SUDÃO DIVIDIDO EM DOIS ESTADOS

Sul do Sudão mantido sob a Estratégia árabe da Guerrilha


António Justo

As ameaças, do governo islâmico de Cartum, de perseguirem os cristãos que vivem no norte do país (1,5 milhões de cristãos) caso o sul cristão (3.500 milhões de cristãos) se declarasse pela independência, não sortiram efeito. Os resultados do referendo com 99% de votos a favor da independência corresponderam às previsões. A consequência do referendo do povo da zona sul do Sudão será a divisão do país em dois estados. O pacto de paz de 2005 previa o referendo. O conflito entre norte e sul começou em 1983 quando o norte, de maioria muçulmana, impôs ao sul, cristão e de tradições africanas, a lei islâmica bárbara da charia. O conflito provocou dois milhões de mortos e milhões de refugiados.


O norte muçulmano já tinha ameaçado, no caso da separação, tirar os direitos civis e as possibilidades de rendimento aos cristãos do Norte.


“O Sul, com 8 milhões de habitantes, só tem um hospital que mereça este nome”, diz Hans-Peter Hecking, referente de Missio, depois duma visita à região. “Fora de Juba (sede do governo autónomo) não há um prédio público nem uma Igreja que se encontre intactos”.

O sul de cultura africana e cristã e o norte de cultura árabe e muçulmana não encontram a paz dado o Norte discriminar e explorar o Sul. O Norte não desistirá de impor a cultura árabe ao sul.


Organizações religiosas temendo que se origine um segundo Ruanda, alertaram as Nações Unidas e as organizações internacionais para a gravidade da situação. As igrejas cristãs tinham distribuído por todo o país uma oração apelando à paz e à coexistência no Sudão.


O mundo não pode continuar a fechar os olhos como tem feito até agora, quando se trata de pessoas africanas a serem sacrificadas ao terror de estados e grupos ou de sangue africano a correr.



Solução à maneira árabe não é solução

A declaração da independência do sul do Sudão está prevista para 9 de Julho. É previsível que aconteça no sul do Sudão, o que aconteceu com a criação do Estado de Israel. Os estados árabes estiveram de acordo com a sua criação e um dia depois da proclamação do Estado declararam-lhe guerra!


O Sudão árabe, ao impedir o plebiscito nalgumas regiões do sul, criou já condições e pretextos para continuar a sua estratégia de guerrilha no sul.


A consequência lógica será a guerra civil apoiada por grupos árabes do estrangeiro. O Norte que explorou o sul como fonte de matérias-primas e de escravos durante centenas de anos, quer continuar a impor a sua hegemonia muçulmana ao Sul.


Embora o Sul seja rico em água e em petróleo, metade da população vive de menos de um dólar por dia; a quota de analfabetismo atinge os 80% com a maior mortalidade de mães no mundo.


Fugitivos e refugiados, que regressam de mãos vazias ao sul, não recebem nenhum apoio do Estado.


Restam imensos problemas por resolver: a repartição da dívida externa do Sudão de 37 mil milhões de dólares, que correspondem às entradas do fomento do petróleo com os seu poços no sul; o problema dos pipelines que levam o petróleo para o Norte, donde é exportado; o plebiscito impedido na região sul rica em petróleo Abyei, Nilo Azul e Southern Kondofan e adiado para um prazo indefinido.

O caminho da liberdade do Sul é muito difícil atendendo à situação, à hipocrisia ocidental e à má informação dos defensores da liberdade na Europa e no mundo.


É interessante constatar como o mundo é injusto na sua política de informação e como esta é tendenciosa na reacção a querer provocar. Nesta zona onde morreram mais de dois milhões de africanos, tal como já aconteceu noutras zonas africanas, o mundo assiste sem se admirar de tal. Para o Ocidente o sangue de mil sérvios e cosovares na Europa revelou-se mais importante que o de milhões de africanos, deitados ao abandono! A África continua o continente a explorar, por capitalismo e comunismo, por árabes, chineses, ocidentais e orientais. São a factura a pagar pelo petróleo do mundo árabe. Como se o sangue da áfrica negra não fosse igual ao dos brancos!


O sul do Sudão, na sua miséria, só é ajudado por organizações humanitárias. Seria importante que paróquias e juntas de freguesias europeias se tornassem parceiras de paróquias e administrações locais africanas para as ajudar a sair do ciclo vicioso de opressão e pobreza. Deste modo seriam salvaguardados os biótopos de cultura africana e de cultura cristã, porque, a experiência da História ensina e resume: onde a cultura árabe entra os outros biótopos naturais estão condenados a desaparecerem para darem lugar à monocultura muçulmana. Sabe-se da agricultura que onde domina a monocultura o solo é destruído!


O Apoio que, com os nossos impostos damos ao Kosovo não deve ser negado ao Sul do Sudão. Doutro modo a ONU apoia os árabes onde estes gritam por liberdade e pratica a tolerância da opressão árabe nas suas zonas de domínio. O petróleo pode mais que humanidade e humanismo juntos! A pessoa humana na sua dignidade e direitos pessoais continua a não fazer parte da agenda das instituições e dos povos. Não chega o grito da liberdade da fome e de consciências incomodadas. Necessita-se dum grito da liberdade que surja da humanidade e do humanismo para o Homem!


António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

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António da Cunha Duarte Justo

Actividades jornalísticas em foque: análise social, ética, política e religiosa

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