Quem controla o Pensamento assume o Poder sobre a Vida
António Justo
Os nossos pensamentos são muito poderosos porque produzem a nossa realidade. Eles influenciam os nossos sentimentos que, por sua vez, influenciam as nossas percepções, o nosso comportamento e consequentemente a maneira como reagimos às coisas que nos rodeiam. Nesta perspectiva, nós próprios somos os criadores da nossa realidade através dos pensamentos que determinam as nossas acções (Não era sem motivo que aprendíamos na catequese a examinarmos a nossa consciência a nível de pensamentos, palavras e obras!). Nos anos 60 frequentei um curso de hipnotismo e desde então nunca me esqueci de uma ideia nele transmitida e que se resume mais ou menos nisto: cria uma ideia força numa pessoa e ela levará essa ideia à acção. Os pensamentos positivos e negativos da nossa mente tornam-se determinantes no desenvolvimento das nossas vidas. Daí a importância de um certo controlo sobre eles para podermos ter mão na nossa vida.
Também sabemos da física quântica que o pensamento e as palavras são portadoras de força viva (positiva e negativa) e criam realidades.
Se observarmos os nossos telejornais é fácil verificarmos – até pelo seu abuso em noticiar o negativo – que as pessoas reagem mais às coisas negativas. O desejo da ordem e de reconhecer os perigos fazem parte da tradição cultural e do nosso gene biológico e tem um certo fundo real a figurar no nosso inconsciente vindo da experiência de que, geralmente, o mal-organizado consegue submeter a bonomia do rebanho.
No outro extremo encontra-se uma imensa literatura sobre o pensar positivo que também se pode tornar tóxica (uma positividade venenosa que leve a um optimismo sem cautela).
Antes de passar aos grandes benefícios do cultivo do pensar positivo gostaria de dizer que devemos estar atentos aos extremos porque no centro de dois extremos costuma residir a virtude. Para que os pensamentos positivos tenham a sua acção benéfica, os problemas e os sentimentos dolorosos não devem ser reprimidos, porque tudo o que não foi resolvido regressa e, muitas vezes, de uma forma ainda mais forte. Um teste sobre a aplicação do pensamento positivo poderá constar da análise se ele ajudou a sair do impasse de situações problemáticas e se houve algo que mudou. Doutro modo poderia tornar-se numa estratégia de autoengano propagandeado. Aqui, o factor mais importante será verificar que através da atitude positiva se chegue ao encontro consigo próprio e a um encontro interpessoal, através de uma atitude autêntica e não apenas de ficção externa que poderia levar ao autoengano (projecções, etc.) e, mais tarde, até a ter consequências maléficas na própria vida! De facto, há que “confiar na Virgem”, mas sem se esquecer de correr (1)!
É de suma importância tomarmos consciência do poder verdadeiramente surpreendente do pensamento sobre o ser humano, para nos darmos conta do que acontece em política para controlar a sociedade e também refletir e tentar direcionar o poder do pensamento no sentido positivo da própria vida. O mundo exterior (tecnologia, desenvolvimento, etc.) é todo ele construído na base de ideias.
Naturalmente, um pensamento fica muito atrás de um céu estrelado, de um arco-íris, de um pôr do sol, de uma trovoada…. Relevante é a força de vontade e a liberdade de poder orientar a direcção dos próprios pensamentos, sentimentos e, com estes, as obras.
Em vez de nos abandonarmos à espontaneidade das ideias será de importância ter a consciência de as poder guiar e, para tal, usar da vontade para fomentar ideias positivas. Torna-se necessário dar-se conta do que se pensa e observar e analisar o próprio pensamento. Se for negativo será necessário centrar-se num pensamento positivo para o ter como alternativa e assim poder substituir o negativo pelo positivo.
O pensamento positivo é como o sol que dá energia e os pensamentos negativos puxam-nos para a sombra da vida roubando-nos a força. Certamente também um caracter pessimista tem os seus benefícios ao ajudar-nos a ser cautelosos, desde que não medrosos. Ele pode também criar uma margem para se reflectir (momento do controlo) e não se fazer, sem mais, algo temerário.
O positivo e o negativo podem ser comparados a altas e baixas pressões atmosféricas na pessoa. Como o pensamento dirige a vida social e lidera também a vida individual é importante investir-se no positivo, porque é isso que nos leva à frente, e o negativo puxa-nos para trás. Relevante é tirar o melhor de cada situação no sentido de resolver o problema e não de mantê-lo. De acordo com Rudolf Steiner, deve-se lutar para elevar o valor existencial da personalidade humana.
O olhar negativo é selectivo e tende a fixar o sentido na negatividade e como tal a acrescentá-la! Se a base da nossa experiência na infância e na adolescência foi amorosa, positiva, então será mais natural um caracter benévolo e inclinado aos pensamentos positivos.
Em cada coisa negativa haverá também algo positivo a descobrir porque a lei da polaridade vale em qualquer lugar. A lei da gravidade, também no aspecto do comportamento individual puxa para baixo, exigindo, tudo o que aponta para a excelência, um certo esforço. Quando andava no seminário em Arouca, todos os dias havia uma pequena palestra de cera de três minutos feita pelo director antes de irmos para a cama e essa conversa tinha sempre um caracter positivo e a última reacção dos ouvintes era a boa disposição e, muitas vezes, o riso. O nosso humor depende muito de onde concentramos a nossa atenção,a nossa actividade mental e espiritual, que se pode tornar em fonte de energia numa perspectiva construtiva e criativa na medida em que o ambiente social o favoreça.
Quando vivia em Lisboa, por vezes ia ao Casal Ventoso assistir a doentes ou moribundos e quando chegava a casa cheguei a ouvir dizer a um colega que eu cheirava a morte. Exteriormente, os sentidos fixavam-se no que percecionavam. Mas interiormente sentia-me iluminado. O mesmo não se dava, por vezes, quando fazia assistência a uma prisão em Kassel! Aí, quando chegava a casa dizia-se que a minha aura era, por vezes, negativa. Naturalmente tudo exterioridades, mas um sinal que as ideias e as situações influenciam a nossa maneira de estar. Uma coisa que notei na minha vida foi que se realizou nela, em grande parte, o que antes pensei, naturalmente ajudado pela vontade.
Marie von Ebner-Eschenbach disse uma vez: “Não é o que nós experimentamos, mas o que sentimos sobre o que experimentamos que faz o nosso destino”.
Além dos pensamentos positivos torna-se essencial tomar também iniciativas de caracter social porque também a actividade protege da negatividade principalmente quando é de origem depressiva (2), o hábito é realmente difícil de se ultrapassar!
Quando fazemos alguma coisa por amor estamos a sair de nós (ou a entrar no nosso âmago) e deste modo a aumentar o nosso eu espiritual e social; então, o outro passa a fazer também parte positiva da nossa vida.
O exercício do pensar positivo para ser verdadeiramente frutífero acontece numa relação eu-tu e não numa relação eu-objecto. Não se trata de exercitar o pensar positivo pelo simples pensar positivo, mas de ordenar a vida numa “plataforma” de boa vontade, numa atitude benevolente perante a vida e perante os outros.
Por vezes esta benevolência torna-se difícil devido a uma experiência negativa (sem conforto nem consolo) feita na infância e na adolescência. Uma experiência de ter sido escravo de alguém e sem a experiência de um amor experimentado no regaço materno complica a própria vida e a dos outros; pode mesmo levar a pessoa a saltitar de pedra em pedra para fugir à lama do caminho (que lhe foi roubado) e desta forma o afectado deixa de ter a experiência do caminho e o sentido de fazer caminho por si mesmo (passando a vida a ocupar a mente e a reparar os caminhos que outros estragaram). Ao tornar-nos conscientes sobre o nosso currículo emocional e mental surgirão pensamentos que darão sentido à nossa vida (Aqui terão o caminho mais facilitado os tipos de caracter optimista e sanguíneo).
A sociedade não anda bem porque em vez de criarmos os próprios pensamentos seguimos e falamos do que a sociedade nos impinge em vez de trabalharmos em nós mesmos, corporal e espiritualmente.
Quando andava no colégio gostava de jogar futebol, mas havia um colega jogador e árbitro que fazia do jogo um combate com regras próprias. Então eu ia aos arames mas como me queria autodominr comecei a pegar numa pedrita que, durante o jogo, apertava na mão ou, por vezes, numa medalha para me lembrar que deveria estar atento ao jogo e não ao que o colega queria fazer dele (Era uma maneira talvez inocente de tentar substituir os pensamentos negativos por pensamentos positivos!). Mais tarde, em situações críticas, bastava-me uma jaculatória para me desviar da negatividade. Com o tempo as coisas integram-se na vida e tornam mais fácil as atitudes do dia a dia. A ideia de fazer uma boa acção por dia ajuda também a nossa satisfação. (Às coisas que disse positivas sobre mim tenho muitas outras negativas que também poderia nomear, mas que não vêm a propósito para aqui: importante é vivermos de bem connosco mesmos reconhecendo o bem e o mal de que somos portadores mas cuidando em nós a vontade de um agir baseado, pelo menos, na boa intenção!).
Um caminho sem meta não honra a caminhada; quando muito é um caminhar à roda, um andar à volta de qualquer coisa como se fosse um planeta sem vida própria. Da visão de cada olhar dependerá a grandeza ou a pequenez da paisagem. A energia disponibilizada é proporcional à esperança nela investida.
O bem não é abstrato só existe ao ser feito. Não vale a pena procurar ser melhor do que os outros, basta procurar ser-se apenas um pouco melhor do que se é. À medida que mais se compreende mais se perdoa a si e aos outros! Para julgar uma coisa ou uma pessoa é preciso compreendê-la e para a compreender é preciso tornar-se parte dela! Somos parte de uma comunidade e só subsistiremos em comunidade. Daí a importância de promover o nível da própria consciência para que também a consciência colectiva evolua no sentido de respeito mútuo, integridade e responsabilidade. O desenvolvimento individual e social está dependente da mudança da mente individual e da mentalidade social numa de empenho de pensamento e sentimento no sentido positivo. O pensamento positivo leva ao agir positivo. De facto, quem controla o pensamento assume o poder sobre a vida (3).
O neurologista Antonio Damásio, na sua teoria do pensamento e do sentimento, chegou à conclusão que os sentimentos e os pensamentos estão indissociavelmente interligados.
Damásio tem o grande mérito ao pôr na ordem do dia não só a racionalidade, mas também a emocionalidade. Esperemos que Damásio seja o iniciador de uma nova era mais equilibrada.
De facto, o racionalismo e a escola iluminista serviram-se da filosofia de Descartes e do seu “Penso, logo existo” para se afirmarem e legitimarem a sua mundivisão exageradamente racional e de que, no meu entender, hoje estamos ainda a sofrer socialmente as consequências. A Ciência ao desleixar as emoções como fundamento do ser da pessoa deixou-se levar pelo Zeitgeist então propagado. Damásio tem o grande mérito ao pôr na ordem do dia não só a racionalidade, mas também a emocionalidade. Esperemos que Dámasio seja o iniciador de uma nova era mais equilibrada.
Como consequência também a neurociência moderna terá de deixar de exagerar nos aspectos cognitivos da terapia e dar mais relevo à interligação racionalidade e emocionalidade.
A Psicologia Cognitiva Comportamental tem como ideia central da terapia a frase “sente-se como se pensa”. O seu principal objectivo é mudar a forma de pensar e sentir: “substituir crenças negativas por crenças positivas”. Uma pessoa é influenciada também pelo que se passa à sua volta e o ambiente afecta a forma como se pensa, age e sente.
Os pensamentos influenciam os sentimentos, mas, inversamente, os sentimentos também influenciam os pensamentos. Um deprimido pensa de forma mais pessimista e comportar-se de forma negativa porque treina o cérebro para ser infeliz (Por vezes, em estados depressivos é necessária a intervenção medicamentosa)!
Resumindo: o poder do pensamento para a nossa qualidade de vida observa-se no facto de o pensamento negativo gerar sentimentos negativos e na consequência atitudes negativas e do pensamento positivo gerar sentimentos positivos.
A melhor arte para se ser infeliz é treinar o cérebro com pensamentos negativos ou em caso de depressão deixar que os sentimentos tomem conta dos pensamentos!Então seremos infelizes e semearemos infelicidade!
O que nos distingue dos animais é a capacidade de pensar independentemente embora estejamos conscientes das diferentes interferências a nível de pensamentos e de sentimentos.
António CD Justo
Teólogo e Pedagogo
©Pegadas do Tempo
- (1) “PENSAR POSITIVO” UMA ONDA AGRADÁVEL QUE SE PODE TORNAR PERIGOSA https://antonio-justo.eu/?p=5051
- (2) O pessimismo pode levar a ver-se e sentir tudo ligado à própria pessoa, por medo ou falta de confiança. Daí a necessidade de procurar ter interesse (participar) no mundo e em coisas que geralmente não nos interessariam, doutro modo corremos o perigo de, em situações de crise, nos encerrarmos no “nosso mundo”, rondando em torno de nós mesmos e criarmos um exército de servidores da própria situação (leitura de livros sobre os mesmos assuntos, escolha de amigos que nos prendem a nós mesmos porque por medo ou por cortesia nos confirmam nas próprias ideias ou sentimentos negativos sem que se possibilite um espaço próprio de reflexão / autorreflexão). Porque não começar a escrever um diário das próprias, ideias, sentimentos, acções e do que se desejaria ver mudado em si e no outro? Também o cantar em conjunto (coro) faz-nos entrar na ressonância universal e tira-nos da própria teia que amplia todos os nossos problemas e perigos. Encontrar-se com amigos onde reine o bom humor faz de ventil e desencadeia-nos das miudezas do dia a dia. Cada risada que se tenha é um banho de sol que faz sempre bem e especialmente depois de algum mergulho em água fria.
(3) Palestra que fiz a um grupo de pais e encarregados de Educação em 2009