A DIGNIDADE HUMANA É O ALICERCE DOS DIREITOS HUMANOS

União Europeia – Uma “Comunidade de Valores” sem Sustentabilidade?

António Justo

Não é a autonomia da pessoa que fundamenta os direitos humanos, mas sim a dignidade humana que fundamenta a sua autonomia. O Homem é um ser situado e como tal feito de eu, tu e nós, de espaço e de tempo (é mais que as suas circunstâncias). Nele a transcendência dá perspectiva e continuidade à chama da realidade (1).

Querer basear os Direitos humanos apenas no Direito político (no direito e na moral), como tenta a União Europeia, quando se procura identificar e definir como “Comunidade de Valores” (por ordem decrescente a nível de popularidade: “direitos humanos”, “democracia”, paz, “estado de direito”, “solidariedade” “respeito por outras culturas”, “respeito pela vida humana”, “igualdade”, “liberdade do indivíduo”, “tolerância”, “autorrealização” e “religião”), significaria um encurtamento, uma regressão no processo do desenvolvimento (humano, histórico e sociológico). Ao mesmo tempo corresponderia ao abdicar da sua função teleológica (das causas finais ou finalidade – propósitos e motivos que estão por trás do viver e do agir) e a conformar-se com o fim da História. Implicaria uma amnésia da história passada e consequentemente uma renúncia ao futuro (em vez de sujeito assumiria o papel de ser apenas  objecto da História: ser um objecto entre outros; renuncia à própria consciência de sujeito para viver oportunisticamente numa posição hipócrita de igualdade artificial com outras culturas: relativismo cultural!).

Pretender reduzir a tradição europeia ao iluminismo sem reconhecer que este só foi possível na continuação da Idade Média e do Renascimento e da doutrina cristã e grega corresponderia a desfamiliarizar-se à imagem do filho pródigo. Os valores da comunidade não a justificam por si mesmos; com o tempo tornar-se-iam numa roda de hamster sem missão nem sentido e sem objectivo abrangente.  Ontem como hoje legitimam-se guerras e injustiças em nome da defesa de valores e direitos individuais, religiosos e políticos. Os direitos e interesses das partes concorrentes determinam o agir à custa da dignidade humana (2).

Entre o imperativo categórico da razão e o imperativo integral do divino

Nessa “Europa dos Valores”, o barómetro da validade dos valores dependeria, pontualmente, do sentimento expresso em determinada época ou tempo.

O desejo corre atrás da falta. O mimetismo das leis e costumes na luta pela sobevivência que cria esperanças não dá sentido nem pode satisfazer a Esperança. O bem-comum e a democracia são demasiado circunstanciados para poderem ser apresentados como garantes de futuro ou como princípio ético global (Exemplo de do filósofo Sócrates e de Jesus Cristo que foram mortos em nome da lei por defenderem a dignidade humana que transcende a própria lei e moral: ao não seguirem a moral da massa ficaram fora da lei e da sociedade). A polis, a democracia, em nome do povo,  legitima a morte do indivíduo pela lei embora este, como testemunha Jesus e Sócrates, seja fiel a uma consciência ética individual e social superior à da massa; numa perspectiva da polis, ao indivíduo fica reservado o mal se não segue a masssa. Na consequência podemos concluir que não chega o reconhecimento do grupo ou da sociedade como prémio ou como saisfação de uma necessidade para legitimar um acto ou uma lei geral. O facto de se pressupor um ideal absolto e de ele ser impossível no tempo, devido à falta, não justifica a sua negação ou sentido.

O desejo realizado apenas no âmbito social  reduziria a vida a uma mera necessidade de autoafirmação presente na natura e na cultura mas sem perspectiva de sentido final. A liberdade e a dignidade humana são  mais do que a lei produz. A esfera da moral é criada pela lei mas esta deve deixar margem para poder ser secundada pela consciência.

A vontade da lei – expressão do momento – seria determinante independentemente do sentido e da finalidade do Homem, da história e da natureza, que apontam seguir no sentido de uma meta e de uma caminhada de aperfeiçoamento comum (a natureza e o desenvolvimento antropológico e sociológico seguem na peugada de um chamamento). A teleologia explica a realidade em termos de causas finais e a teologia explica a realidade em termos de primeiro motor e de causas finais, na perspectiva humano-divina.

O imperativo categórico da razão não pode obstar ao imperativo integral do divino, que é uma constante a manter-se; a ética da responsabilidade é um bom orientador para regular a vida da pessoa na cidade (sociedade) mas não é suficiente, precisa também da virtude moral pessoal (convicção) que assente num imperativo divino (esfera mística e ideal já apresentada por Platão na alegoria da caverna). Não é suficiente a narrativa da comédia e da tragédia da vida para a explicar; a vida humana necessita-se também da filosofia e da espiritualidade como procura da verdade. (Naturalmente que aqui falo como cristão, mas como cristão consciente de que todas as doutrinas e éticas se interrelacionam e se necessitam na caminhada comum de realização e descoberta do mistério).

Substituir o olhar de Deus pelo do Estado secular seria condicionar o cidadão irremediavelmente à polis (cidade) tal como em tempos anteriores o servo da gleba tinha sido condicionado à agricultura. Seria dar o passo da Religião para a Ciência de maneira irreflectida, porque esta não aceita reconhecer nem ver a ideologia que a sustenta. Nesta via reduzir-se-ia tudo a educação, psicologia  economia e sociologia, fazendo dos professores os novos sacerdotes ao serviço de uma subalternidade que humilha a pessoa.

A dignidade humana (de gene divina) ultrapassa o estatuto da moral e do direito; ela é que os fundamenta e garante: neste sentido, todo o Homem é filho de Deus independentemente da sua crença e mundivisão. Com a morte de Deus, a Europa perderia o seu passado e com ela o sentido do seu futuro. Seria antieuropeu e anti-cultura-ocidental, se os seus representantes continuassem a negar o Deus dos cristãos (o Cristianismo fonte do seu ser e projecção e sentido da missão no mundo de se dar “a Deus o que é de Deus e a César o que é de César”) porque ao matar Deus matam a cultura e negam a continuidade da história. Todo o Homem ocidental consciente da cultura europeia, independentemente de ser ou não crente, reconhece a importância do cristianismo como matriz da cultura ocidental que soube integrar nela  o espírito grego e romano numa dinâmica de aculturação e inculturação com outras culturas; de facto são instituições como o Catolicismo e outras comunidades que, na abertura, permitem garantir a sustentabilidade de uma civilização que herdou delas a dignidade humana e os direitos humanos numa dinâmica de se reinventar e refazer continuamente.

O direito é algo externo e como tal não tão vinculativo como a dignidade humana porque, mesmo o Estado de direito que se entende justo, tem um sistema jurídico fruto da força dos mais fortes e que os beneficia, com maior ou menor desvio, de cultura para cultura: a dignidade humana essa é uma constante acompanhada por valores (direitos e deveres) variáveis. A dignidade humana, por mais ultrajada que se encontre num sujeito, transcende o direito (quando este dispõe do homem como objecto); a dignidade humana responsabiliza o ser humano no foro externo e interno; não se subjuga à ponderação de interesses imediatos (individuais ou grupais) que a determinem.

A instituição e o órgão não se podem sobrepor à pessoa (dignidade humana). O Estado embora promova o direito é ao mesmo tempo seu objecto e a vontade do povo é legitimadora das leis na medida em que as condiciona à dignidade humana. Doutro modo temos uma sociedade de direito, mas de legitimidade muito limitada.

De que me valeria ser justo se a minha justiça contribuísse para a sustentabilidade de um estado de injustiça?

Para Aristóteles o fim da acção é a felicidade (fim teleológico)

 

Na vida individual e social, a uma força biológica causal junta-se uma força intencional (um objectivo a longo prazo, impossível de ser observado num momento determinado dado o observador fazer parte do processo).

Sem uma visão teleológica da realidade e da própria história, os valores e os direitos humanos (e um possível catálogo de princípios éticos acompanhantes) careceriam de sentido e propósito, não podendo por si sós tornar-se em motivação de acções e de valores.  Um agir motivado apenas pelo direito teria como consequência um utilitarismo egoísta ad hoc porque até o princípio ético da justiça não passaria de um argumento para se produzir um contínuo estado de guerra desesperada contra quem tem ou é mais ou até incrementar um estado de guerrilha de indivíduos e de grupos na sociedade (à imagem dos jhiadistas muçulmanos).

Se observamos, o ser humano, a natureza (biologia) e a História na sua caminhada (antropológica e sociológica) verifica-se não só a caminhada mas que o caminhar se orienta para uma meta (força motivadora e intencional; o argumento de uma possível lei de adaptação é insuficiente por excluir o fim aberto da metafísica; não chega a força da necessidade para justificar a criação do órgão nem o salto das espécies para explicar o desenvolvimento nem tão-pouco uma ordem; por trás da necessidade há um impulsionador que possibilita a própria ordem, a orienta e a satisfaz e a que se poderia chamar felicidade ou perfeição – realização final (dinâmica da trindade). (Nesta perspectiva torna-se óbvia a colaboração das várias ciências como achegas complementares na tentativa de desvendar o mistério da vida e do mundo que é maior do que o âmbito que cada sector abrange: não chega ficar-se pelo materialismo nem pelo espiritualismo como modo de explicar o mundo e o Homem (sua origem, composição, finalidade e sentido; também não é suficiente perder-se em explicações); um e outro têm de se dar as mãos para solidariamente servirem a Humanidade. Com efeito, uma autoafirmação no ser contra e através da negação do outro (alteridade) corresponderia a um impulso primitivo de elementos inconscientes, sem ipseidade própria nem sentido.

A Dignidade Humana é a   logomarca da história intelectual e mística europeia

A dignidade humana dá consistência à autonomia dos direitos humanos, legitimados por uma convicção moral. De facto, não chega a tentativa de um enquadramento da consciência europeia em variáveis jurídicas e morais para fundamentar o valor de uma cultura ou fundamentar a dignidade humana; a moldura é variável, como se verifica ao longo da História e na comparação das culturas. (Uma fundamentação e explicação meramente ética procura a sua origem na filosofia Kantiana, em concepções utilitaristas ou relativistas). São, porém, insuficientes. O acto político humano circunstancial (democrático), expresso na elaboração de uma Constituição, não é suficiente para fundamentar um direito vinculador do comportamento, porque não reflecte o ser do Homem, o Homem todo, a sua ipseidade de caracter divino.

Não chegam conceitos morais para fundamentar os diretos humanos; uma ética responsável é sempre pessoal; como referi, a “dignidade humana”, de identidade cristã e de filiação judaico-geco-romana precisa de manter instituições que preservem a memória e a vivência a ser transmitida de geração em geração (cristianismo e seus desafiadores como guardiães do direito natural, do direito positivo e do direito espiritual). A Dignidade Humana é a   logomarca da história intelectual e mística europeia e baseia-se na” Imagem de Deus” apesar das mais diversas expressões e ao abuso do mais forte; abuso sempre presente na história religiosa e profana pelo facto de estes não deixarem de ser portadores dos males inerentes ao ser humano.

Embora o cristianismo não tenha elaborado um catálogo específico sobre os direitos humanos e o seu fundamento na Dignidade humana, toda a sua espiritualidade (ser-humano feito de terra e céu, o protótipo Jesus Cristo, o embutindo na relação pessoal trinitária, as bem-aventuranças, tudo isto cria um uma relação substancial de elevação natural da dignidade humana. O cristianismo é mais que uma religião, por isso, a dignidade humana é definida independentemente da religião…e como tal global e válida para toda a crença e descrença.

A dignidade humana é mais que um direito; ela é a rainha de todo o direito! A honra humana é inerente ao Homem independentemente do estado social e da sua avaliação ao longo do tempo. Para Paulo não há grego nem romano. O Homem deve velar pela sua dignidade perante si, perante os outros e perante Deus implicando isto o seguimento de um chamamento de perfeição.

A dignidade humana e a admiração por todos os seres prestam-se como alegação universal para o direito e a moral de todos os povos.  A dignidade humana é o fundamento religioso e filosófico mais apropriado dos direitos humanos; uma tentativa de colocar os direitos humanos como fundamento leva ao equivoco, dado o direito e a moral que os assistem serem demasiadamente localizáveis, condicionadores e condicionados ao lugar e ao tempo, para poderem servir de fundamento último de mundividências ou atitudes. A mera lei como orientação mata as asas do sonho, aquilo que nos torna Homem.

Pena de morte – Um Direito contra a Dignidade humana

 

Consequentemente, a dignidade humana não é compatível com a legitimação da morte de embriões nem de pessoas em estádio último, muito embora o direito se expresse diferentemente em circunstâncias diferentes. Tentar definir a dignidade humana corresponderia a equacioná-la e condicioná-la em termos de sistemas ideológicos ou mundivisões ela é o valor em si porque, o valor a priori anterior à formulação do direito público e do direito privado.

 

Corre-se o perigo de haver uma degradação da orientação baseado num processo de transferimento do pensar da filiação divina, para o pensar racional e ultimamente para o pensar utilitário-financeiro. De facto, na formação dos juízos de valor deparamo-nos com a influência da economia em termos de câmbios correspondentes a trocas de valores equivalentes a produtos em igualdade

Basear os direitos humanos apenas na acção de legislação política corresponderia à elaboração de um sistema social com pés de barro como na predição de Nabucodonosor . Com o tempo o homem deixaria de ser sujeito e senhor para passar a objecto e escravo.

A Dignidade Humana e o respeito perante a vida (todo o ser) são os garantes da paz e do desenvolvimento dos povos.

A lei da pena de morte, vigente nalguns países, é o exemplo mais acabado de como uma determinação legal, embora democrática, transgride a dignidade humana e o respeito pela vida ao conferir a uma instituição o direito de colocar a sua norma acima da Dignidade humana.

©António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo

(1) Faço esta reflexão que provem de uma observação do agir e legislar da União Europeia, consciente de que muitos dos seus timoneiros não estão à altura de perceber a matriz da cultura europeia e do seu sentido e significado para os cidadãos e para o mundo. Em vez de viverem a própria cultura, incorrem num zelo jacobino masculino de imporem a outros povos a sua “democracia”, com um constructo dos “valores europeus” em que os valores da pessoa, da família e da comunidade deram lugar aos valores do mercado que para se tornar absoluto aposta no egoísmo humano, longe de Deus e do povo. Não me preocupa a crença; o que me preocupa é uma Europa só corpo que perdeu a alma e que por isso não parece saber o que quer nem o que faz.

(2) Hoje torna-se óbvia, mais que nunca, uma discussão desemperrada sobre a cultura europeia atendendo ao seu caracter aberto e à afirmação crescente da cultura árabe no seu meio como gueto. Neste sentido não é suficiente uma Constituição dado se afirmarem à custa da cedência de bens culturais europeus sem que eles cedam também nos seus; de facto, a abertura cede ao fechamento sem nada em contrapartida.

ATAQUE SUICIDA NO CONCERTO DE ARIANA GRANDE EM MANCHESTER CAUSA 23 MORTOS

O Ritual da Política e dos Média repetido depois de cada Atentado

 

António Justo

O bombista-suicida, fez-se explodir à porta do Concerto Pop  (às 23.30H, 22.05) levando com ele 23 pessoas pacificas e inocentes e deixando 59 muito feridas que só queriam celebrar a festa. Em declarações através de Twitter já horas antes era anunciado o atentado como acto de “terror justo”.

A Guerra das civilizações (A. Huxley) já começou há muito (especialmente desde que Ayatollah Khomeini tomou posse do Irão e especialmente desde o atentado de 9/11 na América). A propaganda política estabelecida procura fazer-nos querer que se trata apenas de acções passageiras à conta de cabeças desmioladas para não terem de rever a política. Fazem tudo por desviar as atenções dos factos procurando ocultar vestígios que à posteriori os contradigam ou que a priori manifestam a sua negligência.

O fanatismo muçulmano não se preocupa sequer com os danos de imagem que tais actos provocam, em relação à própria religião; parte do princípio que onde estão se encontram em sua casa e de que muçulmanos não se manifestam contra terror. Deste modo, os terroristas sentem-se apoiados pela conivência das massas muçulmanas na Europa, sabem que não protestam nem organizam manifestações contra os irmãos tresloucados. Esta apatia das comunidades muçulmanas em relação ao proceder dos irmãos é compreensível dado o Islão ter conquistado o mundo com a espada acompanhada de uma política económica de rapina, corso, escravização (e cobra de impostos e discriminação dos não muçulmanos) e propagação através da reprodução e de uma ideologia político-religiosa que lhe dá consistência. Como filhos do deserto compreendem a vida sobretudo como luta, conscientes de que só sobrevive o mais forte.

Para os extremistas só existe a sua causa, sem consideração tratam apenas do seu negócio. Não reconhecem a culpa vêm-na nas circunstâncias. O mote” fazei amor e não a guerra” deixam-no para os que vivem nos prados onde corre o leite e o mel, pois para os jihadistas tudo isso é miragem, real só é o paraíso.

Enfim, continuaremos, no meio do nosso canto a ouvir também a voz das bombas. As vítimas serão motivo para uns continuarem a cantar e outros a matar. Surge, porém, um problema na política e na sociedade:  o facto de vítimas se irem tornando no sustentáculo da nossa esperança.

Os atentados passam a fazer parte da narrativa, o problema é não haver predisposição nem tempo para chorar as vítimas. Países com muita imigração islâmica encontram-se mais expostos…

A cena islâmica domina as notícias negativas enquanto parte da opinião pública procura justificar os acontecimentos como fazendo parte da normalidade cívica de uma sociedade que se quer aberta por razões económicas, demográficas e políticas. Temos uma sociedade aberta, sem fronteiras, mas sempre surpreendida pelo facto de não estar preparada para a abertura que propaga e sem se preocupar em criar o acompanhamento necessário para quem entra… O ritual da discussão, política e pública pós atentados, parece esgotar-se sempre na mesma praxe: quem era o assassino, terá sido apadrinhado pelo EI, é imigrante ou refugiado, há reivindicação de responsabilidade, terá a polícia cumprido devidamente a tarefa de impedir o atentado, o pobre coitado cometeu certamente o atentado por ser discriminado pela sociedade no gueto onde vivia e por fim vem a política com uma lamentação rezadeira e com a recomendação que o povo esteja atento; de facto o Estado encontra-se sobrecarregado pelo terrorismo não podendo garantir a defesa dos cidadãos. Os atentados são em principio aceites; o importante é fazer a sua explicação.

A política e a economia querem uma Europa de tipo casa aberta sem portas nem janelas. Por isso quem paga a factura são as vítimas e os herdeiros. Consequentemente os nossos políticos negam-se a ser porteiros; dão a impressão de aceitarem a situação com benevolência, porque enquanto o seu povo se ocupa com tais problemas não lhe vem à ideia a exigência de construir uma sociedade ainda melhor à que teve há 40-50 anos.

A tolerância tem o seu preço que, por vezes, se confunde entre verdade dita e atentados perpetrados. O problema vem do facto de o terror ser aceite e coberto pela sociedade islâmica e explicado e aceite pela sociedade acolhedora e pela palavra discursiva de uns e outros; também não é possível meter todos os terroristas e salafistas extremistas numa ilha isolada e as incitações à intolerância e à violência em livros religiosos ainda são ingenuamente aceites e propagadas como se não fizessem apenas parte da natureza humana, mas também da sua cultura e propaganda.

Os Media e a política continuarão, num rito já repetido, a falar do envolvimento do IS e da perturbação psíquica dos terroristas que não passam de coitadinhos, e, deste modo, a fazer propaganda por ele. Enfim, a vida continua, uns fazendo o negócio da guerra e outros falando dela.  

Neste jogo de guerra, o islão militante afirma-se, e a presença islâmica também, conseguindo traumatizar muita gente numa sociedade já de tal modo traumatizada que perdeu a capacidade de ver donde vem o problema e de recorrer a meios adequados e humanos de o impedir…

© António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo,

NACIONALISMO SURGENTE – UM SINTOMA DE CRISE E DE INSTABILIDADE

Salvar a Europa ou as suas Nações? 

 

António Justo

 

Na Europa assiste-se a uma onda de indignação contra a onda do nacionalismo crescente que indignado reage contra transformações políticas, económicas e sociais, sentidas como ameaças à própria identidade e aos bens adquiridos. A União Europeia insurge-se contra os europeus e os europeus insurgem-se contra a Europa.

 

Concorrência no mercado das opiniões

 

A ideologia socialista que num primeiro momento da industrialização se revelou oportuna precisaria de uma revisão radical, para se não tornar prejudicial, num momento da História que precisaria de maior tempero e equilíbrio na rapidez do progresso para se proporcionar um desenvolvimento sustentável mais adequado às pessoas e aos povos. O mesmo se diga do capitalismo liberal!

 

A ideologia nacionalista, como sintoma de crise e de instabilidade económica e social, corresponde à maré vazante depois de uma maré cheia anterior (de melhor bem-estar económico e social) demasiadamente aberta, virada para fora, para a expansão e desacautelada em relação ao próprio centro (os interesses do próprio Estado, da cultura e da economia nacional foram negligenciados e a imigração muçulmana, incontrolada e, em parte, incontrolável, atenta contra a unidade cultural continental). Uma cultura prematuramente aberta e apressada questiona o próprio desenvolvimento orgânico e ordenado, a que poderia chegar com mais eficiência em ritmo menos acelerado.

 

O nacionalismo começou a ganhar maior expressão com a revolução francesa e especialmente com a revolução industrial inglesa que desestabilizou a ordem social, ao provocar a emigração dos lavradores e dos aldeões para as cidades.

 

De aldeão para cidadão

 

Com o abandono da terra e do campo e com a consequente concentração do povo nas cidades deixa de valer a estabilidade de uma economia de caracter familiar para se passar para uma economia de caracter individual mais acentuada no capital. Passa-se das famílias alargadas para as famílias pequenas – estas condicionadas por uma economia de proletariado agarram-se a novas mundivisões).

 

A insegurança do indivíduo na cidade e a instabilidade política citadina teve como consequência o fomento do individualismo que passa a procurar a segurança na nação (Um certo patriarcalismo familiar desaparece e o indivíduo, longe dos seus, procura o seu substituto na nação). A emigração do povo do campo para a cidade leva-o a deixar a igreja na aldeia e a desvalorizar a importância da família alargada (actualmente até a família pequena é posta à disposição dos maiores ataques). Nas cidades as torres da Igrejas começaram a ser atafegadas pelas chaminés das fábricas e pelas torres dos bancos. Mudam-se os costumes mudam-se as mentalidades.

 

A concentração das pessoas na cidade cria um novo tipo de pessoa: surge o cidadão a tecer novos sonhos que posteriormente se revelam, também eles, sem asas, com as naturais desilusões.

 

A família, a geografia, o campo e a agricultura deixaram de ser garantes de valores duradouros e de estabilidade a nível individual e social. O indivíduo distancia-se e afirma-se perante a família: destrona-se o pater famílias, destrona-se o rei; o nós das famílias transpõe-se para o nós nacional.

 

Surge o indivíduo isolado, com menos laços; o que vale agora é a força de trabalho e o capital que ela produz; o citadino, procura agora a estabilidade social e afectiva em novas ocupações e organizações; a vida da polis, a organização laboral e do Estado, fomentam nele o sentimento nacional.

 

A República vai-se afirmando como barco no mar revolto e o cidadão já não vê outra perspectiva senão agarrar-se ao nacionalismo, quando as ondas da economia tumultuosa do século XIX e do início do século XX assolaram as cidades.

 

Uma crise económica e social na Alemanha, na sequência do acordo de paz de Versailles (imposto à Alemanha em 1919), revela-se como acordo fomentador do nacionalismo porque ao estagnar a economia alemã cria instabilidade social que leva ao nacionalismo que preparou a segunda guerra mundial.

 

A solução é ambivalente: Salvar a UE e/ou salvar o destino dos países

 

A crise económica e financeira de 2008 transbordou de tal modo que castigou a classe média e média inferior, aquela que é a base da sustentabilidade das sociedades nos Estados.

 

O Brexit é a consequência e expressão séria do nacionalismo que por todo mundo efervesce. De facto, os políticos da EU que representam os interesses das organizações e relações internacionais encontram-se num beco aparentemente sem saída. Efectivamente, a Europa encontra-se numa situação ambivalente entre os interesses nacionais e os interesses civilizacionais continentais (em concorrência com outras civilizações).

 

Muitos representantes das nações sentem que para resolverem os problemas nacionais teriam de quebrar com as relações da UE (como faz o Reino Unido). A situação é desesperada porque a tentativa de resolução de uma situação pressupõe o ataque à outra de que também se depende. Por um lado, o desenvolvimento da civilização ocidental exige de si uma organização supranacional;  por outro lado, o não desenvolvimento de muitíssimos países no sentido de consciência nacional, de povos nação (típico europeu) exigiria um abrandamento no desenvolvimento do centralismo europeu até agora seguido no sentido de formação de um bloco coeso; o abrandamento teria como consequência o fortalecimento das culturas nacionais a nível mundial e  proporcionaria mais tempo de formação da consciência nacional a países a que o sentimento de Estado-povo-nação não é próprio, devido a uma socialização de tipo mais regional e tribal e a uma outra velocidade civilizacional.

 

As nações não podem sobreviver sós. Surge a ambivalência: salvar a União Europeia ou salvar o destino dos países. Por outro lado, em situação de crise quem difama a ideologia nacionalista esquece que o convívio internacional tem o seu substrato e legitimação nas nações. As relações internacionais e mundiais baseiam-se numa estrutura social e geográfica de um mundo que consta fundamentalmente de nações e a sua destruição conduziria a um internacionalismo caótico que só favoreceria ideologias extremas de uma esquerda improdutiva e ao atropelamento do desenvolvimento de povos (por ex., países africanos delineados pela régua e regras de protectorado) que ainda não sofreram os processos de desenvolvimento social e políticos  a que esteve sujeita a Europa na sua longa história de cultura, conflitos e concorrências que a levaram ao que se tornou no pós-guerra.

 

No meio de tudo isto, e para colocar algumas achas na fogueira do nacionalismo, temos os estados soberanos em dívidas e uma Alemanha, que, em nome da EU, obriga os estados membros a receberem os refugiados muçulmanos que além de gastos trazem consigo problemas exclusivos e o aumento da ameaça. O agir da economia e da política favorece o nacionalismo e este, por sua vez, legitima o autoritarismo e a intolerância. Uma política da ambivalência gera dependentes e fanáticos.

 

A acentuação do imperialismo na EU tem desrespeitado uma digna autodeterminação das nações; para as nações economicamente menos fortes o mercado livre e aberto vai contra os interesses nacionais porque não têm capacidade tecnológica de concorrerem com os mais fortes nem capacidade competitiva na concorrência com economias mais fracas devido a ordenados e estatuto de trabalhadores mais baixos.

 

A classe dominante ocidental queixa-se do nacionalismo russo e chinês e vê-se confrontada com a cultura árabe de caracter hegemónico. Levada pela força da inércia não muda de estratégia e adia o encontro de soluções aferidas e válidas.

 

O nacionalismo e a ideologia hegemónica legitimam o autoritarismo e até a ditadura como se observa no fenómeno Erdogan e Turquia. São fenómenos que incrementam a desconfiança contra o vizinho e, como tal, tornam-se nos melhores armeiros do futuro. Cada sociedade tem a sua economia e as suas crises e gera em cada tempo a ideologia do mainstream e ideologias acompanhantes; de momento garça o nacionalismo de um lado e o esquerdismo do outro, as melhores forjas do fanatismo e do dogmatismo da opinião.

 

A Europa já sente o rumor do nacionalismo no seu ventre. Os EUA, para legitimar novas tomadas de posição, puxam agora do trunfo nacionalista na luta contra a concorrência chinesa que tem beneficiado da economia liberal que deu origem a um grande défice comercial americano em relação à China.

 

Grupos extremistas são os beneficiados de guerras, crises e do caos. Importante é que governantes e governados não percam a cabeça porque o nacionalismo é um tubo de escape em situações de crise; afinal, uns e outros formam a mesma nação; o que seria mais apropriado para uns e outros seria um patriotismo moderado.

© António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo (História e Português)

Pegadas do Tempo

A VIOLÊNCIA AUMENTA TAMBÉM NA EUROPA

Forte Emigração de Estados em Decomposição

Por António Justo

 

A realidade criminal na Alemanha

 

A delinquência do dia-a-dia, aliada à criminalidade de motivação ideológica, é “preocupante” como afirma o ministro do interior alemão ao apresentar a estatística criminal de 2016.

 

Em 2016, na Alemanha houve 6,37 milhões de infrações criminosas registadas pela polícia.  Houve 2418 casos de assassinatos e homicídios; 7.919 casos de violações e agressões sexuais; 151.265 casos registados de assaltos a casas.  A quota de esclarecimento geral é de 56,2%. É alarmante o à vontade com que bandos de estrangeiros vão ocupando as grandes cidades.

 

De motivação ideológica ou política registaram-se 23.555 infrações de extremistas da direita, 9.389 infrações de extremistas de esquerda e 3.372 casos de criminalidade de estrangeiros. À conta de requerentes de asilo, refugiados da guerra civil e refugiados tolerados houve 174.438 infratores (nos delitos não estão incluídas as violações contra as leis de imigração; muitas das vítimas são também elas refugiados!) Os infratores provêm na maioria de países da África do Norte; os crimes praticados por sírios  cf. www.bmi.bund.de não são tão frequentes. Dado a política de refugiados ter falhado, a soberania da opinião sobre criminalidade faz parte dos extremos da sociedade. Tornou-se rotina a apresentação da estatística sem que haja consequências a tomar em relação a elas. Enquanto for o povo a aguentar, o Estado prefere branquear a situação. Berlim é a capital do crime, com uma quota de 16.161 infrações por 100.000 habitantes.

 

O problema é cultural e como tal de grande sustentabilidade

 

A esmagadora maioria dos imigrantes é muçulmana e não se integra na sociedade, como revela a recente percentagem de 70% de turcos na Alemanha a apoiarem o ditador turco Erdogan. O partido liberal (FDP) reagiu ao fenómeno desta votação que contradiz a mundivisão alemã de um Estado democrático de direito (e revela a mentalidade da comunidade turca a viver na Alemanha desde há 60 anos), exigindo publicamente que pessoas com dupla nacionalidade só devem ter a possibilidade de votar num país, para evitar conflitos de lealdade. Juridicamente é um caso quase impossível e como tal um tema propício para épocas de eleições.

 

Bandos de jovens do próximo Oriente, Eritreia e da Ásia central afirmam a sua presença nos centros urbanos europeus.

 

Estados em decomposição devido a fragmentações religiosas e tribais produzem bandos criminosos especialmente entre a numerosa juventude abandonada a si mesma que provoca distúrbios nos seus países (bolhas de juventude: Youth Bulges) e avalanches demográficas em direção a países fora de África e do próximo oriente; através da Líbia vêm africanos do sul do Saará (sobretudo da Somália, Eritreia e do oeste africano islâmico). Há muitos grupos criminosos que enriquecem à custa dos movimentos migratórios.

 

Na política de descolonização e de protetorados, o Ocidente criou estados-nação em regiões de cultura tribal cujos interesses são contrários a instituições nacionais centrais (justiça, polícia, administração central). Por exemplo a Líbia tem muitas tribos, mas não tem um povo nacional. Líbia e Somália têm governo, mas não têm Estado (No mundo árabe só Marrocos e o Egipto são países com estruturas estatais estáveis). A Europa incorreu no erro de transplantar a democracia de pluralidade partidária para sociedades de tradição tribal, o que não funciona, porque nelas, os factores de identidade seguem por outras rotas (etnia e religião) à margem da identidade nacional (Cf. “Tribes and State Formation in the Middle East”). Fundaram-se Estados nacionais nominais sem comunidade, muitos deles são Estados em desintegração, como se observa na Somália, Síria, Iraque, Líbia e Iémen, etiópia e Quénia, Nigéria (tribos em revolta). O crescimento da população nestas regiões cria gerações agressivas, sem futuro, que vêm para a Europa como Youth Bulges.

 

É autoengano quando os políticos falam, de poderem fazer face à Integração de pessoas em briga religiosa, étnica e tribal entre elas próprias” como refere o Prof. Dr. Bassam Tibi em Cícero 2/2017.

 

A Alemanha, com a sua política de refugiados descontrolada, favoreceu uma situação imprevisível e quer, em nome da solidariedade obrigar os outros países europeus a aceitar mais refugiados. Em 2015 a Alemanha acolheu quase um milhão e meio de refugiados; a França acolhe imigrantes até um limite máximo de 30.000.

 

A miopia política e a irresponsabilidade de cientistas da migração, para não serem intitulados de racistas, não se atrevem a apresentar análises realistas da situação. (Também é verdade que uma apresentação realista da situação desestabilizaria o sistema político europeu e fomentaria ainda mais os nacionalismos).

 

A tarefa europeia é mastodôntica: criar futuro para a geração sem futuro acolhida e criar um islão europeu compatível com a democracia ocidental.

 

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

A VIOLÊNCIA DA TOLERÂNCIA PROPAGADA NO TRATO COM O ISLAMISMO

A tolerância da intolerância é intolerante consigo mesma

António Justo

A liberdade é, depois da vida, o melhor bem que o Homem tem. Mas a liberdade para não ser receada tem como companheira a tolerância e a responsabilidade. A tolerância é filha da liberdade e da responsabilidade. As asas das ideias não devem ser cortadas para que os sonhos dos povos elevem a Terra. Toda a pessoa livre quer ser participante do poder sem se tornar súbdita dele.

Muitas vezes confunde-se mente aberta com indiferença ou cinismo sob a forma de tolerância. A tolerância da intolerância aplaina o caminho para a violência dos intolerantes. Por todo o lado se encontram disputantes sobre região e islão, mas o nível das discussões assemelha-se muitas vezes a campanhas partidárias e no caso a acções de prevenção contra a intolerância (1).

Tolerância e justiça são pressupostos de paz

 

Minorias reclamam, justamente, tolerância e respeito por parte da maioria da população, mas isto deve pressupor uma bilateralidade de tolerância da maioria que suporte a variedade e também da minoria que aceite a maioria. A situação de minoria não lhe confere automaticamente o estatuto de criança. O direito a uma certa autonomia constrói-se na afirmação da liberdade e do respeito cimentado pela responsabilidade.

Tudo o que é definido ou concreto é limitado porque percepcionado na perspectiva das subjectividades do conhecimento. O reconhecimento desta realidade tem como consequência a tolerância do percepcionado e afirmado também pelos outros, numa atitude leal de reciprocidade e na consciência da lei da complementaridade.

A tolerância para ser verdadeira e eficiente não pode assentar na areia da indiferença nem na embriaguez do cinismo.

Quem se encontra seguro nos seus valores tem maior probabilidade de apreciar e respeitar os valores dos outros. Para irmos ao encontro dos outros, com dignidade, temos de estar conscientes dos nossos valores. Ter uma visão implica assumir responsabilidade na defesa dessa própria mundivisão.

 

Substituir o pensar positivo pelo pensar amigo

 

Perante a violência islâmica visível no mundo, a tolerância tornou-se num tema importante devido à afirmação da diferença e do outro numa comunidade diferente.

A tolerância, embora seja uma virtude secundária importante, pode tornar-se numa armadilha do pensamento, se provoca o seu bloqueio.  O Ocidente, tolhido pelas derrotas que depois da segunda grande guerra sofreu em relação às suas falsas intervenções em terreno muçulmano e dependente do petróleo árabe, sofre as consequências da imigração muçulmana. (O Ocidente nas suas intervenções fomentou o extremismo de grupos muçulmanos usando-os para os seus fins que se revelaram injustos e contraproducentes.) A Europa, agora com os problemas em casa, comete o mesmo erro já praticado ao não ter em conta a vitalidade e estratégia inerente ao sistema islâmico; a Europa abdica de si mesma e arranja um modus vivendi confuso deixando o destino dos europeus abandonado à força do acaso e do que um dia se revele mais forte.

Confrontada com a bagunça criada apenas reage numa mistura de resignação, medo e coragem. Na praça pública faz do medo e da coragem um recurso elaborado a que chama tolerância: esta implica uma atitude corajosa ad intra mas que também pode tornar-se numa maneira de tratar a coragem pela fuga a ela (uma coragem negativa que camufla o medo como virtude dando-lhe a roupagem de tolerância): a Europa assume a virtude da mortificação como maneira de circundar o problema e adiá-lo, não tomando a sério o parceiro dialogante.

Para se não abusar da tolerância torna-se óbvio substituir o pensar positivo pelo pensar amigo.

Pelo que me é dado observar, em disputas dos meios de comunicação social e em palestras com certos profissionais do diálogo, chego a ter a impressão que nos aproximamos de uma atitude de tolerância violenta (flexibilidade ad extra e empedernimento ad intra). Em vez de se discutirem as questões num terreno neutro, a nível de teses e princípios moventes, de argumentação e de prós e de contras (seguindo o método da controvérsia), passa-se a um discurso meramente pedagógico, com um caracter de autorreferência ou de mera catalogação de exemplos. Cai-se no equívoco de se querer ter um pensar positivo em vez de se ter um pensar amigo. O pensar positivo é monorreferencial e como tal individualista, levando à indiferença enquanto o pensar amigo é estrutural e como tal interessado em criar comunidade (acentua a intercultura e não a multicultura guetoal). Abdica-se do pensar livre e do discurso desembuçado para se passar a um discurso passado pela própria grelha, a grelha da circunstância e do oportunismo. O discurso motivado pelo pensar positivo torna-se próprio de uma atitude de escravos de uma liberdade fechada, sem referência, criadora de   desinteresse e que implementa uma forma de estar individual e social de tipo autista, virada só para o momento e com tal sem conotações, voltada para os guetos equacionados em termos de multiculturas. O discurso do pensar amigo parte de uma matriz aberta orientadora que se encontra e discute com outras matrizes de forma controversa, sem se perder no acidental, e é motivado pela consciência da precaridade de todos os sistemas, numa vontade de aproximação e procura comum da “verdade” e na intenção de criar comunidade.

A tolerância torna-se violenta quando preponderantemente centrada no aspecto moral ou no sentimento circunstancial que, precipitadamente, opta por ou contra uma das partes, sem dar tempo a uma supervisão das próprias emoções ou opiniões, feita à luz da razão ponderada. A tolerância violenta cria tabus e proíbe de pensar ou evita o pensamento causal com medo das sombras negativas que a realidade encarada poderia deixar (ou consciencializar). Torna-se cobarde ao misturar nela o medo com um certo narcisismo – a necessidade de fazer boa figura – uma espécie de complexo da simpatia que se resume em cinismo e hipocrisia.

O medo que nos tolhe leva-nos à tolerância violenta

 

Uma olhadela sobre os Media europeus, em questões de muçulmanos, revela posições antagónicas que se situam entre o medo do islão e a islamofilia até à própria negação. A sociedade permanece indecisa entre medo e admiração e deste modo aprisionada nos sentimentos que alguns categorizam de islamofobia e de islamofilia.

A sociedade europeia foi traumatizada, ao longo da História, pela experiência que teve no contacto com a violência islâmica e que hoje se expressa à semelhança dos seus tempos primordiais. A experiência do medo e da insegurança (também a ameaça e a imprevisibilidade do antigo corso e da pirataria é hoje avivada com o terrorismo que irrompe do seio da Umma.) levou a sociedade ocidental ao recalcamento dos próprios sentimentos e à internalização do medo, fazendo do islamismo um tabu; os políticos, que conhecem o metier do poder verificando que não levarão a melhor perante o sistema islâmico, preferem ignorar a sua realidade.  Temos disso um exemplo nas actuais relações entre a Alemanha e a Turquia; torna-se típica a maneira subserviente como o governo alemão reage às difamações e ataques atrevidos do governo turco, porque, embora o governo alemão (e a EU) tenha mais poder, não o pode usar pois o governo turco tem o poder da violência (e o método de enganar e obter vantagens: Hudaybiyyah) e esta é quem determina a História em momentos decisivos, porque na realidade há sempre interesses a ser repartidos.

O islão (=submissão), também a nível de consciência colectiva, constitui um risco ominoso para o homem Ocidental se, inconscientemente, o transforma em tabu: o pensamento ocidental, como se depara geralmente na imprensa publicada, em vez de encarar o islamismo com naturalidade e como é, pensa-o como ele deveria ser e, para tal, desliga a razão e recalca os seus sentimentos naturais de agressividade, transformando-os em sentimentos de compreensão para não ter de se confrontar com a realidade da prática e da filosofia contida no Corão, na Sharia e nas ahadith da Suna nem ter de tomar uma atitude perante o agir violento do islamismo por toda a parte. Autoridades muçulmanas, vêem-se assim sem necessidade de reflectir nem desenvolver a sua filosofia e religião em termos de uma plataforma de complementaridade num plano intercultural universal; assim, a sua reacção  perante os occidentais só pode ser de piedade cínica, e vêem-se encorajadas a afirmar o seu ideário que entendem como superior e dogmático porque não encontram resistência interna nem externa; de facto o comportamento extremamente tolerante dos “infiéis cristãos ou ateus” e da política que os rodeia confirma-os na sua fantasia e estimula-os a continuar a agir sob o pressuposto da sua guerra-santa (jihad), pelos vistos, vantajosa: “se queres amigos bate-lhes”. Para que a política se torne responsável e creditável é necessário que tome o poder cultural e religioso tão a sério como toma o comércio e o negócio regulado por convenções bilaterais. (Não me refiro aqui à grande riqueza e capacidade de energias pessoais que muçulmanos trazem à sociedade ocidental a nível económico porque enquanto muitos dos seus colegas de escola dos países acolhedores não sabem a razão porque estuda nem o que querem na vida, muitos colegas muçulmanos esforçam-se e querem subir na vida e por isso esforçam-se mais, chegando mais tarde na sociedade mais longe do que os colegas autóctones).

Intelectuais inibidos na capacidade crítica na discussão como o Islão

 

A realidade política mostra-nos, por um lado, a expulsão das minorias não muçulmanas dos seus países e, por outro lado, uma migração de povos muçulmanos (xiitas e sunitas) para o Ocidente: nos países de maioria muçulmana só é possibilitado, em termos de futuro, o latifúndio muçulmano e fora deles os minifúndios islâmicos.

Em vez de nos perguntarmos porque é que o islão avança e muda o mundo através da violência, procuram-se no Corão versículos de paz, numa tentativa eficiente de se ignorar a realidade violenta a acontecer em quase todo o mundo, onde o islão está presente; a política e a opinião pública ocidental, além de não querer entender a filosofia/política e a mensagem vinculativa inerente ao  Corão-Sharia-Suna, tem o descaramento de chegar a afirmar com as autoridades muçulmanas que as barbaridades que acontecem não têm nada a ver com o islão.  Os políticos europeus deixam-se orientar pelo princípio, “o que não deve ser não se pensa” e as autoridades islâmicas julgam segundo o princípio, “o que é bom é islâmico, o que não é bom não pertence ao islão”. Por outro lado, o secularismo que governa o Ocidente, demasiadamente encostado ao Estado equivoca-se ao sonhar com o fim das religiões esperando que estas se desqualifiquem umas às outras! O poder secular ainda não acordou ao não constatar que o islão é o seu verdadeiro rival. Ignoram que a religião é povo e como tal é a força mais política que o acompanhará até ao fim dos tempos!

O conhecido intelectual Thilo Sarrazin, perito em política e economia, tentou fazer uma abordagem bastante objetiva sobre os estrangeiros especialmente turcos , no livro “Alemanha extingue-se a si mesma”. Foi logo boicotado e crucificado pela imprensa do mainstream e pela classe política estabelecida, não interessada em investigar os dados e premissas que um livro de não-ficção apresenta.   Reagiu escandalizada certamente pelo facto de um dos seus ter falado texto claro e trazer consigo o perigo de se entrar numa discussão intelectual que poderia conduzir a uma análise séria da questão. É compreensível o medo da política face às emoções populares que por isso prefere um discurso mais orientado para a tolerância da mentira do que para a tolerância da verdade. A verdade não deve ser pública, mas salvaguardada na privacidade de leituras esclarecedoras.

Na Alemanha, o número 12 do catálogo de ética do Código da Imprensa determina que no caso de delitos cometidos deve ser escondida ” a pertença do criminoso ou do suspeito de minorias religiosas ou éticas”; deste modo dá-se uma discriminação negativa da maioria ao só poderem ser referenciados os com nome e etnia os criminosos da maioria. Ao impedir-se que a realidade seja conhecida fomenta-se inconscientemente o problema.

De uma maneira geral, os intelectuais europeus actuais, devido à grande percentagem de estrangeiros islâmicos na população e devido à domesticação exercida pelo pensar politicamente correcto, têm também receio de serem identificados com correntes da população denominadas de “populistas” e de contribuírem para um espírito anti-islâmico cada vez mais presente numa parte da população que não consegue digerir os factos do dia-a-dia.

A moderação da capacidade crítica em relação ao Islão torna-se assim natural; os interesses e os erros cometidos na sociedade aconselham-nos a não o encarar de maneira livre objectiva como fizeram outros intelectuais em séculos passados. Assim os intelectuais abdicam do seu importante papel político que deveria ser colocado na balança das decisões políticas e na formação da opinião pública. Naturalmente, toda a pessoa formada tem, em geral, um sentido maternal em relação à população não exigindo demasiado dela (por outro lado como os formadores de opinião têm um estatuto privilegiado não se encontrando geralmente envolvidos nos sectores produtivos da população podem permitir-se ficar-se pelo abstracto).  Muitos intelectuais parecem sofrer, também eles, do trauma colectivo (medo que se transforma em consideração pelo islão) e, por isso, sempre que se referem a barbaridades cometidas por motivação islâmica, vêem-se na necessidade de apresentar também explicações confusas desculpantes chamando em ajudas das barbaridades muçulmanas as barbaridades europeias de séculos passados, segundo o princípio: as culpas do passado justificam as do presente. Nestes aspectos, adopta-se praticamente a defesa árabe e não se é capaz de fazer uma análise antropológico-sociológica e filosófica da cultura islâmica nem uma fenomenologia do hommo arabicus e do hommo europaeus ou, mais propriamente, uma fenomenologia antropológica e sociológica do hommo christianus e do hommo islamicus) em proveito das partes. Também se encontram aqueles que se declaram ateus e colocam todas as culpas nas religiões e deste modo se sentem ilibados de qualquer discussão séria não notando que a sua crença ateia é irmã da crença religiosa e o que está em jogo é a distinção entre poder religioso e poder do Estado (A César o que é de César e a Deus o que é de Deus).

A ausência de saber, aliada ao não querer saber, leva a uma cegueira político-social que confunde a realidade factual com desejos e fantasias (esta postura atribui ao islamismo uma vontade de paz que não encontra provas na História nem nos seus fundamentos (Corão, Sharia e Suna), que pressupõem, a nível mundial, apenas uma monocultura constituída do hommo islamicus). A história do islão é, predominantemente, uma história de guerras e guerrilhas, uma sociedade com uma economia da guerra que se serve da sujeição (escravização), do pagamento de imposto islâmico (ou discriminação) e da pirataria „sarracena” como meio de sustentabilidade.

Histórica e socialmente o “muçulmano” não conhece o fenómeno de desenvolvimento que se dá também através da osmose (dar e receber), apenas conhece o fenómeno da afirmação pela assimilação do outro até que a identidade deste desapareça (exemplo: Turquia moderna hoje só com 0,2% de cristãos quando no início do sec. XX tinha 22%). Outrora, “o infiel” enquanto não fosse assimilado pelo Islão tinha de se vestir de forma a ser reconhecido como não muçulmano e pelo pagamento especial do imposto por cabeça; nos estados islâmicos actuais o imposto foi substituído pela discriminação e repressão institucional e social de quem não for muçulmano. O problema começa no momento em que passam a ser maioria!

Em muitos foros de discussão nostálgica nota-se, por vezes, uma necessidade latente de ser enganado: não se pretende entender a realidade como ela é (para a poder mudar), entende-se como ela deveria ser. Muitos sentir-se-iam mal se tivessem de constatar que o islão não é uma religião como as outras. O temor fino é tanto e a coragem é tão pouca que leva a sociedade ocidental, instituições e indivíduos à necessidade de, em seu nome, branquearem os aspectos negativos de factos praticados por muçulmanos e a não falar da escravidão branca no Mediterrâneo. Fala-se de cruzadas sem explicarem o ataque sistemático muçulmano ao império cristão do Oriente que foi absorvido e transformado em monocultura islâmica também com a ajuda indirecta dos povos cristãos do Ocidente.

Com Ayatollah Khameini desde 1981 e com a queda da União Soviética e as intervenções do Ocidente (Afeganistão, Jugoslávia, Iraque, Líbia e Síria) foram desestabilizados os regimes autoritários e deste modo a guerra santa e o fanatismo islâmico ganharam asas em todas as regiões onde se encontram muçulmanos.  

A irresponsabilidade dos agentes políticos e o factor medo internalizado leva o Ocidente à cobardia que nos é própria em encontros com os representantes das corporações islâmicas. Uma Alemanha complexada pela culpa nazi também se encontra sob a obrigação de dar bom exemplo. O nosso comportamento de complexados pelo colonialismo exercido, fortalece-lhes a ideia de que quem deve mudar são os povos acolhedores. Numa cultura em que a agressividade é socialmente aceite afirma-se a impressão de que compreensão e tolerância é fraqueza. Mesmo assim, a atitude que nos deve levar a encarar o islão não deve ser para o combater ou atacar, mas para incentivar os muçulmanos a revolucionar o islão por dentro: a única chance para ele e para a paz no mundo. Se Alá mudou de opinião no Corão num período que não chegou sequer a duas dezenas de anos (período de Meca para período de Medina) muito mais motivo terá para a mudar depois de 1500 anos.

O comportamento da muçulmana está para o muçulmano como o Ocidente para o Islão

 

Nas relações da consciência pública entre Ocidente e Islão dá-se um fenómeno paralelo ao que acontece entre os homens e as mulheres muçulmanas. A escravização e a submissão sistemáticas das mulheres muçulmanas durante séculos levaram-nas a criarem um inconsciente de seres de segunda natureza, em relação ao homem; a submissão expressa-se numa aceitação internalizada e inconsciente do patriarcalismo exacerbado como algo natural (a dor psíquica habitual torna-se inconscientemente normal, parecendo activar, na mulher, um processo de dessensibilização da própria consciência como mecanismo de defesa automático de acomodação ao homem para não sentir tanto a dor, pois a realidade da situação encarada conscientemente tornaria a dor insuportável; por isso reagem com orgulho num islão de lenço na cabeça; um islão moderno tornar-se-ia para elas num desafio provocante – o sistema económico fomenta a sua dependência legitimando por sua vez a tradição machista). Faz-se da situação dada e da necessidade uma virtude e da violência sofrida, algo que no fundo também conduz a um certo clímax de satisfação (isto faz lembrar o filme em qua a mulher violada que, um dia, na sua dor, chega a querer ter relações sexuais com o violador e assim ter a satisfação de o usar no segundo acto; esta é a forma que ela tem de se vingar dele! Lembra também um fenómeno psicológico não raro de mulheres muito boas e “legais” se sentirem atraídas preferencialmente por assassinos ou por criminosos que se encontram em prisões! No caso das mulheres da burca a sua prisão dá-lhes o sentimento de autoprotecção perante um mundo bruto e agreste).

A prática da subjugação é elaborada pelo inconsciente como um momento sentido necessário para manter a ordem; assim a subjugação torna-se habitual e parte da natureza, deixando de aparecer como sofrimento consciente ou como algo estranho. O contacto dos povos do ocidente com os povos islâmicos e a lida constante com a violência turca e árabe e com a pirataria do norte de áfrica no Mediterrâneo, leva o Ocidente a internalizar a sua consciência de ser mais fraco em relação à força islâmica. A força islâmica envolve te tal forma o indivíduo e a sociedade que as pessoas ocidentais, com um certo senso de privacidade se refugia criando uma consciência colectiva já não de vítima, nem de acusador, mas de menino bem-comportado em relação ao irmão mais forte. O Ocidente com a experiência multisecular da escravização e do ter de se aceitar como diferente leva-o a considerar natural a discriminação e violência sofrida; perante a impotência internalizada durante séculos, a condição de vítima é compensada com a aceitação e o reconhecimento do agressor. (Na História contemporânea os povos árabes têm razão em insurgirem-se contra as intervenções do Ocidente que os confirmam no seu papel de se julgarem vítimas!)

A meu ver, torna-se interessante verificar o facto de também a cultura muçulmana criar, por sua vez um trauma na sua alma; o trauma árabe funciona no sentido inverso ao do trauma do Ocidente; o homo turcus-arabicus ao não compreender ele mesmo nem assumir a responsabilidade dos actos da sua brutalidade, não pode desenvolver nele a culpa e por isso inverte-a considerando-se vítima; a agressão e a crueza são tais que uma consciência colectiva não suportaria explicar e por isso cria inconscientemente o complexo de vítima: deste modo não precisa de reflectir os próprios actos, dado o Corão legitimar a violência; Cria-se assim uma dinâmica paralela: fora a violência factual e dentro a sensibilidade repousante. A culpa está fora, nos outros.

Por tudo isto não há interesse na averiguação da realidade, nem da História nem dos factos porque isso exigiria uma gestão de resultados com soluções que implicariam o compromisso esclarecido em benefício dos povos e de uma paz sustentável. Isso implicaria a integração de consciência e inconsciência e o reconhecimento do dentro e fora, da razão e do coração, de Deus e da natureza, não como antagónicos, mas como polos numa relação de complementaridade em que a realidade é apercebida de forma a-perspectiva, como não reduzível a um ponto de vista ou perspectiva. A feminidade é um pressuposto da paz não podendo ser reduzida ao sector privado (ao dentro). A feminidade terá de ser uma componente do ideal público (do fora…). Numa sociedade equilibrada a feminilidade e a masculinidade passam a não ser polos extremos para se encontrarem num fluxo interactivo contínuo de energias diferentes numa Consência de Complementaridade num todo.

Conclusão

O saber é universal não se podendo manter nos limites de uma religião, cultura ou ciência como entende o islão; a sabedoria ultrapassa a razão e o entendimento não se pode meter no espartilho de uma só lógica ou interesse. O coração une e a cabeça discerne, um articula e a outra desarticula. Por isso, para se alcançar uma visão global integral não se poderá abstrair do coração nem da razão, o que não justifica ficar-se na ambivalência ou na oposição como forma de se afirmar na vida. A realidade afirma-se através de uma dialética certamente polar, mas de preocupação abrangente e inclusiva. O pensamento não tem proprietário e também não pode ser enfunilado num só determinado tipo de lógica ou cultura.

Consequentemente, a fraqueza de uma ideologia seja ela científica, política ou religiosa não constitui argumento que fundamente o combate contra ela nem qualquer violência contra os seus seguidores. Doutro modo seguiríamos nas nossas apreciações e atitudes uma práxis muito à semelhança do actuar dos países muçulmanos.

Do mesmo modo não deveria constituir argumento, evitar uma discussão aberta e séria sobre o Islão, pelo facto de a sua estratégia drástica de afirmação ser um modelo prático e oportuno para a organização, defesa e execução de interesses de grupos de tipo maquiavélico.

©António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo (História e português)

Pegadas do Espírito no Tempo,

  • (1) Observei muitos profissionais do diálogo (políticos e cristãos), em grandes palestras com os seus parceiros muçulmanos ou em simpósios sobre o islamismo e constatei, quase sempre, que os parceiros ocidentais abdicavam da própria personalidade e dos valores que representavam. O mesmo se constata em conversas com pessoas no dia-a-dia. Chegam a dar a impressão que os nossos valores herdados não precisam de defesa ou se encontram à disposição perante parceiros que os não aceitam (dando também a impressão de não conhecerem verdadeiramente os valores em jogo de uma parte nem da outra). Actua-se como se se tratasse de defender a nossa simpatia e vaidade pessoal e para tal até nos adiantamos aos parceiros dialogantes citando frases bonitas do Corão, mas sem ter a coragem de abordar o tema da intolerância e da violação dos direitos humanos nele contidos. Em diálogo pressupõe-se o encontro de sistemas abertos ainda orientáveis e não apenas de frases feitas nem troca de simpatias.