NO DIA DA MULHER

Falta da Face feminina na Matriz cultural

A matriz cultural (talvez mais adequado dizer “patriz” cultural!) em que vivemos é masculina e como tal discrimina de maneira sistemática a mulher ao não evidenciar o rosto da feminilidade nela! Nesta matriz ainda se aceita como natural ver os homens a explicar o mundo, partindo do princípio que eles é que sabem como o mundo funciona. A não integração da feminidade de maneira sistémica na matriz provoca discriminação e lutas correspondentes à forma de estar desse modelo cultural; não se tem tido em devida conta o aspecto da complementaridade do feminino e do masculino numa inter-relação  de diferenças, chamadas a ser inclusivas e não exclusivas.

O que se mantém em silêncio é que esta atitude é a consequência da matriz masculina que nos orienta e por isso estamos a lidar principalmente com um problema sistemático que se expressa em papéis e evita o talento feminino na qualidade de perito. Seria trágico para a sociedade se homens e mulheres entrassem numa luta de uns contra os outros na sequência sistémica orientada para o poder e para a dominação (atitude própria de um modelo cultural mais masculino que se poderia apaziguar através da inclusão nele do princípio da feminilidade). Seria absurdo e desonesto entrar-se numa discussão de experiências puramente pessoais numa espécie de luta corpo a corpo. O importante será ter um espaço em que se questione tudo para que os estereótipos sejam quebrados e se possibilite o surgir de uma nova cultura de relações a um nível básico interior e exterior. Isto não evitará a questão de homens se fixarem mais no mental e de mulheres no experimental (o método dedutivo e indutivo são formas necessárias complementares de explicar o mundo).

As mulheres não são melhores nem piores que os homens; umas e outros são diferentes, mas ambos portadores dos princípios da masculinidade e da feminilidade com diferentes predominâncias (pode até haver homens com predominância das características femininas e mulheres com a predominância de particularidades masculinas). Uns e outros são seres feitos deles mesmos e das suas circunstâncias e como tal sempre em processo de desenvolvimento! A injustiça feita às mulheres assenta no paradigma masculino que dá forma a todas as culturas e sociedades mundiais, obstruindo, basicamente, o surgir de uma igualdade dos dois rostos na sociedade. Para evitarmos muitas guerrilhas entre homens e mulheres será de começar por articular o lugar mais eficiente, a nível de princípios, afinidades e valores, que resolva de maneira inclusiva os problemas conflituais que se expressam em papéis demasiadamente definidos.

Numa fase intermédia, é lógico que muitas mulheres se organizem e lutem pela emancipação fazendo uso de métodos e estruturas que assentam no modelo cultural masculino. Como a estrutura masculina se afirma pela luta, também elas usam como estratégia essa forma de afirmação, ainda condicionada mais ao ter e adquirir do que ao ser!   É demasiado evidente a falta da face feminina na matriz cultural: uma nova matriz em que masculinidade e feminilidade fluem poderia ser simbolizada e expressa numa mesma moeda composta da face feminina e masculina!

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenski pretende concretizar a obrigatoriedade do alistamento de mulheres no serviço militar (1).

Tal intento, há anos legalizado, é, no meu entender, uma medida contra a feminilidade! Embora o movimento feminista (Femen (2), siga uma estratégia masculina de afirmação, neste ponto parece ter tido um vislumbre feminino ao declarar-se contra a inclusão de mulheres em zonas de combate!

Independentemente do respeito que se deve à decisão livre das mulheres, penso que as mulheres, que se manifestam contra o alistamento delas nas guerras, são as verdadeiras femininas que defendem a feminilidade (energia da paz), abstendo-se de entrar, num mundo de masculinidade exacerbada expressa no exército; para já urge o surgir na sociedade o rosto feminino  que questione a nossa matriz cultural mundial que se manifesta ridiculamente no que acontece em torno da Ucrânia/USA/Rússia.

Neste paradigma, a feminilidade não está presente, apenas se instrumentaliza a mulher! Talvez esta situação concorra para que os movimentos de emancipação das mulheres tomem consciência delas para não se deixarem tornar agentes do “patriarcado opressor” que julgam combater! A luta que fazem, usando a metodologia masculina de resolver os problemas, é compreensível se considerada apenas como passo provisório (Os lutadores são soldados em campo de batalha e como tal só podem ser tolerados por pouco tempo!), até que se esteja em situação de se criar uma matriz cultural em termos humanos justos e inclusivos dos princípios da feminilidade e da masculinidade, sem que haja hegemonia de um sobre o outro; isto, muito embora a questão se encontre radicada também em termos de funcionamento e organização do pensamento. A inclusão do princípio da feminilidade na base do paradigma iniciaria uma nova cultura mais humana e pacífica: outros valores e prioridades surgiriam sem que o papel social assumisse carater tão relevante!

Salvaguardada a liberdade de decisão da mulher, não é justo o argumento de que a mulher, para assumir responsabilidade pelo seu Estado, tenha de absolver o serviço militar e tenha de participar directamente na guerra (mesmo com o argumento da igualdade!), dado ela, também nesse esquema, poder assumir diferentes formas de serviço. Além disso é um facto que grande parte das mulheres já contribuem significativamente para a sociedade ao terem e criarem filhos (facto que numa sociedade de modelo não tão masculino deveria recompensar a mãe, monetariamente, como se fosse, durante um certo período, um soldado militar).  No meu ponto de vista, também não é sexismo defender-se que a mulher não seja convocada a fazer o serviço militar nem ser incluída em combates directos dado encontrarmo-nos numa matriz cultural em que a masculinidade se expressa e impõe sem contemplar a perspectiva da feminidade de de caracter pacífico.

É preciso apostar no poder renovador que a mulher tem (3).

 

António da Cunha Duarte Justo

©Pegadas do Tempo

(1) As mulheres devem ser recrutadas em caso de guerra. O escândalo é grande. Desde a Primavera de 2021, as mulheres de 100 grupos profissionais estão legalmente obrigadas a submeter-se ao serviço militar. Na altura, o regulamento mal foi notado pelo público. Para as mulheres, o serviço nas forças armadas é voluntário. Cerca de 32.000 mulheres estão actualmente a servir como soldados temporários no exército ucraniano, tendo cerca de 16.000 delas participado em operações de combate. O recrutamento de mulheres existe na Bolívia, Costa do Marfim, Eritreia, Israel, Coreia do Norte, Noruega, Suécia, Sudão e Chade. https://www.mdr.de/nachrichten/welt/osteuropa/politik/frauen-musterung-ukraine-militaer-100.html

(2) O grupo radical feminista Femen, nascido na Ucrânia, lançou uma nota pública em que exige que, se revogue o decreto que tornou obrigatório o alistamento de mulheres no serviço militar. Alguns intitulam tal exigência do movimento feminista Femen como hipócrita alegando que pretendem os mesmos direitos mas não as mesmas obrigações e que não foi o “patriarcado opressor”, mas a mentalidade feminista que colocou as mulheres na guerra. 

(3) PODER RENOVADOR DA MULHER: https://triplov.com/letras/Antonio-Justo/2009/mulher.htm, A História repete-se: https://antonio-justo.eu/?paged=99&author=1Aquivos ; Debate sobre o género: https://bomdia.eu/debate-sobre-o-genero-ciencia-ou-ideologia/ ; Matriz política… https://bomdia.fr/matriz-politica-masculina-nao-pode-ser-norma-para-a-instituicao-eclesial/ Sobre o tema mais artigos meus no google.

 

 

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Publicado por

António da Cunha Duarte Justo

Actividades jornalísticas em foque: análise social, ética, política e religiosa

20 comentários em “NO DIA DA MULHER”

  1. Subscrevo inteiramente.
    Também não concordo que as mulheres tenham que fazer o serviço militar, pois que, não tendo ainda sido quebrado o paradigma masculino que dá forma a todas as culturas e sociedades mundiais, a mulher já enfrenta várias “guerras” ao longo da sua vida.
    De notar que já se sente a presença feminina em muitos sectores importantes da sociedade (política, ciência, artes plásticas e musicais, literatura, etc. etc.)
    De facto, falta ainda o reconhecimento de que as duas faces
    (feminina e masculina), tendo o mesmo valor,
    fazem parte duma só moeda.

  2. Tantas faces femininas na matriz cultural! Agustina,Florbela,Teresa Horta, Lídia Jorge, Maria Judite de Carvalho, Teolinda Gersão, Natália Correia, Maluda,Graça Morais, M.João Pires, Graça Freire, Felipa Vasconcelos, Amália Rodrigues, Maria Estela Guedes, Vieira da Silva, … e mais cento e tal num país de 10 milhões.

  3. … matriz masculina?todas? Nem a Natália se safa? a do programa de TV “Mátria”? Nem a Teresa Horta,uma das três Marias?

  4. António Guerra Coutinho Independentemente dos seus altos serviços no sentido do humanismo e da feminilidade; funcionavam dentro de um sistema de matriz masculina em que a feminilidade não é em grande parte tida em conta nessa matriz dominada pela energia (princípios) masculinos! Esta é a minha ideia que julgo bem fundamentada se olharmos aos valores e princípios de caracter “masculino” que nos orientam!

  5. Quando reinava o fascismo , estes senhores quando alguém falava denunciávamo-nos á pide
    Em 1970 um clérigo católico romano na freg. de Guardizela, Guimarães Portugal “ disse que estivesse caladinho caso contrário tratava-me da saude
    FB

  6. António Cunha Duarte Justo, isto foi com a minha pessoa, não por ouvir outros.
    Não me defenda essa corja que diz falar em nome de DEUS o deus deles nada tem haver com o verdadeiro IHWH ok.
    Que IHWH esteja consigo.

  7. António Cunha Duarte Justo será que a inquisição era cristã?
    As mãos deles estão manchadas de sangue.

  8. São sim quem faz o mal deve pagar pelo mesmo.
    Mas quem faz o bem que IHVH se lembre deles no dia da prestação de contas.
    Sejam homens ou instituições. Sejam pesadas na balança do DEUS infalível.

  9. Essa já era velha no tempo que esse sacerdote o disse.
    Ele era bom agora para tratar da saúde mas aos enfermos. Da Covid-19
    O sentido era outro, só por ter uma Bíblia que ainda a tenho esse ser desprezível tratava-me da saúde.
    E o Sr não me venha com teologia ele representava a igreja romana
    Bom dia e que IHWH esteja com o Sr

  10. E se o mesmo tivesse ido como outros, bufar á PIDE?
    Cristão? Esse e outros serão cristãos!
    A religião católica romana sempre esteve ao lado
    dos ricos deste mundo

    Só porque um cristão-novo viu um buraco numa telha numa igreja em Lisboa
    Quantas pessoas por professar outra crença foram queimados vivos.!

  11. Narciso Azevedo, sim temos que estar todos bem atentos para não nos fixarmos demasiado nas nossas convicções porque então nos encontramos na mesma senda da inquisição! Quanto à sua afirmação de que a religião católica sempre esteve ao lado sos ricos deste mundo, dá-me a impressão que o senhor já viajou muito para chegar a tão extrema posião! Sabe uma coisa, afirmações como essa seja ela contra testemunhas de Jeová contra comunistas, ateus, homossexuais é que fomentam a guerra porque se parte de homens fardados ao serviço de uma ideologia religiosa ou política! A guerra começa no momento em que prretendemos afirmar a nossa posição como se fosse a posição válida a seguir pelos outros!

  12. Mais me ajuda,obrigado.Nomeei as primeiras que se revoltaram, na cultura,contra essa hegemonia masculina. Senão houver que comece a luta,nunca haverá quem consolide a mudança.

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