuno em iniciativas para as religiões no sentido de serem fiéis à sua tarefa primordial e dando também impulsos muito concretos para a política internacional: genocídio dos arménios, impedimento dos ataques dos americanos e do ocidente contra a Síria, relações diplomáticas entre Cuba e USA, apela para “não desprezar a Rússia”, e tem conseguido transparência na banca vaticana etc.

Ano Santo da Misericórdia

Em Abril, anunciou um ano santo extraordinário, o Ano Santo da Misericórdia que vai de 8 de dezembro de 2015 até 20 de novembro 2016. O bem da igreja e das almas é prioritário.

Uma igreja precisa de mística, doutrina e pastoral. As reformas na moral e na pastoral são precisas tendo muito em conta as assimetrias culturais e sociais das diferentes sociedades. A revelação divina acontece na Bíblia, na Igreja, na Comunidade e na História que vai sempre mostrando novas facetas da realidade global que é Jesus Cristo.

O Pontífice é servidor e não senhor da verdade, por isso não pode mudar a doutrina/dogmas, pode criar prioridades na forma de tratamento pastoral. Por isso, na sua bula sobre o ano da misericórdia acentua: a ”misericórdia é o caminho que une Deus e o Homem”. Misericórdia para quem merece uma pena é uma questão que na visão secular parece contraditória…

Bento XVI era um teólogo, Francisco é um pastor, a teologia permanece na tensão entre doutrina e interpretação e a pastoral segue as circunstâncias dos tempos e das idades. O que se faz e o que se crê não são a mesma coisa, a fé permanece embora a prática seja mais importante. A verdade é processo e o Papa tem a função de encaminhar as diferentes forças em direcção a ela. Francisco I esforça-se no sentido de tornar o espírito de Jesus mais visível e mais experimentável. Sabe que não é seu papel adaptar a Igreja ao gosto do tempo mas que a partir dele se torne experimentável o espírito de Deus. Esta será a sua tentativa.

Há pessoas que se sentem sempre indignadas com o que o papa diz. A indignação nem sempre é sinal de empenho e responsabilidade; hoje é, muitas vezes, uma forma fácil de se destacar e ser notado. Destacar-se perante alguém conhecido ajuda o “santo” ego.

Alguns radicais e eternos insatisfeitos que procuram aproveitar-se do bem e do mal para danificar a Igreja apelam à venda de igrejas e obras religiosas para com esse dinheiro se ajudar os pobres. Esta medida encheria o estômago de alguns pobres por algum tempo mas o problema continuaria. “Pobres sempre os tereis…” (Jo. 12,1-9. A igreja oferece não só pão mas também cultura, arte onde as pessoas encontram paz, conforto e meditação (Não só de pão vive o Homem!). Imagine-se a presença e o contributo contínuo da Igreja para o património cultural dos povos. (Uma instituição sem memória não comporta o futuro). Nas igrejas podem reunir-se os pobres e os que sofrem do frio da sociedade; a Igreja é também o seu porta-voz. Os templos e as obras religiosas são também elas as mãos da natureza, de cidades e aldeias e do povo crente a apontar para a transcendência, a apelar para a verticalidade num mundo cada vez mais horizontal e massa inerte. A expressão espontânea brota do coração e transmite o calor do amor, a expressão da inteligência reflectida espalha a luz do amor. O amor guarda espaço para a pobreza consciente e interior que se preocupa com o bem estar material e espiritual da humanidade. A pobreza espiritual é a maior causa da pobreza material. Precisa-se de uma rede de pessoas de boa vontade. O Pontífice trabalha no sentido de uma utopia que quer um mundo melhor, ao contrário das ideologias que prometem um mundo perfeito. Fronteiras e limites devem ser mantidos apenas como as membranas que ligam os órgãos do mesmo corpo.

2° Sínodo em Roma

Em outubro deste ano realizar-se-á o 2° sínodo em Roma. Prevê-se uma forte luta entre a defesa da tradição da doutrina da Igreja sobre a família e os que seguem o coração das pessoas que aceitam que divorciados que se encontrem na situação de segundo casamento civil possam frequentar os sacramentos. Aqueles argumentam que a Igreja não deve submeter-se aos caprichos do mundo. Entre eles, o cardeal Raymond Burke e vários cardeais africanos e da europa de leste e da Itália receiam que Francisco mude a praxis da doutrina do matrimónio. Sem ser necessário mudar o dogma chegar-se-á a um consenso entre teóricos e pragmáticos. A doutrina fica a mesma, tal como acontece nos Estados em parte com a Constituição mas que se usa das leis para adaptar a constituição à situação concreta. Assim se responderia à necessidade da dogmática (lei fundamental) e de uma pastoral (aplicação da mesma no concreto).

De facto o matrimónio dá-se muitas vezes numa situação de conhecimento e consciência diferente daquela que a realidade depois vem a mostrar; chega a haver casamento mas sem sacramento, apesar da liturgia realizada. Há doenças que um dos parceiros pode trazer consigo que não permitem uma verdadeira relação a nível interior e exterior. Para isso o recurso à anulação do casamento, por falta das condições iniciais necessárias, deveria torna-se num instrumento mais normal. Muitas pessoas trazem nelas doenças psicóticas (ou maldades) escondidas que só o convívio do dia-a-dia vem revelar e podem impedir o desenvolvimento espiritual e levar ao sofrimento dos parceiros a vida inteira.

Violência doméstica pode ser motivo para separação

O Papa Francisco tem compreensão para a separação no casamento em determinadas circunstâncias. “Certamente também há casos em que a separação de consortes se torna inevitável. Às vezes é até moralmente necessária”. Quando disse isto referia-se especialmente aos casos de violência doméstica, opressão do parceiro mais fraco ou de crianças pequenas.

Certamente um assunto muito complicado mas o “Casamento” não pode ser argumento de justificação de arrastamento de casos de violência repetida ou de impedimento de desenvolvimento individual e comunitário. No caso de matrimónios católicos há um instrumentário muito adequado que deveria ser mais utilizado e que constitui no recurso ao pedido de anulamento do matrimónio. Os episcopados deveriam ser mais receptivos e rápidos na decisão sobre pedidos de anulação. Por vezes faltam já de início as condições necessárias para a efectivação do sacramento.

Também Jesus comparou o Reino dos Céus a um reino em que o rei fez o convite a muita gente para a boda de casamento do filho; muitos convidados não vieram e então ele convidou todo o mundo, bons e maus (Mateus 22:1-14). De facto a Igreja não se reduz a um povo eleito ou a uma cultura, por isso Jesus convida todo o povo a entrar no seu reino.
António da Cunha Duarte Justo
Teólogo
In “Pegadas do Tempo” www.antonio-justo.eu