SOCIALISMO E CAPITALISMO RESULTANTES DE DIFERENTES ÉTICAS – A CATÓLICA E A PROTESTANTE

Atualidade da matriz católica e da matriz protestante

A ideia leva à acção como garantia de desenvolvimento (1).

No atual conflito internacional (ocidente-oriente), penso assistirmos, numa determinada perspectiva europeia, à continuação do debate entre a matriz social/antropológica de cunho católico e a matriz social/antropológica de cunho protestante. Estes são como que os dois polos de uma mesma realidade no processo de desenvolvimento social e individual. Se por um lado no catolicismo se destaca o movimento centrípeto (a comunidade) no protestantismo e na sociedade anglo-saxónica acentua-se o movimento individual centrífugo em relação à comunidade.

A sociedade e a natureza deixam-nos livres, mas também presos; nelas se constata que a autonomia só é possível no relacionamento. Daí a emancipação ter de ser vista num relacionamento processual de maturação recíproca e como processo de complementaridade inclusiva.  Antropológica e sociologicamente tem como sujeito comum o humano em tensão entre comunidade e indivíduo, tradição e inovação, entre terra e céu (Que seria da árvore sem a terra que a sustenta? A negação de uma significaria o fim das duas!). Assim uma sociedade saudável terá de integrar o fenómeno da individuação (autonomia) e da socialização (comunidade) como processo de desenvolvimento recíproco. A sociedade ocidental tem-se desenvolvido mais no sentido da individuação (afirmação do ego) mas tem desprezado o seu aspecto comunitário (afirmação do nós)  e deste modo em crise devido ao processo de autodestruição porque afirma o “movimento de rotação” sem contemplar o “movimento de translação” que incorpora aquele numa constelação ou sistema comunitário e sem isso conduz a uma desconstrucção tornada inerente ao sistema.

Uma emancipação Voluntária (2) acontecerá entre a emancipação familiar/social/individual e a emancipação legal/institucional e não numa conexão de subjugação de uma em relação à outra. Se observamos o sistema solar poderemos identificar os diversos planetas, mas todos eles recebem a consistência do Sol (a Terra sem o Sol seria impensável). A verdadeira emancipação (autonomia individual) não pode esquecer a sua natureza relacional, a necessidade de um habitat cultural (Deus, “Pátria” e Família) doutro modo transforma-se em meteorito, fora de órbitra, que se autodestrói devido à inércia e à resistência do espaço-tempo ou acaba num buraco negro que tudo sorve!

De momento vivemos numa sociedade precocemente envelhecida sem consciência do equilíbrio necessário das várias forças condutoras que lhe dariam vitalidade e sustentabilidade. A emancipação terá de ser entendida como processo individual e colectivo sem que um se oponha ao outro. O relacionamento recíproco entre o indivíduo e o grupo acontece num processo de autolibertação e desenvolvimento quer do indivíduo quer da comunidade numa cumplicidade solidária de dar e receber! O processo de autoafirmação em oposição à comunidade só poderá ser compreendido como fase adolescente numa conjuntura especial de individuação, mas não como atitude sã e equilibrada permanente (a tensão interpolar é o factor de desenvolvimento em intercâmbio).  Como exemplo dos extremos de individuação e de colectivismo temos o capitalismo e o socialismo, a sociedade ocidental e a sociedade islâmica. Enquanto a sociedade islâmica se apropria da singularidade individual subjugando-a à comunidade (aquisição de valor pela funcionalidade), a sociedade ocidental destrói as ligações à comunidade de maneira à pessoa se tornar num indivíduo sem características que o definam (e na consequência caminha-se para a anonimidade da pessoa como um abstrato funcional pragmático sem capacidade de autorresponsabilidade); na deficiência do caracter da comunidade ocidental afirmar-se-á o islamismo de maneira avassaladora na europa para ocupar este défice europeu e por outro lado o islão é aproveitado pelo globalismo mundial por atribuir à pessoa apenas um caracter funcional, o que o que facilita o estabelecimento de uma plutocracia mundial.

Um individualismo despersonalizado e demasiado acentuado afirma-se à custa  leva da comunidade favorecendo a criação de uma pequena elite mundial de déspotas iluminados que ditem normas e condutas de vida para as pessoas já descaracterizadas e regiões também elas sem caracter próprio e anonimizadas.

Passo a referir-me às diferenças éticas (católica e protestante) para melhor se entender os diferentes ideários entre os povos nórdicos e os povos do sul da Europa e a luta a decorrer entre o polo ocidental e o polo oriental. Muitas vezes combatemo-nos esquecendo que somos irmãos gémeos e de quem somos filhos. Diferentes teologias deram origem a diferentes éticas (salvaguardem-se muitas interpretações e expressões diferentes).

Em geral, a ética protestante baseia-se na crença no trabalho árduo, na economia e na necessidade de se submeter à vontade de Deus (aqui está certamente um dos factores que levou os países protestantes a tornarem-se mais ricos). Se a ética protestante acentua a consciência individual baseada na Bíblia (o indivíduo), a Igreja católica baseada nos ensinamentos da Igreja Católica acentua a autoridade transmitida através da igreja (a comunidade) e das tradições. A ética protestante enfatiza a justificação só pela fé (aspecto individual) e a ética católica além da fé acentua também a importância das boas obras e da cooperação com a graça (aspecto comunitário). Se para o protestantismo o importante é o relacionamento pessoal com Deus (distinção individual) a ética católica afirma especialmente a importância da graça e dos sacramentos (timbre comunitário) e não esquece a relação pessoal directa com Deus na mística e a nível moral a consciência individual como juiz soberano. Também no que respeita às virtudes há acentuações diferentes; se a ética protestante acentua a importância de virtudes como diligência, economia e responsabilidade pessoal, a ética católica enfatiza a importância de virtudes como misericórdia, caridade e solidariedade. De resto, a ética protestante tem uma forte incidência no trabalho e acentua a responsabilidade pessoal pelo sucesso na vida, a ética católica acentua o amor e a misericórdia para com os outros e a importância da comunidade e de defender os fracos (justiça social). Neste sentido a ética católica frisa a importância de virtudes como humildade, paciência, modéstia, bravura e justiça e convida os fiéis a viver e expressar essas virtudes nas suas ações diárias; exorta os fiéis a expressar a sua fé por meio das suas acções e a usar a razão no que toca a tomar decisões morais!

Também a cultura europeia não deveria tornar-se propriedade nem presa fácil de sistemas alheios a ela nem de mundivisões internas de esquerda ou de direita. Os dois polos para continuarem a ser integrais europeus ou globais terão de respeitar-se como partes integrantes do todo: o combate recíproco serve a autodestruição e a absorção por forças alheias mais fortes. O partidarismo aferrado e não tático apressa a derrocada da cultura europeia. Embora a opinião pública se deixe mover por posições extremas seria de pressupor nas elites dirigentes critério suficiente para não se deixarem cair na mesma dinâmica.

A divisão da ética cristã abrangente em dois polos opostos estilhaça a unidade e a perfeição cristã e com ela a alma cultural da Europa. Temos de nos encontrar para voltar a reencontrar a Europa e as suas fontes e nela o mundo. O cristianismo não ideologizado continua a ser a oferta integradora de indivíduos e sociedades numa relação fraterna de povos, religiões e culturas. Comunidade e individualidade são as rodas de um mesmo eixo que proporcionam o desenvolvimento humano e histórico.

A matriz católica e a matriz protestante expressam uma certa atualidade nos motivos da guerra a decorrer na Ucrânia onde se debate o sistema individualista anglo-saxónico com o sistema comunitarista oriental. O modelo anglo-saxónico (egocêntrico) encontra-se em decadência tal como o modelo da Idade Média se encontrava no surgir do Renascimento.

Devemos encontrar um meio-termo que abarque os dois polos para que os dois sistemas (um excessivamente individualista e outro excessivamente comunitário) se combinem de forma complementar num caminhar comum e numa só direção esperançosa (usamos o pé esquerdo e o pé direito, para avançarmos).

Neste sentido, a guerra na Ucrânia entre o Pólo Ocidental e o Pólo Leste é um grande desfasamento da história e apenas manifesta a estupidez, a arrogância e a falta de consciência das elites para com uma cultura que deveria começar por reconciliar-se a si mesma na Europa (de Lisboa aos Urais ) para assim se se possibilitar a reconciliação no mundo!

António CD Justo

Pegadas do Tempo

 

(1) (renascimento cultural dos séculos XIV, XV e XVI valoriza o humanismo, o racionalismo e a antiguidade greco-romana de maneira a preparar a passagem da Idade Média para a Idade Moderna de 1453 Conquista de Constantinopla a 1789 Revolução Francesa). Se na idade Média a terra (feudalismo) era o centro da riqueza e da produção (senhorios feudais) com a idade moderna inicia-se a economia do mercado (mercantilismo e capital) a ser o indivíduo o centro delas (poder centrado nos reis secundados pela nobreza e clero e no Estado). A época em que vivemos é também ela charneira e de consequências imprevisíveis tal como o tempo da mudança iniciado no século XVI (na passagem da Idade Média para a Idade Moderna).

(2) Emancipação como Princípio impulsionador da Idade Moderna   https://www.amazon.de/Ant%25C3%25B3nio-da-Cunha-Duarte-Justo/e/B076KYVPVH%3Fref=dbs_a_mng_rwt_scns_share

 

O NOSSO CÉREBRO ENGANA OU DEIXA-SE ENGANAR?

Activar o Cérebro prolonga a Qualidade de Vida

Um exemplo possível: você teve um conflito com alguém e não consegue resolver o problema. Então, em vez de ir arejar, você vai beber uns copos. Seu cérebro considera isso como recompensa e solução para o problema. Se isso se repete a ponto de chegar à bebedeira, o cérebro chega a levar a pessoa a ficar viciada nele.

Outra observação da ciência é que o cérebro produz pensamentos habituais e os torna tão firmes e cimentados que criam autoestradas cerebrais deixando pouco espaço para vias alternativas importantes. O mesmo acontece com o hábito dos temas do quotidiano e do noticioso onde, por vezes, a nossa capacidade de diferenciação e distância crítica repousam, ordenando tais notícias como se não houvesse alternativa para elas e como se muitas delas não tivessem um propósito oculto! Para melhorar a nossa capacidade de avaliar informações de forma crítica é importante questionar informações, verificar fatos e buscar diferentes perspectivas sobre a narrativa apresentada.

Além da personalidade de cada um, vários factores podem afetar o desempenho cognitivo do cérebro: educação, ambiente social, inteligência emocional, estresse, falta de estimulação… Também há casos em que o cérebro tem dificuldade em distinguir entre fantasia e realidade; por exemplo no caso de esquizofrenia, uso de drogas alucinógenas…

Normalmente, os nossos cérebros, para avaliar se a notícia é credível e confiável, são céticos e críticos quando se trata de processar informações.

No meu cérebro flutuam ideias como barcos em alto mar. As ondas da informação e da propaganda são tão altas que não deixam horizonte que possibilite chegar à costa. O nevoeiro da publicidade é tal que não deixa ver para além do barco. Quando baixarão as ondas emocionais da sociedade de modo a poder reconhecer-se o que pretendem e quem as provoca?

Activar todas as áreas cerebrais prolonga a qualidade de vida! Coisas que toda a gente recomenda para aumentar o poder do seu cérebro: Desporto, descanso, nutrição, beber muita água, tirar apontamentos, atitude positiva perante a vida, dormir bem; tudo isto mantém o corpo e a mente em forma e estimula a formação de novas células nervosas no cérebro.

António CD Justo

Pegadas do Tempo

MINISTÉRIO DA PAZ COM IGUAL ORÇAMENTO AO DO MINISTÉRIO DA DEFESA

Desarmamento em vez de Redução da Assistência social

O velho apelo de se “fazer a paz sem armas” foi substituído por “fazer a paz com armas”: uma contradição que apoia os que não querem a paz, mas a guerra para poderem expandir o seu poder. Os dominadores dos povos passam assim a distribuir o negócio sangrento entre eles.  Para terem sucesso servem-se da propaganda pela entrega de armas e pela militarização de nossa sociedade. O armamento mata mesmo sem guerra e cria pobreza porque o dinheiro que vai para o armamento falta noutro lugar do orçamento.

Hoje seria perigoso politicamente fazer a proposta de “em vez de armas plantar-se árvores” resolvendo-se dessa maneira o problema ecológico e da guerra! A injustiça deve ser combatida, sendo para isso preciso ver-se as suas raízes e as suas causas. As armas são o problema de ambos os lados.  Não há solução, mas os lobistas das armas também não têm solução, apenas lucro!

Nota-se a falta de resistência não violenta contra a injustiça e contra a ânsia imperial pelo poder.

Temos sido levados por um caminho egoísta e precipitado no sentido de uma militarização perigosa (Também militarização da emocionalidade social). Raiz do mal: 2% do produto interno bruto ao ano para fins militares e 100 bilhões de bens especiais para os militares (note-se o eufemismo germânico propagandístico da designação usada “bens especiais” para iludir o cérebro humano; imagine-se que se empregava a palavra exacta que seria “despesa”!).

Qual será a razão por que os cidadãos e os contribuintes não têm direito a um Ministério da Paz paralelo ao Ministério da Defesa (com orçamento estatal igual ao militar)? Assim teríamos um estado mais justo e democrático que contemplava um orçamento em defesa do povo e outro em defesa dos interesses institucionais que se encontram nas mãos de elites. Precisamos de iniciativas comprometidas com a paz com projetos concretos. À pergunta: “Putin pode ser parado sem armas?” poderia seguir-se a contra pergunta: “Putin pode ser parado com armas”? Não se nota interesse em iniciativas tendentes em sair da espiral da violência. Quanto sangue do povo deve fluir, até que se procure uma solução através de conversações?

A rotina impede-nos de criar iniciativas dignas e propícias a uma nova era mais desenvolvida e virada para a paz e centrada no bem-comum, no bem da pessoa e do povo e não na sustentabilidade da sua exploração pelos mais fortes, com a desculpa que só a concorrência poderá produzir progresso; uma nova era preocupada com o desenvolvimento integral humano pressuporia um novo ideário e uma nova estratégia: o esforço que os Estados empregam para apoiar os serviços mais fortes teria de ser invertido no sentido da colaboração e não na mera concorrência. As leis da evolução (afirmação do mais forte e a união dos mais fracos para garantir a evolução) continuariam a ter validade embora com a acentuação dos serviços da coesão e da solidariedade dos mais fracos como doutrina de Estado. O ideal da democracia deveria consistir em transferir para o povo a força e o poder dos privilegiados dos sistemas até hoje vigentes.

O vigor dos fortes, dos poucos, beneficia (e abusa) da contribuição dos muitos. Um ministério de paz poderia seguir nas pegadas das tarefas idealistas da religião.

A democracia deve buscar alternativas para se defender não apenas com armas como tem sido próprio da filosofia do mais forte prevalecente ao longo da História.

Em 2015, mais de um milhão de refugiados de guerra da Síria, Iraque, Somália e Eritreia chegaram à Alemanha. Entre o final de fevereiro de 2022 e 28 de março de 2023, 1.058.218 refugiados da Ucrânia foram registrados no Registro Central de Estrangeiros alemão. A Alemanha mostra-se pródiga, mas pratica discriminação no trato baseado na origem dos refugiados. Atendendo à diferenciação na dedicação e trato, os africanos não são tão importantes emocionalmente para os europeus como os refugiados de guerra da Ucrânia. A guerra civil na Ucrânia antes de 24 de fevereiro de 2022 já havia tirado a vida a 17.000 pessoas. Pelos vistos também a emoção e empenho das pessoas dependem não da gravidade factual, mas da maneira como é apresentada nos meios de comunicação social. Em África têm sido mortos milhões de pessoas devido a intrigas dependentes de interesses americanos, europeus, muçulmanos e russos e apesar disso, a sensibilidade moral pública mantem-se indiferente relativamente às barbaridades políticas e económicas praticadas em países africanos.

Armas não são a resposta do povo, armas são sim a resposta dos poderosos; estes não morrem na guerra e vivem bem da guerra! Hoje a guerra ainda é mais injusta que nos tempos antigos porque nestes também morriam poderosos!

Quando passará a guerra a ser um assunto do passado? Certamente quando o homem for mais Homem e quando os governantes deixarem de viver do seu negócio com o povo e de serem premiados pela violência que usam.

Lamentamos o facto de Jesus ter sido morto por causa de sua ideia de amor a Deus, ao próximo e ao inimigo (O amor aos inimigos seria uma forma de reconhecer a nossa cumplicidade na hostilidade!) mas paradoxalmente continuamos a apoiar os Pilatos, os Herodes e os Judas Iscariotes da história actual.

A majestade dos poderosos mancha a terra e humilha os simples!

António CD Justo

Pegadas do Tempo

O Papel dos Media na Cultura do Erro

A Mundivisão relativista possibilita um Progresso Tipo Roda de Hamster

Erros acontecem porque é próprio do humano errar seja na esfera privada, pública ou política. O problemático da questão situa-se, porém, no facto de os erros públicos (políticos) serem negociáveis mais que resolvidos e assim a vida passar a assumir um caracter meramente funcional porque reduzida à resolução de problemas!  Isto favorece uma situação social estratificada dos que estão em baixo a olhar para os de cima, diminuindo assim os pré-requisitos para uma melhor forma de lidar com os erros. Se partíssemos do princípio que somos todos falíveis a política seria menos arrogante, falsa e inflexível! Para isso não poderíamos prescindir da atraccão dos valores do bom, do belo e do verdadeiro, que foi o modelo cultural da nossa civilização ocidental e que representavam valores absolutos que a sociedade procurava. Atualmente o mundo ocidental encontra-se numa época de crise ao procurar afirmar no próprio modelo o relativismo moral e cultural em função do útil! Neste entremeio de mundivisões contraditórias torna-se difícil também para as elites governantes e acólitos tentar fazer valer para o povo o relativismo absoluto e reservar para elas uma espécie de verdade absoluta (direito a orientar com validade para as cúpulas e a correspondente exigência aos subordinados (circunscrita ao povo) de aceitarem viver no erro embora legitimado pelo relativismo (1).

Esta incoerência relativista desenvolve o poder explosivo político e promove a legítima desconfiança popular! O equívoco encontra-se no novo modelo conceitual, mas do qual as camadas dominantes vivem parasitariamente porque o relativismo apresentado e espalhado como mundivisão para o povo desqualifica o próprio povo que reduzido a utente ou consumidor de serviços perde qualquer legitimação para se opor às classes governantes a não ser através de uma revolução constante vinda das bases mas que na consequência para evitar tal  leva as elites a unirem-se entre elas, processo já atualmente em via, de maneira a tornarem-se cada vez mais despóticas como é o caso do modelo chinês ou cada vez mais oligárquicas, como já vai sendo o modelo anglo-saxónico (a ser apressado na Europa a pretexto da guerra na Ucrânia).

Atendendo à atual situação do Ocidente, até que se gere uma nova matriz político-económico-social, haverá que partir do erro como estado original normal e tentar protelar a cura especializando-nos não na cura do erro, mas na forma como o tratar! O relativismo não permite uma outra abordagem e a situação desesperada em que nos encontramos pode ser verificada na forma aflitiva como a mundivisão do poder relativista se afirma contra a Igreja Católica que continua a defender o modelo anterior na procura da verdade considerando o bem, o belo e a verdade na qualidade de bens absolutos já realizados no protótipo Jesus Cristo. Também a desconstrução do monoteísmo faz parte do âmago do relativismo que procura impor o politeísmo olímpico com os deuses das sensualidades humanas legitimadoras das lutas do direito dos mais fortes numa espécie de Olimpo das elites que se servem e riem dos humanos que vivem debaixo das nuvens na esperança de uma aberta que permita algum raio do sol cínico de algum deus!

Nesta situação deficitária, para se entrar num processo social de melhoria contínua será de pressupor a capacidade de lidar com o erro de maneira construtiva e positiva. Ao lidarmos com o erro de maneira positiva prestamos um serviço importante ao mecanismo social. Pressuposto será que tanto as esferas superiores como as inferiores reconheçam a realidade do erro.  Ao reconhecer-se que erramos estamos honestamente a assumir responsabilidade analisando as causas do erro e a dar os próximos passos para corrigi-lo (Não é fácil sair da roda de hamster!).

Muitos de nós e relevantemente os media não querem aprender com o erro porque não há interesse em analisá-lo ou em propor formas diferentes de o tratar;  chegam mesmo a usá-lo como algo fatal e também ele fazendo parte do negócio que dá oportunidade ao bom viver das elites e seus acomodados (Também nos Media do sistema é válido o princípio muçulmano: a mentira é boa desde que sirva o sistema; o sistema é sempre generoso para com os seus delegados e para com a administração)! Mais que interessados na mudança e no desenvolvimento do sistema vai-se vivendo, comodamente, dele, com os erros que possibilitam progresso aparente (o progresso da Roda de Hamster) que não o desenvolvimento! Neste sistema e para o qual, a nível geopolítico de momento, não há alternativa mais se necessitaria de um jornalismo crítico e responsável que analise e avalie os serviços prestados num processo de contínua aprendizagem se bem que limitada.   Também a indiferença e a apatia que se observa a nível popular é de basear na ordem relativista utilitária fomentadora de impotência e não numa estupidez natural advogada pelos beneficiados do sistema.

Lidar com o erro pode ser desafiador, mas ao adoptar uma abordagem construtiva, podemos usar o erro como uma oportunidade para aprender e melhorar nossos serviços, tornando-os mais eficazes e benéficos a uma sociedade do bom, do belo e do verdadeiro e, numa fase intermédia, talvez se consiga construir em termos mais humanos e criativos um novo modelo cultural para a nossa civilização ocidental e assim conseguir-se sair do actual modelo relativista resumido na roda de Hamster! A mundivisão relativista possibilita um progresso tipo Roda de Hamster, um andar, de forma convencionada, no tapete do erro.

O facto de o humano se encontrar em diferentes biótopos geográficos, culturais e naturais não quer isto dizer que a sua diversidade exterior seja suficiente para se negar que as diferenças externas têm a sua consistência num só Sol.

A alternativa à afirmação egoísta da nova ordem relativista que favorece o oportunismo dos mais fortes seria a elaboração lenta, mas determinada de uma nova matriz social na base da inclusão dos polos.  A matriz do futuro, o modelo de uma nova ordem social, terá que ter como fundamento antropológico e cultural uma relação equilibrada entre os dois princípios vitais que penetram toda a natureza e toda a humanidade: a masculinidade e a feminilidade. Os dois princípios universais a actuar na natureza, no homem, na mulher e na sociedade terão de entrar numa relação de osmose complementar e abdicar da luta mútua pela superioridade de modo a substituí-la por uma relação de troca,  passando a ser uma troca entre iguais, muito embora com a possibilidade de sublimar energias negativas numa espécie de jogo, sem que este tenha de ser olímpico, como quereriam os seus deuses!

Entretanto, quem não dança fica sentado no banco a chupar o dedo!

António CD Justo

© Pegadas do Tempo

(1) A tese central do relativismo afirma que as crenças e descrenças não são verdadeiras ou falsas num sentido absoluto, mas apenas em relação a certas instâncias, como visões de mundo, culturas, religiões, formas de conhecimento, etc. O relativismo ético assume que diferentes culturas também têm diferentes valores morais (deveres). A posição oposta do universalismo representa a convicção de que os mesmos valores morais devem aplicar-se a todas as culturas. Segundo o relativismo ético, não há juízos morais objetivamente verdadeiros ou objetivamente justificáveis. Em vez disso, a verdade ou a justificação dos juízos morais é sempre relativa a padrões, que são bastante diferentes e podem variar de cultura para cultura. É uma escola filosófica de pensamento que vê a verdade das declarações, exigências e princípios como sempre dependentes de outra coisa e nega verdades absolutas

Ao contrário, para Platão o verdadeiro, o belo e o bom, representam valores absolutos!

A ETERNA BATALHA DOS GÉNEROS DEVE-SE À MATRIZ SOCIAL MASCULINA

Dia internacional da Mulher só um apelo à igualdade a nível de verniz e esmalte?

Enquanto não se começar a encarar o problema dos papéis sociais a nível de matriz integral (masculinidade-feminilidade) não se leva a questão suficientemente a sério porque é tratada como uma questão de verniz e esmalte da sociedade. Apesar de tudo, os projetos de ajuda e as medidas legais dirigidas em favor das mulheres são actualmente muito importantes se concebidos a partir do ponto de vista das mulheres.

As pessoas continuam dizendo que as mulheres devem ter as mesmas chances e oportunidades que os homens. Mas quem são as pessoas, quem é a “cara”?

Na sociedade e na política diz-se que se devem repensar os modelos dos papéis sociais. A intenção é boa e alguns resultados também. Mas, o que há para pensar quando nosso pensamento estrutural e a ordem social assentam em princípios masculinos?

Numa sociedade masculinizada em que a competição, a luta e a subjugação são glorificadas, vale a pena a luta feminina  até que se chegue à consciência de se fomentar uma matriz social e humana integradora dos princípios (e aptidões) da feminilidade e da masculinidade em equilíbrio e osmose, no âmbito homem-mulher-sociedade.  Doutro modo toda a justa luta se concentra na disputa da feminilidade por ver reconhecida na matriz masculina a sua identidade bastante reduzida a termos de papéis masculinos. A matriz vigente vai sendo obrigada a ceder nas bordas, mas não no núcleo.

É verdade que, quando as crianças atingem a idade de brincar, passam a assumir os papéis que a sociedade lhes proporciona e a escola mais prega. A base do problema está no modelo social da masculinidade e começa aqui tendo por base um ensino orientado preponderantemente pela aquisição de aptidões de conotação masculina.

Muitos contribuem para que se esconda o problema pondo-o na armadilha política do estilo de vida tradicional ou nos pais (um sistema de culpabilização só para alijar a carga!). Outros falam da proibição de comprar sexo como se uma sociedade machista resolvesse o problema com a ajuda de verniz e esmalte.

Os papéis sociais estão baseados na matriz unilateral masculina (na continuação da ordem patriarcal a ser mais ou menos suavizada com o tempo) que permeia todas as sociedades e ordens sociais no mundo.

Onde todos teríamos que trabalhar seria no surgir de uma nova matriz antropológico-social preparadora de uma nova ordem mundial (consciência) que tivesse como base as forças da masculinidade e da feminilidade, numa perspectiva de complementaridade e inclusão já não só a nível de funções na sociedade padrão, mas sobretudo a nível do ser e do modo de estar (integrador dos dois princípios ou energias) num modelo de sociedade equilibrada.

mas não apenas promove o mesmo tratamento, mas isso teve que surgir da igualdade de consciência e respeito pelos outros. As características masculinas foram enfatizadas sobre as características femininas e à custa delas. Claro, não é preciso padronizar as características específicas, mas vale o esforço  feito ou a fazer para que cada indivíduo e sociedade integrem as características femininas e masculinas de modo a (para que externamente na estrutura social) o princípio da masculinidade e da feminilidade não lutarem um contra o outro (segundo o modelo das forças masculinas), mas se equilibrem um ao outro fora da plataforma de um poder esgotado em brigas e concorrência de interesses ou de posição oposta. Uma sociedade que tem sido puxada, direccionada e movida pelo reino masculino exterior (carapaça exterior da sociedade), carece de mudança fundamental e para isso deixar de negligenciar o reino interior (feminilidade, espiritualidade) que aguarda aceitação e implementação. Esta missão torna-se difícil principalmente numa época de crise como a nossa em que se espera uma mudança radical de mentalidade e que se vê estrebuchar nos figurinos machos do espectro político.

A nível de luta exterior e de papeis sociais a mulher continua a ser a grande vítima dos nossos padrões de sociedade, como apresento agora em relação à Alemanha:

Na Alemanha, um país desenvolvido, há uma diferença de 18% no salário por hora entre homens e mulheres. As mulheres geralmente recebem menos do que seus colegas homens pelo mesmo trabalho. Conforme relatado pelo Departamento Federal de Estatística, as mulheres a partir dos 65 anos receberam um rendimento bruto médio de 17.814 euros por ano em 2021 e os homens 25.407 euros.

O risco de pobreza em 2021 é de 20,9% para as mulheres e 17,5% para os homens. O limite para uma pessoa solteira era de 14.969 euros por ano (dados estatísticos do HNA 8.3).

De acordo com a ONU, a cada hora no mundo, 5 meninas e mulheres são mortas por seus parceiros ou outro membro da família. Na Alemanha, esse crime ocorre a cada três dias (138 casos em 2020). As pessoas costumam falar em “tragédia familiar”, “assassinato por honra” ou “drama de ciúmes”, mas basicamente são casos de feminicídio.

As barreiras estruturais são cimentadas por uma matriz masculina que se perpetua como legado da sociedade patriarcal.

Ao fazermos parte de um sistema temos que contar com os paradoxos a ele inerentes (contradições dos sistemas e dos neles instalados) e ir fazendo por nos aperfeiçoar individual e socialmente de maneira a poder influenciar activamente o sistema que de si é prepotente. Enquanto o poder se orientar sobretudo pela materialidade (crença na masculinidade) e não integrar nele a espiritualidade (feminilidade) viverá na e da exterioridade como se pode ver bem documentado na máscula e estúpida  guerra entre o bloco ocidental e a Rússia a decorrer na Ucrânia.

Quanto à luta pela emancipação da mulher, penso ser adequada a palavra emancipação porque se trata da libertação de um modelo masculino baseado na subjugação que atraiçoou sobretudo a feminilidade. Na sua luta, a mulher está a seguir os critérios próprios do modelo social masculino. Ao sujeitar-se ao modelo masculino próprio de uma sociedade patriarcal embora moderada, a mulher pode estar a  reagir (adoptando tal modelo) a modos de um complexo de inferioridade não auto-consciente  da riqueza da identidade feminina;  ao assumir as técnicas de afirmação próprias da sociedade de matriz masculina apenas reagem, em relação ao modelo agressor, adoptando os métodos deles e assim assumem indiretamente modelo tradicional e ao não apresentar um modelo alternativo que inclua cem por cento a feminilidade  estão a contribuir para a perda da própria identidade feminina. Da interação da masculinidade e da feminilidade, da essência do ser feminino e do ser masculino poderá surgir um modelo mais criativo e menos potente. Nas formas de emancipação e manifestações públicas deveriam ser apresentadas acções femininas e projectos de sociedade inclusivos que deem relevância à feminilidade a incluir numa nova matriz social a criar. Doutro modo destruída a identidade feminina, a especificidade do ser mulher, toda a sociedade será destruída para preparar mundo meramente técnico e artificial. A feminilidade não pode ser reduzida a um manufacturado de uma sociedade de matriz masculina para não se tornar num mero elemento na linha de montagem da produção económica. Precisamos de uma nova sociedade mais feminina, mais amante da paz e dos dons e valores genuínos de cada um. Urge o surgir de uma avalanche feminina, um movimento de solidariedade da feminilidade em todo o mundo que use meios e invente um método feminino alternativo à maneira de ser e estar actualmente em vigor.

É natural que a luta pela emancipação se tenha inicialmente expressado sobretudo com mulheres possuidoras de uma identidade em que a masculinidade nelas sobressaia em relação à feminilidade (Esta estratégia masculina de autoafirmação será ainda muito oportuna na sociedade islâmica em que um verdadeiro revolvimento cultural humano só poderá ter efeito através da acção unida das mulheres). Encontramo-nos num momento em que os movimentos emancipatórios deverão estar muito atentos para não serem açambarcados por movimentos políticos de masculinidade exacerbada. Movimentos políticos e económicos do poder são por natureza masculinos e como tal deveriam ser confrontados com movimentos de base feminina não apenas feminista (feminista seria o papel masculino assumido por mulheres em que a feminilidade poderá estar em segundo plano).

O feminismo exacerbado corre o perigo de perverter os próprios dons e expressões característicos e por fim ver a própria identidade destruída (perda de feminilidade e desprezo da maternidade em benefício da masculinidade quando esta já é política e socialmente exacerbada).  O seu verdadeiro sentido e superioridade basear-se-ia no Ser e não só no ter (posse masculinidade) com um formato mental feminino que na sua maneira de estar partiria do nós e não do ego (característica maternal da sociedade). No modelo actual sobressaem os valores de caracter masculino: o dinheiro, o poder subordinador e o sucesso, colocando-se o homem no lugar de Deus e acima da moral e até como o criador dos valores numa sociedade que quer de combate porque deste modo a oportunidade é dos mais fortes.  

Tendo em conta a rudeza do modelo da nossa sociedade, é natural  que o movimento feminino se afirme pela luta, mas também é certo que no dia internacional da mulher ativistas representantes da masculinidade se aproveitam para envolver as mulheres em actividades de luta afirmadoras de estratégias masculinas (querem-nas feministas e não femininas!). Trata-se de reconhecer a mulher toda e não reduzir a sua emancipação a papéis político-económicos de formato masculino.

A mulher terá de usar várias estratégias numa luta da integração da feminilidade num modelo de masculinidade agreste. Para isso, no meu entender, necessita-se de um combate próprio com firmeza e perseverança, mas à maneira feminina sem perder o elo do amor sustentável que tudo une, como expressão da feminilidade criadora e mãe, porque dela tal como da terra tudo sai.

António CD Justo

Pegadas do Tempo