Nas pegadas de adversários fantasmas – clubismo de baixo e corporativismo de cima
Por António Justo
Em Portugal, encontramo-nos num tempo de contradições em que para se defender a democracia há necessidade de, em geral, se falar contra o governo que, por mera ganância do poder, se obriga a branquear partidos antissistema (antiNato, antiEuro, antiEU) e contra a atitude dos partidos políticos que se encontram envolvidos ou comprometidos num tipo de política único na Europa (branqueamento do crime capitalista e do crime socialista) .
Schäuble referindo-se à situação da economia portuguesa, com a afirmação “Portugal estava a ser bem-sucedido até entrar um novo Governo”, colocou-se fora de jogo ou em bola de futebol para os senhores dos clubes fazerem o seu jogo. Por um lado o ministro das finanças alemão, como faz parte dos grandes grupos financeiros e políticos que se beneficiam da fraqueza dos menos fortes, não deveria expor-se ao ataque invadindo o campo da política interna do país; por outro lado em questões de política internacional é aconselhado contensão.
Embora seja verdade o que diz, em termos de dados e de números, o ministro das finanças alemão não fez bem em dizê-lo como disse porque deste modo vem alimentar a discussão partidária em Portugal e dar oportunidade às falanges políticas para movimentarem o fervor patriótico e partidário em vez de se concentrarem na discussão da realidade da situação, dos dados e dos factos.
Na liga política internacional e de forma especial em Portugal tudo joga a tentar meter a bola no campo do adversário sem notar o que vai na bola nem reconhecer que tanto o defesa como o atacante jogam num campo político nacional sem balizas e por isso, depois de tanta corrida, o único proveito que se espera será o duche em água fria. Uma discussão séria teria de partir do princípio de que somos bons e maus e os outros também.
Neste país o sucesso político e os critérios de avaliação da governação não dependem da eficiência e dos resultados obtidos nem de uma análise objectiva da situação mas sim do aplauso das claques. Como domina o espírito de clube e de claque (clubismo em baixo e corporativismo em cima) no momento em que algum político estrangeiro chame a atenção para a realidade, como neste caso, logo nos Média se cala a situação para se atacar a afirmação. Este fenómeno é semelhante ao que acontecia nas guerras de antigamente: era morto quem, depois da batalha, trazia a notícia de que tinham perdido a guerra.
O povo fraco e indefeso agarra-se a alguém que o conforte emocionalmente e como é agradecido entrega a esse alguém a sua confiança e admiração (espécie de desculpa para a própria inacção); por isso também aplaude quem admira os seus admirados e reprova quem os questiona.
Economia e dados sobre a produção bem como iniciativas legislativas sem cobertura económica não são aquilo que interessa à generalidade de um público com uma educação cívico-política feita na perspectiva de elogio ou censura, baseados em conceitos estabelecidos que não dão espaço para perguntas. Como a vida é uma batalha, os estrategas da política portuguesa vivem em contínua batalha soalheira ad extra et ad intra não lhes resta tempo para o essencial. Schäuble tem um estômago grande que não sofre de azia mas com as suas palavras azedas aumenta a azia da imprensa portuguesa. Esquece que não só de pão vive o homem mas também das bocas que se dão.
O cúmulo da situação vem do facto de muitos dos nossos líderes narcisistas e sobranceiros não terem respeito pelas suas claques, dizendo que não querem “soluções populistas”, chegam-lhes as corporativistas. Agem segundo o mote: ‘Se queremos uma democracia qualificada, ela tem um preço’: o preço é a carência em que vive grande parte do povo português e uma pobreza envergonhada que não tem rosto para sair à rua. Deste modo, povo e líderes têm sempre razão.
Quem paga a paz social são as pessoas sérias que trabalham para os que vivem da paz social e dos que fazem guerra só para terem assento no parlamento.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo
SEXISMO NOS PARLAMENTOS
VISAO apresenta-se o resultado de um estudo feito com deputadas ofendidas pelo machismo envolvente. Cito: “O estudo questionou 55 deputadas de 39 países distribuídos pelo planeta: 18 de África, 15 da Europa, 10 da região Ásia-Pacífico, oito das Américas e quatro do mundo árabe. A maior parte representa partidos que estão no poder. Mais de 80% garante ter sido sujeita a atos de violência psicológica; 22% a violência sexual; 25,5% a violência física; 32,7% a violência económica. Entre as inquiridas, 65,5% diz ter sido sujeita, várias vezes, a comentários sexistas humilhantes, no decorrer do seu mandato”.
A política é um sector da vida onde o princípio da masculinidade se exerce com grande veemência. Ainda bem que na política e nos parlamentos a presença de mulheres se torna cada vez mais presente. Será de esperar que as mulheres aí presentes se tornem conscientes da sua feminilidade e a tornem presente na política não se deixando levar pelo princípio da masculinidade nela vigente.
ORÇAMENTO DO ESTADO – A DISCUSSÃO QUE SE EVITA
Não percebo porque razão se permite no Orçamento do Estado 2017 o endividamento das empresas públicas até 3% e mais? Um outro assunto é o aumento ridículo das reformas. http://www.arlindovsky.net/wp-content/uploads/2016/10/ppl37-XIII.pdf
SALÁRIO MÍNIMO NA ALEMANHA SOBE PARA 8,84 € À HORA
O governo de Merkel decidiu que o salário mínimo nacional na Alemanha passará a ser 8,84 € por hora a partir de 2017. Actualmente é de 8,50 €. O aumento de 34 cêntimos à hora corresponde à evolução geral de salários. A comissão conjunta de empregados e empregadores estiveram unanimemente de acordo neste ajuste.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo