ENCONTRO NO MOSTEIRO COPTA DE HÖXTER

Limite do Crescimento e justo Investimento em África

O “Grupo de Trabalho dos Publicitários Cristãos, e.V., realizou a Conferência anual no Mosteiro Copta em Höxter, Alemanha. Foi um evento com conferentistas ex-altos políticos da Alemanha.

Fomos recebidos pelo Bispo Dr. Anba Damian, que nos informou sobre a história do mosteiro e sobre os seus 20.000 cristãos coptas na Alemanha. Como havia centenas de etíopes (coptas) de passagem no convento, também apresentaram algum dos seus cantos.

Dentre as palestras havidas dou relevância à do Prof. Dr. Klaus Töpfer, ex-diretor executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e antigo ministro no governo de Kohl que afirmou:  “Cada vez mais, crescemos economicamente apenas eliminando as consequências negativas do crescimento anterior. Neste aspeto, o crescimento está a esgotar-se”.

Trazer trabalhadores altamente qualificados do estrangeiro para a Alemanha significa “colher as uvas passas” noutros países. Haverá falta dessas pessoas altamente qualificadas, embora o princípio deva ser “empregos para as pessoas” em vez de “pessoas para os empregos”.

Referindo-se à guerra na Ucrânia e, em especial, à actual marcha das tropas wagnerianas em Moscovo, Klaus Töpfer afirmou que o mundo se encontra em turbulência. Uma guerra nunca foi resolvida militarmente, mas apenas através de negociações.

Entre outros falaram o Almirante Kay-Achim Schönbach e o ex-MP Martin Hohmann.

O antigo convento em Höxter em tempos antigos tinha sido destinado à demolição e encontrava-se em ruínas tendo sido comprado há 30 anos, pelo bispo copta (egípcio) Damian por um marco alemão e restaurado com coptas do Egipto que dominavam as técnicas antigas de construção; (quem tinha visto as ruínas há 30 anos e vê o convento hoje fica maravilhado). De uma velha ruína temos hoje um convento cheio de vida. Impressionou-me sobretudo a fé destas gentes, capaz de mover montanhas (aqueles que têm fé podem mover montanhas (Mt. 17.20).

António CD  Justo

Pegadas do Tempo

Pode ser uma imagem de árvorePode ser uma imagem de mapaPode ser uma imagem de texto

Filmes em: https://www.facebook.com/antonio.justo.180/
https://www.facebook.com/1118047877/videos/pcb.10222974005994786/246965468055751

24 min 

Conteúdo partilhado com: Público

Comentários

Pode ser uma imagem de 4 pessoas

SOBRE O GÉNIO OCIDENTAL DE CARACTER CAPITALISTA E O GÉNIO ORIENTAL DE CARACTER COMUNISTA

Das formas do Pensamento Linear e do Pensamento Circular para o Pensamento Espiral

Para melhor compreendermos a razão de sermos como somos e de outros serem como são torna-se importante analisar-se as estruturas de pensamento próprias de cada cultura que se expressa em mentalidades distintas. Daí a importância de se distinguir os conteúdos dos embrulhos em que somos formatados. A tradição de “pensamento ocidental” e a de “pensamento oriental” apresentam conotações diferentes, mas encontram-se desde sempre numa relação de osmose e de aprendizagem comum tal como acontece com o indivíduo em relação ao seu meio ambiente. Naturalmente também há características diferentes que se afirmam comuns em filósofos e pensadores das duas vertentes. Há que prestar atenção para se não ser levado pelo preconceito capitalista nem pelo socialista.

A tradição ocidental de caracter mais “secular” enfatiza a lógica, a racionalidade e a análise numa visão dualista concentrada na observação da realidade usando, para isso,  o processo da distinção que conduz à individuação, à definição do particular, do elemento, do indivíduo. A tradição oriental, por seu lado, enfatiza o caracter religioso dando maior destaque à intuição, contemplação e busca do conhecimento interior numa visão mais monista de interação das coisas como meras manifestações de uma única substância ou realidade.

Assim, para se compreender as diferenças de mundivisões e políticas do Ocidente e do Oriente terá de se ter em conta que o ocidente é mais individualista e o oriente mais colectivista; no Ocidente, especialmente a partir do renascimento e da reforma deixa-se de valorizar a comunidade para se acentuar a autonomia do indivíduo, os seus direitos e sucesso pessoal a que corresponde, no âmbito económico à criação do capitalismo, enquanto o pensamento do Oriente de mentalidade mais centrada no coletivo, na comunidade e nas relações interpessoais acentua o socialismo.

No que respeita ao moldar o tempo e a vida social, o Ocidente sente-se impulsionado pela linha linear de progresso, cuja aceleração lhe tem dado a hegemonia sobre o mundo, mas pela lógica a velocidade da aceleração chegará a um aceleramento que gripa o desenvolvimento da sociedade; daí o caminharmos no sentido de um beco sem saída. Por seu lado o pensamento oriental no que toca à moldagem do tempo está mais preocupado em dar forma ao momento presente correndo o perigo de se repetir numa circularidade que faz lembrar as estações do ano e que não dá resposta à evolução. Deste modo estaciona sem se preocupar com o desenvolvimento social (recorde-se os ciclos fechados das castas). Se o Ocidente exagera ao focalizar-se no progresso, o Oriente exagera ao fixar-se no viver o momento presente repetitivo e como tal circular descurando o aspecto linear do desenvolvimento. (É interessante verificar que enquanto no oriente um guru se apresenta como o ideal acabado, no ocidente o sacerdote permanece em peregrinação com o fiel a caminho da Realidade que é  Deus). Estamos numa época da história que se encontra nas dores de parto e talvez estrebuche ainda pelo facto de nos encontrarmos historicamente no final de duas mundivisões que se combatiam para passarmos a uma visão integral,  já não unilateralmente dualista nem monista, e entrarmos numa fase inclusiva que se expressará numa mundivisão mística que une a razão mental à razão do coração de que falava o grande filósofo e matemático Blaise Pascal.

O facto de o cristianismo e com ele o Ocidente adoptarem uma tradição linear ascendente fez com que o Ocidente se tornasse num condutor da história até à actualidade; outras sociedades de caracter monista mantiveram-se num caminhar repetitivo de recorrência de eventos; a deficiência do leste foi a negligência do aspecto da linearidade do tempo e com ele do progresso; a deficiência do ocidente vem do descuido da alma e a consequente decadência cultural, dado toda a civilização precisar de um tecto metafísico consistente que lhe proporcione sustentabilidade; a fixação na materialidade e no mecanicismo tem levado o ocidente a esgotar as suas forças na perspectiva económica e militar como garantes de domínio e de futuro e imperceptivelmente conduzir à implosão de uma cultura cuja sustentabilidade assentava na dignidade da pessoa humana.

Na Europa a ideia progressista já não convence; é unilateral e torna-se inutilizável ao gerar filhos deserdados a sentir-se cada vez mais estranhos na própria terra. Tudo tem um limite e aproxima-se o tempo de se voltar às origens e implementar a perspectiva holística que responda ao desenvolvimento integral da pessoa e da sociedade. Encontramo-nos num momento axial da História humana em que as camadas de consciência social mais desenvolvida aspiram a um novo layout de sociedade de caracter mais integral humano num processo de acentuar mais relações de complementaridade e menos de polaridade (apesar do estúpido conflito geoestratégico – extrema manifestação de polaridades –  entre a OTAN e a Federação russa a desenrolar-se na Ucrânia) ; torna-se adequada uma mudança de paradigma para o Ocidente e para o Oriente numa opção de matriz civilizacional e social comum que una o pensamento linear (de desenvolvimento-evolução  pessoal a caminho da ressurreição) ao pensamento circular (do retorno no carma da reincarnação) num modelo espiral que inclua o retorno e o totalmente novo (em linguagem teológica cristã, a concretização do Cristo Cósmico). Neste sentido encontra-se na fórmula trinitária da tradição cristã o modelo/fórmula da Realidade e como tal conciliador; nele se junta a linearidade temporal (a dualidade) ao caracter circular (monismo) oriental num holismo espiritual! Este poderia ser o caminho a redescobrir pela civilização ocidental para que não desapareça no bulício de tentáculos económico-militares à rebeldia de qualquer desenvolvimento orgânico.

No que diz respeito à gerência do tempo (tempo histórico), quer o Ocidente quer o Oriente, terão oportunidade de ir integrando de forma inclusiva as concepções de tempo Cronos e de tempo Cairós. A visão do tempo Cronos (tempo cronológico, sequencial, – tempo físico dos humanos) é limitadora amarrando-nos ao calendário: séculos, anos, meses, dias, horas, etc (1). A concepção do tempo Cronos (de caracter secular ocidental) deveria ser complementada/superada pela concepção do tempo Cairós (tempo de Deus, “tempo da graça” Efésios 5:15-16, que é o “momento certo” do acontecer especial que não se mede e é ao mesmo tempo pessoal e universal).

A actual acentuação do Ocidente no “viver o momento presente” tem a sua importância numa sociedade estressada pela ideia de ser forçada a progredir numa noção de tempo linear secularizado e por isso agir como mera reacção autómata de busca, numa forma de viver mais característico oriental (meditação e práticas de joga), mas sem a compreender. Buscadores deslocados de espiritualidade, correm o perigo de negligenciarem o aspecto linear do desenvolvimento no tempo (próprio do arquétipo ocidental) num arquétipo oriental correndo o perigo de vir a cair numa atitude de vida comparada à roda de hamster e deste modo tornarem-se em vítimas das rodas das duas civilizações. Os admiradores orientais da civilização ocidental correm por sua vez também o perigo de se autodestruírem pelo facto de contactarem sobretudo a vertente superficial da cultura ocidental (aquilo que de momento lhe dá brilho, mas não deixa de ser decadente). Assertório seria se o corpo e a alma do ocidente se encontrassem com o corpo e a alma do oriente numa de complementaridades.

Devido às vantagens e desvantagens de cada sistema de pensamento (mundivisões monismo e dualismo) será sempre um assunto actual pois sempre discutido por crenças individuais e por posições filosóficas ao longo da história. “Nada de novo sob o Sol”!

O espírito do nosso tempo (Zeitgeist) desumaniza-se a olhos vistos encontrando-se no beco sem saída do materialismo e do pragmatismo utilitário que conduz à satisfação das necessidades básicas primárias de tipo egoísta ignorando as necessidades espirituais; isto leva pessoas espirituais e sensíveis (culturalmente desorientadas devido à monopolização política do discurso público) a procurar orientação espiritual em representantes de espiritualidades asiáticas (lamas e gurus). A procura é salutar, mas como condicionada pelo ambiente busca orientação em categorias monistas materialistas de caracter oriental que sustentam que a matéria física é a substância fundamental que contem em si o seu princípio e o seu fim. Num primeiro contacto, encontram aí resposta a um idealismo individualista que se projecta no idealismo oriental que, por sua vez, sustenta que a mente ou a consciência é a substância fundamental. Deste modo o idealismo ocidental encontra a sua morte na procura de resolução do problema que ele mesmo criou exteriorizando-se a si mesmo e agora indaga fora dele; de facto, na generalidade, a opinião pública ocidental é dominada pelo polo exterior lineal dele e encontrando-se agora no desconhecimento da sua interioridade procura consolo   no imanentismo monista asiático como que numa atitude de autopunição (pelo exagero da sua afirmação da individualidade contra a comunidade) e dissolução do indivíduo na mera gota do grande oceano de uma mística onde acaba toda e qualquer distinção. Pelo que se observa de currículos destes buscadores ocidentais de espiritualidade no budismo e no induísmo, constata-se que os mais autênticos consigo mesmos redescobrem no seu currículo o cristianismo ou uma forma profunda de humanismo que se encontra no arquétipo cristão europeu.

O ideário ocidental em vez de desembocar no ideal oriental (como parece querer o globalismo político-económico) deveria optar por uma visão espiral que daria solução aos dois ideais (linear e circular) e não incorreria no perigo da renuncia a si mesmo e deixar enterrar-se na vala asiática comum anónima e imanentista como parecem querer os promotores do Zeitgeist (O ego exacerbado em vez de procurar resposta na própria comunidade peregrina, vagueia, caindo na contradição de ao tanto querer afirmar-se vir a dissolver-se no nada através do condicionamento da mente ou num estado fora dos ventos dos desejos). Deste modo assiste-se a uma autopunição do ocidente que abusou de tal modo do processo da individuação (do eu contra o nós, na dicotomia corpo-alma, corpo-mente) que desatinado sente uma inclinação fatal para o autoapagamento total do seu espírito original, uma tendência para a morte (tanatofilia) e não para a vida. A natureza da realidade e da existência só terão realização perfeita se conseguirem manter nelas o sentido da vida e uma vocação que o concretize num caminhar comum de respeito e espírito de complementaridade. Doutro modo continuaremos: uns à procura da alma matando o corpo e outros à procura do corpo matando a alma! Há que salvar corpo e alma juntos!

Para se criar uma cultura de paz seria lógico criar-se laços de irmandade entre as religiões monoteístas e o panteísmo do taoismo e do hinduísmo afirmando-se um panenteísmo de Deus ontologicamente separado do mundo, mas em que o mundo se encontra em Deus à imagem de Jesus em Cristo.

Na elaboração de uma matriz humana da paz seja de notar que a tradição ocidental tem muito de comum com a tradição oriental sobretudo na sua expressão religiosa. A nível religioso e místico,  a sociedade  ocidental supera o dualismo grego da existência de  duas substâncias separadas ou categorias fundamentais e independentes (dualismo mente-corpo, alma-corpo, modelo ainda próprio da política)  através da fórmula trinitária (3) como equação da Realidade e da realidade aplicada (aquilo a que os alemães dão o nome de Wirklichkeit) e se expressaria em termos de linguagem e de discurso numa passagem da matriz do diálogo para a do trílogo. Deste modo se superaria um certo dualismo entre Realität e Wirklichkeit como se pode ver já plasmado nos inícios bíblicos quando se afirma “no princípio era a Palavra, a informação… e a Palavra se tornou carne…”. Isto é, em Jesus Cristo unem-se as dicotomias carne-espírito de forma a ele tornar-se num modelo de Realidade e realidade aplicada numa mesma pessoa e de modo a dar perspectiva ascendente à própria matéria no Cristo cósmico. Em vez de ficarmos presos a um dualismo alternativo integramos a forma existência dualística num dualismo de interação e integrado na divindade (prototipicamente o Jesus e o Cristo não são duas entidades distintas embora o Jesus e o Cristo se expressem dentro da Realidade numa só pessoa de maneiras diferentes. A divindade estaria como a Realidade sustentadora das três pessoas divinas e nelas também todo o existente/criado.

No desenvolvimento histórico individual e cultural, o pensamento ocidental secular tende a ver a ipseidade, a ideia da pessoa, como identidade individual e separada, enquanto o pensamento oriental tende a focar a ideia de pessoa como parte de um todo maior ou entidade para lá da pessoa. Estas distinções não são absolutas e existem muitas nuances e variações. Portanto, é de aconselhável considerar cada filosofia ou tradição individual no contexto de suas doutrinas e desenvolvimentos específicos, em vez de reduzi-las a uma única categorização. O Cristo cósmico como arquétipo (e a fórmula trinitária) seria para o humano ocidental e não só, independentemente de ser religiosamente crente ou não, a resposta a todo o seu ideal e desenvolvimento material e espiritual incardinado na civilização, humanidade e universo.

O cristianismo ao deixar-se levar pelas estruturas patriarcais tem descurado  o velho saber da natureza de Cristo “do Cristo Cósmico, o ‘padrão de conexão’ de todos os átomos e galáxias do universo, o tecido do amor divino e da justiça inerente a todas as criaturas e seres humanos”(2) e por isso a instituição eclesial se encontra hoje em crise, tal como a depressiva civilização ocidental, sua expressão física. Jesus Cristo, Deus-homem, espírito-matéria é a realidade modelo que unirá o género humano com crenças, idealismos e misticismos que serão avaliados pelas suas obras:”Pelos seus frutos os conhecereis”, aconselhou Jesus. Depois de séculos de secularização do Cristianismo, seria chegada a hora de o redescobrir e assim se redescobrir o sagrado na natureza e na humanidade. A criação é obra sagrada de Deus. Uma das perspectivas do caminho para o cristianismo seria redescobrir a visão espiritual da praxis mística e da consciência cósmica das origens. A visão de um Cristo cósmico presente em todas as criaturas e culturas insufladas pelo Paráclito é um luzeiro que poderá mover o humano a descobrir-se no seu protótipo. A decadência da espiritualidade das religiões vai à frente da decadência humana e das civilizações: Primeiro despede-se a alma, depois enterra-se o corpo. Isto acontece de maneira imperceptível porque a concentração no ego e no imediato leva o humano a ignorar o mal e quem nega o mal fortalece-o.  A sociedade de estruturas patriarcais impôs-se contra uma visão holista substituindo a espiritualidade e a mística pela moralização (moral de caracter pedagógico). Deste modo desmiolaram a essência da própria civilização exteriorizando-se num processo de alienação contínua de modo a gerar uma sociedade dirigida por poderosos que assentam as suas estruturas de poder apenas na economia, no moralismo e nas leis. O cristianismo esconde a sua mensagem para a pessoa e para o mundo sempre que descura a mística original liquidificada em ritos, por vezes, reduzidos a meras palavras ou sentimentos ocasionais. O fundador da psicologia analítica, Carl Gustav Jung diz que “somente o místico é religiosamente criativo”!

Se analisarmos o desenvolver histórico dos povos do Ocidente e do Oriente podemos concluir que, atendendo às obras e práticas sociais que causam nem uns nem outros são satisfatórios. Tanto o pensamento de caracter linear de uns como o pensamento circular dos outros se revelam como forma desajustada para a orientação da vida e dos povos. Resta-nos uma terceira via alternativa comum (Pensamento Espiral) que uniria uns e outros e seria a via mística, a via do coração que integra também a razão como advogava Pascal. “Uma civilização sem uma cosmologia não apenas se torna cosmicamente violenta, mas também cosmicamente solitária e deprimida”(2).

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=8615

(1) “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu.” Eclesiastes 3:1.

(2) Matthew Fox em “Visão do Cristo Cósmico”, pag. 12 e 19.

(3)  https://antonio-justo.eu/?p=8580 

OS SALESIANOS APOIAM AS VÍTIMAS DA GUERRA E DO TERRAMOTO EM ALEPPO SÍRIA

 

Os salesianos de Don Bosco permaneceram em Aleppo durante a guerra e durante o terremoto (1) fazendo de Aleppo um oásis para 800 crianças.

O Centro Juvenil Don Bosco de Aleppo também foi um pouco danificado pelo terremoto e agora é o ponto de contato para quem busca ajuda. Mais de 750 pessoas recebem alimentos, assistência médica, cobertores e um lugar para dormir, como informa a revista alemã Dom Bosco (2/2023).

A situação é catastrófica. No início da guerra, em 2011, trocavam-se 50 liras sírias por um dólar americano e hoje   um dólar americano custa 7.000 liras sírias, a precaridade é tanta  que nem mesmo os alimentos básicos são acessíveis. O relatório do Programa Mundial de Alimentos (PAM) refere que 12,4 milhões de pessoas na Síria, ou seja, 60% da população, passam fome. A situação é extremamente dolorosa principalmente para as crianças; muitas escolas foram destruídas e muitos professores foram levados para o exterior. Do centro salesiano fazia também parte uma escola que foi nacionalizada na década de 1960. Os salesianos esperam do governo a recuperação da sua escola. O Centro Salesiano é um importante foco para a vida cristã em Aleppo.

O padre Gaurie, diretor do centro, diz “nós, Salesianos, estamos empenhados em manter os jovens na Síria”.

De facto, as potências ricas comportam-se como se comportavam os povos colonizadores de outrora, só que de maneira eufemística. Antes traziam os escravos e as mercadorias, hoje trazem os jovens e as riquezas naturais de África. Hoje fala-se muito dos colonizadores de outrora para se fazer esquecer que os mesmos continuam a explorar desumanamente os nativos. Como a política não fala disto o problema é considerado não existir.

Com a sua política de asilo, a União Europeia diz pretender reparar uma política em que se encontra irresponsavelmente envolvida. As potências geoestratégicas em vez de promoverem a paz e investirem na economia de África preferem explorar as matérias-primas de África para importar esta riqueza e ao mesmo tempo importar as pessoas que são vítimas da política mundial e que, como imigrantes,  contribuem para compensar a baixa taxa de natalidade europeia e para aumentar a competição no mercado de trabalho.

António CD Justo

Pegadas do Tempo

(1) A Dor não tem Fronteiras: https://antonio-justo.eu/?p=8293

VISITA À CHINA PELOS JOGADORES UNIVERSAIS DA POLÍTICA E DA ECONOMIA

 

A quarta Revolução industrial vem possibilitar a Simbiose de Socialismo, Capitalismo, Controle social e Vigilância

Agora que o processo da globalização gagueja, o cofundador da Microsoft Bill Gates, o diretor executivo da Apple, Tim Cook, e o diretor executivo da Tesla, Elon Musk, visitaram nas últimas semanas a China em missão globalista. Depois do encontro com o presidente chinês, Xi Jinping, (16.06.2023) Bill Gates – chefe da Fundação Gates – revelou-se muito satisfeito com as conversações tidas e Xi disse a Gates: “você é o primeiro amigo americano que encontrei em Pequim este ano”. “Sempre depositamos nossas esperanças no povo americano e esperamos uma amizade contínua entre os povos dos dois países”, acrescentou Xi (1).

Como se constata a economia encontra-se empenhada em continuar a determinar o desenvolvimento das políticas conectadas no âmbito de supraestruturas a nível global, no seguimento da doutrina de Davos. Neste contexto, a crise da Ucrânia não passará de um mero episódio histórico na competição selectiva para o apuramento dos global player (jogadores universais) que sincronizadamente determinarão o futuro e a qualidade de vida dos povos das próximas gerações. No nosso sistema social, a política é uma divisão subordinado à economia, embora os políticos tenham de dar a impressão ao povo de que são eles os alquimistas do poder. A China faz brilhar os olhos da esquerda e do capitalismo turbo porque esse sistema conseguiu reunir política e economia em uma só mão.

Para se entender o que se passa é de lembrar que já em 21 de dezembro de 2018, o bilionário Klaus Schwab foi premiado pela China com a ‘Medalha da Amizade da Reforma da China’. Klaus Schwab é uma referência mundial e foi o fundador do Fórum Económico Mundial (WEF) em 1971 que se reúne anualmente em Davos, na Suíça e que conecta funcionários do governo, empresários, académicos e outros líderes de todo o mundo para discutir e determinar coordenadas e questões económicas e sociais globais.   Como então dizia Klaus Schwab, “o WEF tem orgulho de trabalhar com a China nas últimas quatro décadas.” O fórum tem uma atitude inequivocamente positiva em relação à China sob a liderança do Partido Comunista, que considera o modelo globalista de uma simbiose de socialismo, capitalismo, controle social e vigilância.

Destes e doutros oligarcas, como Soros, estão a depender as coordenadas da política mundial numa promiscuidade política de capitalismo e socialismo que se servirão das administrações como que se dos braços de um polvo se tratasse. Como em tudo, estes universais player provocam desenvolvimentos muito positivos e também muito negativos no desenvolvimento dos povos. O modelo chinês é ainda orientado pelo partido comunista mas tudo leva a crer, como se observa pelo desenrolar do controlo social actual e da política mundial, que, com o tempo, bastará um executivo central para reger e  controlar a informação e com ela proceder à manipulação das mentalidades dos povos  de maneira a  virmos a ter uma sociedade artificializada dirigida por um grupo de tecnocratas executor das indicações que um novo sistema IA produzirá.

O fórum de Davos tornou-se uma plataforma de elites influentes onde as tendências globais são analisadas e tomadas importantes decisões económicas e políticas para a generalidade dos países. As áreas de influência de Schwab são notáveis, como se pode ver pela participação de personalidades mundiais no fórum de Davos. Foi Schwab que cunhou o termo “capitalismo das partes interessadas”, uma espécie de capitalismo camaleão não vinculado a mundivisões, mas a interesses políticos e económicos. Por influência do Fórum e de outras supraestruturas políticas tudo leva a crer que se prepara a era da indústria do humano.

O termo “capitalismo das partes interessadas”, implementa a ideia de que as empresas estão comprometidas não apenas com os acionistas, mas também com os interesses de todas as partes relevantes – incluindo funcionários, clientes, comunidades e meio ambiente. Daí a eficiência de Agendas e ONG a actuar globalmente no sentido de criar uma conscientização análoga e anónima resultante da conectação das áreas económicas, políticas, culturais e sociais num denominador comum de negócio universal do humano. Schwab criou o termo quarta revolução industrial, que descreve a fusão progressiva do humano através de tecnologias como inteligência artificial, robótica, Internet e biotecnologia conectadas.

Schwab serve-se dos desenvolvimentos tecnológicos na economia, na sociedade e no mundo do trabalho e quer vê-las integradas activamente na governança global através da colaboração e governação globais que se serve cada vez mais do papel de organizações internacionais para pular sobre os interesses nacionais. Em nome de se enfrentar desafios globais e da multilateralidade as grandes potências instrumentalizam a cultura e a arte como forma moderna de deformação da sociedade.  Neste sentido devem ser criadas novas formas de intercâmbio entre líderes empresariais e artistas. É verdade que Klaus Schwab se revela como um oportuno catalisador de pensamento e de mudanças a nível global, mas deixa extremamente a desejar o aspecto humano reduzido a um rebanho a viver dentro de um estábulo.

Resumindo: a quarta Revolução industrial de Schwab possibilita a simbiose de socialismo, capitalismo, controle social e vigilância; através de Davos e da ONU conecta políticas, empresários e políticos globais seguindo uma filosofia estruturalista e pragmática a que falta a perspectiva cristã do humano.

 

António CD Justo

Pegadas do Tempo: https://antonio-justo.eu/?p=8603

(1)  https://www.dw.com/en/bill-gates-meets-chinas-president-xi-jinping/a-65934535

 

MEDITAÇÃO DO CORAÇÃO – O SAGRADO CORAÇÃO

Numa altura em que na opinião pública se manifesta, em primeiro plano, a luta pelo poder, influência e dinheiro, a devoção ao Coração de Jesus, até parece estranha por apontar para um outro caminho, o caminho do coração e do sentimento. A frase de Blaise Pascal “O coração tem razões que a própria razão desconhece”, alerta para o facto de o coração estar ligado a sentimentos, emoções e um pouco também à razão, e a razão ao “cérebro”. São dois polos opostos, mas que, no dia-a-dia, pertencem juntos.

O evangelista João diz que depois que Jesus foi crucificado, um soldado perfurou seu lado com uma lança “e logo saiu sangue e água” (João 19:34). O Coração de Jesus é interpretado como símbolo de sua humanidade e como uma expressão de seu amor especial pelas pessoas. O lado aberto de Cristo foi interpretado por teólogos como a porta da salvação da qual brotam os sacramentos: o sangue como símbolo da Eucaristia, a água como sinal do baptismo. “O significado da Solenidade do Sagrado Coração de Jesus que celebramos hoje é expressar a fidelidade humilde e a bondade do amor de Cristo, revelação da misericórdia do Pai, sempre para descobrir mais e para nos deixarmos envolver por ela”, escrevia o Papa Francisco em 2014.

Quando vemos um coração pensamos geralmente em amor.

A via mística que caracteriza a devoção ao sagrado coração hoje já não parece muito acessível a muitos mas numa época em que se acentua cada vez mais a funcionalidade da pessoa humana torna-se importantíssimo acentuar a relação pessoal e a via do coração na vida, doutro modo distanciamo-nos de nós mesmos na qualidade de seres espirituais e tornamo-nos mais vítimas de doenças corporais, psíquicas e da alma. Para não nos exteriorizarmos a nós mesmos torna-se importante voltar a pensar com o coração como ensinavam os antigos Padres da igreja. O relacionamento com Deus é um assunto profundamente místico e espiritual do coração que consiste em mergulhar-se completamente no amor de Deus.

O coração é o centro da vida. Ele é o lugar das mais diversas emoções, do medo, da coragem e também o centro do espírito e da compreensão – é o centro de tudo -, o que motivava Saint-Exupéry a afirmar: “O essencial é invisível aos olhos”.

O relacionamento com Deus é um assunto profundamente místico e espiritual do coração.  A teologia do coração é uma teologia do nós numa permuta de Tu-Eu, de diálogo interior, uma relação mística com Deus num processo de introspeção da alma e da consciência mental. A oração do coração é um caminho espiritual de exercício e experiência; a oração é repetitiva e reiterada como se fosse uma mantra; esta prática de meditação é muito comum na comunidade “via cordis” – caminho do coração – (1) em que se repete uma palavra interior do coração (que cada orante escolhe segundo a sua preferência, como, “meu senhor e meu Deus”,  “Jesus Cristo, ajuda-me”, “Coração de Jesus, minha salvação”, etc. em que ela se repete fervorosamente até que essa repetição se extinga em uma oração silenciosa sem palavras. Pode começar-se por respirar em Deus, isto é, ligar a frase ou jaculatória à respiração – sensação corporal – (uma parte à inspiração e a outra à expiração: no meu noviciado comecei a praticar este método que se revelou muito gratificante). Franz-Xaver Jans-Scheidegger recorda: “A oração do coração é um caminho espiritual de exercício e experiência. O objetivo é chegar ao centro do seu ser e descobrir a raiz de todo o ser… Esta forma de oração promove a compaixão pelas pessoas e por toda a criação.” Trata-se de deixar de lado todos os pensamentos e imagens e tornar-se completamente aberto à única razão de ser. “O Senhor te acolheu em seu coração” (Dtn 7:6-11).

António CD Justo

Pegadas do Tempo

(1) Via Cordis: https://www.viacordis.net/herzensgebet