COMPAIXÃO A CHAGA ABERTA DO AMOR FERIDO

A Guerra expressa a carência de empatia e de misericórdia

“Do que sofre?” é a pergunta que todos esperam que Perseval, faça a Anfortas (1)!  Perseval entra no castelo onde Anfortas vive e sofre de uma lesão que não cicatrizava, de uma chaga aberta causada por amor ferido (Anfortas pode entender-se como símbolo de todos nós)!

Perseval movido de compaixão sentia-se compelido a perguntar sobre o seu sofrimento. Mas Perseval retrai-se e não faz a pergunta porque se a fizesse Anfortas poderia sentir-se inferiorizado perante Perseval! Para poder fazer tal pergunta isso implicaria primeiro o encontro consigo mesmo: aquela base que torna possível o encontrar-nos com o outro e no outro, um sentir-se em casa, mas no respeito pela casa do outro. Nesse encontro embarcamos juntos experimentando em comum a ferida do amor, o amor ferido de que sofre cada um de nós. Nesta base a pergunta torna-se legítima porque não se deixa reduzir a um acto de cortesia nem sequer de sobranceria e ao tornar-se compaixão traz consigo um efeito de cura e um sentimento de alívio na partilha do sofrimento; nela não me sinto só porque sofro com o outro.

Sofrer de amor é a realidade humana que se expressa de maneira arquetípica e redentora na Semana da Paixão! Se sinto a vida dentro e fora de mim, constato que ela é uma chaga aberta resumida no caminho do Calvário. Em Jesus sofre a humanidade e Jesus com ela.

A semana Santa é o tempo e o espaço de toda a humanidade resumidos num encontro de relação humano-divina! Jesus, como o madeiro às costas torna-se na resposta acabada à pergunta “Do que sofre?”. “Sofro de amor”, uma resposta de compaixão existencial que não se reduz a uma explicação mental: pergunta e resposta pressupõem uma comunhão de vida num peregrinar de existência comum. A pergunta-resposta ao expressar-se na compaixão tem um efeito de cura. Ela pressupõe uma relação interior, doutro modo poderia situar-se entre o sentir pena/compaixão e o ser lamentável de caracter meramente mental.

O existencialista Friedrich Nietzsche (2) ri-se da compaixão, considerando-a como egoísta e como sinal de fraqueza. O estoicismo considera a misericórdia/compaixão algo feminino, porque só valoriza a visão da razão; ao fazê-lo não nota que se refugia na masculinidade de que sofre a nossa matriz mental e social quando omite que compaixão não é uma ideia, mas uma atitude que se expressa em pensamentos palavras e obras (na caridade efectiva).

Como resposta a visão cristã procura não se perder nos abismos do coração (sentimento) nem nas lonjuras da razão. Compaixão é amor participado na reciprocidade de algo comum, na vivência comum do amor ferido; não é meramente racional, é incorporada na pessoa integral (corpo e alma) feita de eu e nós, de um eu enquadrado nas suas circunstâncias; não se pode reduzir a um mero discurso ou conceito intelectual porque compaixão não observa só de fora, ela sente e vê também de dentro. Compaixão é certamente inata tal como o agradecimento não se deixando reduzir a meros pensamentos ou sentimentos negativos ou positivos.

A supressão da compaixão e da empatia faz parte de uma matriz masculina excessiva. Ter compaixão não é negativo como queria o existencialismo niilista, pois ao envolver reconhecimento, apreciação, elogio, consideração, respeito. Mais do que ter pena, estamos na pena, um estado de compaixão, um laço que nos une e não se deixa reduzir apenas à inteligência emotiva, dado incluir, levar connosco, o sofrimento do outro e incorporá-lo na nossa vida.

A compaixão ou sim-patia interior expressa-se num impulso para ajudar, confortar, etc. numa comunhão de sofrimento, não implicando apenas a necessidade de um “sinto pena”.

Compaixão implica sentimento e também a lógica de uma atitude de justiça que leva à acção. A nossa sociedade procura evitar tudo o que é dor e nesse sentido tenta eliminar também do vocabulário as palavras de conotação religiosa que envolvem o sentimento de piedade, misericórdia ou compaixão.  A psicologia demasiadamente centrada na cabeça (mente) procura fugir à dor entrando, por vezes, em rivalidade com a religião (a psicologia, como outros serviços ao fazê-lo correm o perigo  de serem reduzidas a meras oficinas de reparação dos problemas de uma sociedade virada para a morte); esta é mais inclusiva integrando de maneira mais integral o sofrimento na vida humana como parte da natureza humana sem permanecer nele em atitude masoquista. Compaixão abrange amor ao próximo, misericórdia e caritas (amor). A bondade natural ou adquirida das pessoas chega a ser questionada por uma psicologia que, sob a perspectiva  funcionalista e materialista, exclui a humanidade, a bondade e a graça; os valores religiosos são desqualificados e o amor ao próximo é transformado e interpretado como algo suspeito;  as próprias virtudes e hábitos adquiridos através de esforço e reflexão são banalizados com explicações psicológicas que não concebem a espiritualidade como elemento humano; o altruísmo é degradado sistematicamente sendo reduzido a trauma, a complexo de inferioridade, no desconhecimento da mística e filosofia cristã que parte do princípio que o mundo deve ser pensado, não a partir do ego, mas a partir do outro, de um outro espiritualmente personalizado e não politicamente materializado; deixou-se de ter em vista a complementaridade das diferentes expressões individuais e sociais (ciência, filosofia, religião, economia, política, etc.). Realmente a nossa vida individual e social seria muito diferente se selecionássemos e avaliássemos a vida e o que se passa nela através do crivo do nós e não só através do crivo do ego e do útil imediato. O sistema procura que na modernidade nos orientemos, não por nós mesmos, pela nossa consciência, mas sim por o que ditam maiorias como quer a democracia partidária e estatísticas encomendadas; tudo ao mando da sociologia que se quer ver traduzida na nova filosofia da sociedade política. Estamos a ser reduzidos a meras funções ao serviço de sistemas. Desnatura-se a natureza e desumanizam-se as pessoas para se impor uma supraestrutura artificial em nome de uma cultura abstracta globalizada que subjuga, controla e mata.

Parece que nos encontramos num processo meramente pragmático e utilitário em que se perde a ideia da graça, daquilo que se recebe ou dá de graça para se passar a orientar tudo no sentido do útil e do utilizável. Muitos pensam que o objecto meta da vida é ser feliz e procuram, contra a natureza, aplicar-se apenas no que dá prazer.

A pessoa de fé não deixa de ter prazer, mas não se perde nela a perspectiva transcendente que a leva a não se perder nas satisfações nem nas contradições da vida do momento. O viver é mais importante do que uma experiência do momento reduzida a tempo. O tempo deixa de ser apenas cronológico e à medida do relógio ou do momento experimentado. Cada vez se tem menos tempo para o outro porque ele não se torna suficiente para as actividades só em torno do ego. O crente é solidário não só com os viventes, mas também com os mortos. Doutro modo reduzir-se-ia a vida a categoria de tempo do relógio e como tal limitar-se-ia à mera recordação de momentos.

Hoje a sociedade quer a pessoa à sua medida/imagem e só para ela, desejando-a, por isso, reduzida ao horizonte do momento e de mero contribuinte pagador de impostos, cortando-lhe, para se autojustificar, as asas da transcendência. Destroem-se as ligações familiares e o espaço social para se encurralar as pessoas  dentro dos muros da cidade e acorrentá-las aos afazeres que a cidade precisa: uma política limitada a períodos de serviços, de quatro anos de mandato e de empresas em perigo de ruína, tudo encurta  a perspectiva; esta se fosse ilimitada limitaria o poder dos poderosos que se afirmam em períodos de tempo. O Estado com os seus lugares de emprego oferece-se como algo sustentável até á reforma. Assim uma democracia utilitária limita a solidariedade ao reduzir a relação a tempos funcionais de serviço e como tal a meras obrigações temporárias.

As vantagens da vida em comunidade são materializadas e funcionalizadas em técnicas de trabalho de equipa na perspectiva de uma função mais rentável. Na empresa quer-se o trabalhador como força de trabalho, não como pessoa e menos ainda como membro de uma família; esta deve ficar fora da porta. A pessoa deve ser desenraizada para ser flexível e instrumentalizável ao serviço da economia e da civitas. O dinheiro tornou-se na concentração das energias e como tal reduziu a pessoa a um comerciante de um ego sem pátria nem família. Em serviço da grande indústria e das potências emigramos, ficando sem um lugar que nos pertença; continuamos assim fora de tudo em mera ligação, mas perdemos as relações familiares; em vez de relações criam-se ligações funcionais; valho pela ocupação no que faço e não pelo que sou. Por outro lado, a política quer fazer dos seus cidadãos emigrantes do núcleo cultural, destruindo ou considerando as tradições e os laços familiares, culturais e religiosos que tínhamos como música de acompanhamento da economia (e tecnologias que a determinam) e da administração da cidade. Somos enquadrados em condições escolares, laborais e de opinião pública que nos alienam. Em vez de se adaptar a economia às necessidades das pessoas, regiões e das famílias, foi sistematicamente destruída a pequena aldeia e com ela a família e deste modo tem-se o cidadão prostrado a seus pés, em vez de relações temos funções a trabalhar para uma máquina com funcionários burocratas.

Na aldeia, como na família, muita d vida era de graça, baseava-se a vida social a um viver na reciprocidade; ainda lembro o tempo em que o vizinho nos emprestava os bois para lavrar os campos e meu pai emprestava as vacas e os utensílios de lavoura para os vizinhos poderem satisfazer suas necessidades. Isto parece mera saudade, mas não; é apenas a expressão de atitudes saudáveis que vão desaparecendo e deveriam ser integradas em novas formas de vida social. As pessoas trabalhavam em função da família, hoje é o contrário; cada pessoa é levada a trabalhar para si própria em função da empresa anónima e do Estado. Quer-se um mundo mecânico, mecanicista em que cada pessoa funcione como peça ao serviço da máquina.

No meu andar pelo mundo da religião, da política e do trabalho fiz a experiência de que pessoas católicas, na Alemanha, têm a razão mais próxima do coração e por isso eram talvez menos eficientes mas mais próximas do humano enquanto que muitas pessoas protestantes ou progressistas  eram mais eficientes e menos humanas no relacionamento do dia a dia (a equação poderia ser feita nestes termos: os protestantes estão para os católicos como os alemães para os estrangeiros!). Se em determinados grupos sociais ou pessoas a misericórdia e compaixão passam sobretudo pela mente noutras passam mormente pelo coração (Lucas 6,36) e aí se situam as diferentes posições em relação à compaixão.

A sociedade política tem um caracter mais masculino, mais mecânico e utilitário e ao combater a igreja destrói uma cultura da humanidade e de feminilidade. O Deus cristão sente com as pessoas e por isso a compaixão de Cristo pelas pessoas corre nas veias cristãs. A compaixão é de caracter pessoal não sendo preocupação de governantes. A compaixão também abrange os inimigos (no “perdoai-lhes porque não sabem o que fazem”); no JC trazemos connosco a força e a fraqueza que não nos faz temer porque as reconhecemos em nós e nos outros: esta “fraqueza” que faz parte do carácter feminino de Deus ainda é estranha a todas as instituições. A imagem de um Deus compassivo faz do cristianismo “o falar do Deus de Abraão, Isaac e Jacob, que é também o Deus de Jesus”, que o torna um expressar Deus fora da expressão de qualquer monoteísmo abstracto  (de um só Deus), mas sim de “um monoteísmo vulnerável (“panenteísmo”), empático (compassivo), que é, no seu cerne, um discurso sensível de Deus”, como dizia Johann Baptist Metz. A proibição bíblica de se fazerem imagens de Deus, põe em causa a representação de um Deus masculino (a funcionar no esquema inimigo-amigo. “A fuga do sofrimento e a tentação de fechar os olhos ou desviar o olhar do sofrimento dos outros é omnipresente” como constata Lothar Kuld in “Compassion raus aus der Ego-Falle“.

A compaixão acompanha todos os que sofrem independentemente da via da autoestrada em que se encontrem. Onde há pessoas que sofrem, que são oprimidas, lá se encontra Deus a sofrer nelas. O sofrimento é diferente e diferenciado segundo o contexto e não pode ser contrabalançado a uma dor com a outra. Dor é dor existencial não ideia. Por isso precisa-se de uma cultura de cooperação que substitua a cultura do mercado (interesse, concorrência, rivalidade e intercâmbio) que nos rege e com a qual vivemos bem à custa de muitos outros.

Urge restituir a dignidade humana aos pobres do mundo e viver a caridade/solidariedade, urge integrar na matriz social excessivamente masculina, também a feminilidade /aquela característica onde o activismose dissolve na paz!). A identificação com os que sofrem (compaixão) não é devida à má consciência nem se trata tão-pouco de, com ela, enrouparmos o nosso ego; a caridade, compaixão, misericórdia é uma ressonância que tudo une independentemente do baixo ou do alto em expressões humanas.

A guerra segue sobretudo ideais masculinos, falta-lhe a empatia, a compaixão. Compaixão não precisa de ser integrada em categorias de poder ou de sobranceria, ela não se deixa reduzir a sentimentalismo nem a orgias intelectuais. Não chega na avaliação das coisas usar-se só o crivo da razão ou intelecto ou de uma percepção selectiva. Tudo tem as suas fronteiras os seus limites, mas também as suas pontes, doutro modo, não seriam definíveis.

Pascal dizia “há razões que a razão não conhece” e a virtude encontra-se no meio, mas também ela é necessitada por pressupor os extremos (opostos). A experiência de nos encontrarmos todos a caminho ou num êxodo de humanidade, como o povo hebraico que na companhia do seu Deus seguia a arca da aliança numa cumplicidade que lhes dava futuro. O homem precisa de companhia desde que abandonou o “paraíso” e por isso usa de palavras para poder dialogar ganhando assim forças para andar. Como na fogueira da criação a arder, a compaixão é o calor que sai desse fogo que nos aquece.

Os acontecimentos e a vivência da Semana Santa são a pergunta e a resposta ao sofrimento do amor ferido!

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo

 

(1) Perseval é o herói da lenda arturiana, um romance em verso da literatura cortês alemã que foi escrito entre 1200 e 1210. Anfortas era um filho de Verónica, a irmã de José de Arimateia; Anfortas foi ferido por um amor encantado que lhe provocara uma lesão que não cicatrizava.

(2) Friedrich Nietzsche via como tarefa do homem produzir um tipo de homem mais desenvolvido do que ele mesmo. Nietzsche chama esse homem superior ao homem (Übermensch); propriamente o Homem deveria situar-se no lugar de Deus; para isso nega Deus e a religiosidade com os seus valores e nega a correspondência entre linguagem e mundo (daí o atributo de niilista, do latim nihil=nada). Nietzsche é contra a dicotomia da personalidade humana subjacente às religiões onde, por um lado a pessoa humana é forte e boa e por outro lado é fraca e falha.

UCRANIANOS E RUSSOS JUNTOS NA VIA SACRA NO COLISEU DE ROMA

A Ucrânia tem 45 milhões de habitantes sendo 77,8% ucranianos e 17,3% russos

O Vaticano quer enviar um sinal de paz na Ucrânia na procissão tradicional na Sexta-feira Santa (às 21h15).

Durante uma parte da Via Sacra, uma família ucraniana e uma russa devem carregar a cruz juntas na penúltima das 14 estações.

A embaixada da Ucrânia na Santa Sede manifestou a sua preocupação pelo facto de uma mulher ucraniana e outra russa carregarem a cruz em comum durante a Vía Crucis, presidida pelo Papa Francisco. A Santa Sé não reagiu!

Com esta  reacção da Embaixada da Ucrânia mostra-se que o governo não está interessado na paz dentro da Ucrânia.

De acordo com o censo oficial de 2001, 77,8% da população é constituída por ucranianos, 17,3% russos e mais de 100 outros grupos étnicos que vivem na Ucrânia. Na Ucrânia 11,36 milhões são russos (cf. Nota1).

Existem grandes minorias russas nas regiões ucranianas de Luhansk (Lugansk russo; 39,0%), Donetsk (38,2%), Kharkiv (25,6%), Zaporizhzhya (24,7%), Odessa (20,7%), Dnipropetrovsk (Dnepropetrovsk 17,6%), Mykolaiv e Kherson (14,1% cada).

Na a Crimeia vivem 2,35 milhões de pessoas: cerca de 60 % são russos, os ucranianos constituem 25 % da população.

Uma tristeza, quando um Estado não reconhece os próprios cidadãos! E pior ainda quando o ocidente age como se não conhecesse a situação na Ucrânia desde 2008.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

(1) https://www.goruma.de/laender/europa/ukraine/bevoelkerung-staedte

DOMINGO DE RAMOS

Hoje Domingo de Ramos é comemorada a entrada de Jesus Cristo em Jerusalém. É o início da Semana Santa, o domingo antes da Páscoa.
O Novo Testamento registra que Jesus entrou em Jerusalém naquele dia montado em um jumento (Jo 12:13-15, Mt 21:1-11, Mc 11:1-11).
O motivo do rei montado em um burro representa o governante não violento. O burro era a montaria dos pobres e contrasta com os carros de outros reis. Assim, Jesus é retratado como um rei pobre cujo poder não é estabelecido por meio de política, militar ou violência, mas por meio de paz e humildade.
Isto no sentido do que o evangelista Lucas narra: “O Senhor enviou-me a anunciar a boa nova aos pobres, a sarar os corações feridos, a libertar os oprimidos” (Lc 4, 18).
O Domingo de Ramos não é sempre celebrado na mesma data porque esta é baseada nas fases da lua.
Esperemos que nesta semana do silêncio se silenciem as armas e possivelmente para sempre!
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo

A IDENTIDADE DE GÉNERO NÃO É ASSUNTO PRÓPRIO PARA CRIANÇAS

Primeiro está a Dignidade e a Singularidade de cada Pessoa

A Florida nos EUA proibiu, por lei, o ensino da orientação sexual e da identidade de género nos jardins-de-infância e nas escolas primárias.

A lei pretende proteger as crianças e os direitos parentais. Para os estudantes mais velhos, o currículo deve ser mais restrito.

A legislação adverte que as escolas não devem ser usadas para “sexualizar crianças”. Os pais devem poder processar por danos se suspeitarem violações da lei.

Os direitos da comunidade LGBTQJ (gays, bissexuais, trans, queer e pessoas intersex) são assim restringidos.

O exagero do LGBTQJ, com o seu lóbi influenciador da legislação identitária, em todo o mundo, corre o perigo de contribuir, pelas suas actividades, para estigmatizar os homossexuais em vez de os livrar de preconceitos sociais! Querer confundir a regra da heterossexualidade com a excepção da homossexualidade, não ajuda os homossexuais, pelo contrário, porque a razão do respeito e tolerância (quer pelos da regra quer pelos da excepção a ela) vem da dignidade e singularidade de cada ser humano e não se baseia num princípio de igualitarização; a igualitarização (formatação) social indiferenciada só poderá ter sentido e ser válida perante a lei, que deve tratar democraticamente todos igualmente. A dignidade e singularidade de cada pessoa (independentemente das diferenças individuais) é anterior a cada ideologia ou sistema.

Muitos pais confiam totalmente na Escola, não sabendo sequer, que seus filhos, por vezes, se tornam vítimas de ideologias!

Independentemente da altura em que uma criança experimente a sua primeira paixão, importante é que os sentimentos das crianças sejam respeitados e por isso nem professores, nem os colegas, nem mesmo os pais têm o direito de desrespeitar, os seus sentimentos, a intimidade e desenvolvimento da criança!  A intimidade pressupõe confiança que a criança experimenta e provém da segurança e aceitação sentida na própria casa dos pais. Este ambiente familiar fomenta uma base emocional estável que a criança adquire quando sente que é amada e aceite como é.

Cada criança, cada ser humano é um ser especial independentemente do seu sexo biológico e da sua inclinação psicológica.

Atendendo a uma vida social cada vez mais diferenciada, é tarefa da escola impedir qualquer exclusão ou discriminação que ocorra entre os alunos e ensiná-los a lidar com a diversidade individual e social, sem que ela como escola, se torne em portadora de ideologias sociais que vão surgindo com o tempo ou possivelmente inerentes a cada governo.

Há ministérios da educação e escolas que, muitas vezes, levados pelo espírito da ideologia/tempo, confundem humanismo com expressões modernistas ou educação integral com formatação intencional da personalidade.

A educação escolar tem uma função complementar e não de substituir ou ir contra a educação ministrada pelos pais. Doutra maneira surge a luta rival pelas competências entre o Estado e a família, o que não seria próprio de um Estado livre e isento.

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo

 

HOLODOMOR – O HOLOCAUSTO UCRANIANO ESQUECIDO

Publico, de novo, este artigo que difundi a 2 de março de 2019 para recordar o martírio do povo ucraniano. Ontem como hoje os interesses disputados na Ucrânia são de caracter económico e geoestratégico e não uma simples guerra entre Rússia e Ucr´ânia, como se quer fazer crer.

“Os Comunistas comem Criancinhas?”

A expressão “Comunistas comem criancinhas” (1) deve-se ao facto das políticas criminosas comunistas de Lenine e de Estaline terem, (com a sua reforma agrária e fomento da industrialização), provocado em alturas diferentes (1919-1921) e (1932-1933) fomes que originaram muitos milhões de ucranianos mortos e levaram as pessoas a comer carne de cadáveres humanos e em especial carne de crianças. Mussolini usou-se do facto para fazer propaganda contra os comunistas. De facto, não eram os comunistas, mas a política comunista que conduzia à “fome genocida”.

Política no Sentido do Plano

Lenine (2), a partir de 1919, iniciou uma política de confisco de terras, animais e cereais dos camponeses, que gradualmente levaria a uma crise de fome em massa na população. No desespero, famílias para matar a fome, cozinhavam pernas e braços dos cadáveres; chegavam a alimentar-se dos próprios parentes, com frequência, bebés, menos resistentes à fome e às doenças e cuja carne era mais tenra e como tal preferida. O historiador Orlando Figes descreve tais situações no seu livro “A Tragédia de um Povo” onde avalia as consequências da Revolução Russa para o povo da ex-União Soviética.

De facto, também na Ucrânia, o ditador Estaline seguiu a política da reforma agrária do revolucionário Lenine e fez uso do terror para impor a coletivização mediante a qual, o Estado se apropriou das terras e do gado dos camponeses, agrupando-as em latifúndios colectivos. Para impor tal, fez uso de tropas regulares e da polícia secreta. Os comunistas de Moscovo tinham decidido colectivizar a Ucrânia para que a União Soviética pudesse acelerar a sua industrialização à custa dos camponeses expropriados; na Ucrânia, porém, foi proibida a saída dos camponeses para as cidades.

O holocausto da fome (3) de 1932-33 (“Holodomor”) provocado por Estaline também ele obrigou as pessoas na Ucrânia a tornarem-se canibais; a fome era tanta que depois de terem comido cães e gatos muitos passaram a ter de comer carne humana; Devido à fome provocada pelo plano de Estaline, milhões morriam e os cadáveres eram transportados às pilhas em carros (até 7 milhões de mortos). Também na revolução cultural da China entre 1958 e 1961 houve cerca de 30 milhões de mortos à fome e também se relata ter havido canibalismo.

Até hoje o horror do “holocausto da fome” tem sido silenciado, não entrando na consciência do povo europeu. O historiador Kun relata que “o Holodomor (holocausto da fome) tem sido mantido em silêncio, enquanto a perseguição de judeus sob o domínio nazista é conhecida em todo o mundo, muito poucas pessoas sabem disso”.

A História do comunismo (soviético, chinês, etc.) em comparação com o nazismo tem sido branqueada de tal modo que, não sendo embora melhor do que o nazismo nacional-socialista, não são lembradas as suas barbaridades na consciência social recorrendo-se à tática do seu silenciamento. Um marxismo inteligente sabe usar dos seus multiplicadores em posições estratégicas relevantes para uma formação eficiente da mentalidade pública.

Um fenómeno que observo (e para que não encontro explicação suficiente) é o facto de constatar um trato semelhante usado em relação ao islamismo onde o pensar politicamente correcto procura ignorar as suas obras para assim compreendê-lo e deste modo aceitá-lo. Os meios de comunicação social deveriam, por honestidade e amor à causa, tratar os factos com os mesmos critérios, não os deixando apenas ao sabor de maiores ou menores boas vontades, interesses ou influências.

Quanto ao nazismo e ao marxismo é óbvio lembrar-se na opinião pública o terror nazi, mas constitui hipocrisia e silenciamento da História não se tratar de igual modo o terror comunista marxista como se trata o nazista. Os holocaustos aos judeus, aos ucranianos e aos arménios são genocídios contra a humanidade independentemente da nação, raça ou ideologia. Tudo isto mostra a fragilidade humana independentemente dos sistemas; a praga maior será a de uma ideologia materialista que não conceda ao Homem o estatuto da sua dignidade humana soberana. É indigno e desumano um Estado, uma ideologia ou um sistema que usurpe ou abuse da soberania da dignidade humana de uma pessoa.

A influência da esquerda na formação da consciência social tem impedido até hoje uma apresentação objectiva dos factos para não mostrar as barbaridades do comunismo. A violência venha ela de esquerda ou da direita é violência e como tal a condenar-se independentemente da sua proveniência.

© António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

https://www.gentedeopiniao.com.br/opiniao/sera-que-comunistas-comem-criancinhas

(1)   Muitas vezes ouvi a acusação da razão do medo dos comunistas vir da ideia de que eles comiam criancinhas e não sabia explicar tal dito. Finalmente encontrei uma explicação para o uso da expressão. Responsável pelo canibalismo foi a política criminosa de Lenine e de Estaline na URSS. De resto, comunistas como capitalistas e outros istas, todos são seres humanos e como tais em situações extremas capazes de usar recursos extremos. Mais que olharmos para o próximo como rival ou adversário será preciso criar uma cultura da humanidade e da boa vizinhança na amizade.

(2) Lenine fundou a sua própria facção no Partido Social Democrata dos Trabalhadores da Rússia em 1903, os bolcheviques, mais tarde o Partido Comunista Russo. Após a morte de Lenine, a 21 de Janeiro de 1924, Josef Stalin sucedeu-lhe. Ele forçou a colectivização e industrialização do país e garantiu o seu poder através do terror dirigido contra os adversários. Uma das várias fases de pico do terror durou desde o Outono de 1936 até ao final de 1938.

(3)    Michael Ellman da Universidade de Amsterdão diz que barbaridade de 1932-1933 pode ser considerada genocídio dado Estaline ter permitido a exportação de 1.8 milhões de toneladas de grão no tempo da fome e proibido a emigração das zonas mais afectadas e não organizar a chegada de grão de fora também porque o regime estalinista os considerava como “contrarrevolucionários” e “ladrões”. Tratava-se também de um ataque contra a cultura nacional ucraniana