BOCAGE SOFRE AS DORES DA VIRAGEM DO TEMPO

Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765-1805) foi um neoclássico romântico, um revolucionário que se debateu entre despotismo maçónico e catolicismo (bucolismo e sentimento romântico). Viveu num período perturbado como nós vivemos o de hoje.

No musgo da História se descobrem os líquenes que hoje alimentam a política e a economia. Bocage é um biótopo português do século XVIII de extrema riqueza de vida individual e social devido à sua variedade de estruturas caracteriais que apresenta numa de sobreviver ao poder maçónico e ao poder clerical em debate. Entre o despotismo iluminado que vem de fora (Marquês de Pombal) e o tradicionalismo medieval de Pina-Manique, Bocage luta por sobreviver e subsistir nos biótopos culturais em mudança.

Entre a luta pela liberdade e a amarra ao poder que possibilita subsistência Bocage é a manifestação de um currículo de Português inteiro! Ontem como hoje o poder pode mais.

Bocage, no seu autorretrato resume bem a sua pessoa:

“Magro, de olhos azuis, carão moreno,

Bem servido de pés, meão na altura,

Triste de facha, o mesmo de figura,

Nariz alto no meio, e não pequeno;

 

Incapaz de assistir num só terreno,

Mais propenso ao furor do que à ternura;

Bebendo em níveas mãos, por taça escura,

De zelos infernais letal veneno;

Devoto incensador de mil deidades

(Digo, de moças mil) num só memento,

E somente no altar amando os frades,

 

Eis Bocage, em quem luz algum talento;

Saíram dele mesmo estas verdades,

Num dia em que se achou mais pachorrento.”

 

Na egloga “Queixumes do pastor Elmano contra a falsidade da pastora Urselina”(1), Bocage mostra o complicado da sua personalidade e do tempo e revela que tudo não passa de um emaranhado entre fidelidade e traição. Diferentes estilos de vida são questionados por Bocage: talvez a sua atitude perante a vida e as atitudes que a vida mostra levar.  Entre ele e Urselina se parecem debater a tradição nele presente e os tempos novos que o futuro promete em Urselina. Bocage não encotra situação de resolver o conflito existencial em que vive tendo por isso de se resignar em vingar-se de Urselina em Ritália. Estas serão as dores de parto do passar de um tipo de sociedade para outro.

Cito de seguida algum texto  da égloga de Bocage (no caso Elmano) no sentido de se compreender a minha interpretação:

“Tudo, enfim, descansava, excepto Elmano,

Que a mão do Fado, universal Tirano,

Sentia sobre si descarregada …

Sendo os desgostos seus o seu rebanho.

Honrados Maiorais o Ser lhe derão.

As Musas o encantárão mais que tudo,

Ateando-lhe n’alma o Fogo santo,

Que estúpidos Mortaes desdenhão tanto…

Assim Francino a causa lhe inquiria:

Que tens, Elmano? Que fatal desgosto

Banha de tristes lagrimas teu rosto?

Tu, que, ainda há brevissimos instantes,

Te acclamavas feliz entre os Amantes,

Logrando mil carinhos, mil favores

De Urselina gentil, dos teus Amores,

(Queixa-se da desilusão com a infiel)

Que tanto amara e em quem confiara….

Traidora! Eu não dizia, eu não jurava,

Que o meu socego ao teu sacrificava!…

Porque me não déste o desengano,

Que eu te pedia, Coração tyranno?

Se Inálio, porque tem Campos, e Gados,

Numerosos Casaes, amplos Montados,

Attrahe esse teu génio interesseiro,

E eu, posto que leal, que verdadeiro,

De clara geração, de sangue honrado,

Caducos, frageis bens não devo ao Fado,

(Francisco diz-lhe:)

Castiga-lhe a traição, e o fingimento

Lançando-a n’um profundo esquecimento.

Não merece a paixão, que tens por ella…

Aquella alma não arde, não se inflama,

A todos corresponde, a ninguem ama…

Nunca soube escolher, tudo lhe agrada,

E inda que astutamente infatuada

Faça crer aos Amantes o contrário,…

Adora a Providência em teu desgosto,

Não delires, Pastor, não desesperes,…

(Elmano responde:)

Eu dou mil graças ao Poder Divino

Por me livrar do engano em que vivia,…

Ritália desde agora o lindo objecto

Será do meu fiel, constante affecto…

Farei voar nas azas da ternura,

E assim me vingarei d’huma perjura…

E a fria indifferença, com que intento

Recompensar-lhe o torpe fingimento,…

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

(1) Texto completo em file:///C:/Users/Antonio/Downloads/queixumes_do_pastor_elmano_contra_a_falsidade_da_pastora_urselina.pdf

 

BOM ADVENTO

Advento é o tempo da caminhada para a gruta do coração!

Advento aponta para a chegada, para o natal; é o tempo de espera e de esperança (1). Liturgicamente, o tempo de espera é o tempo grávido que vai até ao dar à luz: o natal acontece hoje e sempre na gruta do coração, onde se dá a revelação d’Aquele que é, que era e que vem. Ele não foi nascer no templo nem no parlamento, nasceu e nasce numa gruta da terra ainda virgem e aberta a tudo e todos, onde se pode encontrar pobre e rico, crente e céptico, toda a pessoa de boa vontade, aberta e disposta a deixar-se surpreender para dar oportunidade à criatividade.

Texto completo em Pegadas do Tempo https://antonio-justo.eu/?p=3975

Um Bom advento para todos

 

(1) Advento é um tempo ilimitado de preparação em que somos convidados a estarmos atentos para podermos deixar entrar em nós o bem e despertarmos do sono espiritual. Na tradição cristã o tempo de Advento pretende levar-nos a reflectir para estarmos preparados e assim podermos caminhar com Jesus nas nossas vidas. Santo Agostinho dizia:” Tenho medo que Jesus passe sem me dar conta”.

DIA INTERNACIONAL PELO FIM DA VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES

A Dignidade individual humana deve determinar os Costumes sociais – Urge a Hora de Feminilidade

O 25 de novembro – é o Dia Internacional pelo Fim da Violência contra as Mulheres. É denominado o “Dia da Laranja” e nele a ONU alerta para se tomarem iniciativas públicas com campanhas c0ntra a violência durante 16 dias e que decorrerão até ao Dia dos Direitos Humanos em 10 de dezembro.

A matriz patriarcal deixa as mulheres para trás. Uma em cada cinco refugiadas são vítimas de violência sexual no mundo

Numa sociedade em que a violência é tolerada, as mulheres são as mais atingidas! Especialmente em sociedade fortemente patriarcalistas torna-se mais que oportuna uma revolução da feminilidade.  Nos regimes islâmicos, devido à coerência interna do sistema, a revolução estará nas mãos das mulheres com o apoio de homens de boa vontade.

Atualmente na imprensa sobressai o que acontece no Irão. Lá encontra-se em via uma revolução feminina desde há dois meses desencadeada pelo assassinato de Mahsa Amini em Teerão sob custódia policial por alegadamente não usar correctamente o seu lenço de cabeça.

Entretanto, acredita-se que mais de 300 pessoas morreram até agora e mais de 15 000 foram presas, muitas destas com a perspectiva da pena de morte, relata o jornal HNA (25.11.2022).

O regime iraniano desde há 43 anos discrimina, humilha e rebaixa as mulheres, como testemunha, no jornal, a iraniana Maryam Parikhahzarmehr, que fugiu da sua pátria para a Alemanha há nove anos atrás: “As mulheres ou têm de ser obedientes ou sofrem. Tiveram de renunciar aos seus direitos e experimentar a violência diária. O lenço da cabeça é mais um símbolo de opressão. As leis islâmicas privam as mulheres dos seus direitos. A polícia da moralidade está em todo o lado e controla as pessoas nas suas vidas privadas.” Por exemplo nos casamentos homens e mulheres não podem festejar em conjunto.

No regime islâmico a lei Sharia determina a vida social. O divórcio só é possível com o consentimento do marido. O testemunho de um homem em tribunal vale o dobro do testemunho de uma mulher: “Se as mulheres solteiras forem executadas, serão casadas à força e violadas de antemão, a fim de as desonrar. Para que não vão para o paraíso após a morte”.

Na cultura persa, as mulheres tinham um estatuto mais elevado. O regime islâmico está a tentar eliminar aquela cultura num processo de arabização através da religião.

Também nos países ocidentais se observa muita violência contra mulheres. Resta-nos ainda muito trabalho a fazer até que se consiga neutralizar o paradigma político-sociológico dominante da masculinidade. Até os próprios métodos de emancipação são também eles determinados pelo paradigma masculino longe de um ideal ou estilo de vida que integre de maneira equilibrada as energias da feminilidade e da masculinidade. Enquanto não se desenvolver uma nova cultura social – política, económica e filosófica – com uma matriz social mista (integradora da masculinidade e da feminilidade) a violência e a opressão continuarão a ser meios “legítimos” de desenvolvimento e afirmação.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

VAMOS APERTANDO O CINTO EM FAVOR DAS TRÊS GUERRAS

União Europeia reduzida a mera Feitoria dos Estados Unidos?

Temos na Europa uma guerra europeia que não é dos europeus. Geopoliticamente é uma guerra entre os Estados Unidos e a Rússia, embora a decorrer no território dos outros, no território ucraniano!

Este ano, a UE dá mais 2,5 mil milhões de euros à Ucrânia. Para o ano 2023 estão planeados mais 18 mil milhões. Os ministros das finanças dos estados membros devem agora trabalhar isso em termos concretos.

Segundo o primeiro ministro ucraniano Denys Schmyhal, para a reconstrução da Ucrânia, são precisos cerca de 720 mil milhões de euros.

Num mundo social cada vez mais cego, a opinião pública só fala da guerra militar entre russos e ucranianos.

Temos, porém, três guerras a acontecer em três campos: a guerra militar na Ucrânia que se tornou numa tragédia humana; a guerra nos meios de comunicação social a contribuir para uma sociedade cada vez mais manipulada e temos a guerra na economia de que todos já começámos a sofrer as primeiras consequências.

As consequências estão a ser suportadas pelo povo e pelas nações europeias em desgaste. As novas gerações estão a ser penhoradas com as dívidas que no futuro têm de pagar. A indústria europeia terá de emigrar para os Estados Unidos dado lá ser a energia muito mais barata. A União Europeia está cega e a arruinar os estados europeus!

A Alemanha já geme por todos os lados, apesar do muito dinheiro que rola! Uma vez destruída economicamente a Alemanha, destrói-se a Europa que ficará reduzida a uma União Europeia a funcionar discretamente como feitoria dos Estados Unidos.

Os Estados Unidos são quem ganha com esta guerra. Os europeus já têm de comprar aos EUA o gás 4 vezes mais caro do que é comercializado para os americanos. A Europa tem de comprar armas e material de guerra sofisticado aos americanos e deste modo subsidiar a economia de guerra americana.

E tudo isto devido aos erros da política que nos governa e secundado pelo desejo inconsciente europeu de autodestruição.

 

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

DA POEIRA DO FUTEBOL E DA AREIA NOS OLHOS

Os Traidores das próprias Regras armam-se em Denunciantes do Catar

Sete países europeus queriam que os seus capitães das equipas de futebol a atuar no Catar usassem uma faixa de capitão com os dizeres “One Love” em defesa da inclusão!

A FIFA ameaçou puni-los com cartão amarelo ou com outra pena caso usassem a faixa. Perante a ameaça de punição, os respectivos representantes dos países, Inglaterra, País de Gales, Bélgica, Dinamarca, Alemanha, Holanda e Suíça renunciaram à iniciativa.

Por outro lado, delegações da União Europeia (especialmente da Alemanha) inclinam a cabeça com reverência profunda perante os catarenses para que lhes vendam gás!

A Elite catarense pode rir-se destes europeus que por um lado querem o negócio do gás, por outro lado tomam iniciativas em defesa da moral, mas, quando se trata de passar à prática, a moral revela-se apenas como areia lançada ao ar com o fim de irem entretendo o povo em conversas sobre ela. O cinismo e a hipocrisia mandam saudações!

A abertura que a Europa coloca na sua bandeira não é honesta pois mostra-se cosmopolita em termos de valores, mas o que realmente a empenha são os negócios mesmo que estes sejam em detrimento dos direitos humanos. Em nome do bloqueio de um tirano estende-se a mão a outros tiranos e tudo como coisa natural, na convicção de que meio mundo corrupto negocia com o outro meio feito de meios-corruptos (Esta moral do pragmatismo fundamenta a sustentabilidade da corrupção). Já seria tempo de se deixar de jogar usando um pau de dois bicos e reconhecer que ladrão que rouba a ladrão não deve fazer por ser perdoado pelo povo. O facto de a cosmopolita União Europeia não defender consistentemente seus valores faz parte de sua própria estratégia de dupla moral: fazer negócios internacionalmente inacreditáveis e, ao mesmo tempo, criar a impressão no público de seus próprios países de que a moralidade e a justiça estão sendo defendidos. Assim se obtém o apoio do povo embora o jogo da política seja outro! Também as sanções económicas em geral feitas em nome de valores a defender têm como finalidade não a paz nem a justiça, mas sim manter a guerra por outros meios em favor dos grupos mais poderosos.  Por isso também a discussão pública em torno do Catar mais não é que atirar poeira para o ar (De esperar será que do jogo sempre se criem alguns impulsos no povo vivente no Catar para que este vá erguendo a coluna vertebral e também reflexão entre nós para irmos erguendo também a nossa).

A FIFA e os interesses económicos sabem que têm em sua posse o palco onde os políticos orgulhosamente se movem e por isso sente-se na mesma casa podendo agir livremente, independentemente da injustiça, porque o que conta é poder, interesses e influência. As federações nacionais estão metendo o rabo entre as pernas, mas quem ganha é o Catar e a política de corruptos que também somos. (Componente da mesma política encontra-se a cedência de valores religiosos cristãos em favor de valores muçulmanos, dado estes favorecerem os negócios).

O mundo arranja-se de modo a tudo se tornar negócio. Na pessoa do presidente da FIFA, Gianni Infantino, torna-se mais visível, especialmente como os países que participam da iniciativa “One Love” estão perdendo a sua espinha dorsal e a já deficiente credibilidade.

Os organizadores e políticos sabem que, em geral, primeiro vem a política empresarial, depois a geopolítica, seguindo-se a política nacional subjugada e finalmente as pessoas (assistentes entretidos com muitos espetáculos e um pouco de futebol).

No meio do cinismo e da hipocrisia reinante não é fácil manter os olhos abertos! Tudo cada vez mais na mesma.

O Catar defende os seus interesses seguindo a sua tradição religiosa enquanto os europeus querem tudo, querem o dinheiro e a honra. Quem traiu as próprias regras foram os países participantes e na opinião pública ocidental armam-se em denunciantes ou quixosos.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo