Encontramo-nos no Começo do Fim da Nação


O Paternalismo Estatal revela-se contra o Povo e contra a Nação

António Justo

Um amigo mandou-me a citação seguinte, acrescentando-lhe o seu testemunho.

“É impossível levar o pobre à prosperidade através de legislações que punem os ricos pela prosperidade.
Por cada pessoa que recebe sem trabalhar, outra pessoa deve trabalhar sem receber.
O governo não pode dar para alguém aquilo que não tira de outro alguém.
Quando metade da população entende a ideia de que não precisa de trabalhar, pois a  outra metade da população irá sustentá-la, e quando esta outra metade entende  que não vale mais a pena trabalhar para sustentar a primeira metade, então chegamos ao começo do fim de uma nação. É impossível multiplicar riqueza dividindo-a.” Adrian Rogers, 1931

“Gostava de ler um comentário teu sobre este texto de Rogers.

Eu vou relatar o que se passa com a cidade de B.K: 48 % do orçamento está a ser gasto em obrigações sociais a desempregados ou gente que ganha pouco. A cidade que outrora era bem cuidada, está irreconhecível!  A cidade não tem feito obras, até o relógio da estação na praça da Europa está há anos parado! Neste momento na Alemanha,  que tem uma população de 65 (82) milhões, 20 milhões estão aposentados! 3,5 milhões de lares estão falidos. Quando uma pessoa tem demasiadas dívidas entra em falência. A partir desse momento o Estado dá-lhe uma nova oportunidade. Se durante 6 anos não ficar a dever a ninguém, fica com o currículo limpo de novo e não tem de pagar as dívidas antigas. Claro que quem nunca mais vê o dinheiro são, por exemplo,  os senhorios dos apartamentos (nosso caso – a um inquilino que nos ficou a dever 2000 euros  foi-lhe perdoada a dívida e nós ficamos a ver navios… daí que nenhum particular quer mais investir na construção de casas…” Fim da citação.

Limito-me a fazer uma reflexão espontânea. A tese de Adrian Rogers está a tornar-se realidade. Com a agravante que o Estado, em vez de se esforçar por manter uma classe média alargada, capaz de suprir as deficiências estruturais e sociais do resto da nação, destrói-lhe as bases, favorecendo os super-ricos contra uma classe média honrada e contra uma população precária digna. A vida desonrada de uns e a arrogância e a soberba dos outros legitimam o caos e o desrespeito de leis que não foram concebidas no espírito do povo e da nação. O Estado, de dia para dia, perde a autoridade moral e revela-se, além disso, incompetente para gerir uma comunidade cada vez mais complexa. Onde a injustiça e o dolo imperam, a resposta consequente será o logro e a revolta. Hipocrisia, manipulação, oportunismo e sobranceria tornam-se virtudes da cidadania!

Na Europa, os políticos europeus estão cada vez mais desacreditados. Assim já há várias
petições de assinaturas para diminuírem o número de deputados. Tem-se a ideia de estamos num governo mundial efectivo. Os deputados de cada país são vistos, por muitos, como uma sobrecarga extra e caríssima, que não traz proveito algum. Igualmente muitos queixam-se, em emails, do dispêndio supérfluo dos deputados de Bruxelas. “Estão lá para se governarem a si próprios. São sanguessugas a extorquir ainda mais sobretudo a classe média” e conclui-se: Não havendo nações, não há motivo para haver parlamentos. De facto, homens medíocres, mas bons soldados dos partidos, como no caso do director do Banco de Portugal, depois de ter deixado ir o país à ruína, são promovidos para a Europa ou para organizações mundiais. Os Judas da nação são os novos cavaleiros andantes de ideologias organizadas nas famílias partidárias ou em irmandades mundiais. Para se justificarem basta-lhes ouvir o relinchar do povo longínquo, certos de que da bosta do cavalo saem bons cogumelos…

Na Europa encontramos grande parte da sociedade desencorajada e Estados indiferentes. Depara-se com muita actividade sexual e com muito activismo mas com produtividade insuficiente. Hoje mesmo nas notícias do ZDF foi referido que apesar dos incentivos financeiros para os casais terem filhos, em 2009 houve de novo menos nascimentos. Enquanto em 2008 houve 682 000 nascimentos, em 2009 já só houve 665 000.


A sociedade e seus governos cada vez se tornam mais virtuais, sem fundamento real que ofereça perspectivas de futuro para a maioria. Não há credibilidade numa sociedade que se orienta apenas por leis e princípios externos alheios à relação interpessoal e social. No lugar duma comunidade nacional deparamos com um Estado anónimo de espírito parasitário em que a massa extensa (res publica) é considerada um agregado de coisas instrumento, de indivíduos objecto reduzidos a clientes, contribuintes e energúmenos isolados sem família nem pátria nem povo. A lei e o princípio não pressupõem sujeitos, partem de  objectos. A res publica , na prática, reduz o cidadão a coisa, a res cogitans. A dignidade humana deixa de estar imanente ao homem e à comunidade. Esta vem de fora,  é substituída pelo dinheiro. Quem não tem dinheiro não tem dignidade e quem não tem trabalho digno torna-se miserável. De pessoa e de comunidade passa-se a indivíduo e a sociedade desconexa. A pessoa deixa de ser fonte de valor. No Estado paternalista a dignidade adquirida no trabalho para a comunidade, torna-se impossível, dado o cidadão dependente se tornar num objecto, pertencente à massa abstracta pensada e a maior parte da actividade ser transformada em trabalho precário. A dignidade individual responsável, numa cultura consumista e consumidora é determinada pelo único valor válido, o Dinheiro e a relação individual é substituída pela relação de cliente em competitividade meramente mercantil. O valor passa a ser um abstracto despersonalizado e quantificado no dinheiro. O cidadão é considerado como cliente para o shopping.

Os governos não levam a sério o destino do seu povo. Criam leis de apoio às multinacionais de maneira a o Estado acarretar com os custos de medidas fomentadoras do desemprego dos seus cidadãos. O povo, ao ver a corrupção da sua fina-flor não se sente disposto a trabalhar por ordenados de miséria. Fá-lo mas numa atitude de escravo revoltado.

Nos tempos em que a democracia social dos anos 70 e 80 prometia funcionar, conheci pessoas alemãs que viviam da assistência social e faziam férias de vez em quando na Índia; conheci imigrantes que viviam melhor com o apoio social do que outros do trabalho; conheci também pessoas que queriam trabalhar e não lhes era dada oportunidade; conheci milionários humildes que trabalhavam, de manha à noite, solidários com os seus trabalhadores. Os tempos mudaram-se e a atmosfera tornou-se áspera. Optou-se pelo globalismo e este precisa dum proletariado barato disponível e igual em todo o mundo. Neste sector social realiza-se a igualdade. O mercado de trabalho passa a ser regulado por grupos de interesses longe do povo. Com o tempo, na sapata da sociedade, quem trabalha é burro. Os vencimentos de certas elites tornaram-se num grito de guerra para quem os alimenta. O Estado paternalista tem o seu preço. Produz oportunistas e pobres. O globalismo produz pobres envergonhados e ricos desavergonhados.

Os Estados, expurgados dos seus valores culturais específicos, sem valores interiores e sem capacidade de regulamentação económica, encontram-se a caminho da bancarrota. As nações, na sua concorrência entre si, agarram-se aos super-ricos e multiplicam-nos. Os políticos e as ideologias tornaram-se dependentes e sósias das grandes multinacionais e do turbo-capitalismo. O Estado delega na classe média activa a tarefa de aguentar com os encargos sociais a pagar a uma classe precária cada vez maior. A política, para manter o precariado calmo e silencioso dá-lhe, como esmola, o que tira, a mais, à classe média. As ideologias políticas arrimam-se ao Turbo-capitalismo não havendo, de momento nenhuma forçar capaz de defender os interesses da calasse média responsável e de valorizar as potencialidades dum precariado travado.

A insatisfação social revela-se na abstenção nas eleições ou no abandono dos partidos tradicionalmente portadores das suas esperanças. Espera-nos uma sociedade com muitos partidos em parlamentos ainda mais incapazes.

Tal como na bolsa se joga, irresponsavelmente, com o valor dinheiro, assim jogam os Governos com a produtividade dos seus súbditos. Adiam a derrocada sacrificando a classe média aos deserdados sociais. A imoralidade da “fina-flor” é de tal modo absorvente que só suporta uma sociedade húmus que a alimente. O embondeiro não suporta arbustos debaixo dele; chega-lhe a erva…

A sociedade que sustentamos e em que vivemos é altamente hipócrita e irresponsável. A ideologia materialista e racionalista, em voga, conduz a uma atitude utilitarista e individualista. O problema é que de um Estado social passamos a uma forma de estado paternalista que abandonou a sua missão de mediador. O princípio da responsabilidade individual e institucional deixou de ter valor. As nações encontram-se à chuva porque destruíram o seu tecto metafísico. Já Boethius reconhecia que quanto mais um ser racional orienta a sua razão em direcção a Deus mais livre é e quanto mais a razão se orienta no sentido descendente e baixa, na direcção da matéria, menos livre se torna.

O século passado atingiu o zénite duma época dialéctica em que o materialismo e o racionalismo se tornaram o ópio do Estado e do cidadão. O século XXI sairá da sua crise no sentido dum humanismo cristão que supere a dialéctica mecanicista e o diálogo de sujeito objecto no sentido duma nova consciência integral orientada por uma matriz do triálogo pessoal numa relação eu-tu-nós segundo o paradigma da trindade e da teoria da Informação da mecânica quântica.

Não somos fruto do destino mas criadores de destino. O destino é próprio do reino material mecânico (ciência). No reino espiritual já não domina o destino mas o sentido da relação pessoal providencial. Tudo está, com a divindade, nas nossas mãos. O mesmo Boetius dizia:” Donde vem o mal se há Deus? Mas donde vem o bem, se não O há?”

António da Cunha Duarte Justo


Revolta dos ‘Burgueses’ na Europa

Revolta dos ‘Burgueses’ na Europa (1)

Elite irresponsável, Classe Média ofendida e Precariado anónimo

António Justo



Burguês é o habitante do burgo; modernamente falando, seria o cidadão activo. Esta espécie, devido à partidocracia, deixou de ser tomada a sério pelas novas camadas dirigentes, nos estados europeus.

A camada média da sociedade conservadora sente-se roubada dos seus valores éticos e do seu papel de medianeira social. Uma política do salve-se quem puder prescinde duma classe média motriz, enraizada no povo e na nação. Um socialismo, que até à introdução do Euro ainda constituía uma energia moral correctiva do capitalismo tornou-se numa força esquerda do oportunismo liberalista. Infiltrou-se nas estruturas do Estado e em nome da representatividade proporcional partidária assegurou o lugar para os seus Boys e ideologia nas grandes empresas e nas instituições formadoras da opinião. Ideologia e interesses económicos, numa estratégia niveladora do seu caminho, unem-se assim numa missão de destruir valores que tenham a ver com economia social e com a cultura nacional. A nova elite fomenta uma cultura do escândalo para no caos poder servir-se sem reservas morais.

A geração política actual, que quer representar sem trabalhar, favorece gente sem consciência, movida apenas pelo desejo do dinheiro e do poder. Esta consegue evitar legislação e regras que seriam necessárias para impedir os excessos e extremismos de elites engordadas longe da cidadania e do trabalho sério e à margem da sociedade e da cultura. Com o turbo-capitalismo esta mentalidade epidemia espalha-se nas cúpulas por todos os continentes. Para os hábeis resta-lhes o encosto aos aparelhos dos partidos no Estado.


Um resto de velhas elites europeias com consciência social e cultural, que ainda se encontra por todo o lado em minoria, é, também ela, desacreditada na percepção popular, devido ao comportamento imoral e insocial da maioria da elite.


A Alemanha, e com ela a Europa pós-guerra, foram construídas pela camada baixa da sociedade em cooperação com a “burguesia”. A riqueza criada e o bem-estar possibilitaram o desenvolvimento da democracia e dum estado social exemplar a nível mundial.


Cidadãos ordeiros, disciplinados, com vontade de trabalhar, que fundavam pequenas e médias empresas, que compram casas e inscrevem os filhos nas melhores escolas, sentem o seu futuro e o futuro dos filhos ameaçados, sendo ao memo tempo difamados de “tradicionalistas” por essa Europa fora.


De repente, levantam-se aos milhares, a qualquer pretexto, por toda a Europa. Na França a pretexto da reforma, na Alemanha, Bélgica, Holanda e países nórdicos a pretexto da integração dos estrangeiros e de projectos de prestígio, que as gerações futuras têm de suportar.


Esta burguesia trabalhadora, que convive com o precariado social, levanta agora a voz da classe média ameaçada por oligarquias desenraizadas da sociedade e por um precariado que a política perdeu de vista. Frank A. Meyer consegue sintetizar bem a sua situação real ao afirmar na revista “Cicero”: “Os alemães ‘honestos ‘(dignos) sentem-se ignorados, desprezados, postergados, abandonados à direita e à esquerda”.

O laissez faire e o individualismo grassante, manifestos em elites, precariado e jornalismo liberal de esquerda dominante, têm olhado, com desdém, o “burguês” honrado e empenhado. Este deixou-se levar pela enxurrada do turbo-capitalismo liberalista, e sente-se em maus lençóis, começando agora a acordar e a protestar.


Uma Alemanha cujo segredo da sua alta tecnologia vem do desenvolvimento feito nas pequenas e médias empresas, que cobrem todo o território, sente-se ameaçada pela elite dos super-ricos da globalização e por novas gerações, com má formação escolar, que, uma vez subidas às cúpulas, não poderão garantir a produtividade até agora conseguida pelas elites surgidas da burguesia do pós-guerra. 1949 e 1989 são marcos da época contemporânea que determinam a política não só da Alemanha mas também da economia europeia e mundial. O fogo-de-vista da geração 68, com as suas vantagens e desvantagens, deve-se em grande parte ao “milagre económico” e a uma atitude de revolta contra a velha sociedade que se desacreditara na guerra mundial. Esta situação impediu e impede  uma reflexão séria sobre um individualismo anónimo que se afirmava e afirma, contra a comunidade (instituição) e desprezava, por outro lado, a responsabilidade individual. A partir da queda do muro de Berlim e do socialismo real desaparece o correctivo socialista, desenvolvendo-se um capitalismo feroz aliado a uma ideologia liberalista meramente económica. Atempadamente, o chanceler Kohl fomentou uma política favorecedora do grande empresariado alemão para este partir duma posição forte para a nova concorrência global a nível de gigantes. Assim compensa muitas cedências feitas à União Europeia a troco da união alemã.


Segue-se uma nova geração de “boys” da política. Desenvencilhada de antigas convicções, opõem-se à política americana e atrela-se aos lobistas da economia. Aproveita-se de temas quentes como meio de agregar o povo em torno de emoções adequadas ao momento político mas sem uma estratégia integral.


É a hora da ideologia! Um miserabilismo sentimental aliado a um “respeito” alemão por um multiculturalismo de paralelismo cultural (no caso, gueto germânico/gueto islâmico) veio de encontro à filosofia islâmica e procurou considerar os estrangeiros como pessoas melhores do que os alemães, devido à sua diferença, exotismo e desconvencionalismo.


O sentimento de culpa alemão, que se expressa, nos meios liberais e de esquerda, na vergonha de ser alemão, é usado por SPD, Verdes e FDP, para levar a água aos seus moinhos e como chibata de domesticação das massas. Os conservadores, por razoes económicas e interesse no petróleo árabe e em investimentos em zonas estratégicas fecham os olhos ao que acontece na nação e no povo.


Contra o sentimento patriótico e contra o cidadão insurge-se, também, o espírito internacionalista da ocasião. Ofendida por uma opinião publicada leviana, a calasse média, começa a desforrar-se por toda a Europa. Tabus impostos por arranjos de políticos e publicistas, acompanhados do bem-estar económico, impediam a burguesia de falar abertamente e de expressar-se. Uma estratégia ideológica que fazia dos estrangeiros os melhores cidadãos, revela-se agora como perigosa para os instalados e para os que se aproveitam do sistema social. O burguês europeu não quer ser um Zé entre muitos outros Zés ao contrário do que pretende o turbo-capitalismo. Questiona o povo cigano e o povo árabe na sua tradição de gueto e de exploração do estado social e revolta-se contra as chefias. O problema não são os estrangeiros nem os dependentes; as elites é que se estão a tornar-se no problema e com elas os fazedores de opinião.


Não há que ter medo dos alemães. Não são mais racistas do que os que os consideram como tais. A oligarquia alemã continuará a ter o povo na mão, não fosse ela germânica! Devagar, ela consegue, inteligentemente integrar esquerda e direita, oligarquias e proletariado em benefício da nação. A crítica social e temática faz parte duma sociedade que gosta de discutir e assim catalizar e resolver de maneira mais produtiva os seus problemas. Para tudo tem uma estratégia e uma medida limite: o bem do Estado e do Povo em geral! Na discussão também o povo aprende e tem a impressão de ser tomado a sério. Todos se sentem úteis!


A camada média burguesa moderna não pretende manter-se fechada nela mesma como acontecia antes da primeira guerra mundial; pretende ser privilegiada nos impostos na medida da sua produtividade e quer ter o direito a chances especiais para os seus filhos em escolas privadas querendo, ao mesmo tempo, manter a sua distância perante o Estado numa sociedade aberta.

Precisam-se mais burgueses (cidadãos conscientes) com mentalidade de cidadãos do mundo. Precisa-se de todos os cidadãos na qualidade de esquerdos e direitos, ricos e pobres, estrangeiros e nacionais unidos na empresa comum de construir-se um Estado e um mundo mais humano e mais justo.


António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

Pedagogo e teólogo

Presidente alemão fala Texto claro no Parlamento Turco

Presidente da Alemna fala Texto claro no Parlamento Turco

Integração e Liberdade Religiosa um Problema árabe


António Justo


O presidente alemão, em visita de cinco dias à Turquia, expressa dois temas que preocupam a Europa: o problema da integração de turcos e árabes e o problema da liberdade religiosa.


Christian Wulff, ainda no primeiro dia de visita ao país amigo, fala texto claro. Perante o Parlamento turco em Ankara começou por louvar a produtividade dos primeiros trabalhadores imigrantes, passando depois a referir os problemas da integração dos descendentes turcos na sociedade alemã: “É importante que nomeemos os nossos problemas com clareza. A eles pertencem persistir na ajuda estatal, nas quotas de criminalidade, atitude macho, recusa de formação e de produtividade (trabalho e rendimento) ”.


Com este discurso, o presidente mostra aquilo em que os turcos sobressaem na Alemanha. Enquanto a juventude turca na Turquia se revela activa e interessada na formação e produtividade, na Alemanha manifesta-se como recusadora da mesma dinâmica. De notar que na Turquia a juventude não se pode encostar à providência do Estado.


Além disso instruiu os parlamentares dizendo que “sem dúvida, o cristianismo faz parte da Turquia”. Apelou indirectamente para a importância da reciprocidade bilateral ao dizer que os muçulmanos na Alemanha podiam “praticar a sua fé em ambientes dignos”, referindo-se às muitas mesquitas na Alemanha. Defende os mesmos Direitos para Cristãos. A Alemanha “espera que cristãos tenham em países islâmicos o mesmo direito de viver a sua fé em público, de formar nova geração de teólogos e de construir igrejas”. De facto na Turquia, e pior ainda noutros países islâmicos, as administrações locais e o povo impedem a construção de igrejas e a restauração de igrejas antigas; o estado não permite a formação de padres na Turquia; e os cristãos são discriminados na sociedade e na administração. São identificados através dum número característico para cristãos no bilhete de identidade, de modo a não poderem assumir postos representativos ou de confiança no aparelho do estado. A política de repressão dos cristãos conseguiu reduzir na região, nos últimos 100 anos, a população cristã de 25% para uma quota ridícula que não atinge já números inteiros na escala percentual ficando-se numa representação de pró mil!


Reveladora da dificuldade do diálogo com uma grande maioria da comunidade turca na Alemanha é o facto de o Presidente alemão ter de optar por falar na Turquia para poder ser ouvido pelos turcos na Alemanha. De momento a única maneira que os políticos têm de fazer chegar a sua mensagem à comunidade turca na Alemanha é falar a partir da Turquia.


O facto de a Alemanha poder falar abertamente na Turquia revela não só um sinal da mentalidade franca e rectilínea alemã mas também um indício de que a Turquia se torna mais madura socialmente.


António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

MULTICULTURALISMO FALHADO – Políticos sem Mão no Povo

MULTICULTURALISMO FALHADO

Encontramo-nos no Início dum novo Maio de 68

António Justo

O multiculturalismo „falhou redondamente”, acaba de dizer a chanceler alemã.


Isto significa a repulsa dum multiculturalismo de costas viradas uns para os outros e a afirmação dum interculturalismo aberto nos dois sentidos. A Europa perdeu demasiado tempo no jogo do pingue-pongue político que apostava numa tolerância que não passava de comodismo e indiferença.


Também a Chanceler Angela Merkel, na sequência de outros políticos e intelectuais, faz passar a mensagem, aos imigrantes de cultura árabe, de que não podem continuar a viver na Alemanha sem aceitarem os valores da Constituição alemã. O Presidente alemão, de visita à Turquia, fará lá passar a mesma mensagem e exigirá sinais concretos da sociedade turca no sentido de deixarem de perseguir os cristãos e as minorias.


A mensagem transmitida por Merkel aos Cristãos-Democratas (CDU) é uma resposta à voz do povo. Exige que os turcos aceitem que a Alemanha se orienta por ” valores cristãos”. Repete o apelo doutros políticos ao insistirem que aprendam a língua alemã. Esquece, porém, que na França a população islâmica fala bem o francês e os problemas ainda são maiores.


Assiste-se a um fenómeno novo na sociedade alemã. Toda a sociedade fala dos problemas da divisão da sociedade alemã, fala de xenofobia e da xenofilia. Em Hamburgo o povo impede uma reforma escolar do governo, em Estugarda o povo manifesta-se de maneira premente contra um projecto esbanjador de dinheiros públicos no plano megalómano da construção duma nova estação de comboio. Os 650 mil livros de Sarrazin com estatísticas sobre a realidade migrante e os problemas do precariado manifestam a impaciência dum povo demasiado habituado a ser açaimado com uma moral ideológica dos meninos-bem do pós-guerra.


Os políticos cada vez têm menos mão no povo, por isso vêem-se obrigados a descer à rua. Encontramo-nos nos começos dum Maio 68 diferente.


Na realidade assistimos a uma classe média apoquentada e desesperada perante uma economia e uma política distante de todos. A classe média, que era tradicionalmente a portadora de cultura e do bem-estar,  constata que os seus filhos se encontram cada vez com menos perspectivas e em situação precária.


Uma sociedade, mais adulta, verifica também que os políticos não têm poder nem capacidade para domarem um turbo-capitalismo feroz e um liberalismo desumano.


O estado social que a velha burguesia criou na Europa encontra-se ameaçado. Por um lado a política desmiola-o e parte da migração vive dele; ao contrário do que acontece no Kuwait, USA, Canadá, e outros países fora da Europa. O bem-estar social alemão foi criado pelas pessoas simples . Os novos ricos desprezam tudo o que é povo!


Um jornalismo de ânimo leve fala com facilidade de xenofobia. Quem vê na discussão pública alemã um discurso anti-imigração não se deu conta ainda do que se passa na Alemanha nem dos verdadeiros problemas que preocupam o povo.


A radicalização do discurso público é  uma resposta aos radicais da economia e da ideologia. Corresponde a um atestado de incompetência e de desconfiança nas pseudo-elites irresponsáveis e sem personalidade. O povo sacode os políticos e os intelectuais para que se dêem conta do que se passa.


António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com


INTEGRAÇÃO DOS IMIGRANTES NA EUROPA: UM PROBLEMA MUÇULMANO

Sarrazin provoca uma Tempestade na Opinião Pública alemã

António Justo

A turbulência em torno da pessoa de Thilo Sarrazin e do seu livro“Deutschland schafft sich ab” (A Alemanha abole-se a si mesma) não parece querer amainar. Sarrazin, ex-ministro das Finanças do Estado Federado Berlim, trata, no seu livro o tema da integração dos muçulmanos nas sociedades para onde emigram, de maneira demasiado clara e indiplomática. Um assunto mantido tabu pela classe política, pela opinião publicada e pelos intelectuais, vem mostrar a divisão entre os alemães.


A Tese de Sarrazin

Os problemas da integração “surgem exclusivamente nos migrantes muçulmanos… e isto deve-se ao fundo cultural islâmico”.

É  de opinião que a sociedade alemã se estupidifica mais nas próximas gerações, pelo facto de a população alemã se estar a alhear à cultura enquanto os muçulmanos migrantes geram mais filhos, diminuindo assim o potencial intelectual da sociedade anteriormente liderado pela classe média.

Segundo o autor, “os turcos na Alemanha geram o dobro das crianças do que corresponderia à sua percentagem na população”. “Os Turcos invadem a Alemanha tal como os ‘kosovares’ invadiram o Kosovo: através duma taxa de natalidade superior”.

Vê na fecundidade muçulmana “uma ameaça ao equilíbrio cultural da Europa e um risco para o modelo cultural europeu”. Segundo o relatório 2010 da Conferência dos Ministros da Educação dos estados federados da Alemanha, nas grandes metrópoles Frankfurt, Munique, Colónia e Estugarda, mais de metade de todas as crianças até aos três anos tem base migrante.

Sarrazin lamenta a baixa quota de turcos dispostos a aprender bem a língua alemã prejudicando assim a própria carreira escolar que se reflecte no facto de 54% dos turcos entre os 25 e os 36 anos não terem concluído a formação profissional. Os resultados das escolas alemãs nos estudos comparativos de PISA baixam devido ao insucesso escolar dos turcos na Alemanha. Sarrazin receia assim a diminuição do quociente médio de inteligência da sociedade alemã baseada na vontade procriadora da classe mais baixa. Parece desconhecer porém os factores ambientais. Os turcos certamente não serão mais estúpidos que os outros imigrantes. Estudos provam um nível intelectual inferior das crianças turcas mas não que sejam mais estúpidas.

Com montes de estatísticas apresenta a tese de que os turcos, com muita emigração em busca da assistência social alemã, “certamente não contribuíram para o nosso bem-estar”. Atesta que “em todos os países da Europa, os migrantes muçulmanos custam mais do que a mais valia económica que trazem”.


O autor best-seller atesta e testemunha, com números, o que o povo pensa.

Contrapõe o direito do Estado “a decidir, ele mesmo, quem quer receber no seu país ou na sua sociedade”, ao abandono deste direito aos partidos.

O tema da integração muçulmana (sua resistência à integração) passou a dominar a floresta das folhas dos jornais. Uma Alemanha, que integrou milhões de polacos nos finais do século XIX e 12 milhões de desterrados depois da segunda guerra mundial, sente-se impotente perante 4 milhões de muçulmanos no país. Atrapalha a Alemanha o facto destes parecerem, na sua grande maioria, contentar-se com a prática da religião e o reagrupamento familiar, levando uma vida em contraposição e à margem do país acolhedor. O facto dos problemas da França com os seus 5,5 milhões de muçulmanos é visto pelos alemães como um problema consequente da colonização francesa. Silencia-se que a economia moderna explora, de maneira agressiva, os autóctones da classe média e baixa e os migrantes.

O barómetro da excitação atingiu alta intensidade e não parece haver lugar para uma aberta. Uma opinião pública pautada pela norma da boa educação correcta e pelo tabu social, em que “sobre estrangeiros ou se fala bem ou não se fala”, acorda estremunhada e revela não ter soluções contra o medo sub-reptício da balcanização da sociedade.


Reacção da classe política ao livro de Sarrazin

As elites reagiram com nervosismo e irreflexão: exigiram a sua expulsão da direcção do Banco Alemão e a sua expulsão do partido SPD. A liberdade de opinião é um bem a cultivar enquanto não se pertence à classe privilegiada!… A direcção do partido quer expulsá-lo mas a base compreende-o e mais de 2.000 cartas foram recebidas na central do partido. 90% eram a favor de Sarrazin.

Os políticos temem o escândalo duma realidade que se quer silenciada. Não admitem que um dos seus questione o pensar correcto que é o dogma hodierno das classes dirigentes. Daí a necessidade destas em desacreditá-lo e em declará-lo como apóstata. Conseguiram afastá-lo da direcção do Banco Alemão mediante a sua indemnização duma pensão vitalícia farta, evitando assim perder um processo em tribunal.

O Povo apoia-o e as chefias dos partidos atacam-no. Com a sua crítica, ele atinge o sistema partidário que em vez de o discutir o ataca a nível pessoal. Na sua repulsa primária, a política distanciou-se ainda mais do povo já em dissidência da política (por este andar, o partido dos não votantes atingirá os 40%). Na Europa, cada vez mais se assiste a reacções histéricas entre políticos e povo. Numa sociedade em que as elites se afastam cada vez mais do povo, estas não querem acolher Sarrazin nas suas fileiras, nem um povo que exige vontade de integração aos muçulmanos.

A má consciência política relativamente ao problema da imigração faz-se sentir numa campanha concertada contra Sarrazin, uma crítica virada apenas contra o seu estilo e ignorando a realidade do conteúdo. Mais uma vez se misturam alhos com bugalhos. Com Sarrazin a classe média aproveita para manifestar o seu descontentamento perante uma política que a tem ignorado e manifesta-se o descontentamento perante uma opinião pública dominada pela esquerda liberal que açama a voz da burguesia e da raia-miúde que construiu e levantou a Alemanha pós-guerra!


Na espiral dum silêncio político envenenado surgem brechas que se tornarão explosivas nas campanhas eleitorais. Segundo prognósticos estatísticos, se Sarrazin fundasse um partido receberia 20% de apoiantes.

As opiniões polémicas que Sarrazin expressa sobre a atitude dos partidos, fruto da negligência destes no que toca à imigração turca, que sob o manto da reunião familiar passou de 750 mil turcos para três milhões habitantes de ascendência turca, deixarão rasto profundo na sociedade. Quatro milhões de muçulmanos, em grande parte, vivendo em guetos e em torno das suas mesquitas, com os piores resultados escolares em termos comparativos com outros migrantes e com manifesta falta de vontade de integração, metem medo a muito alemão que se sente atraiçoado pela política e vive com a impressão que a classe política não protege o próprio país nem a própria cultura e se coloca ao serviço de egoísmos e oportunismos individualistas ou de classe.

O medo e o oportunismo têm muito poder numa sociedade habituada a varrer para baixo do tapete o lixo que produz e os problemas não resolvidos desde os anos 60. Assim o CDU/CSU e Liberais fecharam sempre os olhos aos problemas, no que tocava aos estrangeiros, vendo-os apenas como mão-de-obra barata que vinha solucionar os problemas duma economia em expansão. Os Verdes cresceram sob a bandeira dos estrangeiros e da ecologia, colhendo agora os frutos que se expressam nos resultados das eleições; o SPD preocupou-se em integrá-los no partido, atendendo ao potencial que significam em termos de votos para o futuro.

Sarrazin, embora político, não gosta do jogo preferido dos políticos: o Pingue-pongue; gosta mais de futebol! Quer ver a bola na baliza ao exigir medidas reais para a integração dos muçulmanos no país. As suas exigências correspondem, em parte, à legislação vigente na USA, Canadá e Austrália.

No fim de contas, fica a impressão de que os alemães preferem continuar a falar alemão macarrónico com os estrangeiros, não tolerando que Sarrazin, o povo, fale alemão claro. Este descreve um estado de facto mas num tom exaltado e metendo, por vezes o pé na poça. E os seus críticos abusam do moralismo ‘multiculti’ para encobrir os próprios erros e para disciplinar ideias da direita e/ou assegurar resultados eleitorais. O problema em aberto é que os políticos passam e os problemas ficam.

Depois da campanha contra Sarrazin os partidos parecem voltar à normalidade começando agora a pronunciar-se por uma discussão aberta e falando da necessidade de integração.


Europa em efervescência

Thilo Sarrazin provoca na Alemanha uma discussão que já se vai fazendo sentir noutros países europeus. A Holanda que nos anos 80 era modelo nas medidas de acolhimento e apoio aos imigrantes manifesta agora, com reacções xenófobas, que o seu latim chegou ao fim.

Por toda a Europa se sente um fervilhar inquieto no povo. Este vê a pobreza a imigrar para a Europa e sente-se mais depauperado pelos próprios Estados onde as leis e os impostos asfixiam cada vez mais o cidadão laborioso. Uma insatisfação cada vez mais explícita contra o agir da classe política estabelecida terá como consequência a formação de novas forças políticas. A crise económica e financeira leva os perdedores da sociedade a revoltarem-se contra as elites que cada vez mostram mais desprezo pelos de baixo.

As camadas média e baixa da sociedade sentem-se inseguras num momento em que a oligarquia da União Europeia, as famílias partidárias e a sua burocracia se tornam mais fortes.

Os problemas económicos cada vez mais reais, a esterilidade das mulheres europeias e a resistência muçulmana à integração e correspondente vontade procriadora, levam muita gente a sentir o Islão como uma ameaça à própria cultura.

Muitos constatam que os explorados de ontem reagem agora – via imigração e procriação – explorando as leis existentes, a liberdade religiosa e a providência social, vivendo em gueto em torno das suas mesquitas e afirmando-se contra a sociedade acolhedora. Emigram para fugirem à desumanidade social dos países de origem mas temem os valores da nova sociedade.

Entretanto o estrato social inferior autóctone descobre-se como parte da classe social multi-étnica precária entregue a uma concorrência selvagem. Por outro lado uma classe secular vê na atitude muçulmana contra a emancipação, contra o indivíduo e contra o iluminismo uma ameaça às conquistas republicanas. Vê-se confrontada com uma religião eminentemente política, sem política que a confronte. A força ideal reage e aproveita os fracos do poder económico.

A raiva do povo nunca foi boa conselheira mas a incúria política não pode continuar a ser a resposta a problemas a resolver agora, em termos bilaterais.

Os “populistas” terão sucesso porque os nossos políticos revelam menos inteligência do que o Povo em geral.


“Deutschland schafft sich ab” é um livro incómodo para alemães e muçulmanos. O livro reflecte a opinião do povo, a opinião dos que mais sentem os ventos fortes e frios do turbo-capitalismo. Em relação aos outros estrangeiros e seus descendentes concorre para uma discussão mais adequada, uma vez que a imprensa alemã estava habituada a tratar os problemas especificamente turcos sob o manto de “problemas dos emigrantes e seus descendentes”.

Ressentimento por um lado e arrogância pelo outro não resolvem o problema. A integração do mundo turco e árabe na Europa é demasiado complexa para se poder solucionar com simples posições de pró e contra.

Nem a xenofobia nem a arrogância das elites resolverão os problemas de pessoas oprimidas económica e/ou culturalmente. Em tempos de crise todos tendem a sobre-reagir! Na casa em que não há pão todos ralham mas ninguém tem razão!


Na nossa sociedade em ebulição é de preferir um inimigo verídico a um amigo falso.

António da Cunha Duarte Justo

Alemanha, 5 de Outubro de 2010