“POVO – ARRAIA MIÚDA”!  PROVOCAÇÃO OU ELOGIO?

Marcelo Rebelo de Sousa deu origem a críticas ao dizer “Sem o povo, arraia miúda, não haverá Portugal”

Se considerarmos a frase, “sem povo, arraia miúda, não haverá Portugal”, ao lado da frase “eles comem tudo e não deixam nada”, a afirmação torna-se muito elucidativa e atemporal! A realidade permanece! Só a interpretação dos factos varia!

Esta frase de Fernão Lopes e tão bem retratada na personalidade de Fernão Mendes Pinto e tão bem descrita na sua obra “Peregrinação” continua a ser actual; em Peregrinação ele descreve-se (como expressão de um da arraia miúda) e descreve a realidade da vida asiática e europeia criticando também o colonialismo que se servia da religião para expandir, tal como faz hoje, já não em nome da religião, mas em nome da democracia e dos valores europeus!

De admirar é que tais frases sejam repetidas por políticos do sistema como se eles fossem inocentes ou cínicos e não fossem eles os actores responsáveis de um país, com muita pobreza envergonhada, que económica e socialmente continua na cauda da Europa.

Vivemos em tempos em que se procura embelezar a realidade factual com eufemismos linguísticos que nos ajudam a olhar para o lado da situação em que se encontra o mesmo grupo populacional que através dos tempos constitui a base da sociedade!

Pena e sintomático é que as expressões “povo”, “arraia miúda” sejam conotadas negativamente! Depreciativamente poderiam ser vistas as elites que constroem a sua aura social à base daquilo que se tira ao povo: a sua honra!

Os dançarinos do poder sabem que o pobre honrado se não tem uma casa farta engana a sua carência olhando para alguns enfeites artificiais da pátria. O olhar para cima, já eleva e até parece que descansa (1)!

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo, https://antonio-justo.eu/?p=7616

(1)  Veja-se como tantos ministros e secretários de Estado passeiam pelo mundo gastando milhões fazendo do dia de Portugal um arraial público onde eles se festejam. Em que país se viu tal? Não chegam as embaixadas?

 

LIBERDADE A SER SUBORNADA NAS DEMOCRACIAS LIBERAIS

A Sociedade europeia aberta autossacrifica-se por negar os Padrões éticos que causaram a sua Evolução e Abertura

A democracia liberal deixa de oferecer garantias de humanidade e de sustentabilidade ao produzir uma crescente atitude político-social autoritária e uma postura de autodefesa autocrata que se serve de medidas legislativas e burocráticas limitadas a corrigir as desfigurações do sistema. Uma sociedade vital não pode limitar-se a ser aberta para o exterior e, ao mesmo tempo, destruir os padrões que a definem e lhe dão coerência a nível interior.  

No início da era digital reconhecíamos nas novas tecnologias de comunicação e informação uma grande potencialidade para democratizar a sociedade e víamos nela a possibilidade de dar também voz aos que não têm voz e, ao mesmo tempo, a possibilidade de moderar e contrabalançar a demasiada influência de elites politico-económicas, regimes políticos, hierarquias estatais e privadas na formação da opinião pública e no desenvolvimento da consciência dos povos. As instituições, porém, conseguiram ganhar a dianteira domando essas potencialidades, na consciência de que quem domina a informação tem o cidadão na mão e naturalmente o poder sobre a ordem estabelecida!

Em particular, não há proteção suficiente contra máquinas de filtragem e de censura arbitrária de plataformas de monopólio como Google, Facebook, etc. Além disso, os direitos civis digitais são relegados para segundo plano no que diz respeito aos interesses da indústria e do governo.

A liberdade de expressão e a liberdade de receber e transmitir informações e ideias sem interferência da autoridade pública e privada é cada vez mais condicionada a interesses de instituições. Mesmo a posição parlamentar sobre o #DigitalServicesAct (DAS) da EU não satisfaz os direitos fundamentais na rede e transmite parte da decisão sobre a liberdade de imprensa e de opinião à direcção do Facebook & Co. A liberdade de expressão como direito fundamental de importância elementar só poderia ser restringida pelo legislador e não deixada aos critérios de uma empresa.

A esperança de que, com a queda da União Soviética, a democracia liberal seria o sistema para o futuro, como anunciava o cientista político Francis Fukuyaman, não se confirma e cada vez deixa mais a desejar.

Entretanto observa-se um maior controlo do Estado com medidas de intervenção na rede a pretexto da defesa de moral pública. Naturalmente terá de haver regulação para se impedir a criminalidade, mas sem que o Estado se promiscue, doutro modo aumenta o processo de entropia da nossa civilização e  amplia a desconfiança num regime que, cada vez mais, põe em perigo a liberdade social e a democracia ao pretender construir um monstro com pés de barro.

Liberdade é o âmago do desenvolvimento humano e da democracia liberal, mas, numa sociedade aberta de valores meramente abstratos, a elite política reconhece-se incapaz de manter socialmente a sua liberalidade e por isso já procura comprometer empresas privadas globais na tarefa política de controlar a sociedade. Bruxelas tem trabalhado em textos tendentes não só a desconstruir a cultura europeia, mas também a permitir uma maior promiscuidade entre estado e privado no intento de diminuir a liberdade do cidadão para mais facilmente mecanizar e burocratizar a sociedade (a burocratização e a administração devem, ao mesmo tempo, substituir a espiritualidade da sociedade) a sociedade. Os nossos tecnocratas decretam já hoje medidas controladoras da personalidade humana que, pouco a pouco, legitimam instalar entre nós o modelo chinês que concebe o cidadão apenas em termos de funcionalidade dentro da máquina estatal! Nesse sentido a máquina de Bruxelas serve-se de agendas devotadas à desestabilização e desconstrução dos fundamentos da cultura europeia minando assim os princípios mais elementares da dita democracia (valores vitais como o da vida e da liberdade começam a ser subjugados aos princípios da funcionalidade, dado o sistema pretender ser a premissa ordenadora dos valores).

A política ao ver-se confrontada com grandes problemas sociais criados pela própria sociedade liberal, reconhece a própria incapacidade de regular uma sociedade humana orgânica, e, para se desviar do problema, aposta no centralismo total implementando para tal o controlo digital da população não tendo sequer escrúpulos em delegar competências de controlo de caracter público às grandes empresas privadas de comunicação social, como Facebook, Google, etc ….

Atualmente o baralho (de realidade, opinião e ilusão) é tal que a liberdade social parece oscilar, como o pêndulo de um velho relógio de sala, movido por forças sociais já indetermináveis porque a rosa dos ventos perdeu a orientação …

Embora todos nós tenhamos direito às nossas opiniões e a decidir do que é importante na nossa vida e do que é nosso, não estamos isentos do enquadramento limitativo do direito do Estado e da sociedade em que se vive. A lógica não tem a última palavra a dizer numa sociedade plural e multifacetada, (porque exige muitas diferenciações), tendo, por isso de ser supervisionada pela Razão de caracter mais abrangente do que a ordenação de factos ou ideias numa linha lógica linear de conclusões inequívocas. O facto de uma democracia liberal – como a sociedade europeia aberta – ter vantagens, por tentar dar resposta à questão da diversidade, a liberalidade não a iliba dos problemas sociais internos que ela mesmo cria e em muitos casos a deslegitimam (imigração desregrada consequência do poder político-económico imperialista transforma-se em cavalo troiano dentro da cultura europeia).

Observa-se na sociedade ocidental a tendência para se insistir na liberdade da heteronomia e por outro lado numa intervenção cada vez mais directa do Estado contra a autonomia e contra a liberdade do cidadão assumir responsabilidade pessoal. Muitos deixaram-se levar na onda contra o presidente dos EUA Trump, o que veio a possibilitar aos administradores das redes sociais expulsá-lo; aqui o que é grave é o facto de se constituir um precedente perigoso e o transfer de poderes do Estado para empresas particulares (este reconhece assim a sua incompetência própria de regulador isento da sociedade) pondo em perigo o cidadão e o sistema democrático.

Assim se cria o pretexto de se poder proibir informação enganosa sem a necessidade de definir o que é enganoso e que parâmetros são usados para chegar a tal. De facto, a pergunta a ser primeiramente resolvida seria: assunto enganoso porquê; enganoso de quem e para quem? Considera-se como factual a informação mais conforme no sentido do regime ou da população e como fack o que as questione ou que seja realmente notícia falsa com objectivos escuros? E quem deve decidir sobre o caminho pré-determinado a seguir? O problema reside na circunstância de muitos factos serem susceptíveis de diferentes interpretações e de serem ordenados para determinados fins que alguns poderão querer que o povo siga. Naturalmente também há notícias construídas, fotos manipuladas, etc. e tudo isso vem complicar a situação, mas há que estar atento a uma paulatina chinesação dos aparelhos do Estado.

Muitos acusam a liberdade de ser  o princípio de muitos problemas (ou de parte dos problemas) mas aí reside um equívoco porque só a liberdade pode dar resposta aos problemas que a sociedade vai apresentando: só a liberdade humana aliada à identidade comunitária chamada a realizar-se e a servir toda a humanidade no respeito mútuo de cada um pode dar resposta aos problemas do nosso tempo e não o erro globalizado do liberalismo arbitrário avassalador deixado às leis do mais fortes numa sociedade considerada mercado de grupos e instituições que tem criado problemas incalculáveis à construção de um futuro mais humano.  veja-se o poder que empresas digitais e empresas globais já têm de determinar disposições e preços sem que os atingidos tenham possibilidade de intervir porque o estado que os devia defender também é sócio na defesa de interesses e na sua especulação porque vê alguns dos problemas resolvidos e também recebe os seus dividendos através dos impostos (quanto maior o custo do produto mais o Estado ganha).

Embora condicionados à morte somos chamados à liberdade! Querer reduzir a liberdade à mera materialidade ou a um mecanicismo de caracter funcional e pragmatista corresponde a uma atitude desumana porque faria da pessoa uma peça; a liberdade e o espírito são o sol que tudo vivifica e estes pertencem à pessoa e não às instituições; estas só têm relevância pelo serviço que prestam e pela memória que possibilitam no andar da história.

Nos últimos anos, a liberdade de expressão tem sido cada vez mais ameaçada, não só por um Estado faminto de impostos e cada vez mais controlador e colecionador de dados, mas também por actores privados, como bancos e corporações tecnológicas ao serviço dos gigantes da economia; por este andar chegaremos a um tempo em que o cartão do banco inutilizará o cartão do cidadão. O controlo generalizado em via e a censura são males, venham eles donde vierem.

Não é de confiar num Estado zeloso que determine a medida do discurso político a ser admissível. As grandes plataformas tecnológicas Google, Face Book, etc., não têm legitimidade para controlar o cidadão e o Estado, ao conceder-lhe competência para tal, está a demonstrar a sua incompetência para governar a sociedade que criou e parece estar a tornar-se ingovernável com meios democráticos; as empresas têm a sua lealdade para com os seus accionistas porque foram criadas com a finalidade  de ganharem dinheiro para eles.

 

Uma limitação de liberdade pelo governo só seria justificável se ocasionalmente limitada no tempo, mas tem de estar sempre sob a pressão crítica de ter de se justificar perante o cidadão. O cidadão crítico desempenha uma função importante na defesa das massas de uma censura indiretamente institucionalizada para reduzir a liberdade de expressão e de opinião. Mas também é de compreender a atitude de muito cidadão que, resignado, cada vez se refugia mais na sua vida privada, como já é de observar em camadas da juventude. A gravidade da situação em que nos encontramos (medidas Corona e propaganda em relação à Rússia-Ucrânia, etc.) conduz a posições extremistas e motiva conservadores a defenderem medidas estatais drásticas e move também os progressistas a defenderem a limitação da liberdade individual e civil como preço a ser pago para se conseguir progresso ou uma reconstrução social no sentido socialista.

Na fase do regimento Corona, a liberdade foi simplesmente subordinada ao valor da saúde e agora que temos o regimento da guerra na Europa tudo passou a ser condicionado à segurança (o comportamento assumido por governantes e média e a maneira indiferenciada como é acatado pela generalidade do povo faz duvidar da capacidade social para defender a liberdade). Isto é também sinal da falta de critério e de maturidade da classe dirigente que se comporta de maneira cínica como dominadora da consciência social e olha só para o momento sem considerar o futuro. A política ao valorizar apenas valias individualizadas falha contra o critério que pressupõe o equilíbrio e a referência integral de todos os valores humanos e sociais a preservar.

Não é suficiente ir-se vivendo nem chegam as ondas sucessivas criadas na sociedade para dar sustentabilidade a um povo e menos ainda a consequente atitude relativista de uma democracia liberal limitada a fazer caminho sem missão nem metas; embora se tenha a impressão que a democracia  liberal seria o sistema político capaz de dar resposta à questão da diversidade nas sociedades europeias, a EU na sua ideologia de sociedade liberalista está a conduzir-nos a grandes problemas porque não chegam o valores abstratos liberais que os nossos tecnocratas nos querem impor como mundivisão  aberta (valores europeus); estes revelam-se incapazes, de darem resposta a uma vida orgânica existencial de cidadãos e de sociedade já despojados num globalismo impulsionador de (e servido por) sociedades anónimas e secretas que, para se afirmarem no Ocidente, se tornam demolidoras da família, da pátria e de um tecto espiritual comum.  O seu radicalismo contra o regionalismo e contra a província desqualificam as suas pretensas boas intenções de criarem uma humanidade sob um só tecto universal materialista e sem metafísica.

A liberdade pela liberdade torna-se insustentável porque levaria a um estado caótico da existência de indivíduos sem instituições nem órgãos ordenadores. A liberdade manifesta-se como factor dinâmico competidor entre o indivíduo e as suas organizações institucionais; esta tensão tem de ser mantida em equilíbrio muito embora pendular.

Creio que o liberalismo democrático, que na qualidade de ocidentais tanto afirmamos, poderá ter a sua lógica linear como método de resposta à diversidade de problemas e exigências criadas depois da segunda guerra mundial, mas, numa ordem globalizante, não resolve os próprios problemas sociais por ele criados e menos ainda outros problemas existenciais e de sentido que este liberalismo mercantilista aberto e sem fronteiras cria. Creio que o problema da razão, nas suas tentativas de alinhamentos lógicos se torna num pau de dois bicos ao apostar numa narrativa de perspectiva unilateral que subordina a vida do cidadão ao aspecto utilitário sociológico-político. Sem abandonarmos a polis teremos de reconhecer a natureza (família, aldeia e regionalismo), como lugar de vida autêntica e de orientação, doutro modo o globalismo servido por democracias liberais terá como consequência lógica a criação de governos autoritários servidos por oligarcas.

©  António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo

 

A ARTE DE QUESTIONAR

Uma sociedade-ideologia-opinião que não se questiona não avança

O filósofo Sócrates usava do método maiêutico (arte de realizar partos) para levar as pessoas ao conhecimento; para isso servia-se de perguntas, seguidas de respostas a que seguiam novas perguntas, como se ele fosse uma parteira a ajudar a parturiente a dar à luz a própria criança.

Numa sociedade clientela cada vez mais técnica, burocrática e manipulada de respostas empacotadas urge fazerem-se cada vez mais perguntas!

Perguntas podem tornar-se meios de esclarecimento e podem ajudar-nos a pensar e a investigar! Também podem ser refinadas e tornar-se perigosas!

É costume dizer-se que quem não questiona permanece estúpido; também não há perguntas estupidas, mas quanto a respostas sim.

Naturalmente, pode-se questionar tudo, desde a opinião geral à opinião individual! Uma notícia que apresentada na TV, ou noutro meio de comunicação social, é geralmente engolida sem ser mastigada nem saboreada; se o espectador se questionar sobre o porquê (motivo, posicionamento, frequência, objectivo)  da apresentação daquela notícia e não de outra, etc. conseguirá uma visão mais diferenciada do que acontece e o influi. Isso contribuiria para evitar o proselitismo divisionista de uma sociedade muito dependente dos media cada vez mais centralizados e controlados. As elites do poder já que não conseguem do cidadão uma fé comum procuram, o que é natural, criar nele uma opinião comum. O pensar diferenciado não ajuda o poder (nem agrada à massa anónima) mas serviria mais a evolução da pessoa humana e da população.

Há o perigo de projecções, mas também há questões que podem ser indigestas e que para serem “engolidas” e o seu conteúdo não provocar “tosse” precisariam mais tempo de ruminação. 

Perguntas perigosas podem tornar-se aquelas que questionam a opinião geral ou as pessoas que se consideram esclarecidas!

As perguntas estão no início de cada discernimento e são muito importantes porque mobilizam a nossa introspecção que leva à intuição! Por vezes, no momento da introspecção chega-se a questionar as próprias perguntas.  Uma pergunta decisiva vai direita ao cerne de um problema e a resposta a ela pode revelar o que se encontra por trás dos bastidores!

Também há perguntas cruciais que podem ter um lado negro porque as correspondentes respostas levariam a uma confissão ou colocam uma questão de consciência ou de algo que nos deixaria despidos!

Há também perguntas simples que querem saber por interesse no simples saber, mas também há perguntas interesseiras e como tal superficiais e manipuladoras!

As perguntas rectóricas, geralmente, não pretendem obter uma resposta mas também podem fazer parte de um jogo de truques retóricos que transformam opiniões em factos e factos em opiniões.

Uma pergunta muitas vezes oportuna seria: Quem beneficia com isto? O que é que está aqui em jogo? O que pretendes com isto? Porque perguntas isto?…

O perguntar tal como o pensar pode fazer doer, por isso muitas pessoas evitam questionar a própria opinião e a própria visão do mundo, o que aumenta o espectro das insinuações; também por isso temos mais ovelhas que pastores!

A pergunta é sempre legítima porque a questionação plural tenta libertar a pessoa do “lado certo” ou do “lado errado” e, deste modo, possibilitar um caminhar humano de todos em frente na procura da Verdade!

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo

 

A ADESÃO DA FINLÂNCIA E SUÉCIA À NATO POSSIBILITA O CONTROLO DOS USA SOBRE A RÚSSIA

A Turquia ameaça vetar a entrada dos dois países na Nato

A entrada da Finlândia e da Suécia na NATO significaria para Putin um golo na própria baliza mas também acarretaria consigo uma grande complicação para a Europa que ficaria, como até ao presente, limitada aos interesses dos USA sem possibilidade de definir uma política própria. A Finlândia tem mais de 1.340 km de fronteira com a Rússia e mais de 1/3 da sua população adulta entre os reservistas das Forças Armadas. Isto significaria para a Nato a possibilidade de controlar directamente o adversário através da Europa sem que os USA se vissem ameaçados atomicamente no seu próprio território! Como reação Moscovo poderia transportar ogivas nucleares, para o enclave de Kaliningrado, o que possibilitaria alcançar capitais europeias! A chefe de governo finlandês já avisou que, em princípio, não quer armas nucleares ou bases permanentes instaladas no país!

O presidente turco Erdogan declarou que tenciona bloquear a entrada da Finlândia e da Suécia na Nato!

Erdogan defende os seus interesses movendo-se entre os sistemas de interesses e de valores da Nato e da Rússia.

No seu jogo estão incluídos conseguir unir a população em torno dele contra um inimigo de fora e os seus interesses na Síria.  Como no passado tentará pôr os interesses da Nato e da Rússia um contra o outro, para, assim, poder exigir concessões da EU e do Presidente dos EUA Joe Biden; a Turquia tem actualmente uma taxa de inflação de 70%.  Como membro da NATO, a Turquia está envolvida em guerras de agressão e ocupa os territórios de Estados estrangeiros, mas os países da NATO não querem saber disso porque se trata de defesa de interesses de um seu aliado à custa de povos fora da Europa. Em 1974, Ancara atacou a República de Chipre e ocupou 40% do seu território, tendo-se envolvido também frequentemente em escaramuças com a Grécia.

É de prever que o regime Erdogan conseguirá dos USA a venda à Turquia dos aviões caça F-16 (até agora recusados pelo facto de os USA apoiarem parcialmente os curdos ao contrário da Turquia que os combate); esses aviões serão para Ancara poder perseguir o povo curdo na Síria! A Finlândia e a Suécia, tal como a NATO, não consideram o movimento Gülen como “terrorista”, o que Erdogan exige desde há muito!…

Erdogan vê margens de negociação em detrimento dos mais fracos! A Finlândia e a Suécia, tal como a NATO, não consideram o movimento Gülen como “terrorista”, o que Erdogan exige desde há muito!

Apesar de tudo, uma expansão da Nato na actual conjuntura revelar-se-á como um erro para a Suécia, Escandinávia e Europa. A Suécia, parece, de ânimo leve, tornar-se voluntariamente susceptível à chantagem. Um tal intento só teria sentido para a Europa como crédito potencial para levar a cabo negociações diplomáticas. Tudo isto poderia ser transformado numa verdadeira oportunidade para a Europa criar uma nova ordem para si própria de maneira a um dia se tornar independente do poder militar dos USA.

Há um provérbio que diz:” O diabo está nos detalhes” – o que quer dizer, são as pequenas coisas que importam. A Europa (com políticos sem formato) anda alheada de ela própria, ao não prestar atenção ao que o seu irmão grande faz, e segue a agenda americana colocando-a em cima dos joelhos em vez de a analisar com cabeça!

Os USA e a EU pagarão caro pela assinatura de Erdogan para que este torne possível a adesão dos dois países à Nato; posteriormente passarão a tentar obrigar países como o Brasil e outros a alinharem-se à sua guerra hegemónica!  O autocrata turco no meio de tudo isto procura, à sua maneira, olhar pelos interesses da Turquia; o mesmo será difícil de dizer de outros governantes europeus!

Investigadores do Instituto de Kiel para a Economia Mundial revelaram que, na guerra contra a Rússia, os EUA (desde 24 de janeiro a 10 de maio) anunciaram promessas à Ucrânia de cerca de 43 mil milhões de euros em assistência militar, financeira e humanitária. Os países e instituições da UE prometeram, no mesmo espaço de tempo, apoio de 16 mil milhões de euros.

A diferença reflectida no apoio corresponderá aos interesses envolvidos no conflito. 

 

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

BATALHÃO NEONAZISTA AZOV  INTEGRADO NO EXÉRCITO UCRANIANO

Neonazis portugueses combatem com as Forças Armadas Ucranianas

A milícia armada Azov é uma organização militar neonazi e de extremistas criada em 2014 por Andriy Biletsky (1) e foi incorporada na Guarda Nacional ucraniana depois de atuar contra os separatistas pró-russos no Donbass. Ela opera sobretudo em Mariupol na Azovstal de que é dono o oligarca Akhmetov.   O batalhão é declaradamente racista e tem a participação de portugueses (2). Tem acolhido milícias estrangeiras (3) (também elementos nazis alemães) (4). A participação destas milícias no exército ucraniano tem sido importante e utilizada para legitimar a afirmação de Putin de querer desnazificar a Ucrânia! Putin deve ter-lhes muita raiva porque este batalhão já lhe causou muitas perdas! Já a 13.06.2014 o Batalhão Azov com as forças armadas ucranianas conseguiu obter o controlo sobre a cidade estratégica Mariupol. O regimento foi apoiado financeiramente, entre outros, pelo oligarca ucraniano e membro da comunidade judaica Ihor Kolomojskyj (5) (isto pode ajudar a compreender as tensões entre a Rússia e Israel). Na fase inicial do conflito armado entre combatentes pró-russos e ucranianos em 2014, a cidade de Mariupol foi primeiramente ocupada pelo lado russo e depois libertada pelas tropas Azov.” Em Dezembro de 2014, o Presidente Petro Poroshenko concedeu a cidadania ucraniana a Serhiy Korotkich, um lutador de unidade bielorrussa; Korotkich pertencia aos movimentos neonazis na Bielorrússia e na Rússia desde o final dos anos 90. Após a incorporação do Regimento Azov na Guarda Nacional (Brigada de Reserva das Forças Armadas da Ucrânia) a 12 de Novembro de 2014, o então Presidente da Ucrânia Petro Poroshenko referiu-se aos membros do regimento como “os nossos melhores combatentes” e “os nossos melhores voluntários” numa cerimónia de entrega de medalhas. (6) O oligarca bilionário Akhmetov, apoiante do Azov entrou em pânico quando houve divulgação das actividades nazis e racistas do grupo. A cidade portuária de Mariupol tem sido defendida principalmente pelo Regimento Azov da extrema-direita da Guarda Nacional Ucraniana. Em agosto, O cientista político ucraniano Anton Shekhovtsov descreveu o batalhão como abertamente extremista de extrema-direita.

O neonazista português, Mário Machado, acompanhou à Ucrânia 20 dos seus correligionários que foram incorporados nas milícias na Ucrânia (7).

Caso suspeito constitui o facto de os EUA e a Ucrânia não terem aprovado a Resolução da ONU sobre “o combate à glorificação do nazismo, neonazismo e outras práticas que contribuem para alimentar as formas contemporâneas de racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância relacionada”(8).

O francês Adrien Bocquet que esteve ultimamente de serviço na Ucrânia ao lado dos soldados ucranianos, testemunha:” quanto aos militares Azov, estão por todo o lado, até em Lviv, fardados e com aquele símbolo neonazi no camuflado… crimes de guerra com os quais fui confrontado foram perpetrados por militares ucranianos e não por militares russos…”. Na guerra da nossa informação não se fala disto nem das armas que o ocidente fornece à Ucrânia são também para abastecer forças nazis (9)!

Assiste-se a um confronto próprio de um país dividido na linha fronteiriça interior entre o bloco da Federação Rússia e o da Nato. A 23 de Dezembro de 2014 a Ucrânia   que até aí era um país com estatuto de Estado não-alinhado (não pertencente a nenhuma aliança militar), por decisão do parlamento de Kiev resolveu esforçar-se por entrar na aliança militar da NATO. A partir daí assentou-se o confronto entre a Rússia a Nato.

É importante tentar informar-nos de um lado e do outro para notarmos as armadilhas de uns e outros! Em tempos de guerra não se limpam armas e por isso tudo o que vem à rede é peixe, independentemente dos extremos de onde venham! É importante estarmos atentos para não cairmos nas redes de uns ou de outros, a não ser que queiramos ser peixes de engorda! Veja-se a crónica do conflito (10)

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo,

(1) (https://www.theguardian.com/world/2014/sep/10/azov-far-right-fighters-ukraine-neo-nazis     ; O símbolo do Regimento Azov é o “Anjo Lobo”, um instrumento de caça forjado em ferro que foi usado no passado para capturar lobos O símbolo do Regimento Azov é o “Anjo Lobo” que foi usado pelos nacional-socialistas. https://es.wikipedia.org/wiki/Wolfsangel ; https://de.wikipedia.org/wiki/Regiment_Asow

(2) https://www.abrilabril.pt/nacional/mario-machado-incorporou-neo-nazis-portugueses-em-milicias-na-ucrania

(3) Vários destes indivíduos, pertencentes ao movimento nacionalista, de supremacia branca https://www.abrilabril.pt/nacional/mario-machado-incorporou-neo-nazis-portugueses-em-milicias-na-ucrania

(4) https://www.dw.com/en/the-azov-battalion-extremists-defending-mariupol/a-61151151

(5) https://euromaidanpress.com/2022/04/07/what-is-azov-regiment-honest-answers-to-the-most-common-questions/ ;

(6) https://de.wikipedia.org/wiki/Nationalgarde_ (Ukraine )   ; https://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=1025161101767522&id=100028209248645

(7) https://www.abrilabril.pt/nacional/mario-machado-incorporou-neo-nazis-portugueses-em-milicias-na-ucrania e https://expresso.pt/guerra-na-ucrania/2022-03-08-neonazi-mario-machado-anuncia-que-vai-combater-para-a-ucrania–e-espera-que-o-juiz-altere-a-medida-de-termo-de-identidade-e-residencia- A «acção humanitária 1143», liderada pelo neonazi Mário Machado, cumpriu o seu propósito de integrar elementos da extrema-direita nos «meios de defesa» da Ucrânia, confirma o seu advogado (2). Mário Machado: «consegui entrar nesse país, completamente despercebido, e fui ter com patriotas portugueses, ucranianos, ingleses, alemães e espanhóis que me deram todo o apoio»;  https://kzsection.info/green/m-rio-machado-pedido-de-ajuda-opera-o-ucr-nia1143/sJ6gqKeZoIdmiHk.html

(8) Do que não se fala:  https://antonio-justo.eu/?p=7198

(9) https://www.youtube.com/watch?v=ZoKnhXnp-Zk&t=1211s

(10) https://www.lpb-bw.de/chronik-ukrainekonflikt