FILHO COM TRÊS PAIS


Em Aschaffenburg, Alemanha, uma senhora de 64 anos deu à luz uma criança. A, agora, mãe submeteu-se à implantação dum óvulo, no estrangeiro, dado na Alemanha ser proibida a oferta de óvulos.

A criança recém-nascida tem três pais: o pai que pôs à disposição o esperma, a mãe genética que ofereceu o óvulo e a mãe portadora da implantação durante os nove meses. No sentido da lei, esta última é que é considerada mãe. O estranho do caso é que a criança teria quatro pais se o oferecedor do esperma não tivesse sido o esposo da mãe portadora que se submeteu à implantação.

Na Alemanha é permitida a oferta de esperma mas não de óvulos dado a oferta de óvulos implicar riscos de saúde para a mulher oferecedora que tem de ser submetida a tratamento hormonal, além de corresponder à instrumentalização da mulher, ferindo a sua dignidade humana; além do risco da comercialização.

A Alemanha advoga razões éticas para não permitir a praxis da oferta de óvulos.

Naturalmente que há mulheres que perdem a capacidade de ter filhos devido à operação do ovário, cancro ou outras causas. Neste caso só teriam a oportunidade de engravidar através de implantação.

De facto a criança resultante duma implantação é filha da mãe genética. Um dia, a criança tem o direito de saber quem é a sua mãe genética.

Hoje, o problema da idade da mãe emprestada não se põe porque a longevidade das pessoas anda pelos oitenta-noventa anos.

O desenvolvimento da ciência é tal que em muitos casos a natureza já não manda. Quem manda é a necessidade individual e a força da bolsa.

A alternativa da adopção é mais humana. A implantação implica riscos éticos e político-sociais.

António Justo

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Scientology – Contra a Constituição?

Os ministros do interior dos estados da República Federal Alemã e o ministro federal do interior pretendem alcançar a proibição da Organização Cientology.

Todos os ministros mostram a convicção que Cientology, além de objectivos contra a constituição, segue objectivos totalitários, como declarou, na Sexta-feira passada, o presidente da conferência dos ministros do interior, Ehrart Körting (SPD). Numa primeira fase pretendem a recolha de informações a nível central com o objectivo de elaborar um possível processo para a proibição da Associação.

Sientology é acusada de ser uma seita que pretende o status duma religião mas que recusa o sistema de direito democrático, encontrando-se nos seus escritos passagens difamadoras da democracia; além disso, muitos membros dissidentes sofrem perseguições

As informações dadas por antigos membros confirmariam as tendências da organização contra a dignidade humana e contra o direito ao auto-desenvolvimento, que são anulados através de técnicas psicológicas manipuladoras.

Segundo o Ministério Federal para a Família, a doutrina cientológica leva “frequentemente à dependência psicológica e económica”.

O fundador da seita, Ron Hubbard, terá criado com a sua doutrina, um plano totalitário para um novo homem. Um ser humano que deve renunciar à individualidade, liberdade e bens em benefício duma seita que quer minar por dentro os valores fundamentais duma sociedade livre.

Na Alemanha, na opinião pública, Scientology é considerada como uma psico-seita orientada para a maximização do lucro, sem escrúpulos, à caça de almas e que explora e intimida os seus membros.

A organização tem 6.000 membros na Alemanha, o que não justificaria “apontar com canhões contra pardais”. Como em grande parte das discussões públicas, o rubro da discussão pode não passar dum populismo barato.

Infelizmente, a nossa sociedade de fé democrática, cada vez se vê mais na necessidade de se afirmar falando mal dos pretensos adversários sem uma discussão séria sobre os diferentes assuntos e doutrinas. Não é saudável o ataque ao fascismo de organismos como o da Scientology e por outro lado justificar-se o fascismo religioso islâmico. Dois pesos, duas medidas.

Tenho a impressão que o que motiva o apelo ao perigo da Scientology é mais o medo dos estabelecidos no poder perante uma organização que se dirige inteligentemente às elites. E o que leva os mesmos a encobrir o perigo fascista islâmico é o medo dum povo bem informado que lhes poderia estragar o negócio multicultural.

Parece vivermos no mundo em que a ordem do dia é: lavagem ao cérebro do outro, cada qual à sua maneira! O povo indefeso e incauto é sempre o menino sujo a ser lavado.

António Justo

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Eutanásia


Políticos alemães e representantes das igrejas manifestaram-se veementemente contra a intenção da associação suíça para a eutanásia “Dignitas” querer criar um caso precedente de eutanásia na Alemanha. O porta-voz do SPD no parlamento Alemão afirmou:” Nós acabaremos com a das treiben actividade de Dignitas na Alemanha”.

É desumano fazer-se negócio com a morte de pessoas muito doentes. Na Alemanha a prática activa e comercial da eutanásia é contra a Constituição.

Assim como o homem foi lançado à vida sem própria intervenção, o mesmo deve acontecer na morte. O paciente, ou moribundo têm um direito ao apoio e acompanhamento na doença e na morte mas não na intervenção directa.

Importante é alargar a medicina paliativa e incentivar uma cultura da vida e não uma cultura da morte, como defendem e praticam as Igrejas nas suas instituições. Iniciativas tendentes a prolongar a vida devem ser interrompidas no caso de impedirem uma morte cruel.

Os nazis praticavam a eutanásia com pessoas que consideravam de vida indigna ou inferior. Numa sociedade que cada vez envelhece mais e o respeito para com os idosos diminui facilmente se passa a “sanear” dado a nossa vida, entretanto, só ser considerada sob o ponto de vista económico, como refere o bispo evangélico Hein. A solidariedade continua presente na sociedade.

António Justo

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Economia e Política – Recusa à moral

Ordenados à Margem de Critérios Justos


Segundo o que corre nos jornais alemães, o chefe da Continental ganha 4 milhões de Euros por ano; o chefe da Porsche, 54 milhões e os seus outros cinco colegas da direcção um total de 58 milhões.

As pragas do Egipto, a que se refere a Bíblia, cada vez avassalam mais a terra europeia. A sapata popular precária aumenta vendo a vida encarecer, tendo de trabalhar mais sem qualquer compensação, enquanto que as elites económicas e políticas aumentam usurariamente os seus vencimentos. Em nome da Europa e do turbo-capitalismo passou a reinar a desmedida. Sofrem da mesma doença contagiosa os beneficiados do sistema tanto nos países pobres e como nos países ricos.

O presidente da Alemanha não se cansa de admoestar a política e a economia dizendo que não é lógico os vencimentos destes aumentar continuamente e o ordenado do povo diminuir.

Na Alemanha, todos os partidos se manifestam criticamente sobre os elevados vencimentos de direcções das grandes multinacionais. O tema está na ordem do dia da sessão parlamentar de hoje.

A Alemanha não quer impor por lei um limite para as direccoes de empresas mas pretende com a discussão provocar decência na avareza que grassa na Europa a nível das oligarquias empresariais. A própria Chanceler Ângela Merckel, do partido cristão democrata declara a discussão salutar. Pretende regular por lei as indemnizações atribuídas a chefias, por falência. Maus administradores que levam a empresa a concurso não devem ser premiados com indemnizações que o contribuinte depois tem de pagar. Há manager que ganham somas horrendas levando empresas à falência, muitas vezes em benefício de interesses particulares dúbios.

A sociedade perdeu a medida, o equilíbrio e o critério; destruiu a virtude abolindo o meio-termo; já não se reconhece uma correspondência entre o trabalho realizado e o pagamento. Alguns parecem transformar-se na praga dos gafanhotos sobre os países, sobre o povo. Os gafanhotos destruíram a moral e Deus para que o povo se não possa agarrar a nada, sem possibilidade de se alinhar na busca da libertação, como fez o povo judeu. Ao ser reduzido a proletário deixa de ter qualquer projecção, a não ser a mercantil ou partidária de horizonte ofuscado.

Um director das grandes multinacionais e de grandes empresas não deveria receber um ordenado superior a 20 vezes o ordenado da criada de limpeza ou do trabalhador mais simples. Se recebesse mais, esse dinheiro deveria ser tornado disponível para fundações ou iniciativas caritativas e culturais.

Se o povo não acorda em breve pagará imposto pelo ar que respira

A relação entre liberdade empresária e bem comum têm que estar numa relação de equilíbrio.

Naturalmente que aqueles que se habituaram a usar-se da sociedade como self-service, o conceito de justiça, se existe, é elástico.

Um Estado que tal permite torna-se cúmplice e ao mesmo tempo instrumento de legitimação para os mais fortes. Através da legislação do salário mínimo o Estado já se desobriga da injustiça a que dá cobertura. As leis do mercado precisam duma ética baseada no bem-comum e na terra que é de todos.

A ganância e a desvergonha atingiu tal ordem que qualquer dia um esperto lembra-se de mandar patentear o ar e teremos todos de pagar imposto para respirar.

Os defensores deste sistema de injustiça ordenada argumentam com o curso das acções como a medida do sucesso e que fazem parte da economia mundial, como se o trabalho fosse só deles; o trabalhador não faz parte da economia mundial! Têm a descaradez de falar da inveja dos pequenos quando o que recebem a mais é tirado à folha do assalariado. As chefias de empresas argumentam também que quem determina os seus vencimentos é o Conselho Fiscal das firmas onde têm assento o patronato, os sindicatos e, em grande parte, o Estado através dos partidos. Esquecem-se de dizer que estes quando não dormem se servem sobejamente do sistema. Uma mão lava a outra!…

A lei alemã que, obriga as empresas a pôr a público também os ordenados das empresas privadas, veio criar mais transparência no sistema a partir de 2005. Daí a discussão.

O sucesso das empresas e da bolsa adquire-se no poupar na produção, nos trabalhadores. Estes devem contentar-se com pouco e aguentar com as consequências, também as da má administração. Conseguem lucros através de despedimentos e de maior produtividade e contenção ou diminuição de ordenados dos jornaleiros.

A especulação na bolsa acontece longe da realidade, sem consideração pelos pequenos, em favor do lucro. A explosão dos vencimentos das elites dá-se mais nos segmentos industriais notados na bolsa, onde reina o turbo-capitalismo desumano. Estes turbo-capitalistas desacreditam muitos chefes das pequenas e médias empresas, que se vêem com grande dificuldade, numa concorrência desleal.

Geralmente os milhões da bolsa são ganhos à custa de valores humanos deitados ao caixote do lixo capitalista e dos lugares de trabalho das empresas. O povo do rés-do-chão é despedido e os dos andares superiores recebe indemnização por levar a empresa à falência. Não querem que a política se intrometa para continuarem a ter a estrada livre só para eles. E o Zé político se quer manter o lugar tem que lhes ceder para receberem em contrapartida uns lugarezitos de trabalho precário para o povo.

Até quando? Não será a altura de surgirem os Zés do telhado? Não. O povo é como o macaco e os que o dirigem e representam, apesar de tudo, não vivem mal!… Ao povo resta-lhe a consolação de poder esperar no vota!

António Justo

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Ser Mãe – A nossa natureza mais profunda

Nascimento – Deus é Mãe

O nascimento de cada um de nós é um acontecimento único e inconfundível, uma nova abertura a toda a possibilidade, uma abertura mãe, também ela com a possibilidade de dar à luz. Para isso é preciso a capacidade de, também nós homens, assumirmos a feminidade. Com a primeira experiência da gravidez, da paternidade surge uma meta, uma criança. Depois da criança nascida vem a preocupação por ela, a atenção. A nova situação fomenta novas forças de entrega e dedicação e um outro sentido pelos outros. Tudo passa a ser diferente, um novo estilo de vida centrado no outro.

A capacidade da gravidez e a constância prepara-nos para a abertura confiante, a experiência do integral, do sagrado.

As dores do parto são um sinal duma presença. Deus não conhece o passado nem o futuro. Ele está sempre a dar à luz. Deus puxa o homem do seu corpo mãe como uma parteira (Sal 22,10).

A sua actividade criadora é apresentada como um processo de dar à luz (Sal 90, 2 ). Deus, como a mãe parturiente possibilita o novo, a sua presença (Jes 42, 14).

Dados à luz por um microcosmo, dum ventre materno para o ventre terreno, o ventre do universo. De relação em relação

O nascimento liga-nos à criação e o dar à luz ao acto do criador. No parto se testemunha a necessidade da relação e do apoio duns e doutros. Seguimos de ligação em ligação, de começo em começo, no substrato da união profunda no Espírito. À desligação da mãe e ao corte umbilical segue-se a ligação à comunidade humana através do baptismo e do registo. É o início dum novo começo.

Precisamos, na arte na religião, do aprofundamento dos modelos de compreensão da vida num horizonte de compreensão vivo e aberto sem nos deixarmos enredar em preconceitos existentes.

“Tu és o meu filho, hoje te dou à luz” (Sl , 2, 7). Assim se legitima a maternidade divina e a nossa natureza de filhos e reis. Em Jesus dá-se a “democratização” da filiação divina a todo o ser humano e até ao resto da natureza. Com ele inicia-se a cristogenese do homem e do mundo.

A igreja é a garante da propagação da fé transmitida, a continuidade histórica, a recordação. Também ela gera devendo por isso manter-se sempre aberta ao Espírito. Não há vida sem mãe. Pelo milagre do amor Deus nasceu em Jesus!

Nascer e dar à luz são metáforas da vida que nos acompanham até ao seu outro lado que é a morte.

Deus deu à luz a Luz. Maria dá à luz a sua Luz. A mãe de Deus chora o seu filho crucificado agora no seu regaço. No mesmo seio, a vida e a morte, a incarnação e a ressurreição.

Em todo o processo existencial há um período da noite, da espera, um período da gravidez. A partir do 25 de Dezembro a noite é mais curta. “Eu sou a luz do mundo”(Jo 8,12).

António Justo

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