A GUERRA DA UCRÂNIA É A CÓPIA DA GUERRA DO PELOPONESO

Uma Guerra entre dois Modelos de Valores com previsíveis iguais Resultados

Para quem se lembra da História, na Ucrânia realiza-se em termos geopolíticos, uma guerra muito semelhante à do Peloponeso (século V a.C.) entre os dois poderes rivais (cidades-estados Atenas e Esparta).  Entre eles desafiavam-se interesses económicos, políticos, militares e de vias marítimas, também eles disputados entre dois modelos políticos de cidades-estados em que ambas queriam impor o seu domínio sobre os gregos; no caso da Ucrânia estão em causa, de maneira camuflada, o modelo capitalista e o modelo socialista que pretendem impor o seu domínio sobre os povos do mundo.

À imagem do que se deu no Peloponeso, as disputas de interesses entre a Federação russa e os Estados Unidos da América (NATO) provocaram a guerra na Ucrânia. Outras encenações e tentativas de explicação ou de ordenamento de factos ronda a   tentativa de enganar povo inocente para melhor se atingirem interesses dúbios! Na guerra do Peloponeso o domínio ateniense perdeu seguindo-se as invasões macedónicas. Na hipócrita guerra ucraniana a disputar-se entre ocidente e oriente tudo leva a crer que o Ocidente perderá em grande parte a guerra e as consequências serão a curto prazo os EUA perderem a hegemonia mundial seguindo-se um tempo de alinhamento mundial de povos para posteriormente se passar a equacionar uma geopolítica de tipo multipolar mais equilibrada e mais justa para os povos e para os Estados (isto independentemente de se entrar numa discussão de que valores).

Seria de esperar que a guerra geopolítica da Ucrânia se resolvesse na mesa de conversações e  que a Ucrânia se tornasse na última aventura americana fora da sua terra e que a sua perca, (tal como aconteceu no Afeganistão, Iraque, Síria e Líbia), se torne num aviso à China para que respeite Taiwaneses e renuncie às suas aspirações sobre Taiwan. Uma mesa das conversações de paz da Ucrânia poderia ser uma oportunidade para que as nações de preponderância universal (NATO, Rússia e China) se entendessem moderando os seus desejos de poder expansionista. A organização do bloco Brics poderia também ela tornar-se num elemento moderador de aspirações hegemónicas geopolíticas contribuindo para a construção de um mundo multipolar. Os governantes europeus parecem não estarem conscientes dos desenvolvimentos dos povos ao tentarem branquear a própria política desvalorizando o esforço dos Brics como “política do ressentimento”!

A situação dos Brics ou dos Brics+ (1) é sobretudo uma reacção à actual ordem mundial e por isso também haverá Brics + a “várias velocidades”, tal como se imagina fazer-se para a União Europeia. Uma das consequências do crescimento do G Brics será um acentuado encarecimento da vida no Ocidente com sublevações sociais, o que pode provocar maior aproximação (mistura) no estilo de governo de regimes democráticos e de regimes autoritários; por outro lado a existência do G Brics provocará grandes mudanças especialmente em África e encorajará governos e povos a juntarem-se para se poderem erguer!

O “mito” do risco de uma guerra na Europa e de que o sangue dos ucranianos defende a liberdade europeia conseguiu mover a veia nacionalista fomentada pelos Media que descontextualizam a situação ucraniana   com a ideia de que um país pequeno luta contra um país gigante quando em jogo estão dois gigantes em luta num cavalo de troia que é a Ucrânia; deste modo se converte desinformação em informação como se se tratasse de uma luta entre o bem e o mal, deixando de parte os verdadeiros interesses em jogo já bem equacionados na guerra do Peloponeso. A meia informação e a confusão infantilizam um povo que se deixa ir na onda da meia-informação que elites interesseiras dos lucros económicos imediatos e do poder geopolítico espalham através de canais televisivos financiados por taxas quebradas aos cidadãos.

A provocação de Bucareste feita em 2008 pelos EUA e pela OTAN à Rússia de que a Ucrânia e a Geórgia se iriam tornar membros da aliança atlântica afastou toda a ilusão da construção conjunta da “casa europeia” e deu gás à confrontação por obra e graça dos EUA.

Depois seguiu-se a Revolução Maidan que culminou na eliminação da neutralidade internacional da Ucrânia. Depois do alargamento da área militar da NATO em direcção à fronteira da Federação russa, o último reduto do preço da paz entre oriente e ocidente seria a manutenção do estado de neutralidade da Ucrânia. O conflito geopolítico a decorrer depois na guerra civil ucraniana onde foram mortos 13.000 civis e 4.000 soldados atingiu o seu auge na intervenção directa da Rússia na Ucrânia em 2022. A partir de 22 de fevereiro o conflito entre os EUA/EU e a Federação russa até então a decorrer na Ucrânia foi apresentado na opinião pública europeia como mero conflito entre a Rússia e a Ucrânia e como iniciado pela Rússia.  A partir daí procurar a verdade tornou-se criminoso. Pessoas que não seguem a opinião oficial dos Media ou que a questionam são declaradas como pessoas non gratas ou como contaminadoras do próprio ninho; no meio da sociedade surge um trato social agressivo semelhante ao tratamento dos que com razão negavam a qualidade da “vacina” anti-Covid ou problematizavam a prepotência das medidas ordenadas. Aqui governos e Media aliaram-se em tipo de campanha contra direitos fundamentais dos cidadãos e toda a multidão que seguiu sem tugir nem mugir e se armou em escudo capanga (faz-tudo) das autoridades passando-se depois à ordem do dia sem sequer pensarem no mal que socialmente provocaram. A responsabilidade foi declarada anónima e a irresponsabilidade política amnistiada por ela mesma. Observei fenómeno social semelhante contra os que em 2003 eram contra a invasão do Iraque liderada por EUA e Reino Unido contra Saddam Hussein e que levou o país ao caos. Na altura os EUA mentiram dizendo que o Iraque tinha armas de destruição em massa e era uma ameaça à paz internacional. Enquanto as coisas se dão seguem-se políticas enganosas e depois de terem acontecido embora os críticos tenham tido razão não se estabelece justiça porque a “razão” fica sempre do lado do poder e da população obrigada a segui-lo e não podendo por isso retratar-se.

Um dia, Zelensky, por razões óbvias, perderá a guerra e alguns factos serão, a posteriori esclarecidos (uma vez renovado o arsenal militar faltará um dos factores implementadores da guerra!); haverá uma transfiguração de maneira a justificar-se a derrota ou pelo menos a explicá-la. Seria de esperar que então a Europa acordasse para si mesma e descobrisse também o lado bom da Rússia, para juntas construírem a “casa europeia” numa política comum de Lisboa a Moscovo própria para dar resposta a uma geopolítica pluripolar mais séria e mais justa! Pessoas críticas que, por conhecimento do emaranhado e da futilidade do conflito defendiam conversações e compromissos de paz não verão reconhecida a precisão de sua posição crítica e passarão ao esquecimento oportuno porque ao regime continuará a ser conveniente a afirmação de meias verdades e o que os porta-vozes históricos do sistema deixam nas narrativas dos acontecimentos.

O que está em jogo são interesses económicos míopes e o assegurar-se das vias de tráfico como no caso do Peloponeso. O General Raul Luís Cunha refere que “as multinacionais americanas Cargill, Du Pont e a Monsanto (empresa germano-australiana, que tem capital americano) compraram à Ucrânia (Zelensky) 17 milhões de hectares das férteis terras negras da Ucrânia e por seu lado essas empresas têm como accionistas Vanguard, Blackrock e Blackstone, ou seja, as mesmas 3 empresas financeiras que controlam quase todos os bancos do mundo, bem como todas as grandes empresas de armamento do globo”. Há também empresas alemãs e doutras nações da NATO na Ucrânia muito empenhadas no mero capital que a rica Ucrânia contem.

A Europa encontra-se numa fase de empobrecimento da sociedade por fora e por dentro. Urge a contensão da mente nas ideologias, domar os oligarcas e a fome dos falcões de guerra quer liberais quer progressistas. Então as nossas gerações futuras terão momentos mais pacíficos e mais humanos.

 

António CD Justo

Pegadas do Tempo

(1) BRICS PLUS significa mais “Cooperação Sul-Sul” e “Desdolarização” do Comércio mundial : https://www.gentedeopiniao.com.br/opiniao/o-mundo-reorganiza-se-com-um-brics-plus-a-margem-do-conflito-sistemico-socialismo-capitalismo ; comentários em https://antonio-justo.eu/?p=8741

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Publicado por

António da Cunha Duarte Justo

Actividades jornalísticas em foque: análise social, ética, política e religiosa

10 comentários em “A GUERRA DA UCRÂNIA É A CÓPIA DA GUERRA DO PELOPONESO”

  1. Carlos Alberto Gonçalves Campos ,no meu entender era o lado que proporcionaria à Europa ter algum valor na geoestratégia mundial multipolar. Os EUA não queriam concorrência e determinaram impedir qualquer aproximação da Europa à Rússia. De resto a Rússia tal como os EUA e aliados têm lados bons e maus e cada grupo com os seus interesses que levam os dois lados a diabolizarem o lado adversário. Só uma política de aproximação e confiança poderão preparar o caminho para a paz!

  2. Caro António Cunha Duarte Justo, muito obrigada por mais um texto muito exato que reflete a realidade. Infelizmente não é fácil fazer com que as pessoas vejam o que está a acontecer, de verdade, na Ucrânia; isto deve-se ao facto de se verem muitos telejornais e ser tudo uma lavagem cerebro-emocional onde é proibido fazer recurso da razão.
    Do seu texto só não sei se concorco imediatamente com a esperança desta frase: “(…)posteriormente se passar a equacionar uma geopolítica de tipo multipolar mais equilibrada e mais justa para os povos e para os Estados”.
    Os motivos pelos quais eu não creio numa geopolítica de tipo multipolar mais equilibrada e mais justa, é o seguinte: enquanto a guerra decorre, a BlackRock e a Vanguard andam a “comprar” a Ucrânia aos “bocados” e a investir em diversas áreas.
    Há já um plano para aquilo que será a Ucrânia em 2030 – uma cidade digital, regidas por todo o tipo e política perversa/idiológica que nos andam a impor – se houver gente de carne e osso, certamente não saberão o que é a liberdade. E portanto, isto não me parece um cenário de equilibrio ou justiça para ninguém.
    Mas claro, estamos numa guerra que a cada dia aumenta de intensidade e amplitude, o resultado será imprevisível e pode ser que todos estes “investimentos” das empresas privadas e dos Estados Unidos não tenham qualquer valor no final.

  3. Silvia Carmen , gostei da sua abordagem argumentativa; hoje cada vez se torna mais difícil fazer-se uso da própria mente e ter opinião própria devido à corrente (Mainstream) da opinião única levada a reperir o que os meios de comunicação transmitem levando as pessoas a não argumentarem. Quanto à geopolítica multipolar vejo-a num momento preliminar como uma forma de sairmos do ditado de um bloco ou do outro e de passarmos a uma política do compromisso e do diálogo, entre povos e governos, talvez mais motivados por interesses pragmáticos e não tanto pelo poder económico-militar. Um problema grande será, porém, a corrida ao armamento já não só centrado nos países possuidores de armas atómicas. De resto, os interesses económicos e estratégicos (assegurar as vias de comunicação para as cadeias do tráfego internacional) irão fazer com que a guerra se prolongue indefinidamente. O futuro parece favorecer os oligacas.

  4. António Cunha Duarte Justo, eu ponho na mesma balança, a Rússia, os EUA e A China. Que de bom há em qualquer desses países? Conheço bem a Rússia que é o que falamos agora. Conheço-a bem. Comecei a prender a língua russa com 18 anos. Ao fim de quatro anos de curso dominava uma língua de que gostava e cheguei a ser tradutor oficial de russo. Havia poucos nessa altura, mas isso agora não interessa. Responda-me só àquilo que eu afirmei. Que de bom HÁ (???) na Rússia a não ser algum povo instruído (já fugiram desde a invasão mais de 1 milhão de russos). Fala de Paz com Putin? Um país que invade outro soberano em 2014 e agora em 2022 (24 de Fevereiro) quer paz. Não brinquem comigo.

  5. Carlos Alberto Gonçalves Campos, penso que em termos de geopolítica e dos correspondentes interesses egoistas não conta o bem nem o mal de um lado ou do outro; o bem estará nos interesses ao nível de populações e não ao nível de Estados Rússia-EUA-China; temos de procurar coexistir de maneira mais humana, tendo de deixar o ter razão para um outro capítulo e nesta situação importante será que as partes entrem em conversações, doutro modo teremos guerra e mortandade durante muitos anos e no fim as partes ver-se-ão obrigadas a sentarem-se na mesa das conversações, depois de tantas tragédias criadas de lado a lado. Trata-se de sistemas coexistentes. O mal que nós temos corresponderá ao bem que a Rússia tem e o mal que a Rússia tem corresponderá ao bem que nós temos. Importante será juntar o bem que há dos dois lados e diminuir o mal comum. Doutro modo não sairemos de uma visão maniqueia que procura juntar o bem a um lado e o mal ao outro. Quem primeiro manifestou vontade de se juntar à Europa foi a Rússia com a sua ideia da Casa europeia comum. Interesses adversos à Europa impediram o diálogo e as boas relações.

  6. Custa-me ver as pessoas a sofrer, as crianças principalmente, os jovens numa guerra que o povo , não tem culpa nenhuma !!! interesses diria táo bárbaros e desumanos. Deus Criador de todas as coisas, não disse: Há UmaTerra Pra cada “UM ” Sim o mundo a divide a ganância de cada Um a divide alguém disse matamos Deus!.. eu sou Deus então ai temos toda a força de todo o mal. enganem- se Deus não morreu não está morto Deus põe as pedras a falar se é preciso !.. já o está fazendo Disse Deus .: Fiz uma terra para vós para viverem felizes onde corre leite e mel Os homens preferem o mal para si próprios e para toda humanidade todos sofremos quando o mal é escolhido em interesses desordenados no seu próprio bem estar! Enquanto outros gritam justiça!! Deus Criou -nos para o respeito por cada Ser criado á sua Imagem semelhança não somos coisas todos somos gentes .. Somos rostos de Deus !..

  7. Conceição Azevedo , sim a situação é desesperada e só faz sofrer. Na guerra nota-se bem que “o homem é o lobo do homem” como dizia Titus Maccius Plautus (Homo homini lupus) . Como se vê neste conflito, o homem é o maior inimigo do homem e quanto mais se afasta de Deus mais inimigo se parece mostrar de si mesmo!!

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