CIDADANIA PORTUGUESA NO ESTRANGEIRO


Anexo na secção comentário o texto do PSD “Cidadania Portuguesa no Estrangeiro”.

É de louvar tudo o que seja feito pelo emigrante e luso-descendente.

Pelo que tenho observado desde há trinta anos na Alemanha, as iniciativas tomadas em relação aos emigrantes reduzem-se apenas à defesa de interesses institucionais e burocráticos à custa dos mesmos. O emigrante não tem benefício nenhum. Na Alemanha até o senhor deputado se tem de se submeter a promover a esquerda e a encostar-se a algum nome até com má reputação na comunidade. Não há interesse na promoção do bem comum e do partido. Isto poder-se-ia tornar incoveniente para os interesses pessoais de paraquedistas do oportuno! Com excepção da deputada Mesquita e do deputado José Cesário não tem havido pessoas à altura da emigração. Eleitos, arranjam os seus circuitos habituais de contacto agradável; se não são da esquerda encostam-se a ela, como tenho vindo a observar desde há anos. Ou será que apenas estarão interessados em questões consulares ou de grupinhos!… A ser assim, o circito de acção reduzir-se-ia a instituição – instituição

Infelizmente, os partidos em Portugal, como não estão interessados numa política no seio dos migrantes, tambem não estão dentro dos problemas da emigração entregando, por isso, o caso a duas ou três pessoas que, sem rei nem roque, podem fazer o que quiserem. Para as instituições em Portugal tudo está bem feito porque, a nível de informação, dependem totalmente daqueles. O que parece importar são as tempestades num copo de água. O resto é para inglês ver!

António Justo

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Música – Método de Cura Corporal e Espiritual

O ser da vida e do mundo é vibração é ressonância. Estas são comuns ao corpo e à alma de cada um dos nossos seres e ao existente. Na pauta de notas da vida trata-se de descobrir a nota de que se é eco para se poder entrar na solfejação geral e assim dar voz à sinfonia da vida universal. Uma vez entrados na onda trata-se de seguir o ritmo que nos conduz ao inefável, ao indelével. A música é, no seu verdadeiro sentido da palavra, bálsamo da alma. Ela conduz-nos ao limiar do espírito.

O ouvido é o primeiro sentido já em acção no ventre materno e o último a deixar-nos no fenecer. Através dele o mundo exterior chega ao mais profundo de nós mesmos.

A música cria grande ressonância nos vários areais cerebrais activando uns e desligando o centro do medo e activando o da lembrança.

A música não pode ser reduzida a caixote do lixo de sentimentos negativos e de frustrações nem tão-pouco a estímulo de sexo (Pop), nem a alienação de intelectuais (música clássica). Naturalmente que também tudo isto tem o seu sentido, não se esgotando aqui. Música é expressão do divino e meio de cura. Ela é a voz de Deus a vibrar quando nós entramos na ressonância do sentir, tornando-nos eco a agir.

Ao ouvirmos música sentimos coisas maravilhosas quer quando estamos sãos quer quando doentes e abertos ao milagre. A música, se não cura, melhora o nosso estado de saúde. Nos conventos, para entrarmos num estado de harmonia corporal e espiritual começa-se logo de manha por cantar o gregoriano. O canto chão, um poço monocórdico acompanha momentos importantes do dia.

A música consegue desatar, em nós, nós psico-fisiológicos e desenvolver forças curativas, como nos revela a harpa de David quando tocava para o seu rei depressivo. Muitos dos curandeiros da antiguidade e modernos utilizam os seus instrumentos musicais e o seu canto para curar. Também em muitas clínicas ou hospitais se usa a música como elemento sedativo e curativo.

Não só as vacas dão mais leite ao som de música clássica mas também as hormonas de stress diminuem no sangue dos pacientes e “surgem menos complicações depois das operações” como testemunham cirurgiões de clínicas em que se usa a música também como calmante. A música estimula o cérebro a predispor-nos para a mudança. A música encontra a sua ressonância no cérebro tornando-o flexível para o experimentável.

Daí a importância da promoção da música na escola e por todo o lado. Todo o educador, pai e mãe, se deveria preocupar por iniciar o educando, o mais cedo possível, na música. Esta aumenta a empatia e a inteligência.

Investigações feitas na clínica neuropsicológica da Universidade de Heidelberg na Alemanha chegaram à conclusão de que, com música, a massa cinzenta aumenta e as células nervosas adquirem maiores conexões, melhorando o intercâmbio entre os dois globos cerebrais. Além disso o sistema imune é estimulado e os acessos à memória e ao inconsciente são abertos pela música.

O mesmo se dá através da música litúrgica e da dança no que respeita ao ingresso na mística e no equilíbrio de corpo alma. O ritmo e a harmonia conduzem-nos à vibração e à ressonância com o todo. A música consegue desfazer os encrostações materiais conduzindo-nos ao limiar espiritual em que tudo é relação, amor, como se constata na fórmula trinitária. Na vibração forma-se a personalidade. A medicina chinesa opera muito com os campos energéticos e com o seu fluir. A terapia consiste em restabelecer a harmonia e o fluxo.

Toda a mãe canta instintivamente para a criança que sofre ou que se encontra em desequilíbrio. Segundo investigações feitas pela psicóloga Sandra Trehub, o canto provoca a diminuição das hormonas de stress por bastante mais tempo do que a fala.

A música abre as janelas do corpo e da alma: desbloqueia areais cerebrais e ajuda a recordação, aumentando em 30 % a capacidade de armazenagem do cérebro.

No mundo tudo vibra também as células cantam conseguindo a ciência distinguir já entre o cantar das células sãs e o barulho das cancerígenas. Oliver Sacks observou em todas as experiências que fez com pacientes Parkinson e pacientes com problemas de fala, que “a música actua como um precursor exterior”. Ela deixa no nosso cérebro como que pautas indeléveis que possibilitam o reatar de relações, orgânica ou psicologicamente, interrompidas.

A música ajuda a introspecção e auxilia-nos a chegar ao lugar do silêncio e da quietude em nós, ao lugar da criatividade, do amor divino. Daí surge a onda da gratidão, do milagre. Aí se ouve a voz que segreda no sossego e se repete nas ondas do oceano… Ela pode ajudar-nos a chegar ao nosso meio, ao meio do mundo, a Deus. Então, ouviremos em nós o vibrar do universo e a ressonância do diálogo trinitário baixinho do tudo em todos.

António Justo

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Doença – Caminho para a Cura

Vivemos na ilusão da verdade e da fantasia, puxados entre a banalidade do factual e um mundo de ideias feito que nos tornam incapazes de ter acesso à Realidade. Esta encontra-se na fórmula trinitária onde tudo se resolve na relação mais profunda, da vivência do nós através do eu descoberto na relação com o tu.

Geralmente passamos a vida a afastar-nos de nós mesmos e de Deus, do mundo integral. Tropeçamos ou escorregamos em tudo, sem ter, sequer, procurado descobrir-lhe o sentido. Por isso tanta doença em excesso, tanta desarmonia. Procuramos fora o que está dentro, quando o dínamo, o amor, escondido ou roubado, que tudo cura está em nós. É a presença divina subjacente à essência, ao ser das coisas que é preciso activar em nós. Então curamos e seremos curados. Por vezes até uma doença pode vir por bem. Certo é que no mundo só se avança através da dor. Há muitos que fazem dela um negócio.

Tal como a dor também a doença constitui um momento no acontecer do ser, com as suas vantagens e desvantagens. O nosso corpo é como uma paisagem que depende e reage ao estado do tempo, da alma. Nas doenças encontram-se mensagens da alma por descobrir. Muitas vezes, já a tentativa de descobrir o que provocou uma dor de cabeça, é suficiente para a tirar.

A relação entre consciente e inconsciente quer-se aberta para que os fluxos fisiológicos e psicológicos não se automatizem, destruindo-nos com o tempo. As imagens que se encontram no fundo do mar da alma esperam por ser trazidas à tona manifestando-se, por vezes, como sintomas e deixando rastos dolorosos.

A nossa vida, tão determinada por correrias, não é tida em apreço, pelo que não nos concedemos tempo suficiente para prestarmos atenção às mensagens do nosso corpo e do nosso espírito. Damos demasiada atenção ao que nos rodeia, fixando-nos nisto ou naquilo esquecendo-nos de nós, do sentido, estando desatentos ao que os nossos sentimentos e o nosso corpo nos quer dizer com as suas reacções. Em vez de nos darmos tempo submetemo-nos ao stress doutras correrias para remediarmos um mal por nós ou por outros maquinalmente criado. Para subjugarmos os diabos em nós acordados recorremos, por vezes a outros diabos que nos iludem.

Em tempo de crise recorremos a tudo e a todos; a nossa abertura passa por vezes a não ter limites. Surgem então muitas pessoas a querer-se ajudar, ajudando-nos. O melhor ajudante é o mais desamparado, o mais fraco. Só conseguiremos ajudar a desatar os nós dos outros quando já conseguimos desfazer algumas das nossas laçadas. O ajudante procura criar um campo de ressonância e de harmonia procurando envolver e integrar o paciente na vibração que lhe possibilita entrar em relação. Esta pode ser preparada por uma pessoa, uma música, uma respiração ventral calma, uma oração, meditação, palavra ou rito. A ressonância consegue não só influenciar os areais cerebrais como interferir no vibrar das células, diria mesmo, nas partículas quânticas. Ela ajuda-nos ao acesso às nossas fontes, a penetrar nos vários estratos na tentativa de chegar ao coração, ao âmago do ser que é puro espírito. Aí no lugar do amor divino jaz a fonte da energia que passa a correr pelo corpo desfazendo os bloqueios emocionais, corporais e espirituais. Uma vez aí chegados, a fé transporta montanhas, como dizia Jesus. O amor vibrante provoca a ressonância que tudo muda e tudo transforma. Então o acorde da natureza provocará a cura – os sons em sintonia com o espírito divino único actuante. Impulsionadores simplificam o processo da re-ligação concentrando-nos de modo a acendermos a chama da transcendência no nosso meio.

Ver, perceber e acreditar para lá dos cinco sentidos, predispõe para a vivência na participação dos vasos comunicantes que somos nós, constituídos de matéria e espírito em diálogo recíproco. Daí a necessidade de nos mantermos abertos para os fenómenos que estão por detrás do mundo físico e às capacidades paranormais, sem preconceitos religiosos nem científicos, sejam eles materiais ou espirituais; abrir-nos para a dimensão espiritual do saber colectivo escondido, o espírito em nós e no mundo. A realidade tem várias dimensões de acesso, entre elas, a mundana e a espiritual. A via espiritual não poderá estar ligada a escravidões da pessoa nem tão-pouco do seu porta-moedas. “A fé transporta montanhas “. Ela move a força do Espírito Santo em nós.

Trata-se de através do Espírito activar as energias jacentes em nós mesmos, com naturalidade e sem presunção. Mover a força através da entrega nas imagens interiores e do pensamento possibilitando outras dimensões em nós. Fiat voluntas tua!

A massagem terapêutica, a massagem da respiração, do silêncio, da música têm um efeito terapêutico conduzindo à cura, ao sagrado, à fonte da luz, à ressonância do amor em nós e em tudo. O tratamento através da virtude curativa numa combinação de espírito, alma, corpo e energias naturais, tudo aliado à energia das ideias, abre a nossa consciência para o acesso de energias superiores. No mais íntimo do nosso sacrário “dormem” potências milagrosas à espera de serem acordadas pela brisa do amor. O estímulo para o acordar pode ser o mais variado, independentemente das crenças e dos médios.

António Justo

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Independência do Kosovo – Golpe contra a intercultura


Politeísmo cultural ao serviço do deus mais forte e mais convencido

O sonho de Tipo, duma Jugoslávia inter-cultural, morreu com ele em 1980. O desmoronamento da sociedade jugoslava testemunha a decadência da intercultura em favor duma multi-cultura hermética conquistada na afirmação contra o vizinho. Isto é a consequência duma certa fraqueza democrática em que colonialismo cultural é aceite em compensação dum colonialismo económico. Se no passado o movimento civilizador se dava pela aliança de razões económicas e culturais, depois do ruir do sistema socialista, assiste-se a um colonialismo dissociado: por um lado a força colonizadora do capital através duma expansão económica desalmada (o ocidente está-se marimbando para a sua cultura) e pelo outro a força colonizadora da cultura através do Islão. Se é verdade que a economia determina os valores éticos à superfície, não deixa de ser menos verdade que a religião e a cultura é que lhe dão sonho e perspectiva.

A queda do império soviético com os consequentes estilhaços culturais conduziu o bloco livre à ilusão da fuga na espiritualização do capital que, para melhor medrar, vive dum relativismo cultural extremamente doentio e problemático para o seu futuro. Se o comunismo não triunfa deve-o ao facto de desconhecer o ser religioso. O mesmo erro faz o sistema político-económico actual ao procurar substituir também ele a religião por uma ‘espiritualização’ do capital sem o homem.

A desorientação russa facilitou um agir apressado ao Ocidente em relação à antiga Jugoslávia. Actualmente encontramo-nos com o problema da independência do Kosovo, movida por interesses imediatos. No Kosovo, a antigo berço cultural da Sérvia, vence a etnia muçulmana, restando-lhe 100.000 sérvios com a desconfiança no coração desde que aquela etnia lhe incendiou igrejas e casas. À culpa daqueles junta-se a destes. Para complicar, à minoria sérvia no Kosovo correspondem minorias muçulmanas na Sérvia. Talvez a riqueza procriadora duma etnia sobre a outra venha um dia a resolver os problemas que criou!

A factura económica pagá-la-á a União Europeia por dezenas de anos senão por mais; a outra não se pode quantificar. O Kosovo vive desde há 9 anos do apoio internacional porque não tem economia viável. Tem uma população de dois milhões com um desemprego de mais de 40%. A falta de infra-estruturas, a corrupção e a dependência da Sérvia deixam prever a europaização dos seus problemas.

Atendendo às tenções étnicas, a presença militar internacional terá de se manter por mais de 15 anos. Se não se der uma liberalização do Islão aí praticado, certamente que, a longo prazo, o Kosovo se unirá à Albânia.

A União Europeia envia para lá 1.500 polícias e 300 juízes com a finalidade de instruírem os autóctones nas andanças de direito democrático. A independência continuará sob a tutela internacional e com a presença de 17.00 soldados da NATO. Dentro de 4 meses está previsto passar o Poder executivo da Administração da UNO para o governo do Kosovo. A Europa tem soldados por todo o lado, na “defesa dos seus interesses nacionais” em “missões de paz”. Se assim é, porque não destina Portugal os seus homens e o seu dinheiro ao apoio dos estados de língua portuguesa? “A minha pátria é a língua portuguesa e o seu povo é migrante.

Embora a proclamação da independência viole direito internacional, já a imprensa de países como Alemanha, Franca, Itália, Inglaterra estimulavam, desde há muito, o Kosovo a proclamar a sua independência. Ao contrário, a Espanha, Grécia, Roménia, Chipre, com problemas em casa, sujaram a imagem da EU dos grandes, não reconhecendo a independência. A Sérvia e a Rússia não a reconhecem nem aceitam o Kosovo em organizações internacionais.

A balcanização da Europa já encontra agora os seus pontos de apoio nos guetos muçulmanos instalados nos países europeus de imigração, tal como podíamos observar na Alemanha já no princípio dos anos 90, com a recolha de dinheiros nas mesquitas para apoio da revolta muçulmana.

Se observamos a História, as revoluções não passam dum render da guarda duma elite rotativa assente no substrato duma continuidade de oprimidos. Revoluções, até agora, à margem de melhoramentos superficiais, apenas confirmam o direito dos mais fortes na confirmação e transmissão do status quo duma tradição de transmitir um estado de injustiça para outro estado de injustiça mais ou menos oportuno. O Direito internacional e a lei moral é válida para os distraídos e para os fracos. A independência do Kosovo islamizado encontra-se na linha de serviço a interesses políticos do Poder europeu e americano mas não do povo. Há que aproveitar da fraqueza da Rússia sem contabilizar a hipoteca do futuro. Esquece-se que também os Orais falam da Europa.

Na altura duma Europa sem tino nem destino, as elites apenas se preocupam em estar sem ser. Faz-se política sem nós e contra nós, capitula-se em nome duma paz aparente. O futuro da cultura cada vez se encontra mais nas mãos dos “assassinos” que o determinarão!

Seguem-se as mudanças sem as reflectir sacrificando-se assim a cultura europeia antes de se a ter descoberto. O povo europeu, comprado com benesses e necessidades artificiais, deixa violar a sua alma ao som da melodia maviosa da multi-cultura apregoada para o povo mas reprovada na antiga Jugoslávia. A plebe não se dá conta do que acontece em nome da Europa. No mundo da superficialidade, a verdade dos fortes é sempre a verdade razoável e oportuna! A verdade, porém, como o povo, é processo aberto pressupondo, por isso, uma mundivisão integral e integrativa.

António Justo

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Cura – A força do gesto e da ideia


A arte de se recriar!

António Justo

Activar as energias de auto-cura através da estimulação da competência curativa em nós é uma tarefa cada vez mais premente, num processo criativo de encontro da essência da realidade em nós e no universo. A vertigem do nosso tempo leva-nos a viver em mundos paralelos ao próprio, a viver em segunda mão. Isto provoca mais stress, destroço, desfasamento e angústia no quotidiano da vida.

Truncados da vida e escravos da matéria resta-nos uma mudança de atitude na redescoberta do espírito, a caminho da fonte cristalina do ser, onde matéria e espírito se não contradizem, vivendo na reciprocidade. Cada um de nós traz em si um potencial inesgotável de divindade a activar.

Ciências naturais, ciências humanas, política e religião já empataram demasiado tempo centradas em si, na defesa do particular desintegrado do todo, à custa do ser humano, à custa do espírito que tudo suporta. A natureza não poderá ter querido condicionar o ser humano ao médico ou ao mero negócio com a cura.

Sob a perspectiva teológica da Trindade e sob a perspectiva da nova ciência física (teorias da relatividade e teoria quântica) a essência da vida é relação, transpondo-se assim a ideia de fronteira entre espírito e matéria (encarnação – espiritualização). Teologia e ciência positiva aproximam-se, tendo como o lugar de encontro e de partida o espírito. Assim seria óbvio o emprego conjunto dos resultados das duas disciplinas, sem complexos: uns e outros motivados apenas pelo serviço e desenvolvimento do ser humano e da natureza.

Pelos resultados das observações da medicina e da religião o sucesso da cura parece depender também do ritual. Este terá a missão de usar as funções do cérebro que não distingue entre ilusão e realidade. Trata-se portanto, através da força da imaginação, da ilusão e do espírito, produzir reacções cerebrais com o mesmo efeito de medicamentos ou de criar através do rito o momento propício ao kairós. Através da física sabe-se que a matéria é informação e através da teologia sabe-se que a matéria é informada pelo espírito que nela habita. A informação tem uma grande força eficaz como cada um de nós já pode ter observado na inter-relação psico-somática que acontece no nosso estado de saúde ou de doença. A mobilização das forças do intelecto e da alma deve ser objectivo de todo o médico e de todo o padre ou espiritual. A fórmula “a fé transporta montanhas” é pura realidade. Somos condicionados do espírito, da palavra. A palavra forma a nossa realidade. “No princípio já existia o Verbo (a palavra, a vibração), e o Verbo estava em Deus, e o Verbo era Deus…” (Jo.1,1). Ele fez-se homem e permaneceu entre nós.

Religião e Ciência de mãos dadas

A essência do ser e da existência concretiza-se na relação divina trinitária, é vibração e ressonância. O Espírito está em tudo e em todos. O ser humano está chamado a emergir no seu estrato espiritual para poder desenvolver-se e assim possibilitar um salto qualitativo no desenvolvimento da natureza. Para isso é essencial a abertura ao espírito e o treino da intuição.

A intuição e as forças da alma activam-se num estado entre acordado e sonho, um estado alfa ( estado de meditação ou oração) em que as ondas cerebrais atingem uma frequência entre 7 e 14 Hz (Hertz), um estar desperto, vigilante relaxado. Este estado paralelo ao estado de atenção racional, pode ajudar-nos a curar e a curarmo-nos. Através da respiração sentida, da oração, da música ou da meditação podemos desenvolver em nós um espaço, uma atmosfera criadora e geradora de energias que pode desbloquear e possibilitar, na harmonia e na ressonância do universo, um processo de cura e de harmonia não só a nível individual como social. Uma vez recolhidos neste santuário as nossas ideias tornam-se energias mais potentes ainda, do que o são normalmente. No ser só e no estar em tudo. A física quântica torna compreensível a capacidade e a potencialidade das ideias. Através do pensamento posso provocar muitas mudanças. Uma lei quântica afirma que tudo é vibração. A diferenciação estará no grau de frequência. Nas pessoas doentes a frequência é menor devido a bloqueios de energia. O mesmo se diga do corpo social e natural. Na experiência religiosa fala-se da abertura ao espírito, ao Espírito Santo, para que ele deslize em nós sem nós nem impedimentos.

O estado de ressonância seria o estado comum ao ser, como que o “sentimento” do espírito, o estado do corpo místico; falando numa linguagem cristã aquele estado corresponde à consciência de sermos não só Jesus mas também o Cristo, a unidade de matéria e espírito.

A intuição sempre levou as religiões e as pessoas sensíveis a usar a energia espiritual como meio de cura. O sacramento da unção dos enfermos, antes do racionalismo andava estreitamente aliado a uma certa magia que através da identificação com Cristo possibilitava como que a intercomunicação das duas naturezas na abertura ao fiat, às mutações proporcionasse a cura espiritual e corporal. O rito era a oportunidade corporal e espiritual na abertura ao acontecer mais profundo da realidade. A presença do ministrante, dos familiares, e o emprego de frases, gestos são o lugar próprio do sacramento onde se realiza a concatenação dos elementos. O rito da unção, imposição das mãos, palavras e gestos produzem, também eles, efeitos naturais, espirituais e sobrenaturais. A sabedoria popular conserva ainda esse saber, que por vezes discriminado, nem sempre é aplicado com a pureza e o respeito que é devido ao ser humano.

A caminho do espírito, as paróquias, clínicas e hospitais podiam tornar-se em centrais de apoio e acompanhantes de pessoas abertas ao espírito, numa tentativa de restituir a responsabilidade da cura e do corpo são em alma sã ao indivíduo e à comunidade. Importante é abrir-se para poder ouvir os queixumes do espírito através das manifestações da alma doente que deixa as suas marcas no corpo e assim possibilitar a comunicação consigo mesmo e entrar na relação com Cristo, com o todo em si. Para isso médicos, padres e espirituais terão de reportar-se aos novos resultados da física e à mística da trindade, passando a considerar o outro sujeito e não como objecto de serviços. O valor da administração terá de recuar em favor do indivíduo numa abertura absoluta para lá das incrustações dogmáticas ou científicas. No centro da religião e da medicina está o espírito, a pessoa e não a instituição ou o hábito rotineiro degradante.

Pressupõe-se para isso a vontade de aprender a usar a força da visão na procura duma outra realidade. Ciência e religião, contra a sua missão, petrificaram o ser amarrando assim o ser humano às suas necessidades primárias, à ilusão. Já Platão (séc. V-IV a.C.), que não conhecia o cristianismo, nem o mistério da trindade, afirmava que a percepção não produz saber mas opiniões enganadoras. O saber verdadeiro é adquirido com a ajuda de conceitos que ajudam ao acesso às ideias eternas. Os conceitos provêem da lembrança das ideias que a alma observou antes de ser encarcerada no corpo.

Assim, se filosofar é ultrapassar a percepção dos sentidos, também entrar no processo de cura pressupõe mergulhar no grande mar do espírito de que a doença, o mal é a ausência. O processo da cura pressupõe um recriar relações. Analogicamente ao que aconteceu com a realidade fez-se o mesmo das ideias tornando-as o invólucro estático.

Urge dar vida às ideias através de imagens dinâmicas que as torne criativas, integradas. A ideia viva possibilita a iniciacao ou continuação de processos no caminho da descoberta e do encontro de nós mesmos. Porque não sabemos, ou melhor, não temos a consciência do que somos, tornamo-nos, muitas vezes, terreno maninho, terreno dos outros, alheados de nós. Por vezes temos a sorte de sermos acordados, por algum anjo a caminho, para a saudade da ideia original. Aquela saudade nostálgica é espiritualidade (matéria espiritualizada e espírito materializado, sem preconceitos materiais ou espirituais, em diálogo libertador): fé, esperança e caridade no mesmo acto. A fonte da saúde (“Deus em nós) encontra-se mais perto de nós que nós mesmos, como dizia Agostinho.

António da Cunha Duarte Justo

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