Reforço das Posições minoritárias do Conselho da UE? Apesar disso Portugal em Perigo?

SEM O REINO UNIDO A POLÍTICA ALEMÃ FICA EM MINORIA NO CONSELHO DA UE

António Justo

Muitos alemães andam bastante desiludidos com o Brexit. Agora a “fracção do sul”, em torno da França, passa a ter uma posição determinante dentro do Conselho da UE na determinação dos seus destinos; a Alemanha perde os 29 pontos da sua aliada GB. Enquanto os países do Norte apostavam na força da economia (liberalismo económico) e no reformismo, os do Sul desafiam mais o Estado que querem mais forte e consequentemente com uma política mais proteccionista.

O grande problema alemão surgirá da falta do Reino Unido na UE, porque, segundo a constituição da UE, bastam 35% dos votos dos Estados membros para bloquear as decisões. A França passa assim a ter mais poder e, deste modo, poderá, com os membros do sul, fomentar o proteccionismo, retardar as reformas e talvez conseguir um Euro mais fraco. Consequentemente, a Alemanha passará a ter uma posição minoritária no Conselho Europeu. Por isso fará tudo por tudo para que se faça uma mudança do contrato da UE no sentido de voltar a introduzir o fortalecimento das posições minoritárias. (Por outro lado a França está muito dependente da Alemanha, o que a não tornará muito fidedigna na qualidade de defensora dos interesses dos estados dos sul).

O Prof. Dr. Hans-Werner Sinn adverte a Alemanha para intervir no sentido de fortalecer a sua posição em relação à nova constelação de forças entre os Estados membros depois do Reino Unido abandonar definitivamente a UE, o que acontecerá certamente em 2019. As negociações do Brexit começarão no Outono e prevê-se que se prolongarão por dois anos. A GB está interessada em colocar a sua economia em fraldas enxutas, neste espaco de tempo; não é mero acaso o facto de a primeira visita ao estrangeiro da chefe do governo británico ter sido à Alemanha, onde foi recebida com honras militares.

Perderá Portugal perder o seu potencial futuro?

O Reino Unido, como potência europeia de grandeza comparável à França e à Alemanha ao pretender sair da UE talvez o faça também por razões de poder soberano e de influência muito concretas. A razão fundamental do Brexit veio da política de refugados na UE e das consequentes medidas para limitar a soberania dos países. A Inglaterra sabe bem que se continuasse na UE teria muito provavelmente, também ela, de colocar o muito do seu mar à disposição de Bruxelas (UE) que com o argumento de criar uma fronteira comum contra os refugiados se apoderaria dos mares que pertencem de momento aos Estados ainda em parte soberanos! (Coitado de Portugal! Com a UE perdeu já a pesca e as indústrias de roupas e calçado mas com tal medida perderia o seu futuro!).

As grandes potências são eficientes nas suas estratégias e na preparação exímia dos acordos; seria de esperar que as elites dos Estados membros mais fracos, desta vez, estejam mais atentas para que futuros acordos não sejam feitos à custa da EU ou dos países menos atentos; doutro modo tornar-se-ia indiferente o pertencer ou não pertencer à UE. Ângela Merkel e Theresa May procuram ganhar tempo, o tempo que faltará a Bruxelas para poder pensar com a cabeça dos povos da Europa!

 “Não só de pão vive o homem” (Mt 4,4)! Os ingleses estão preparados para serem mais senhores deles mas também para apertarem o cinto: talvez se fechem um pouco ao mundo para se abrirem um pouco mais a ele! Quanto a problemas, como de costume, o povo suportá-los-á. Segundo uma investigação referida na imprensa alemã, 600.000 pessoas britânicas especializadas tencionam continuar a sua carreira profissional num outro país da UE; isto significaria um arrombo para a indústria britânica. A desunião da Europa fortalece outras potências na concorrência pelo poder económico, político e cultural num momento da História em que cada nação está dependente das outras. A Europa precisa porém de um grande abanão para poder acordar para a sua missão de caracter integral e inclusivo. Com a experiência das duas grandes guerras e nas figuras de Hitler e de Estalin a Europa autêntica acabou; poderia recomeçar de novo com uma Alemanha genuína (Infelizmente a Alemanha apenas se preocupa com a economia europeia sem ter em conta a defesa da sua cultura (também do idealismo alemão que atraiçoa!) Pelos vistos a UE tem em vista a destruição das possibilidades de futuro das soberanias menos poderosas!

A Europa é um mosaico de mentalidades diferentes. Os latinos são crentes do Estado; os germânicos reconhecem-no como pai mas confiam no próprio trabalho, na inovação tecnológica e na concorrência. Falta aos dois blocos a redescoberta da alma que os uniria no respeito por diferentes mentalidades.

Uma curiosidade

o Reino Unido e a Alemanha são governados por filhas de párocos: Theresa May e Angela Merkel determinam a marcha da Europa. As mulheres encontram-se na avançada também no FMI e os USA também passarão, certamente, a ser governados por uma mulher. Apesar da presença feminina relevante domina na política e na economia o espírito masculino protestante! (Talvez se consiga um equilíbrio social da masculinidade e da feminilidade na Europa quando os padres católicos poderem casar!)

Margaret Thatcher dizia: “Se quiseres que alguma coisa seja falada, pergunta a um homem; se quiseres que alguma coisa seja feita, pergunta a uma mulher.” Tem-se a impressão que os homens andam a viver à custa dos galardões anteriormente conquistados. A sua soberania continua visível numa sociedade de estruturas masculinas muito embora assumida por mulheres!

*Distribuição dos votos do Conselho da EU (órgão deliberativo)

França, Alemanha, Itália e Reino Unido têm 29 votos cada; Espanha e Polónia: 27 votos; Roménia:  14 votos; Países Baixos: 13 votos; Bélgica, República Checa, Grécia, Hungria e Portugal: 12 votos; Áustria, Bulgária e Suécia: 10 votos; Dinamarca, Finlândia, Irlanda, Lituânia e Eslováquia: 7 votos; Chipre, Estónia, Letónia, Luxemburgo e Eslovénia: 4 votos; Malta 3 votos.

António da Cunha Duarte Justo

 

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FESTA DE MARIA MADALENA A „APÓSTOLA DOS APÓSTOLOS”

Hoje dia 22 de Julho, a Liturgia católica celebra a festa de Santa Maria Madalena, a “apóstola dos apóstolos”.

Maria Madalena, discípula de Jesus, como testemunham os evangelhos (Lc 8,2-3; Jo 19,25; Mt 27,61;  Mc 15,40-41), foi ela a primeira a anunciar o facto pascal aos apóstolos (Mt 28, 9-10); Jo 20, 11-18) depois  de Jesus lhe ter aparecido e às mulheres.

Por isso S. Tomás de Aquino a denominou “Apóstola dos Apóstolos”. Madalena foi privilegiada com uma revelação especial, o que coloca a feminilidade como vertente espiritual privilegiada por ser a primeira testemunha da ressurreição. Na Bíblia não há provas a favor nem contra de que Madalena tivesse sido prostituta. Só pode ajudar a essa conclusão o facto de ela ser oriunda de Magdala, uma região de má fama e pelo facto de Jesus lhe ter expulsado sete demónios (o que simboliza o resumo de todos os pecados).

O filme Da Vinci conferiu a Madalena atributos que historicamente não têm consistência. Os gnósticos dão-lhe uma menção especial no evangelho apócrifo de Filipe, feito depois dos evangelhos canónicos. O evangelho de Filipe foi escrito em copta e não em aramaico.

António da Cunha Duarte Justo

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TURQUIA – UMA NAÇÃO DE BRAÇOS NO AR E DE LENÇO NA CABEÇA

GOLPE DE ESTADO DE ERDOGAN CONTRA A DEMOCRACIA QUE DEMOCRATICAMENTE O APOIA

O fascismo em marcha e a política europeia em sentido a fazer-lhe continência!

Por António Justo

A Turquia torna-se cada vez mais num país de braços no ar e de lenços na cabeça. O presidente turco Erdogan declarou a suspensão da Convenção Europeia dos Direitos Humanos e o Estado de Emergência por três meses, ficando assim com direitos absolutos. (Será esta uma maneira indirecta de poder também introduzir a pena de morte?)

Chega a ter-se a impressão que nos encontramos no início da era muçulmana! O radicalismo muçulmano determina o sentir dos povos e a cedência de liberdades nas chamadas sociedades livres. Ao saneamento de milhares de juízes, de soldados, de polícias e de outros funcionários da administração segue-se o saneamento dos agentes de ensino.

O despedimento de 1.5oo reitores de universidade e a retirada da licença de ensino a 21.000 professores do ensino privado é mais um acto radical eficiente para o saneamento de um Estado que Erdogan e seus sequazes querem ainda mais uniforme. Em todos os regimes os fascistas de direita e de esquerda procuram ter sempre o ensino sob o seu controlo ideológico. Ciente de que a religião é o melhor garante de sustentabilidade, Erdogan aposta sistematicamente no fomento de um islão sunita retrógrado; no tempo de sua actuação política, já foram construídas mais 10.000 mesquitas.

Este golpista enganador trabalhou sistematicamente, a longo prazo, para conduzir o país ao fascismo.

Mais preocupante ainda é o facto de ter recebido 60% dos votos dos turcos que vivem na Alemanha e ainda o facto de muitos destes se manifestarem violentamente na Alemanha a favor do golpista Erdogan. Quando há algum acto terrorista, os mesmos não se manifestam. Na Alemanha vivem cera de três milhões de turcos e de turco-descendentes. À semelhança do que acontece na Turquia, apoiantes de Erdogan, organizaram um serviço online onde se pretende fazer o alistamento de cúmplices e simpatizantes com a intentona para poderem ser mais eficientemente perseguidos.

A raiva do povo contra as elites turcas, de orientação moderna, é insaciável. Erdogan, um filho do povo, vinga-se da elite secular servindo-se do povo. Em democracia o povo é quem determina a razão!

O presidente quer ser o novo Ataturk da Turquia mas no sentido contrário. Conseguirá atrasar eficientemente o ponteiro da história da Turquia e irá dar que fazer à política europeia que em breve terá de abrir as portas a muito mais refugiados: os da síria e de outros estados muçulmanos e ainda mais curdos e outros que o Estado turco ainda perseguirá mais.

A Turquia e o comportamento de muitos turcos na Alemanha poderia ser um sinal para o que a Europa acorde e reflita sobre o que está a acontecer à Europa sob a acção de políticos mais interessados em administrar a miséria e a decadência da Europa, do que em defender os valores que a tornaram grande e exemplar para todas as sociedades.

 

Erdogan, embora retrógrado e ditador, procura, à sua maneira, construir uma Turquia dominante. É um chefe oportunista coerente com os princípios muçulmanos que aposta no poder da luta cultural e religiosa, deixando atónitos os políticos ocidentais que, à custa da própria cultura e do povo, pensam dominar o mundo através da economia!

António da Cunha Duarte Justo

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ACORDOS CETA E TTIP DISCUTIDOS POR PARLAMENTOS ?

 

Bruxelas parece ter cedido à pressão dos cidadãos e do SPD que não estão de acordo que a Comissão da UE aprove as negociações de livre comércio CETA (e TTIP) sem serem discutidas nos parlamentos. As negociações dos acordos, de comércio livre, entre o Canadá e a UE (Ceta) e entre os EUA e a UE (TTIP) serão finalmente discutidos no parlamento alemão, acabando-se assim com o secretismo de negociações entre Bruxelas (Comissão Europeia) e o Canadá e os USA ( https://antonio-justo.eu/?p=2957 + https://antonio-justo.eu/?p=2962 )

A crítica dirige-se contra tais acordos que, no dizer de especialistas, prejudicariam os interesses de consumidores, empregados, e das empresas médias e pequenas, além de tirarem competência jurídica aos Estados envolvidos pois Ceta como TTIP prevêem, para questões conflituosas internacionais, um regime de arbitragem permanente, sem legitimação democrática. O Princípio alemão da precaução (antes prevenir que remedir) seria anulado em favor do princípio de remediações posteriores. Devido à pressão da rua, nos países onde o cidadão tem algo a dizer, os acordos terão de ser discutidos no parlamento.

António da Cunha Duarte Justo

 

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Os Golpistas da Democracia são Erdogan e Militares

TENTATIVA DE GOLPE DE ESTADO NA TURQUIA DE ERDOGAN

Por António Justo

O exército turco compreende-se como o defensor da Constituição e da herança secular de Ataturk, fundador da república. Interveio já muitas vezes nesse sentido; a partir de 1960 já interveio 3 vezes; a 27.05.1960 derrubou o governo porque este tinha restringido os direitos da oposição e a liberdade de imprensa; os militares permaneceram então 17 meses no poder.

A 12.03.1971 houve a segunda intervenção, desta vez contra o terror de grupos da extrema-esquerda; passado um ano, os militares possibilitaram um governo civil.

Em 12.09.1980, o exército interveio de novo contra o terror de extremistas da direita e da esquerda para impedir a queda da autoridade do Estado. Em 1983 os militares cederam o poder político aos civis. A 30.06.1997 o exército obrigou o primeiro-ministro turco islamista Erbakan a abdicar do governo. O presidente turco Erdogan encontra-se na continuidade de Erbakan.

A actual intentona de 15.07.2016 falhou. Os responsáveis da conspiração justificaram-se dizendo que queriam reimplantar a ordem constitucional democrática e restabelecer os direitos humanos. Erdogan apelou a toda a população a sair para a rua para defender a democracia. Esta acedeu ao apelo e impediu os blindados de avançar.

Na tentativa de golpe, houve 290 mortos (100 golpistas e 190 civis e das forças leais ao presidente) e mais de mil feridos: Depois da intentona Erdogan vinga-se, mandando aprisionar 7.500 pessoas, entre elas, pelo menos 2.900 militares, provocando 8.500 demissões e cerca de 30.000 empregados públicos foram suspensos e quase três mil juízes e procuradores da justiça foram exonerados . A “limpeza” acontece a uma velocidade tão deslumbrante que demonstra já estar tudo antes preparado. O Estado de Direito é Erdogan.

A SIDH (Sociedade Internacional para os Direitos Humanos) conclui que estas medidas já estavam previstas antes da intentona. A SIDH adverte ainda que a Europa não se deve deixar chantagear por Erdogan também na crise de refugiados. Segundo a SIDH o governo turco apoiou de facto o “Estado Islâmico” (IS) tornando-se também ele cúmplice na origem da crise dos refugiados. 

O presidente turco já tinha conseguido, paulatinamente, neutralizar a posição moderadora que os militares tinham no aparelho de Estado, tornando o Estado cada vez mais repressivo e perseguindo sistematicamente os jornalistas não conformes. Agora com uma intentona mal organizada e dividida e uma oposição a ter de condenar o ataque à „democracia”, as forças reaccionárias ganharam maior legitimação.

O golpe de Estado falhado foi considerado pelo presidente Erdogan como “o dedo de Deus” que ele usará, como alibi, para institucionalizar o seu despotismo sombrio. Aproveita para se vingar da liberdade e fazer os saneamentos que desejar. Erdogan, que antes reprimia as manifestações, apela agora ao povo para se manifestar a favor dele, até ao momento em que possua poderes absolutos! (Há que ter em conta o facto de a cultura árabe ser mais propícia ao fascismo do que à democracia e muitas vezes as forças militares serem as mais modernas e abertas, aquelas que culturalmente estão mais próximo das formas de Estado ocidentais!)

Dado a Turquia ser um membro da Nato e Erdogan poder voltar a introduzir a pena de morte (abolida em 2004 para poder iniciar conversações no sentido de vir a ser membro da UE) e poder reduzir ainda mais as liberdades cívicas, a Nato e a UE já se manifestaram no sentido de Erdogan usar moderação e proporcionalidade nos meios utilizados como reacção à intentona; se introduzir a pena de morte, a candidatura da Turquia para a UE fica bloqueada. A Turquia, mais religiosa, não está interessada numa EU que acarreta consigo muitos compromissos abertos.

A Turquia tem muita importância para a Nato devido aos seus 600.000 soldados e à sua posição geográfico-cultural estratégica.

A Turquia já começou a mostrar os seus músculos em relação à UE e à Nato ao procurar estabelecer amizade com a Rússia, pedindo desculpa a Putin pelo avião russo que fez despenhar. Para dominar não olha a perdas, seguindo a estratégia: “o inimigo do meu inimigo é meu amigo”. Em relação à UE, o leão do Bósforo sabe que tem os políticos europeus na trela porque dele depende a quantidade de refugiados que vêm para a Europa e da quantidade dos refugiados na Europa depende o destino dos políticos no poder. As prioridades de Erdogan para a Turquia são: 1° combater os curdos e o PKK, 2° depor o presidente da Síria e 3° luta contra o EI.

Erdogan tem não só a sua democracia religiosa mas também muitos trunfos contra a UE e contra a Nato, podendo manipulá-los à vontade. É esperto; aposta naquilo que mais tem: a religião que os outros não têm e os pontos fracos dos interesses que os outros têm. A Turquia de Erdogan já não precisa da Europa, ele já a tem nos turcos e muçulmanos que nela vivem!…

Na Alemanha as associações turcas apoiam o presidente e dos minaretes e  das mesquitas ressoam não só as vozes de oração, mas também palavras de ordem contra os infiéis. Os turcos saem às praças alemãs para apoiar Erdogan; é estranho porém que nunca desçam às ruas para condenarem o terrorismo muçulmano!

Um provérbio português diz:” “Onde reina a força, o direito não tem lugar.”

Assim continua a tragicomédia política a nível internacional: a política manobra-se entre o oportuno e o cinismo e o resto anda estupefacto. A esperteza engana-se enganando; não conta com o tempo, só olha para a próxima oportunidade, passando o tempo a entreter idiotas.

António da Cunha Duarte Justo

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