ATÉ À VISTA NO ALÉM

A Consciência humana é infinita

Por António Justo

A experiência da quase-morte (ou EQM) e do depois-morte (EDM) são uma constante histórica testemunhada nas diferentes culturas. No evangelho de Marcos, capítulo nove, é narrada a experiência do depois da morte, uma nova maneira de ser para além do estar, e na segunda carta aos Corintos, capítulo 12, Paulo descreve a experiência da quase-morte, isto é, uma experiência fora do corpo em que a consciência (alma) se revela sem limites por participar da infinidade divina.

A morte não tem a última palavra a dizer, como se vai constatando também na investigação científica que, cada vez mais, se dedica ao estudo dos fenómenos em torno da morte. A experiência, com moribundos ou com pacientes em coma, motivou médicos e outros cientistas a investigar as causas e o significado desses fenómenos: presença de um “ser de luz”,  “emancipação da alma”,  “experiência fora do corpo”,  “desdobramento espiritual”, “contacto com o além”,  “aparelhos imobilizados”, etc..

A crença materialista científica, das ideologias do século XIX, agora também posta em dúvida pela física quântica, começa a abandonar as cercas da sua certeza, para admirar o que se estende para lá delas. Perante o resultado de estudos feitos, vão deixando de se fixar na qualificação de tais fenómenos apenas como alucinações causadas pela falta de oxigénio no cérebro. No passado, muitos cientistas tinham medo de manifestar as suas experiências para não serem ridicularizados ou para serem conformes ao credo da ciência materialista. Charles Chaplin dizia “Não creio em nada e de nada descreio. O que concebe a imaginação aproxima-nos tanto da verdade como o que pode provar a matemática”! De facto, a experiência do inefável (Deus) deixa de crer para saber, sem poder provar a vivência, porque esta é acontecer.

A consciência do ser humano existe independentemente do cérebro

Segundo a visão materialista, com a morte cerebral deveria morrer a consciência de ser. Muitos cientistas da medicina e da biologia chegam agora à conclusão que a consciência humana não se extingue com o apagar-se do corpo mas que continua a existir.

Raymond A. Moody, psiquiatra e filósofo investigou sistematicamente o que acontece depois da morte clínica; o mesmo se diga da psiquiatra Elisabeth Kübler-Ross e de muitos outros. Eben Alexander descreve agora o que experimentou depois do cérebro deixar de funcionar. Uma experiência que pode tornar-se numa luz para quem só está habituado a avistar a matéria.

Eben Alexander, especialista do cérebro, esteve 7 dias em profundo coma com uma grave meningite bacteriana com uma chance de sobrevivência de 3% mas apenas como gravemente incapacitado. Sem funções cerebrais activas teve, apesar disso, a experiência extracorporal de uma consciência sem limites (Livro “Prova do Céu“). Neste estádio encontrou também familiares desconhecidos que depois veio  a conhecer e familiares falecidos e amigos. Passados sete dias aconteceu o impossível na medicina: o neurobiólogo regressou da visagem com novas forças e experiências. Eben Alexander teve a experiência de que a consciência humana existe independentemente do cérebro.

Não há que ter medos. Deus é maior que as nossas morais aritméticas e do que os nossos conceitos e ideias de justiça. No fundo do túnel escuro a luz brilha em ti para te incrementar o sentimento de segurança, amor e felicidade, a experiência do antes e do depois num presente eterno.

Conclusões possíveis de tirar com base também nas novas investigações: pensar a vida a partir do fim, a partir do nós, do outro. A morte só é uma estacão, no caminho para Deus, onde a infinidade eterna se torna o espaço da nova consciência. Morte e vida, Deus e materialidade encontram-se resumidos em Jesus Cristo e no mistério da trindade!

O amor é o laço que une para lá da morte e que permanece na nova maneira de ser para lá das finitudes temporais. O amor é o folgo de Deus em tudo e em todos, a relação que mantém também o cosmos.

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

 

O TEU ROSTO NO MEU ROSTO

O TEU ROSTO NO MEU ROSTO

 

Comunidade sem rosto é corpo sem cabeça,

praia despovoada, sem altos nem baixos,

só areia.

 

A minha terra é nobre e bela

em seu rosto mora a vida

a sentir vista e tempo

no viver próprio dela

 

Todos os rostos no rosto dela

são as memórias de um povo

que sem eles estaria ausente!

 

Rostos são a memória do acontecido,

a esperança a acontecer

e o sonho a acenar.

 

Minha Pólis sem rostos

és lareira apagada,

borralho sem chama pra iluminar

magusto apenas, para outros alegrar

 

Rostos são luzeiros no horizonte,

arquivos da história na bagagem

o que se leva do escuro do tempo.

 

António da Cunha Duarte Justo

http://poesiajusto.blogspot.de/

 

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É chegado o momento, tudo é carnaval. No rosto luso dança a festa universal, onde o mundo mascarado baila a vida em ritmos variadas ao som do sonho no vento e da saudade no tempo. A Lusitânia sem máscaras é como um corpo sem rosto, um arraial sem cortejos, um acampamento sem festa!

Na Alemanha há 134.000 rostos portugueses que, em geral, sobressaem pela ausência.

Os rostos da administração são anónimos e distantes, não podem representar uma nação de rosto vivo e vivificante.

A festa e a religião, o negócio e a política, a cultura e a arte são os lugares onde o rosto luso se forma e manifesta.

Mais presença na sociedade, dar a cara nas diferentes organizações sociais e políticas dos países de imigração é a oportunidade do rosto encoberto de Portugal rasgar os véus da mediocridade que o prendem num rectângulo marginal.

Portugal tem muito a dar, não devendo diluir-se na gangrena dos seus beneficiados e iluminados pelas pantalhas da TV; o país precisa de redescobrir-se e conectar-se àquela rede de ideais e pessoas que outrora o tornaram um grande luzeiro no firmamento das nações. Outrora, com a missão do seu ideário, olhou o mar, ergueu o rosto e deitou os remos à descoberta do mundo; hoje é chegada a hora de os portugueses da diáspora, com a sua presença consciente, viverem e mostrarem os ideais daquele Portugal que deu o rosto da Europa ao mundo. Emigrantes, vós que vos lembrais ainda do Portugal original erguei o rosto para dar de novo o rosto a Portugal.

Pegadas do Espírito no Tempo https://antonio-justo.eu/?p=3916
António da Cunha Duarte Justo

 

 

NO IMPÉRIO DOS EGOÍSMOS GLOBAIS

O TERRORISMO PARALELO QUER DESTRUIR A ECONOMIA E O MODELO SOCIAL EUROPEU

Goldman and Sachs, o Citygroup, o Wells Fargo formam verdadeiros Estados de predadores com uma grande rede de assessores e consultores espalhados por todos os países e supra-organizações regionais e globais. Comportam-se, em relação aos países, na defesa dos seus interesses usurários, de maneira semelhante à dos partidos em relação ao Estado com os seus representantes nos Conselhos e administrações das empresas nacionais.

Não gostam da Europa e declararam guerra ao Euro conseguindo abanar com os fundamentos da UE. Segundo o investigador Domingos Ferreira “o Senado norte-americano levantou um inquérito que resultou na condenação destes gestores que apostaram em tombar a Europa… Mas tudo ficou na mesma… Goldman and Sachs tem armazenado milhares de toneladas de zinco, alumínio, vários outros metais, petróleo, e até cereais, etc., com o objectivo de provocar a subida dos preços e assim obter lucros astronómicos, manipulando o mercado”.  Levam os países à insolvência e “de seguida, em nome do aumento da competitividade e da modernização, obriga-os a vender os sectores económicos estratégicos (energia, águas, saúde, banca, seguros, etc.) às corporações internacionais por preços abaixo do que valem”.

 Com a cumplicidade das agências de “rating” e dos governos enriquecem enormemente à custa da crise das nações que provocam através das manipulações da economia mundial e dos mercados.

Nas políticas nacionais, os partidos discutem atacando-se uns aos outros e, deste modo, melhor servem o terrorismo económico internacional. Cada partido, se encerra nos seus interesses, esquecendo que os predadores Globais se servem deles para desestabilizar os respectivos países tal como eles se servem do Estado para desestabilizarem o povo.

No parlamento deitam-se à caça dos impostos sobre quem trabalhou ou trabalha e reservam-se para si subvenções vitalícias e enriquecimento ilícito e concedendo subsídios mastodónticos aos bancos em falência.

Encontramo-nos no fim da macacada da economia financeira e da política hipotecada: Políticos que levaram os Estados à ruína asseguram o seu futuro com aumento de vencimentos e prémios de subsídios vitalícios e os Bancos em falência com administradores incompetentes arrecadam vencimentos milionários. Uma contradição? Não! Porque estes sabem da derrocada bancária à vista e aqueles sabem da impotência a que levaram os Estados não podendo fazer mais que reparações cosméticas e por isso querem aproveitar-se do que ainda há antes da falência total. O último que feche a porta. No fim nem lugar para revoluções haverá porque tudo aconteceu “democraticamente” em nome de uma democracia convertida em função dos usurpadores. O povo e a cultura pagarão a fava!

Enquanto grupos ou partidos se apresentarem como a solução para os problemas da nação, o povo continuará a ser defraudado não só na sua economia mas também na sua honra pessoal. Ninguém tem a solução, no máximo haverá soluções parciais e estas, para serem democráticas, efectuam-se de baixo para cima na perspectiva de inclusão de uns nos outros.

Os monopolistas da economia e com eles as ideologias com assento nos parlamentos, começam por nos defraudar nos bens necessários essenciais e nos bens elaborados pela classe média, para depois nos destruírem a dignidade e a alma. Um exemplo da atitude predatória, vemo-lo no parlamento. Cada um exige categoricamente para si ou para o seu grupo o que também pertence aos outros! Resultado: uma nação depauperada sempre em fuga, como um frango depenado a cacarejar movido pelo medo de até as restantes penas lhe tirarem!

António da Cunha Duarte Justo

SOU O SONHAR DA SAUDADE QUE ME SONHA

Sou o sonho da saudade a sonhar no movimento.

 

No princípio era o desassossego, era o caos e era a luta de todos contra todos, na satisfação do movimento e do esforço por chegar primeiro à meta (individuação).

 

Então o desassossego bradava na terra e no mar, era em mim a voz da tristeza a clamar por mais.

 

O movimento leva ao gozo mas não chega pra chegar à felicidade. No movimento respira Deus enquanto sonha. O movimento é vontade, é desejo sempre em fuga entre a boca e os pulmões do mistério.

 

Este desejo do mais é o ser do movimento mas não o meu, porque sou parte do mistério que me respira nos sonhos em mim a despertar.

 

O movimento que me vive na necessidade de se afirmar deixa em mim o eco da vivência do universo na sensação do divino.

 

Tu, minha dor és o movimento da saudade a sonhar quem me sonha. Sinto que a saudade é mais que amar. Amar é o intervalo entre estar só e estar acompanhado. Obrigado a quem me ama sem me deixar esquecer que estou só!

 

A minha felicidade vem do sonho e o meu gozo (orgasmo) vem do movimento do pensamento. Não quero ficar no movimento para não ser levado pelo fumo da saudade quero repousar no sonho da alma, aquela saudade que dá força ao movimento.

António da Cunha Duarte Justo

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ÉTICA ENTRE CONVICÇÃO E RESPONSABILIDADE – DO COMPROMISSO ÉTICO ENTRE IDEALISMO E REALISMO

Civilização ocidental em implosão e Civilização islâmica em explosão

Por António Justo

A chanceler alemã, na sua política de refugiados, é acusada de seguir uma ética de convicção (cristã) em prejuízo da ética de responsabilidade na qualidade de pessoa pública que deveria representar os interesses da sociedade alemã e da civilização ocidental.

Numa humanidade em desenvolvimento deparamo-nos, individual e socialmente, em confronto com duas forças e interesses complementares: o humano e o divino, o material e o espiritual, o individual e o político. Os evangelhos resolvem o dilema entre empenho subjectivo individual e empenho social, entre religião e política recomendando: «Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.» (Mateus 22:21). Daqui surge um certo conflito entre uma atitude baseada na consciência e uma atitude baseada nos interesses da polis.

A ética da responsabilidade é uma ética de grupo, aquela parte que corresponde ao ensinamento “a César o que é de César”- adequada à acção política, ao circunstancial e relativo, ao útil para a comunidade; a ética da convicção corresponde à segunda parte da frase “a Deus o que é de Deus”- é o reino dos absolutos, do útil para o desenvolvimento da alma humana.

A ética de responsabilidade “tem em conta a fraqueza”, não a preocupa a humanidade nem a perfeição, o que importa é o interesse do grupo, o útil numa perspectiva do circunstancial imediato. O motivo do agir não se fundamenta em nome da moral mas do interesse. As boas intenções de Merkel não justificam os problemas que criam porque embora humanas poem em perigo gerações futuras. Numa tal ética transportada para a polis, o crime e o fracasso tornar-se-iam desculpáveis. Assim uma atitude moral para Merkel pode tornar-se numa atitude imoral se prejudica os interesses do país e da civilização.

Não chega a boa intenção, como orientação moral, é preciso sabê-la situada na psicologia humana e na comunidade. O idealismo humanitário orientador da ética de convicção tem de ser aferido à realidade social que pressupõe uma atitude ética de responsabilidade que necessariamente condiciona o idealismo que possa estar por trás de uma moral de convicção. A confusão de ética de convicção com ética de responsabilidade é a causa de parte da moralitis do discurso político e social.

Ao contrário de Maquiavel que defendia que a missão da salvação da cidade era superior à da salvação da alma (fins justificam os meios), Max Weber procurou conciliar as duas posições distinguindo entre ética de convicção (na qualidade de sujeito – consciência individual orientada por valores absolutos e que obedece aos sentimentos sem ter em conta as consequências) e ética de responsabilidade (na qualidade de objecto de funções públicas avalia a decisão pelas consequências que provoca); Weber reconhece o dilema entre os determinantes consciência e interesses. Assim, o político encontra-se dividido entre uma ética livre pessoal de convicção e a ética de responsabilidade determinada pela ponderação no balance de interesses condicionantes; a decisão política a tomar impossibilita, muitas vezes, um juízo de valor pessoal, dado a política ser normalmente determinada por circunstâncias. Isto não deveria porém isentar a decisão política do reconhecimento de valores universais fundamentais como a defesa do valor da vida e da dignidade humana (inerentes à ética de consciência individual).

Ética contra a moral?

A política alemã na sequência de uma ética de convicção, que justifica a entrada descontrolada de refugiados de uma cultura rival e antagónica, pode ser contrariada pela moral de responsabilidade social que implica a defesa da própria identidade e cultura a longo prazo. Não chega a boa intenção, é necessário fazer uma boa balance das consequências sociais que tal atitude acarreta. Vários parceiros europeus, cientes da sua responsabilidade para com os seus cidadãos (ética de responsabilidade) obrigaram a Chanceler a arrepiar caminho. A realidade dos factos do fenómeno muçulmano, que se revela sem vontade e incapacidade de integração, põe em perigo os interesses de uma sociedade maioritária aberta (civilização ocidental) através de uma imigração descontrolada, de uma cultura hermética e encerrada em si mesma (civilização árabe caracterizada por não se integrar e só assimilar).

Uma sociedade aberta, como a europeia, para não ser posta em perigo por uma sociedade fechada terá de estar atenta às forças sociológicas de integração e assimilação para poder possibilitar nela um crescimento orgânico. Um crescimento orgânico pressupõe a abertura e a permeabilidade das duas partes. Realiza-se numa tensão saudável de uma dinâmica de complementaridade e inclusão da ética de convicção e de ética de responsabilidade: os dois polos da mesma realidade na polis.

Ética de afirmação dos interesses minoritários contra os maioritários?

Uma ética da responsabilidade  tem sempre em conta a defesa dos interesses das minorias numa sociedade coerente e consonante.

Dado, nas relações multiculturais e entre Estados, dominar uma ética de interesses, num processo de luta entre grupos orientados pelo princípio selectivo da afirmação do mais forte, não se pode aqui confundir uma ética pessoal de consciência moral relacional com a ética subjacente a grupos de interesses em que o determinante é a força do grupo ou do interesse e não o humanismo.

Uma atitude política movida apenas pela ética de convicção (consciência) ao pretender tornar-se critério de orientação para regular as interacções interculturais (politica) torna-se inadequada e infringe a ética de responsabilidade. O diálogo, a luta torna-se desigual porque confunde o objectivo (circunstancial) com o subjectivo (de caracter pessoal mas de valores universais), confunde o âmbito pessoal com o público. O palco em que se realiza é objectivo e como tal de relação de interesses já não entre sujeitos humanos mas entre objectos, de meros interesses de grupos (daqui surgiria a premissa da necessidade de uma negociação de interesses em termos bilaterais).

 Neste sentido, uma atitude baseada na consciência (que Ângela Merkel parece seguir) implementaria o grupo que segue a ética dos interesses e na realidade seria instrumentalizada (inconscientemente) para servir os interesses dos mais fortes (a lei da selva) neste caso os interesses minoritários à custa dos maioritários (de legitimação imprópria porque não aferida).

Dado a cultura islâmica ter em si um rescrito motivador da autoafirmação pela força e pela assimilação, sem o movimento de integração (não permite o processo orgânico de aculturação-inculturação só possibilitando o movimento unilateral assimilativo de auto afirmação na desconsideração do outro). Neste contexto, a sociedade ocidental tornar-se-ia fraca, a longo prazo, e vítima da própria ilusão humanitária e deixaria de ser um factor de promoção do humanismo no mundo. A sociedade ocidental encontra-se num momento muito problemático da história do seu desenvolvimento dado não estar consciente dos elementos constitutivos de identidade que lhe deram sustentabilidade e desenvolvimento; coloca-os à disposição em troca da afirmação económica que não pode, por sua vez, ser sustentável sem uma política de natalidade responsável e sem uma reflexão profunda do que lhe deu o ser, do que é, e do que pretende (precisa de orientação e sentido).

Sem a consciência da necessidade de afirmação dos factores de identidade, a Europa atraiçoa-se a si mesma ao pretender tapar o buraco demográfico abrindo incondicionalmente as portas à imigração islâmica que na prática se afirma, de uma maneira geral, contra a integração e beneficia também do factor da proliferação demográfica (Tenha-se em conta o exemplo europeu do Kosovo, Albânia, etc., que antigamente eram regiões de cultura heterogénea e transformadas, com o evoluir dos tempos, em monoculturas islâmicas; na Europa, as mulheres muçulmanas são motivadas a manterem os seus papéis patriarcais e a não se integrarem no mercado de trabalho, continuando, em grande parte, a exercer só a profissão de mães (abono de família na Alemanha 200 € por filho). Uma visão rápida sobre a história do desenvolvimento muçulmano testemunha o facto de as regiões onde este se implanta e se torna maioritário, com o tempo, essas regiões são transformadas em monoculturas islâmicas.

Onde falta a luz o caminho torna-se difícil e a meta impossível

Não apadrinho posições que defendem a enclaustração dos povos e culturas em si mesmas; é mais que claro que o desenvolvimento humano se deve à interligação e interacção orgânica entre indivíduos, espécies e culturas (factores osmose-integração-assimilação); o gueto pode tornar-se em cancro num corpo orgânico. O que está em via na Europa é porém um movimento de autodestruição da própria cultura (trauma do nazismo e do estalinismo fortalece o niilismo e as forças que fomentam a queda da civilização ocidental numa atitude mórbida de tanatofilia).

A civilização islâmica, ao seguir uma ética de interesses não orgânicos mas sistémicos e estratégicos está mais perto da lei natural da selecção e como tal mais preparada para ganhar a luta dentro de uma sociedade em processo de implosão.

A civilização ocidental não se encontra adaptada aos desafios do mundo de hoje e os princípios éticos que a engrandeceram deixaram de ser categorias políticas; segue apenas estratégias ditadas pela macroeconomia liberalista (subvenciona Estados para comprar as suas elites, com o dinheiro que volta a ela); a Europa encontra-se consequentemente em processo de implosão enquanto a civilização islâmica, centrada em si mesma, se encontra em processo de explosão. Nesta situação, uma e outra não podem assegurar garantias de futuro para a humanidade. A civilização islâmica definhará por julgar que a fronteira do mundo é a sua cultura (o desenvolvimento do mundo fruto da variedade e da diferença é reduzido à igualdade e monotonia do biótopo muçulmano) e a civilização ocidental deixará de ser ela por viver da ilusão que pode haver abertura sem limites num mundo que de facto é feito todo ele de biótopos culturais que para o serem têm de reconhecer as leis e forças que constituíram o seu habitat sem negar os princípios e forças da definição e identificação dos diferentes biótopos culturais no todo.

A cultura ocidental, que no passado foi o grande motor da história da humanidade, corre o perigo de atraiçoar definitivamente os ideais da sua filosofia de cunho cristão e com eles a sua identidade e a sua alma.

A Europa, ao seguir, a nível político e social o materialismo e o racionalismo niilista abdica de qualquer missão e de qualquer factor de esperança. Sem noção do sentido e sem uma meta teleológica não tem ideia do caminho a fazer e que só é possível à luz reflectida sob um tecto metafísico. Ao pôr-do-sol já falta a energia e o humor necessário e passa-se a procurar o agasalho no luar da noite!… Sem a construção de um solo comum não se pode andar em conjunto…

Deste modo a Europa, transformada em estrela em estado de implosão e que é ainda vista como modelo de desenvolvimento de outras sociedades, transforma-se em perigo também para estas, ao perder o que lhe dava a liderança espiritual. (Além disso, em política perdeu a visão global e em vez de colaborar com a Rússia na crise dos refugiados muçulmanos, fecha-se na sua arrogância e presunção colaborando só com a Turquia rival).

Encontra-se numa situação paradoxa: em política de imigração segue uma ética da convicção individual abrindo o flanco aos outros e pecando contra uma ética de interesses culturais próprios que se vêem reduzidos aos interesses económicos liberais e a uma liberdade abstracta já fora do contexto cultural. A irresponsabilidade política no que respeita à defesa dos interesses culturais do povo fomenta a agressão e a xenofobia no mesmo.

A civilização ocidental não pode, para defender os interesses dos países ricos, em nome da consciência que a fundamenta, pôr em causa os valores da própria identidade, para solucionar uma situação de interesses económicos em perigo por uma diminuta natalidade que se pretende compensada pela imigração de refugiados. O relativismo ético ocidental revela-se como o melhor instrumento de legitimação da política neoliberal e anti cultural em curso e, por outro lado, dá razão às forças hegemónicas que não toleram nada a seu lado (Neste contexto o relativismo cultural europeu serve as forças dogmáticas e hegemónicas que ameaçam a nossa sociedade). O relativismo contradiz-se a si mesmo porque, ao afirmar que tudo é relativo, transforma-se num absoluto. Sem verdade (ideal) não há ética sustentável porque então a matéria (materialismo) seria o único factor de validade.

Com o desenvolvimento de um liberalismo acervado, a ética da polis tenta emancipar-se da religião e, deste modo, do povo. A ética tende assim a abandonar o foro privado para ser reduzida a uma moral de interesses no campo económico (liberalismo) e político (democracia partidária) com a consequente atitude política alienada do povo subordinado à económica (capital); consequentemente, o produto do trabalho humano deixa de ter relação com o que o produz para se justificar em si mesmo no lucro tornando-se assim desumano e anti ético. O capital emancipou-se dos mecanismos de produção para se tornar senhor absoluto sem relacionamento; perdeu a alma e deste modo a capacidade de dar resposta. Em nome da economia e da tecnologia que paulatinamente substituem o Homem, o Ocidente vai-se tornando substituível e supérfluo.

O político cínico não se responsabiliza porque, ao arquivar a própria consciência em nome dos interesses do grupo que serve, não reconhece a culpa e deste modo não assume pessoalmente a responsabilidade; e isto porque baseia o seu juízo de valor apenas em termos de informações recebidas tomando assim decisões que considera objectivas e como tal intangíveis a nível de ética pessoal; o que lhe interessa é apenas a análise dos factos no momento e o acto de decisão não pode ser avaliado porque fruto da circunstância furtuita e coberta pelo povo anónimo. Num tal pragmatismo, onde o idealismo não tem lugar, a culpa, o arrependimento e o perdão são considerados fraquezas (veja-se a situação do Estado em Portugal!). Uma tal ética cultural tem os dias contados e só lhe resta abdicar.

Política do Postfacto

A Chanceler alemã responde aos ataques que a acusam de não considerar suficientemente a ética política (ética de responsabilidade baseada em interesses) dizendo: “Vivemos em tempos do post facto. As pessoas já não se interessam pelos factos mas seguem apenas os sentimentos”.

A questão é ambivalente: precisamos de uma política de atitude ética que responda não só aos factos mas também aos sentimentos. De facto os sentimentos também são reais e os factos podem ter um fundamento irracional. Para isso precisamos de Homens retos e com coluna dorsal, precisamos de pessoas dispostas a repensar a sociedade em termos do que dizia Paulo aos Gálatas: “Não há judeu nem grego, escravo ou livre, homem ou mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus”. E o JC encontra-se mais ou menos escondido em cada pessoa humana.

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo (História e Português)

Pegadas do Espírito no Tempo