A ENERGIA DAS PALAVRAS

Palavras e ideias atuam sempre nos que as dizem e nos que as ouvem, chegando, por vezes a ter um efeito hipnotizador. Nas ideias e nas palavras encontra-se o combustível que leva ao bom e ao mau agir.

A atmosfera de crise em que vivemos favorece discursos divisionistas e como tais legitimadores de guerras entre pessoas e povos. O discurso do ódio joga com os factores de identificação (luta do ego por ser e aparecer) que se alimentam de visões de confronto, especialmente num discurso que faz uso da política e da religião, como “comunicação” divisionista do que é teu e do que é meu.

A primeira condição para a paz começará pela transformação individual (homem, conhece-te a ti próprio) porque também na relação a dois se encontra o princípio da autoafirmação (definição) pelo recurso ao poder.

Palavras, imagens, sentimentos e acções andam interligados e são ordenadas segundo a própria experiência. Cada um associa uma ideia diferente a determinadas palavras. Uma palavra dita num sentido pode ser captada noutro sentido. Assim as palavras são portadoras de felicidade e infelicidade e são tão poderosas que a elas se seguem reacções e sentimentos que podem superar as forças de quem os sente.

O efeito de palavras tóxicas ou salutares podemos observá-lo directamente na reacção das pessoas com quem convivemos habitualmente.

Podemos também observar o efeito de palavras negativas no enfraquecimento do nosso sistema imune de defesa, e no equilíbrio mental, como provam averiguações e experiências feitas.

Creio que até certas doenças que adquirimos são o efeito de palavras e situações negativas. Começa-se por enfraquecimento na alma, que depois se passa a expressar em sintomas corporais.

Um ambiente com enfermidades psíquicas deprime tornando-se em ambiente enevoado, a que falta o sol e, onde não há sol, a vida definha. Todas as ideias e as palavras são expressão do nosso ser corporal e espiritual, influenciando-se mutuamente. O uso de palavras positivas, promove um comportamento procriador no sentido positivo.

O poder das palavras e da linguagem torna-se mais benéfico e eficiente quando parte de um fundo espiritual.

A oração tem um efeito muito positivo porque dá acesso a uma realidade superior, da qual flui a energia divina com encantador poder curativo.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

DIA DE AMIZADE EM TEMPOS DE CRISE

Muitas amizades esbarram nas opiniões sobre as medidas corona e a guerra na Ucrânia.

Segundo resultados do instituto de pesquisa de opinião YouGov e do Instituto Sinus, diferentes pontos de vista podem criar tensões de grande estresse nas amizades.

Quase dois terços dos alemães inquiridos dizem ter amigos com opiniões políticas diferentes. 35% perderam a sua amizade devido a opiniões políticas divergentes. 27% disse que era difícil manter amizades quando se tem opiniões diferentes sobre a guerra na Ucrânia. 56% afirmaram não terem qualquer problema com isto.

À pergunta: “Podem homens e mulheres ser amigos uns dos outros? 20% dos inquiridos afirmaram que era possível; 73% não acreditam nisso e 7% não sabia ou não respondeu a esta pergunta.

A Pandemia de Corona, fez com que os contactos fossem reduzidos ao mínimo. Assim, as amizades do dia a dia, que se baseiam naquilo que se faz em conjunto, desvanecem mais facilmente devido ao distanciamento provocado pela pandemia e por diferentes atitudes e opiniões perante ela. As amizades cordiais, essas, geralmente resistem às contrariedades surgentes porque se processam numa amizade de coração para coração e este consegue resistir a distâncias e ao tempo, independentemente das opiniões do parceiro.

Os acontecimentos do nosso dia a dia têm sido sobretudo dominados pelo conflito Este-Oeste a decorrer na Ucrânia e pelo medo do Vírus da pandemia e reações às medidas contra o vírus.

Tanto a guerra como a pandemia oferecem obstáculos às relações interpessoais  dado as pessoas geralmente se dividirem em dois grupos: aqueles que estão atentos e que cuidadosamente se agarram às regras ou à opinião dos superiores e aqueles que pensam que a vida é para se continuar a viver como antes ou apostando no que lhes dita a própria mente.

O problema esconde-se, por vezes por trás de uma opinião avaliadora mais interessada em que se vá uns contra os outros do que em fazermos caminho juntos.

Importante é fomentar-se uma atitude benevolente perante a vida e perante os interlocutores.

Tempos de crise exigem de nós mais esforço e maior criatividade e mesmo assim ficam muitos problemas por resolver!

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

O SUL GLOBAL ESTÁ A CHEGAR –VAI SER GRANDE O PREÇO A PAGAR  

China-Índia-Irão ao lado da Rússia e do outro lado os EUA com a NATO

O Ocidente, com os USA a encabeçá-lo, julgava, com a queda da União Soviética (1991), ter-se chegado ao fim da história cuja meta seria um mundo unipolar com os USA a comandá-lo. A reacção desastrosa de Putin veio demonstrar que tinham deitado os foguetes antes da festa! Tudo leva a crer que o resultado da Nova Guerra Fria fará surgir um bloco alternativo. As sanções económicas castigam especialmente os países sancionadores e dobradamente as suas populações que irão ver o sarilho em que foram metidas. Na Alemanha, políticos destacados, como Sigmar Gabriel, já se pronunciam a favor de horários de trabalho semanais mais longos. No jornal “Bild am Sonntag”, Gabriel anuncia que a Alemanha tem de se preparar durante dez anos “nos quais se tornará mais extenuante”, doutro modo não poderá manter a prosperidade (1)! Também associações empresariais e economistas defendem a introdução da semana das 42 horas e a idade de reforma para os 70 anos!

A afirmação do Rublo perante o Dólar americano (2) também indica que a hegemonia do dólar sobre as outras moedas se aproxima do fim! A Rússia e a China desligaram-se do sistema financeiro liderado pelo Dólar que tinha substituído o Ouro. Com o Dólar facilitavam-se as trocas internacionais e, por outro lado, os USA eram subsidiados por um mundo sujeito ao dólar!

O bloqueio económico à Rússia quis ignorar a dependência da Europa (o nosso bem-estar) das matérias primas baratas e deste modo a política das sanções económicas colocou em “fora de jogo” o próprio Ocidente, o verdadeiramente sancionado, porque obrigou a Rússia a controlar capitais e a determinar que o gás russo fosse comprado em rublos e tornado mais acessível a outras partes do globo. Tudo isto está a provocar um alinhamento geopolítico da Rússia com países asiáticos e com alguns africanos, proporcionando aos povos do Sul Global procurar nova orientação (3). O bloco ocidental (NATO) que antes vivia bem dos serviços prestados pelo sul global terá de se contentar com uma concorrência (entre pobres e ricos) mais limitada ao seu bloco, uma vez que a Ásia e a Rússia seguirão um outro caminho talvez mais solidário entre eles. Teremos China-Índia-Irão ao lado da Rússia contra a Hegemonia pretendida pela NATO.

Os USA queriam que a história acabasse neles, mas veem surgir um recomeço da História na Rússia e na China que parece iniciar a história de um mundo bipartido. A aproximação dos povos entre si não será fácil devido ao desequilíbrio na relação de poder entre eles.  Em 2015, os EUA tinham um total de 4.855 bases militares no mundo (4). A maioria das instalações situava-se no território dos Estados Unidos, 114 situavam-se em territórios estrangeiros dos EUA. 587 bases estavam localizadas no estrangeiro, 181 das quais na Alemanha (5).

Não chega difundir a democracia e os direitos humanos com a espada na bainha pelo facto de sermos “melhores”; é preciso criar uma solidariedade a nível de populações como aquela que reina entre a elites que nos conduzem. Temos que criar condições para que os povos se democratizem por dentro sem a desestabilização de povos nem submissão seja a que poder for. Temos que aprender a desenvolver-nos mais lentamente e para isso a caminhar mais devagar com o mundo todo criando sinergias entre povos e continentes sem que uns explorem os outros desumanamente.

O caminho que seguimos não é bom. Primeiro expropriaram-se os senhorios e agora expropria-se o cidadão que reduzido a contribuinte já não de um Estado, mas de forças globais anónimas é mantido na serventia.

Uma oligarquia financeira mundial que tem 90 por cento da riqueza global nas suas mãos fortalece-se cada vez mais. Serve-se do poderio militar para conseguir o monopólio e controlo já não de terras, mas dos Estados, com troicas e aliados. Em 2019 os 10% mais ricos da população de 57 países inquiridos em conjunto detinham cerca de 84% de 146 triliões de euros, o total dos activos financeiros líquidos. O 1% mais rico da população possuía quase 44% da riqueza, com uma média de activos financeiros líquidos por pessoa superior a 1,2 milhões de euros (6).

Agora que os parceiros da NATO se encontram num empasse histórico estão a perder a ocasião de dar um passo qualitativo da filosofia oligárquica financeira para uma filosofia social participada e solidária, numa estratégia comum onde a perspectiva de empenho de uns e outros fosse o bem-comum. A competição a haver seria: quem serve melhor o bem comum e não, quem tira mais proveito das situações e quem domina o outro! Uma nova matriz pressuporia uma nova reestruturação do pensamento e uma nova filosofia político-social. Para isso teríamos de abandonar definitivamente a estratégia de colonizar com ideologias subsidiárias das oligarquias liberais económicas.

Multinacionais globais e os sistemas bancários cada vez assuem mais funções supervisoras próprias do Estado; a nível individual, o Cartão de crédito quase já assume a função controladora do cidadão e, por este andar, chegará a substituir o passaporte! O sistema financeiro assume o lugar do crédito público.  (Antes sobressaíam as torres das Igrejas hoje sobressaem as torres bancárias.) Um Estado que não seja mais forte que a oligarquia perde a sua funcionalidade e impossibilita uma independência equilibrada e com ela a missão de servir o povo e o país.

As oligarquias financeiras, embora invisíveis, governam o mundo e através dos seus bancos internacionais disciplinam os países endividados de tal modo que a própria produção não pode conter as dívidas e assim se eterniza a dependência dos juros a pagar e coloca o cidadão numa situação de assalariado da finança internacional e os governos na mera posição de gerentes. (de lembrar que os países ricos pagam à oligarquia internacional uma taxa de juro muito mais reduzida do que os países precários). A política bancária estabiliza a subordinação comum e impede assim qualquer mudança política séria nas sociedades. Os políticos, por sua vez, através dos governos financiam as grandes empresas endividadas (ligadas à alta finança internacional) com o dinheiro público (impostos dos seus cidadãos); deste modo o sistema oligárquico é implementado devido à miscigenação de economia e política sempre à custa do bem-comum.  Com o truque das dívidas e inflação adia-se o desenvolvimento da história dos países; com magias rectóricas da política de informação, que assume um caracter narrativo, a narrativa pósfactual…

Também não é suficiente que as democracias liberais e o capitalismo consigam alimentar o povo mais precário com subsídios porque a injustiça continua a ser sistémica e se não estiverem atentos o sistema chinês, este até poderá ganhar a dianteira em termos de concorrência económica e até social, a nível material. A promiscuidade do grande capital com a classe política governante tem possibilitado nessa união oligarca o endividar do povo e colocar nações ao seu serviço (O caso de Sócrates em Portugal poderia ser o exemplo de uma relação à vista entre finanças e política como geradora de oligarcas). O exemplo da China em que o Estado controla a nação e as finanças através dos seus 80 milhões de comunistas afirma-se como verdadeiro concorrente do sistema ocidental se este não moderar o capitalismo e não mudar radicalmente a atitude dos governantes em relação ao bem-comum.

O problema a resolver seria: quem controla quem? Nem o sistema chinês com o seu controlo financeiro e social através dos burocratas comunistas, nem o sistema ocidental de controlo financeiro e diplomático pela força militar (NATO) dão resposta às necessidades humanas, na sua qualidade de pessoas e de sociedade. Ambos sistemas são selectivos e alienadores da pessoa e da comunidade, reduzindo-as a mero instrumento ou a mero meio para atingir um fim, quando o ser humano é, ao mesmo tempo, meio e fim, numa relação pessoa-comunidade e, como tal, não redutível apenas à qualidade de cidadão-sociedade! Há que inverter as categorias de poder e de servir para se criar uma nova matriz político-económica que integre os interesses concorrentes no sentido de servir todo o povo, independentemente do lugar geográfico ou ideológico onde ele se encontre!

Doutro modo, o autoritarismo hegemónico continuará a servir-se da guerra fria para continuar a dividir o mundo em vez de assumir a função de o unir.

 O plano de um governo mundial (globalismo global) é, também ele, fruto de ideias oligarcas centralistas (imperialismo total) e de uma atitude anti pessoa, antirregião,  sem respeito por culturas nem por biótopos regionais que, dentro dos seus organismos, criariam equilíbrio social, económico e financeiro (um sistema democrático mais orientado pela base ou bem-comum e não servidor do corporativismo liberal vigente que fomenta oligarquias do lucro e de poder).

O cidadão de hoje deserdado da terra e do campo perdeu a capacidade de autossustento e encontra-se em perigo de ser desenraizado também da família, dado, tanto a política como a economia, o conceber apenas como cliente ao serviço de uma globalização que tem por fim prolongar o “colonialismo”!

“A República de Roma enriqueceu a sua oligarquia ao retirar a riqueza das regiões que conquistou, deixando-as empobrecidas. Esta continua a ser a estratégia extractiva do colonialismo europeu subsequente e, mais recentemente, da globalização neoliberal centrada nos EUA. O objectivo foi sempre o de “libertar” as oligarquias de constrangimentos na sua procura de si próprias (7)”.

Se, depois da guerra na Ucrânia, as potências não se reconciliarem para construírem uma nova ordem mundial mais justa e humana, mal do sul europeu e do Sul Global (8).

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo, https://antonio-justo.eu/?p=7753

(1) Actualmente, a política e as empresas estão a discutir várias ideias para contrariar o peso da falta de mão-de-obra e as consequências da guerra da Ucrânia. O Presidente da Federação das Indústrias Alemãs (BDI), Siegfried Russwurm, e o Director do Instituto da Economia Alemã (IW), Michael Hüther, tinham defendido uma semana de 42 horas. Outros economistas apelam ao aumento da idade da reforma para os 70 anos. https://www.spiegel.de/politik/deutschland/spd-sigmar-gabriel-spricht-sich-fuer-eine-laengere-wochenarbeitszeit-aus-a-ebda6d0c-abb8-49f0-ab11-85dbdefcb2fb?fbclid=IwAR0ardFKHRFtnexZyHE2fl-yVjREVjgrJNp3U8TP1l3mvJ7dCAjiwoaydKg

(2) Putin defende o Rublo: https://antonio-justo.eu/?p=7264

(3)  https://www.kinea.com.br/blog/o-gambito-do-czar-russia-da-um-xeque-na-europa/?fbclid=IwAR37NunbROopvXOrWkqVdH1wiSJyL8WitqT327RsZSmltf7Gj33OdDFZsuU

(4) https://de.statista.com/statistik/daten/studie/1134544/umfrage/militaerische-einrichtungen-der-us-streitkraefte/

(5) Crítica à Base Aérea dos EUA na Alemanha: https://antonio-justo.eu/?p=7663

(6) https://de.wikipedia.org/wiki/Verm%C3%B6gensverteilung

(7) https://geopol.pt/2022/07/21/o-fim-da-civilizacao-ocidental/?fbclid=IwAR0rmt9vf-I7DVXCfZmZ9amrCaUbP0rgeqKx4YYD-bAN9madn4PEOZrdxX8 “A oligarquia e a dívida são as características que definem as economias ocidentais.”

(8)A preocupação por manter a continuação do sistema imperial herdado dos gregos e dos romanos encontra-se muito clara na declaração da Cimeira da NATO em Madrid: NATO em Madrid. https://antonio-justo.eu/?p=7672

ALGUNS TEXTOS sobre a Ucrânia

O erro de Putin foi querer ter travar  o avanço da NATO através da invasão!  Por outro lado deu maior expressão aos motivos da guerra civil ucraniana que desde 2014 já tinha vitimado 13.000 civis e 4.000 soldados numa Ucrânia que não passava de cavalo troiano das duas potências em conflito e também ela nas mãos de oligarcas:  Ucrania Cavalo troiano da NATO e da Coligação russa: https://www.gentedeopiniao.com.br/opiniao/ucrania-e-o-cavalo-troiano-dos-usa-e-da-russia-surpresas-em-democracia

Chegou a hora de Putin: https://triplov.com/chegou-a-hora-de-putin/

A maior Victória dos EUA foi criar a Separação entre a Alemanha /Europa e a Rússia:  https://beiranews.pt/2022/04/02/ponto-de-vista-por-antonio-justo-221/

Símbolos de subjugação e decadência: https://antonio-justo.eu/?p=7435

Já em 2014 indico do que se trata na Ucrânia no artigo: “Ucrânia entre imperialismo russo e ocidental” (2014):  https://www.triplov.com/letras/Antonio-Justo/2014/ucrania.htm

Embaixadas ucranianas agências de propaganda: https://www.gentedeopiniao.com.br/opiniao/embaixadas-ucranianas-transformadas-em-agencias-de-propaganda-discordia-entre-berlim-e-kiev-os-oligarcas-da-ucrania

Causas do Conflito: https://antonio-justo.eu/?p=7410&fbclid=IwAR0c1RHilCBv1vjjRb0iUrN1TtpOUB54-J1qC5xdCHhSTORyHyLk8js4rJw

À custa da Ucrânia: https://jornalpovodeportugal.eu/2022/04/03/com-a-escusa-da-ucrania-os-eua-ganharam-a-guerra-do-gas-e-conseguiram-desnortear-a-europa/

A Ucrânia está em guerra e desta guerra vai resultar uma divisão do mundo em mundo de tendência socialista e mundo de tendência capitalista: https://bomdia.eu/a-ucrania-esta-em-guerra/

Nem Guerra nem Paz – Negócio e Hipocrisia: https://antonio-justo.eu/?p=7116

 O POVO FALA DE POLÍTICA E OS POLÍTICOS FALAM DE NEGÓCIOS: http://abdic.org.br/index.php/675-o-povo-fala-de-politica-e-os-politicos-falam-de-negocios  

A Alemanha rendeu-se atraiçoando assim a Europa: https://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2022/05/a-alemanha-decidiu-render-se-entregando-armas-pesadas-%C3%A0-ucr%C3%A2nia.html

 O BATALHÃO AZOV EM MARIUPOL RENDEU-SE: http://www.uaisites.adm.br/iclas/ler.php?CdNotici=1024&Pagina=Opiniao

Alguns textos em: http://www.uaisites.adm.br/iclas/todas.php?Pagina=Opiniao

Putin, pode ter os defeitos que tiver mas ocupará um lugar relevante na História por ter provocado o início de mudança de matrizes a nível de política mundial!

DO DISCURSO EMOCINAL CONTRA O DISCURSO RACIONAL

Na Controvérsia entre Acontecimentos e Factos alternativos esvai-se a Verdade

Os peritos da rectórica descobriram que, para se levar o cidadão a fazer o que se pretende dele, se torna mais eficiente o uso do discurso/notícia emocional do que o uso do discurso racional argumentativo. Um discurso mais objectivo deveria manter o equilíbrio entre os factores racionais e emocionais na abordagem de factos, mas, ao contrário disso, cria-se na opinião pública um desequilíbrio propositado ao dar-se a precedência à notícia/discurso emocional com a finalidade de criar proselitismo.

Como as expressões/notícias emocionais são contagiosas, a prática política discursiva cada vez faz mais uso delas por terem um efeito espiral nos públicos.

Outras análises científicas chegaram à conclusão que se torna até “racional usar as emoções como meios de comunicação política porque estas favorecem processos de deliberação” (1). Esta tática política é de observar nos métodos empregados nos discursos dos políticos e dos Media em relação à informação sobre a pandemia e a Ucrânia onde se procura motivar as populações a apoiarem todas as medidas políticas tomadas ou a tomar.

Um discurso “emocional” tenta, em geral, apresentar o facto ou descrever a situação de maneira a obter-se um juízo de valor que leve o grupo ou a colectividade a aceitar o transmitido como se fosse norma moral ou social.  Omite abordar o porquê dos factos para convencer com imagens ou informações no sentido pretendido; recorre-se além disso a uma informação selectiva apresentando, do adversário, só o que o prejudica. Abusa-se da carga emotiva de maneira a envolver a audiência para assim se obter um efeito persuasivo emotivo no sentido positivo ou negativo.

Ao contrário, o discurso racional assenta num diálogo argumentativo em que se discute a validade de afirmações e a legitimidade das normas discutidas. Na arena pública cada vez se observa mais como característica do discurso político já não o racional, mas o da emocionalização; a emocionalização e a desinibição do vocabulário são ainda mais notórias nas redes sociais.

Por toda a Europa se observa, na generalidade dos políticos e dos meios de comunicação do sistema, uma atitude que envergonharia qualquer exigência de seriedade intelectual. Chegou-se a uma prática discursiva desenvergonhada com base no maquiavelismo de que os fins justificam os meios e como tal utilitarista para uma das partes e ao mesmo tempo grosseira. Neste sentido é de observar uma lamentável aproximação dos discursos, do populismo dos de cima ao populismo dos de baixo! A política tem verificado que é mais simples e proveitoso mover a emoção do que a razão. Temos assim um discurso cada vez mais maniqueísta e assalariado sobre realidades reduzidas a preto e branco, o que é uma expressão sintomática da entropia em que estamos envolvidos e do autoritarismo para que caminhamos. Os discursos público e político estão virados para o uso e abuso cínico das emoções não tendo respeito pelos destinatários nem pelos conteúdos a transmitir.

O filósofo Roger Garaudy, no seu livro “Rumo a uma guerra Santa?” diz: “Sócrates já observava que entre os doces de um confeiteiro e os remédios de um médico, não há dúvida quanto à escolha das crianças. Mas os senhores do espectáculo não se contentam em considerar seus espectadores como crianças. Um mestre na manipulação das almas, Adolf Hitler, dizia: “diante de uma plateia, para conseguir adesão, viso o mais estúpido e, nele, o que existe de mais baixo: as glândulas lacrimais ou sexuais… E ganho sempre. À minoria crítica, cuido dela de outra maneira”.

A Europa encontra-se no mau caminho! O discurso político atual assumiu o papel de condutor cego alheado e alienante! E o mais trágico é constatar-se que as populações devido a um complexo de inferioridade não veem ou não se atrevem a dizer que os “reis” que nos governam vão nus!

Michel Foucault e Jean-Francois Lyotard (2) constatam que não existem factos incontroversos, empiricamente provados. Pelo contrário, os factos são apenas interpretações de certos acontecimentos ou casos que também podem ser interpretados de forma diferente, ou alternativamente.

O difícil da questão está em verificar se uma interpretação ou narrativa considerada verdadeira está inserida na grande narrativa ou acontecimento. Não se trata, portanto, de reduzir todas as interpretações a meras narrativas porque cairíamos num relativismo absoluto que se tornaria impeditivo de vida e de desenvolvimento, e contradiria toda a ordem natural da criação.

Os predadores da cultura europeia, consciente ou inconscientemente, querem destruir tudo o que possa levar à procura ou aceitação da verdade, isto é, têm relutância em aceitar algo que justifique um sentido ou ordenação da parte num todo; por isso combatem tudo o que seja símbolo ou expressão de uma ordem: Deus, a Verdade, família, cristianismo, instituição, pátria; transformam objeções à regra ou falhas institucionais em elementos fundamentais das mesmas para as poderem desautorizar e assim estabelecer o caos! Cada ordem implica um viver em relação e, consequentemente, ter a percepção da realidade não só na parte, mas também no seu todo.

Isto pressupõe a consciência do alinhamento dos elementos e suas relações entre si no sentido de criar identidades individuais e comunitárias (orgânicas) de modo a gerar unidade e consistência entre elas tal como acontece na ordem gramatical em que se passa da morfologia às sintaxes.

Na filosofia para se criar ordens de ideias parte-se do alinhamento de princípios e na ordem social pública necessitam-se regras/leis e normas. Os padrões habituais simplificam a vida ordeira, mas as excepções a eles promovem novos filões de pensamento.

Costuma dizer-se que a verdade é o julgamento em que o objecto corresponde à ideia dele ou quando as teses ou crenças dentro de um sistema se apoiam umas às outras de maneira coerente.

Não chegam as próprias narrativas da realidade é preciso reconhecê-las integradas num texto ou contexto. O contexto aproxima-nos mais da realidade/verdade. Doutro modo poderemos ter muito conhecimento sobre o artigo ou sobre o substantivo sem chegar a descobrir que o mais importante é o verbo em torno do qual podemos ordenar o resto. Na nossa época devido à exuberância do eu, à acentuação do ego, somos tentados a tornarmo-nos só verbo e como tal sem frase, sem comunidade que nos dê prospecção e sentido. De facto, fazemos parte de um todo tendo, por natureza, de nos integrar numa comunidade ou instituição (habitat)  reconhecendo o princípio da complementaridade que nos une e leva a aceitar o condicionalismo de pertencermos a uma comunidade real não ideal que, embora limitada, nos proporciona poder viver à nossa maneira. Para tal pressupõe-se uma atitude de humildade que nos leva a aceitar não se ser o umbigo da criação nem julgar a instituição ou a comunidade como mera projeção dos próprios ideais. Na relação dos membros no seu habitat, religioso, político, familiar ou económico (independentemente de suas carências) há que aceitar viver e integrar-se para, a partir de dentro, o poder desenvolver! Então sentimo-nos parte da frase ou do texto na consciência de que este é constituído por elementos diferentes que lhe possibilitam sentido.  O artigo, o substantivo, a preposição, a conjunção, o verbo, considerados isolados em si mesmos, perdem o seu sentido que é ser elemento vivo da frase ou do texto, seja ele gramatical, social, político ou religioso.

Nesta atitude não sermos levados e perder-nos seja na via do discurso esquerdista ou na via do discurso conservador identitário e se nos descobrirmos num deles reconhecemos que são vias completárias. Nem os ricos nem os pobres, nem os governantes nem os súbditos, nem os religiosos nem os ateus, nem os do Norte nem os do sul global se encontram do lado errado. Errado é o caminho que não nos leva a unir-nos nem a sermos fraternais e solidários! Há portante que reconhecer que somos todos desiguais e que todos os factos podem ter alternativa!

Temos que nos arredar da política da inconformidade e da inimizade para aprender a partilhar o mundo entre todos.

No meio de toda a discussão haverá que compreender por que é que os sentimentos nos motivam a agir, mas para tal também compreender o que está por trás dos sentimentos e qual a razão que nos leva a reagir como reagimos ou a sentirmos como sentimos. Só então estaríamos preparados para elaborar decisões com um fundo racional (mental que ilumina) e um fundo emocional que motiva a agir de modo adequado e equilibrado.

Doutro modo, na controvérsia de acontecimentos e factos alternativos esvai-se a Verdade para ficar a dúvida ao serviço do engano.

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo

(1) Sabine Döring (2009), Philosophie der Gefühle

(2) https://www.deutschlandfunk.de/eine-kulturgeschichte-alternativer-fakten-wahrheit-oder-100.html

“CAMINHO SINODAL” ALEMÃO FORA DO CAMINHO?

Os Críticos do Caminho Alemão mobilizaram o Papa

A declaração do Vaticano, de 21 de julho, avisa que a Igreja na Alemanha não pode adoptar novas formas de governo ou mudar a doutrina e a moral, porque isso constituiria uma ameaça à unidade da Igreja.

O Caminho Alemão, lançado em 2019, procura reformas da Igreja Católica no uso do poder, na moral sexual, na posição das mulheres e no celibato obrigatório para os padres, quer a bênção dos casais homossexuais, o diaconado para as mulheres e quer também ter uma palavra a dizer na nomeação dos bispos.

O Papa já tinha dito que na Alemanha já temos uma Igreja Protestante, “não precisamos de duas”. O Vaticano não quer ver reservado um caminho especial para os alemães; estes devem contribuir com as suas próprias ideias. Os alemães estão demasiadamente preocupados com as estruturas e não o suficiente com a proclamação activa da fé. A crise da Igreja é uma crise de fé e não apenas uma crise de credibilidade.

O documento condiciona mudanças só a partir de uma aceitação da igreja universal (Sínodo da sinodalidade): “Não seria admissível introduzir novas estruturas ou doutrinas oficiais nas dioceses antes de ter sido alcançado um acordo a nível da Igreja universal” …. Este parágrafo apesar da sua intenção conciliadora causará bastante discussão atendendo à qualidade da Igreja como Depósito da Fé ((Dei Verbum 7 e não submetida a acordos) e por outro lado corresponde aos artigos 91 e 92 do Catecismo da Igreja Católica (baseada no sacerdócio comum do povo de Deus).

Segue a tradução da Declaração da Santa Sé:

“A fim de salvaguardar a liberdade do Povo de Deus e o exercício do ministério episcopal, parece ser necessário esclarecer: A “Via Sinodal” na Alemanha não tem autoridade para obrigar os bispos e os fiéis a adoptar novas formas de governo e novas orientações de doutrina e moral.

Não seria admissível introduzir novas estruturas ou doutrinas oficiais nas dioceses antes de ter sido alcançado um acordo a nível da Igreja universal, o que constituiria uma violação da comunhão eclesial e uma ameaça à unidade da Igreja. Neste sentido, o Santo Padre recordou na sua carta ao povo peregrino de Deus na Alemanha: “A Igreja universal vive nas e das Igrejas particulares, tal como as Igrejas particulares vivem e florescem na e da Igreja universal; se fossem separadas da Igreja universal, enfraqueceriam, pereceriam e morreriam. Daí a necessidade de manter sempre viva e eficaz a comunhão com todo o corpo da Igreja”[1]. Portanto, espera-se que as propostas do Caminho das Igrejas Particulares na Alemanha fluam para o caminho sinodal a ser seguido pela Igreja universal, para enriquecimento mútuo e um testemunho dessa unidade com que o corpo da Igreja manifesta a sua fidelidade a Cristo Senhor.” Texto original em nota (1)

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo, https://antonio-justo.eu/?p=7732

(1) Texto original: https://press-vatican-va.translate.goog/content/salastampa/it/bollettino/pubblico/2022/07/21/0550/01133.html?_x_tr_sl=de&_x_tr_tl=es&_x_tr_hl=es&_x_tr_pto=wapp

A respeito do tema:

Caminho sinodal alemão um desfio: https://www.gentedeopiniao.com.br/opiniao/caminho-sinodal-na-alemanha-um-desafio-a-outras-vias-sinodais-energia-nuclear-guerra-fria

As cinco tentações do Caminho sinodal alemão: https://antonio-justo.eu/?p=7135

Matriz política masculina: https://bomdia.be/matriz-politica-masculina-nao-pode-ser-norma-para-a-instituicao-eclesial/

Nem sacerdotes casados nem diaconisas: https://bomdia.eu/nem-sacerdotes-casados-nem-diaconisas/