A ESCOLA DE QUE SE PRECISA

Chega a hora das escolas de elite, a hora das Escolas Privadas

António Justo
A formação é cara mas a falta de formação ainda se torna mais cara, como confirmam os orçamentos dos estados sociais! Muitos estados, em vez de aumentarem o orçamento destinado à formação e ensino, procuram circundar a precariedade escolar com medidas acidentais. A degradação do ensino conduz à necessidade de criação de escolas de elite, à liberdade de escolha do estabelecimento a frequentar e logicamente à exigência dos estudantes terem a possibilidade de escolherem os seus próprios professores.

Na Sombra dos Tratados de Lisboa e de Bolonha
As orientações da EU consignadas nos tratados de Lisboa e de Bolonha pretendem que, num futuro próximo, metade dos alunos na Europa tenham o direito e a habilitação para o ingresso na universidade. Só assim se poderá manter o nível europeu no futuro dado o envelhecimento da sociedade prever a falta de muitos lugares de alta competência ao entrar na reforma.
Nas nações mais desenvolvidas europeias os educadores de infância devem, já no Jardim Infantil, ensinar línguas estrangeiras e entusiasmar as crianças para a experimentação com fenómenos da natureza. Neste sentido, a frequência do jardim infantil deve tornar-se gratuita a partir dos 4 anos.

A formação profissional terá de ser ancorada nas regiões e nas empresas, tal como acontece aqui na Alemanha com o sistema dual de ensino baseado no “saber de experiência feito”. O formando tem uma componente lectiva e uma componente de aprendizagem em firmas reais.

A Matéria-prima que temos é a Inteligência e a Formação
Os recursos naturais, as florestas e as matérias-primas cada vez se tornam menos para uma população mundial sempre crescente. Daí a necessidade premente de se investir nos recursos da inteligência. O futuro estará para aqueles que mais inovações criarem e para aqueles que souberem criar novas necessidades nas pessoas. A sociedade de mercado do futuro estará cada vez mais dependente do saber e da criatividade dos seus empregados. As nações que derem resposta a este dado continuarão a ser a ponta de lança do futuro.

Assim, no século XXI, incrementar a política social significará investir na política de formação, investir nas escolas e nos laboratórios de investigação. Não chega passar da época da Burguesia e dos Trabalhadores para a época dos Novos-ricos e do Proletariado.

Em quase todos os países, a origem social continua a determinar o sucesso escolar, profissional e social das crianças. Assiste-se a uma política que, para responder aos maus resultados dos alunos, provenientes de camadas sociais mais carenciadas, simplifica as exigências para a passagem de ano em vez de investir verbas em medidas de apoio aos alunos mais carenciados. Assim a mediocridade escolar chega a atingir galardões de nível médio mas sem pressupostos para responder às exigências dum ensino superior digno do nome. O governo apadrinha esta filosofia facilitista, possibilitando mesmo a entrada na universidade a pessoas sem currículo capaz. Ao socializar-se a mediocridade engana-se a sociedade e a nação. Os mais enganados serão os mais desprotegidos porque não têm a visão de conjunto e pensam que escola é igual a escola e outros não têm dinheiro para a poder escolher.

Para responder aos buracos criados pela política simplicista e às altas qualificações exigidas pela nova economia, surge cada vez mais a procura e a exigência de escolas de elite. A necessidade de instituições de formação exigentes e de alto nível torna-se assim a consequência duma política socialista que irresponsavelmente conduz o ensino para o nível de exigências mínimas. As instituições universitárias estatais terão de dar acesso às formações facilitadas aparecendo, colateralmente, institutos de ensino superior também facilitistas orientados apenas para o diploma. Com o tempo, mais que o título universitário valerá apenas o nome da universidade em que se estudou. Esta é a factura da política de ensino, iniciada com a revolução do 25 de Abril. Assistiremos a uma fuga crescente dos alunos mais capazes para o ensino privado tradicional. Consequentemente, as camadas sociais mais carenciadas manter-se-ão democraticamente afastadas da igualdade de chances. O socialismo, em nome da liberdade e da democracia, estabiliza uma carência que manca atrás dos beneficiados do sistema.

Fundos europeus mal aproveitados
O mundo é conquistado pela competência e não por títulos académicos sociais. Os governos sabem que podem permitir-se o prolongamento sucessivo do estado deficitário da nação porque contam com a resignação do povo, com o tubo de escape da emigração e das suas receitas e com os apoios da União Europeia para tapar os buracos resultantes da impotência política. Também os apoios específicos da EU para a formação profissional continuam a ser, em grande parte, mal empregados. O povo trabalhador e o portador de títulos universitários facilitados irão então para o estrangeiro ocupar lugares carentes. O orgulho português compensará a depressão nacional com a honra de nomes portugueses que conseguiram medrar na terra estranha. Muitos dos Novos-ricos da política e da cultura ocupam postos facilitados pela origem e pelo partido, desconhecendo, por isso, o esforço e o mérito que provém da produtividade.

Os subsídios económicos da União Europeia para promoção da formação profissional são mal aproveitados servindo até de álibi para o Estado português não ter de fomentar um ensino profissional regular sério e duradouro. Espera-lhes o mesmo destino que tiveram certas formações de professores subsidiadas pela EU. Acabado o subsídio acabam-se as formações, passando a ministério a ir à caça de outros dinheiros destinados a outros fins. Assim se vai mantendo a plêiade de formadores dependentes dessas fontes e do beneplácito partidário que está por trás. (Pude observar isto em relação a muitos cursos de formação contínua para professores e em que participei na qualidade de formando). As medidas de formação promovidas pela União Europeia não são suficientemente aplicadas e desviam as atenções da necessidade de fomentação de escolas profissionais. Os responsáveis políticos adoptam os rituais mas sem conteúdos nem aplicação de dinheiro útil. De projecto em projecto subsidiado lá vão adiando Portugal.

A política portuguesa em vez de apostar em Portugal encosta-se demasiado à União Europeia. Eles lá sabem e para o bom comportamento português sempre cairão algumas migalhas choradas para a classe política. A EU, nesta primeira fase de implementação, precisa também de chulos.

Desregulamentar a Escola e a Universidade
As escolas a tempo inteiro, de manhã e de tarde, terão de ocupar o tempo todo em actividades com sentido (sem tempos mortos que fomentem o vício) abrindo possibilidades à capacidade criativas e dando resposta às carências individuais e locais. A escola deverá tornar-se numa casa da porta aberta. Não poderá continuar um reservado de professores e alunos; terá que abrir as portas a mestres, assistentes sociais, outros técnicos e iniciativas privadas.

Enquanto que em países como a Alemanha as escolas e as universidades são cada vez mais libertadas da estreiteza regulamentar, tendo grande competência também na escolha dos professores, em Portugal só existe Lisboa, expandindo-se cada vez mais um centralismo possibilitador de influências partidárias nas direcções das escolas. A elite portuguesa continua a copiar os erros e as virtudes francesas, esquecendo a componente anglo-saxónica a nível de ensino e de política.

Os professores são ainda a pedra angular das escolas. Em vez de se apostar neles formando-os e motivando-os, o governo humilha-os e cria empecilhos burocráticos sem um conceito político e pedagógico de base. Aplicam-se apenas normas no sentido de dar resposta às orientações dos tratados de Bolonha e de Lisboa. Tenta-se aplicar cegamente medidas burocráticas julgando assim dar resposta às necessidades duma sociedade cada vez mais tecnocrata. A consequência será: o abandono das escolas estatais pelos mais competentes, a fomentação dos medianos oportunos e uma carência de professores a longo prazo que depois só poderá ser preenchida por medidas de exigências simplicistas. O Estado sabe que o contingente de professores na bicha de espera nunca faltará!

Se o governo está tão interessado em defender os alunos à custa dos professores porque não permite que os alunos, a partir do décimo ano, ou melhor, que os estudantes escolham os seus professores? Porque é que ainda há escolas, em que os alunos dos professores se encontram prevalentemente em determinadas turmas?

Porque é que o Estado em democracia ainda continua a apostar num professorado subserviente de funcionários públicos? Antigamente era o estado autoritário que estava interessado em controlar a nação e as ideias através do controlo dos seus funcionários; em democracia continua-se o mesmo espírito, o espírito burocrático e de projectos, ao serviço dum Estado partidário.

Porque não se premeiam os professores que tragam actividades especiais para a escola em vez de os humilhar a todos com um sistema de prémio aberto a influências? Porque não organizar a competência do ensino em três zonas possibilitando-lhes o aferimento regional e a concorrência entre elas? Porque há-de continuar Lisboa a sorver e a abafar as outras regiões? Portugal teria muito a aprender da Alemanha. Aqui PISA contesta os resultados nos estados de concentração estrangeira, especialmente turca, resultados também explicáveis por uma sociedade fechada nela mesma!

Num esforço central em conjunto com os Conselhos Municipais, a Alemanha investe 7% do produto bruto nacional na formação. Toda a nação está empenhada numa discussão produtiva, também com o contributo de posições partidárias mais selectivas ou mais permissivas.

Risco de brincar à Escola como se brinca à Democracia
O ME não se sente bem numa sociedade em que tudo é permitido e só a escola é obrigatória. A reforma em curso não é séria porque de tipo mercenário e porque apenas orientada para resultados ao serviço dum sistema económico-financeiro em ruína. Não podemos fazer com o ensino o que fizemos com a democracia. A sociedade só perderia continuando a jogar ao faz de conta como fizeram os políticos surgidos do 25 de Abril com a democracia.

O governo quer voltar ao dito de Salazar:”o que honra o trabalho do professor é o sucesso dos alunos” só que o faz com meios errados, roubando a honra aos professores e não tomando os alunos a sério. O “Estatuto do Aluno” está mais para inglês ver num país de maravilhas formais do que para os alunos reais. Desautoriza-se o professorado em vez de o apanhar por dentro, para ser renovado sim mas não à chicotada. A escola tem de ser repensada novamente. Não é com controlo dos professores e desobriga dos alunos que se dá resposta às exigências do século XXI. O professorado também tem muitíssima culpa no cartório. A força agora manifestada deve ser empregue para remodelar o sistema escolar radicalmente. Amanhã, não poderemos ter os mesmos professores nem os mesmos alunos!… A nação não pode permitir-se continuar a assistir ao jogo de forças dum lado e do outro.

Escola – Uma Comunidade Educativa alargada
A Escola é o lugar de encontro dos problemas do nosso tempo proporcionando um retrato bastante adequado da sociedade. Se queremos ganhar o futuro teremos naturalmente de mudar o sistema e especialmente as mentalidades.

Também os bispos portugueses, na sua carta pastoral (CEP), se manifestam preocupados com a situação das escolas. Em nome da diversidade uniformizam-se as escolas sem respeito pelos contextos, “ desprezando a liberdade de actuação dos professores, pais, autarquias e outros agentes locais com projectos educativos próprios”, como advertem os bispos portugueses. Estes vêem a escola como “comunidade educativa alargada, que integra alunos, a entidade responsável pela escola pública, estatal ou privada, os educadores e pessoal não docente, os pais e outros encarregados de educação e a comunidade circundante”.

Pretende-se no centro da discussão a “comunidade educativa” e não apenas o mero funcionalismo. Por isso os bispos esperam uma educação “antropologicamente fundada” orientada para a “inserção social participativa, crítica e criativa”.

Tanto o utilitarismo como o funcionalismo imediatos não deixam espaço para o Homem nem para disciplinas como música, arte e actividades criativas fomentadoras da dignidade humana.

Só uma escola aberta fomenta a autoconfiança e a capacidade de opiniões ousadas capazes de se auto-questionarem também.

António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com

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BOCA DO CIDADAO EUROPEU VAI SER MAIS DISCIPLINADA

“Polícia europeia do Gosto”
António Justo
A Comissão da União Europeia vai decidir, o mais tardar no princípio de 2009, uma Directiva europeia sobre o perfil do valor nutritivo dos produtos alimentícios que além de terem de apresentar uma relação detalhada das substâncias alimentícias verão limitada a possibilidade de fazer reclames, no caso de excederem a norma.

Assim, pão que tenha mais sal do que o previsto verá limitada a sua publicidade. 100 Gramas de massa não devem ter mais que um grama de sal. A arbitrariedade burocrática leva a considerar recomendável o pão branco que efectivamente não é saudável mas tem menos sal que o saudável pão integral com 1,5 gramas de sal em 100 gramas.

Na realidade um nonsens. Uma baguette de pão branco francês, não recomendável para a saúde, ganha contra a saudável fatia de pão escuro alemão. Se os padeiros alemães deixarem!…

Padeiros alemães ridicularizam as pretensões da Comissão designando a iniciativa como “polícia europeia do gosto” que quer uma “uniformização europeia do gosto”.

A posição indiferenciada que se tem observado em directrizes do género possibilita uma campanha contra a produção de víveres tradicionais. O mesmo que se assiste nas campanhas contra as culturas nacionais em benefício dum internacionalismo colectivista observa-se também contra a agricultura: maçãs de cara lavada sem borbulhas e a correspondente descriminação das pequenas ou deficientes, etc! O progressismo parece estar de relações cortadas com a cultura; por enquanto ainda vai poupando as culturas migrantes exóticas de fora!

Nesta luta encontram-se da parte da Directiva as organizações de defesa do consumidor contra a obesidade tensão arterial e doenças de circulação. De facto há produtores que abusam na sua propaganda louvando certas substâncias saudáveis mas calando quantidades excessivas de açúcar, gordura ou outras substâncias indesejáveis.

Para se impedir um erro comete-se outro. Colocam sob tutela todo o cidadão que cada vez se vê mais privado da sua responsabilidade. O estado começou por nos proibir o porte de armas prometendo-nos justiça, depois meteu-nos a mão no bolso prometendo mais solidariedade, depois até na cama e na vida de relação sexual entrou. Só parece terminar quando nos possuir todo.

A União Europeia determina e depois o ministério da saúde em Portugal que se arme em polícia. Haverá então muitas surpresas quando muitas especialidades da região, forem postas na lista negra.

O problema da pobreza não é regulamentado! De facto, muita da gordura que se vê especialmente nos bairros sociais das cidades é fruto dos produtos baratos que consomem. Uma das boas medidas preventivas seria: proibida a entrada a pessoas em bairros sociais; proibida a exploração do Homem pelo homem!…

António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com

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LAVRADORES DEMASIADO CAROS À UNIAO EUROPEIA

Portugal por cultivar por falta de fundos
António Justo
A União Europeia continua a despender, para a agricultura, 43% do seu orçamento (53 biliões) até 2013. 37 biliões destinam-se a subvenções directas e o resto vai para um pote destinado ao desenvolvimento rural.

A comissão europeia queria alcançar maior justiça na distribuição das subvenções directas da UE aos agricultores. Pretendia uma redução de 22% nos subsídios directos aos grandes produtores de leite. Os ministros europeus da agricultura reunidos em Bruxelas a 20.11 conseguiram um compromisso menos duro para os grandes produtores. É também recusada a utilização dos fundos da política agrária comum (PAC) para acções fora da União Europeia.

A Alemanha, que recebe 5,4 biliões de euros da União Europeia conseguiu, com outras nações de grande produção de leite na Europa, que lavradores que recebam mais de 300.000 euros de subvenções anuais renunciem apenas a 14 % o que corresponde a menos 240 milhões de euros para a Alemanha contra os 425 milhões (22%) que a Comissão europeia pretendia. Os lavradores que recebiam 5.000 euros de subvenção anual não vêem reduzidos os subsídios.
Apesar destas medidas o futuro dos consumidores e dos agricultores europeus não é seguro.

O que se poupa com a redução será aplicado em programas de protecção ambiental e num fundo do leite. No passado, quase todos os membros da UE produziram mais leite do que as quotas nacionais permitiam, concorrendo isto para o embaratecimento do leite. A quota de produção de leite passa a ser aumentada anualmente de um por cento nos próximos cinco anos. Prevê-se para 2015 a desistência das quotas de produção. Os produtores de leite protestam porque temem uma concorrência muito forte. Segundo eles há leitarias a pagar 25 cêntimos por litro quando os custos de produção andam pelos 40 cêntimos.

Subvenciona-se a grande produção agrária ficando as zonas de minifúndios desprotegidas. O Interior e o Norte de Portugal continuam a sofrer a sangria dos seus trabalhadores que têm de emigrar. É a luta da metrópole contra o campo.

A regulamentação da qualidade estética dos produtos a comercializar ainda continua adversária à produção de géneros agrícolas sem emprego de produtos químicos. Tudo medidas que beneficiam os grandes produtores contra os pequenos. Uma maçã tem que ser lisinha para se poder pôr no mercado. Por um quilo de maçãs pagam-se dois euros no mercado e por um quilo de bananas paga-se um euro.

António da Cunha Duarte Justo

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A CRISE INSTITUCIONAL DO ENSINO TEM UM NOME: SÓCRATES

A Ministra faz Parte do Problema – Governo, Sindicatos e Professores também

António Justo
Portugal encontra-se mal aproveitado. Quem vive fora do país, quem lhe quer bem e lhe reconhece grandes potencialidades, sofre, ao ver os descalabros que nele acontecem. Sofre mais do que os que vivem nele, pelo facto de poder confrontar e comparar maneiras de resolver os mesmos problemas em países diferentes, com mais ou com menos eficiência com mais ou menos diálogo, com mais ou menos respeito. Isto é possível na União Europeia porque os diferentes governos ocupam a maior parte do seu tempo a aplicar as mesmas directivas da UE. O que mais faz doer na comparação das atitudes dos governantes alemães com os portugueses é a diferente relação e atitude entre Estado e povo, entre governo e cidadão.

Tal como em Portugal, também a generalidade dos países da União Europeia se encontram empenhados na reforma do Ensino e com o problema da avaliação dos professores. O que contrasta e choca profundamente em Portugal é o autoritarismo e arrogância com que os criadores dos factos actuam. O comportamento ministerial e dos parceiros seria incompreensível num país como a Alemanha. Aqui a discussão não acontece apenas entre instituições couto, numa rivalidade de interesses de pelouros mas dá-se dentro da sociedade e dentro dos grupos de interesse institucional, para o melhor da nação que consta de todos.

Em Portugal todos falam muito bem, mas cada qual no seu poleiro!… Parece só haver galos em galinheiros sem galinhas! Apenas um exemplo: Há anos, na Alemanha, o Chanceler Schröder disse que os professores eram “Sacos preguiçosos” (noutra tradução possível “Sacos podres”). Logo o povo e o próprio partido lhe tapou a boca não aceitando inventivas ideológicas contra um grupo profissional, que, pelo que conheço, é muito empenhado e mais perto do aluno do que o docente português. A distância que se encontra em Portugal entre professor e aluno ainda é maior entre elite política e povo. Tal como os governantes portugueses, naturalmente que o professorado do quadro, ganha muito bem em termos de comparação com o operariado, não dando rendimento satisfatório em termos concretos e estatísticos.

A irresponsabilidade duma discussão pública de afronta directa, que procura, mono-causalmente, responsabilizar o professorado pela miséria do ensino nas escolas estatais portuguesas, só pode levar à confrontação. Afirmações incautas da ministra reduziam os docentes a bode expiatório, degradado ideologicamente, ainda mais a sociedade portuguesa. O grande responsável directo de tudo isto tem um nome: Sócrates. Se pensasse em termos de bem-comum nacional já há muito que deveria ter interferido qualitativamente na discussão. Assim, depois de batalhas desonrosas para todos, só o PM pretende sair ilibado, sacrificando possivelmente, também a ministra, quando bem lhe convier. (Naturalmente que o PS saberá arranjar uma boa esponja política para ela cair bem.)

Sócrates sabe que voltará a ser eleito novamente e tornará a ocupar o lugar por uma nova legislatura. É de desejar que então aproveite a oportunidade para se tornar mais um homem de Estado e menos um homem da ideologia e do burocratismo de tipo mercenário. Portugal mereceria mais e melhor. Portugal precisa de politicos menos vaidosos, menos absorventes dos ecrãs das TVs para dar oportunidade ao povo para pensar. Precisa de mais trabalhadores, no governo e nas instituições portuguesas. Precisa de pessoas à medida dos trabalhadores simples que têm de emigrar de Portugal para enriquecerem outros povos com o seu trabalho abnegado e sério e que ainda enviam o resto amealhado para ir ajudando a manter um Portugal já há muito distraído de si mesmo.

Não chega que a Ministra da Educação Maria de Lurdes Rodrigues consiga desviar a chuva do capote do senhor Primeiro-ministro e que venha agora dizer o dito pelo não dito, tentando precipitadamente e mesmo fora de horas, sob pressão, corrigir o decreto-lei com um despacho. O que o orgulho e a arrogância de estilo não deixaram fazer, faz agora a necessidade.

A reforma não se faz contra os docentes mas com eles. Talvez também os sindicatos, que agora tiveram de correr atrás da multidão dos docentes, apanhando o comboio já em andamento, consigam manter mão nos professores para depois os obrigarem a aceitarem decisões incómodas. Para se imporem terão de aprender a ser menos coutada, menos ideologia, menos oportunidade para carreirismo político e libertação de aulas nem meros defensores de aumentos salariais duma classe. Terão de, a partir da escola e da sociedade, passar a dar resposta às necessidades da escola e do povo português.

A reforma não pode partir apenas de ideias abstractas e dum proceder tecnocrata orientado para postos. A sociedade portuguesa tem sido devastada com os ventos da ideologia e do moralismo. Não chega aferir a escola a um sistema económico em crise sem ter em consideração as condições de ensino. Não se trata de negar o velho em nome do novo, nem de destruir um sistema para construir outro – somos comunidade. Se os professores tivessem mais ligação com os pais certamente que não se sentiriam tão inseguros. Os professores têm de sofrer, tal como os pais, com o insucesso dos alunos. O facilitismo e a lei do “desenrasque-se quem puder” não leva longe. A ideologia continua a ser o cancro de Portugal. Com ela é fácil enriquecer, como provam muitos políticos. No século quinze eramos orientados pela ideia do comércio. Especialmente a partir do século dezanove Portugal a casta política portuguesa tem feito a experiência de que apostar na ideologia cria riqueza sem se sujar as mãos e o povo vai nela. Basta para isso apoderar-se dos meios de comunicação e apreguar o facilitismo.

Naturalmente que é necessário acordar a pasmaceira em que Portugal vem vivendo, há já séculos. Em especial a escolas públicas portuguesas têm vindo progressivamente a ser mais desautorizadas. PISA cria muito stress a uma sociedade, até agora, abandonada a si mesma. Não chega a contínua importação de modelos implementados de cima para baixo. Trabalho, disciplina e riqueza eram, para os nossos revolucionários, símbolos de fascismo. No tempo da revolução todo o que mostrasse um pouco de bom senso era chamado “facho”. Causa dor constatar que a revolução engole os seus próprios filhos! Naturalmente que hoje é difícil agarrar as “rédeas” dum povo à solta! O problema é que não temos elites com capacidade para isso, encontram-se acomodadas, demasiadamente habituadas a viver na administração da miséria, porque sabem estar à frente dum povo que nada exige deles. O “patrão” tem sempre razão.

Já temos um povo em grande parte vítima! Será que as nossas elites terão uma necessidade intrínseca de vítimas para poderem subsistir? Temos Sócrates, temos que viver com ele, porque também faz trabalho sério. Sócrates tem que contar também com o povo que tem. Se este fosse diferente também Sócrates seria diferente. Os erros dum são os erros do outro!

O problema de Portugal não é geográfico, é de sistema e de mentalidades.

António da Cunha Duarte Justo

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PCs Magalhães não chegam às Escolas de Português no Estrangeiro!!!!

O Governo faz render o peixe da “sua dele” oferta de computadores
António Justo

Em Portugal, o Carnaval e o Natal anteciparam-se, pelo que o Pai Natal tem andado, pelas escolas, a distribuir PCs Magalhães às crianças.

Se antigamente os presentes eram trazidos por um menino Jesus, apoiado pelo esforço escondido da família, que descia enfarruscado pelas chaminés, hoje são-nos trazidos por um Pai Natal polido a expensas do Contribuinte e com o trenó da TV.

Uma das razões, porque não haverá oferta de portáteis para alunos portugueses no Estrangeiro, estará no facto de aqui o Carnaval e o Natal terem datas fixas.

Além disso, as más-línguas explicam que os filhos dos emigrantes, obrigados a sair de Portugal à procura de trabalho, já pertencem à categoria dos felizardos e, para mais, vivem em Países em que já não se acredita no Pai Natal. Pessoas mais ligadas à administração explicam a posição governamental com a impossibilidade técnica da RTP poder fazer a cobertura de tantas acções de distribuição em tão pouco tempo. Gente mais ligada à política explica a discriminação governamental dos emigrantes com o medo do Governo devido aos perigos provenientes do descontentamento migrante com a última medida do governo que os impede de votarem para as eleições por carta. Pessoas mais simples e mais idosas limitam-se a dizer que o Estado português em relação aos emigrantes só conhece a mama.

Margarida Davim, em SOL 17.11.2008, refere que o palco, desta vez, escolhido por
José Sócrates, para entrega de computadores a alunos do 1.º ciclo, foi a Escola do Freixo, em Ponte de Lima. Esta encenação promotora do brilho do PM vai sendo feita a conta-gotas e sempre sob os projectores da televisão para que o povo distraído não esqueça quem é pai. A RTP não mostrará o desengano dos alunos que receberam os PCs para a fotografia, porque Sócrates já não se encontra lá. De facto, depois da encenação televisiva, as crianças tiveram de devolver os portáteis. No dizer do conselho executivo da Escola do Freixo, a distribuição «depende da logística administrativa» e a escola terá de «preencher toda a papelada e os pais que não estiverem abrangidos pelo 1.º escalão da acção social escolar vão ter de fazer o pagamento do computador».

Tudo isto até pareceria uma paródia feita por gente adversa à governação de Sócrates se esta gente não tivesse a experiência do comportamento doutros governos europeus e se a realidade da cena política portuguesa não lhes desse razão. As pessoas de meia-idade ainda se lembram do corta-fitas e de políticos que pareciam não ter mais que fazer senão passear a sua personalidade de inauguração em inauguração, sempre presentes nos ecrãs da RTP. Em Portugal parece confundir-se modernidade e realidade com virtualidade.

Parece termos um Primeiro-ministro para inglês ver! Só que quem vê o teatro português de fora fica enjoado. O pior de tudo é que a malta nem nota. Parece vivermos num país do faz de conta e numa democracia para inglês ver. Temos uma elite política mediana com tiques de rico homem e um povo alheio e sistematicamente alheado. O que os nossos políticos se permitem em Portugal seria ridículo numa Alemanha: Um primeiro-ministro em continua campanha eleitoral, uma ministra da educação autoritária e tão segura da sua fé que, ao ser entrevistada, até faz engasgar a entrevistadora, um governador do Banco de Portugal que se arma em representante da Organização dos Patrões e tem o desplante de culpar os desempregados pelo desemprego por receberem subsídio a mais.

Os nossos políticos conseguem viver bem com meias verdades. Constituem a classe que em nome e à custa do proletário consegue viver melhor em Portugal.

A entrega virtual dos PCs e outras vaidades governamentais ficam mal num PM que poderia ser um bom primeiro-ministro se não fosse o vírus inerente a certas elites portuguesas. Senhor PM, para quem pretende ser sério e quer ser levado a sério, fica-lhe mal tais bizantinices. Fica-lhe mal reservar para si o anúncio das boas notícias e deixar as más para os outros. É verdade que assim o povo é levado mas já não estamos no tempo em que o anunciador da má notícia era morto. Para mais, a oposição é tão fraca que o senhor não precisaria de usar de estratagemas cínicos para a vencer!

Se queremos um país moderno temos todos que mudar de mentalidade e tomá-lo a sério.

António da Cunha Duarte Justo
antóniocunhajusto@googlemail.com

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