Boas Festas de Páscoa

Queridas/os leitoras/es e visitantes

Boas festas de Páscoa, Aleluia!


A esperança é o outro lado do medo, como a ressurreição é o outro lado da morte.  O medo faz do Homem um animal subjugável. Ele controla, fixa a mente e distrai do essencial. O medo leva-nos a agarrar-nos às saias da autoridade, ao factual banal. Leva a levantar os olhos para cima e a não notar o que acontece ao lado e, assim, a confundir a Realidade  com o Jardineiro. O medo torna-se mais arriscado que o nevoeiro cerrado da manhã. Com ele, as ideias e os sentimentos entram em curto-circuito, impedindo assim a reflexão. Neste estado, uns tornam-se fugitivos da vida  e outros chamam pelos “bombeiros” que se afiguram como salvadores. Em vez de ideias claras e de acções surgem desejos. O inimigo do Homem sabe que o medo é a melhor arma contra a liberdade e contra o desenvolvimento pessoal e social. A esperança garante a dignidade pessoal e estimula à mudança.

Quem experimenta ressurreição fica cativado e não tem mais medo, vive a comunidade. De cabeça erguida descobre o que se passa em cima, em baixo e ao lado. Não só dialoga, mas entra em triálogo na comunhão da realidade da Trindade, no processo de incarnação e ressurreição.


O acontecimento pascal, o JC torna-nos insubmissos mas obedientes à divindade a ressuscitar em nós. A vida é bela, “ama e faz o que queres”!


Votos de uma Santa e Feliz Páscoa para vós, familiares e amigos!

O meu abraço!


António da Cunha Duarte Justo

SEMANA SANTA – O TEMPO DO ENCONTRO COM A REALIDADE

O Encontro profundo com o Outro transforma-nos

António Justo

Nos textos de Terça-feira santa, Jo 13,21-38, assistimos à cena em que Jesus apresenta o seu amigo traidor. “Um de vós me há-de atraiçoar.” Precisamente aquela pessoa em que Ele tanto confiava, Judas Iscariotes, o tesoureiro do grupo. Ele era quem mais tinha as ideias de Jesus na cabeça mas que andava com a revolução no coração. Judas um homem inteligente e bom deixa entrar em si as trevas. Abandona a Luz e não volta mais.

Tal como em situações do nosso dia-a-dia, logo se levanta um outro amigo, Pedro, manifestando o seu escândalo pelo que se está a passar! Jesus que o ama e conhece a essência da realidade humana e da natureza responde-lhe com doçura: Pedro, hoje mesmo, “antes que o galo cante, tu me negarás.” De facto, Pedro, como cada um de nós, negou a Luz três vezes, mas depois reconhecendo-se luz também voltou a ela.

Dois encontros com o Mestre de Israel, dois encontros com a Vida. Duas maneiras de estarmos na vida! Judas e Pedro negam Jesus. Em Judas Iscariotes e em Pedro manifestam-se partes da nossa identidade individual. Trazemos em cada um de nós João o amoroso, Madalena a confiante, Pedro o testemunhador e Judas o traidor, como os textos da Semana Santa nos mostram. Tudo fazendo parte duma realidade que se quer boa.

Judas não quer aceitar que Jesus aposte apenas na transformação individual como fundamento e meio de chegar à paz social. Não quer perder tempo investindo em processos de mudança que só, a longo prazo, prometem a paz e a justiça. Quer a justiça já e, segundo ele, esta adquire-se mediante insurreições populares. Judas, ao contrário de Jesus, acreditava na revolução violenta, na revolução lá fora, no levantamento do povo contra os romanos. Desconhece que o impulso que o guia é o mesmo que tem levado os povos, de revolução em revolução, a adiar a Humanidade e a protelar o desenvolvimento da História.

Desiludido de Jesus, Judas abandona o grupo dos discípulos, durante a noite. Na noite da vida, este homem bom, que só quer o bem do povo, ao afastar-se da luz passa a ser dominado pela lei das trevas. Nela, o amor e a compreensão dão lugar à hora do ódio e da vingança. Com Judas procuramos a via da solução que leva ao beco sem saída, como podemos ver no Iraque, no Afeganistão, na Líbia e na nossa maneira de governar e construir relações. Judas é a alternativa da vida que nos leva ao beco da guerra; encontram-se sempre muitas razões intelectuais para a fazer.

O encontro com o outro (Jesus), com o ser profundo das coisas, muda a vida a uma pessoa. O encontro verdadeiro muda-nos no sentido da luz ou da treva.

Uma vida no desencontro é uma vida em segunda mão. O desencontro acarreta más consequências, como nos mostra o texto de quarta-feira da paixão (Mt. 26,14-16).

Jesus pregou, consolou, curou mas o seu acto de salvação foi por ele sofrido, era um processo am mesmo tempo interior e exterior. Foi atraiçoado, vendido, crucificado. Não procurava fora o que não estava dentro dele. Neste processo realiza-se salvação. Não há soluções fora, a solução é a realização, e esta é processo vivencial e não uma solução que se vai buscar ao sótão das ideias!…

Na sua paixão, que é, em parte, a nossa paixão, torna-se visível a nossa parte escura, a nossa crueldade barbárica, de ontem e de hoje. A paixão de Jesus continua hoje no Afeganistão, na Líbia, no Japão, no meu país, na tua casa e na minha. Ontem como hoje sobressai em mim uma das personalidades: Pedro ou Judas.

Aquele que foi condenado e executado às portas de Jerusalém – é o nosso rei (rei dos Judeus). Ele morreu segundo a lei.  A lei possibilita a produção de armas com que outros são mortos, segundo a lei pessoas são perseguidas ou impedidas de viver.

Somos mais que espectadores da vida. Também Jesus não tinha ninguém que o defendesse. Todos o abandonam; na sua fuga seguem o medo das próprias sombras.

Maria unge Jesus com bálsamo em Betânia (Jo 12,1-11) e enxuga-lhe os pés com os seus cabelos. Com este gesto quer honrá-lo realizando o acto de unção como era costume na sagração dos reis e dos ungidos de Deus.

Maria, uma mulher, assume a função de coroar. Em representação da humanidade e da natureza, realiza este rito, como uma sacerdotisa, que reconhece, de antemão, a morte e ressurreição da vida em Jesus.

António da Cunha Duarte Justo

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Democratizar a Economia através da Microprodução eléctrica


Microprodução de Energia Fotovoltaica na Alemanha – Um Exemplo de Futuro antecipado

António Justo

A Alemanha, país de fracos recursos em matérias-primas, tem que viver da tecnologia. Para poder manter o bem-estar do povo, antecipa-se ao futuro. A sua vantagem, em relação a outros povos, estará no facto de ter de andar, tecnologicamente, um passo à frente deles. Tomou a sério a defesa do ambiente, o que a levou a ser pioneira nas tecnologias fotovoltaicas, hoje já bastante vulgarizadas no mundo.

Na Alemanha todo o consumidor de energia paga mais 3,53 Cêntimos/KWh (líquido) por cada KWh. Esse dinheiro é destinado a subvencionar os produtores de energias limpas. Aqui há concorrência livre entre as grandes produtoras de energia. Assim eu, que até ao princípio do ano pagava numa companhia 23,32 Cênt/KWh (bruto) passei a pagar, numa outra, 15,8 Cênt/KWh até um consumo de 3.600 KWh no ano.

Na altura em que as instalações fotovoltaicas eram (30%) mais caras que hoje, o Estado alemão garantia até 51 Cêntimos por KWh às microproduções. Nos últimos 20 anos a tecnologia embarateceu e por isso já se não justifica tão alta subvenção. A promoção da microprodução de energia eólica e fotovoltaica é da competência regional (das câmaras municipais).

Assim, há diversos modelos de bonificação da energia que as microprodutoras entregam às companhias de electricidade. Os preços são garantidos por 25 anos das instalações feitas nos telhados das casas. Segundo um dos modelos válidos a partir de 1.01.2011, as instalações fotovoltaicas com uma capacidade até uma produção de 3,5 Gigawatt/p recebem 28,74 Cêntimos por Kwh até 30 kWp, recebem 27,33 Cênt.  por Kwh  a partir de 30kWp, 25,86 Cênt. a partir de 100kWp e 21,56 Cênt.  a partir de 1 MWp.

No caso do microprodutor se registar como empresário normal, terá de pagar 19% de imposto sobre a venda da energia. Tem porém o direito de fazer valer na declaração de impostos, durante 20 anos, cinco por cento do custo da aquisição líquida (se optar por uma dívida de IVA) dedutível. Segundo dizem técnicos, cada ano de vida duma instalação corresponde a 0,2% a menos na produção.

O assunto é muito complicado, dependendo o lucro do investimento de muitos factores, entre eles o brilho do sol, financiamento, condições técnicas, seguros, juros sobre o capital investido, impostos.

Portugal produz muita energia limpa, sendo exemplar neste sentido. O problema está em ter desperdiçado as suas potencialidades ao apostar quase exclusivamente em projectos megalómanos e ao apoiar as grandes empresas em desfavor das pequenas e dos cidadaos. Esquece que a riqueza nacional em países estáveis vem das pequenas e médias empresas (“De grão a grão enche a galinha o papo!”). Uma microprodução fotovoltaica, em cada telhado de Portugal, poderia ser uma aposta de investimento importantíssimo de cada Governo. Naturalmente parto do princípio que o que rende na Alemanha, onde há pouco sol, mais renderá num país soalheiro! Trata-se aqui de se pensar numa nova orientação política que ajude o cidadão e as famílias a tornarem-se empresários. Uma tal política pressupõe a bonificação de tais projectos compensada por uma sobrecarga das grandes empresas ou pela generalidade, como no caso da RFA .

O sistema de concessão de registo e certificação da autoridade competente portuguesa não é transparente e pode favorecer uma atitude mafiosa na adjudicação. Além disto leva as empresas a prometer aos clientes o que não podem garantir por estarem dependentes duma burocracia emperrada dum Estado ineficiente.

Há 10 anos pretendia investir na microprodução de energia fotovoltaica em Portugal. Então totalmente impossível! Actualmente, segundo me foi referido, há a possibilidade de um dia em cada mês através da Internet se solicitar a concessão de registo de microprodução fotovoltaica. Como é quase impossível ser-se atendido, um empreiteiro, encarrega sistematicamente, 40 pessoas de, no primeiro minuto de abertura do concurso, se registarem como candidatos. Facto é que em três meses de tentativas apenas uma vez, uma pessoa conseguiu entrar no sistema. O empreiteiro continua mês por mês, com as 40 pessoas, a tentar mas os resultados continuam a ser os mesmos. Tudo muito bonito no papel!

As regiões do Sul da Europa podiam vender imensa quantidade de energia. Uma política fomentadora da microprodução, além de criar mais capacidade de investimento e formação de pequenas empresas noutros sectores, realizaria um grande passo no sentido de democratizar a economia nacional. Além disso concorria para a estabilidade social e política tornando-nos independentes dos países árabes e da energia atómica.

O sol brilha democraticamente para todo o cidadão. É hora de nos pormos todos a trabalhar a sério para o país e para a uma democratização para todos! Também as centrais eólicas aproveitam de todos os ventos, venham eles das direitas ou das esquerdas. O sol e o vento são os melhores combustíveis que temos. Criam postos de trabalho, fomentam riqueza e não poluem a natureza como outros geradores de energia.

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

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CATÁSTROFE DE FUKUSHIMA – O Preço da Civilização


Apressada a Era das Energias Regenerativas

António Justo

As centrais nucleares para produção de energia baseiam-se numa tecnologia humana agressiva que não respeita a terra: aqui e acolá, revelam-se como bombas atómicas caladas e proporcionam-se a atentados terroristas. A catástrofe de Chernobyl em 1986, a maior de todos os tempos, ainda continua a fazer vítimas. O acidente no reactor nuclear de Harrisburg (1979 USA) ainda irradia na memória. Fukushima no Japão, onde as centrais atómicas eram tidas como as mais seguras do mundo, causa agudas dores de cabeça à política e aos produtores de energia. Um busílis: um problema tecnológico não resolvido a par dum mundo que para o seu desenvolvimento precisa cada vez mais energia.

Actualmente existem no mundo mais de 400 centrais atómicas.

O perigo sempre imanente da dependência do petróleo árabe fez esquecer os medos. Fugas de radioactividade e o risco dos resíduos radioactivos das centrais atómicas foram abafados. Até hoje não se encontra solução tecnológica para o lixo atómico. Os modelos de segurança têm-se reduzido ao mínimo que a lei exige e não ao máximo da segurança que uma tecnologia poderia desenvolver. No Japão o Tsunami atingiu 23 metros o que facilitou a inundação por cima dos muros de 18 metros que protegiam as centrais atómicas. Sabe-se que já em 1896 (HNA 29.03.2011) um Tsunami no Japão tinha atingido 38 metros de altura. Negligência!


As eleições no Estado de Baden-Vurtemberga mostraram que o povo alemão é definitivamente contra a política atómica até agora seguida. Um só ramo da política passou a determinar o sucesso do partido Os Verdes. O país transforma-se mas não se torna melhor! Os alemães querem uma tolerância zero para os riscos. Ao medo dos cidadãos, perante o perigo das irradiações, segue-se o medo dos políticos perante o povo. Tudo reacções em cadeia!


Sob a pressão da população, a Chanceler alemã, Doutora Ângela Merkel, criou uma Comissão Ética para rever, em três meses, a sua política atómica. Sete centrais atómicas devem ser desactivadas e as outras 10 devem tornar-se supérfluas, com o tempo. Manifesta-se consenso, entre os partidos, da necessidade de se desistir das centrais nucleares. Os Verdes já atiraram com a data da desistência para 2017. O antigo governo de Schröder apontava para 2020. A Chanceler, sob o susto do cismo, reage: “Se nós conseguirmos atingir o objectivo mais rapidamente ainda melhor!”

Os cidadãos continuam cépticos e receiam, no meio de tanto activismo, táctica política. A questão que se põe é da rapidez com que se quer realizar a mudança e com preços pagáveis para os consumidores.

A energia atómica só é mais barata pelo facto dos riscos não serem incluídos nem assegurados nos preços. No caso de desastre, quem os suporta é a população. Em 1992 o Instituto Prognos calculou em 5.000 bilhões de Euros (62.000 euros por habitante) os danos materiais duma hipotética catástrofe nuclear (GAU) na Alemanha.

Em comparação o Projecto Desertec (Centrais de energia solar no deserto), destinado a fornecer energia limpa, foi avaliado em 400 mil milhões de euros, isto é 572 euros por europeu e cobriria 15% das necessidades de consumo energético na Europa. O grande obstáculo inerente a este projecto é que continuaríamos sob o controlo e dependência árabe e este não oferece confiança nenhuma.

De facto as centrais nucleares são como autos sem travões. O lucro não pode continuar a ser o critério promotor principal. Para tonarmos o nosso planeta mais amável e humano, teremos de mudar de mentalidade e, neste sector, recorrer às energias regenerativas. Um director da EON diz que seria possível substituir o Urânio, o petróleo, o Carvão e o gás por vento, água, sol e massa biológica até 2030.

Exige-se uma nova política de energia. A percentagem da energia produzida por centrais nucleares alemãs, no consumo alemão, é de 20%. O recurso às centrais de Carvão corresponde a grandes emissões de CO2 com o consequente aquecimento da atmosfera. A desistência da produção de energia através de centrais nucleares significaria num primeiro momento um grande impulso de centrais de gás e das energias renováveis, especialmente as eólicas e fotovoltaicas.

A Central nuclear Biblis na Alemanha gera 13.000 GWh (horas Giga watt) de energia por ano. As 21.000 instalações eólicas que existem na Alemanha produzem um total anual de 38.000GWh. Isto significa que para gerar a energia correspondente à da Central Nuclear Biblis são precisas 7.200 instalações eólicas.

Hoje na Alemanha 17% da energia é ganha de fontes renováveis, presumindo atingir-se em 2020 os 35 até 38%. O maior problema da energia solar e eólica está na sua irregularidade. Segundo a revista Der Spiegel 12/21.3.11 a energia eólica, nalguns dias de outono, é suficiente para tornar supérflua a energia nuclear mas na maior parte dos dias do ano é insignificante. Também os painéis de energia solar fotovoltaica produzem em alguns dias de verão mais energia do que toda a Alemanha precisa, mas geralmente produzem pouco atendo ao céu enevoado! O vento no mar é quase constante o que encoraja produtores a construírem instalações eólicas no mar. Fornecedores alemães de energia tencionam até 2020 conseguir aí um rendimento constante de 10.000 Megawatts o que corresponde a um oitavo do gasto máximo alemão.

Os 4 maiores fornecedores de energia da Alemanha têm um lucro de 20 mil milhões de Euros.

A debilidade e sonolência dos povos podem ser constatadas na reacção popular à catástrofe de Fukushima. Tem-se a impressão de as centrais nucleares se terem tornado perigosas a partir da tragédia de Março. Na sua tarefa de exploração da terra e do mar, a política, a economia e a sociedade agem sem saberem uns dos outros. Sob o escudo do dinheiro e do progresso, tudo tem valido para andar para a frente!

O físico Hans Joachim Schellnuber resume a problemática da actualidade dizendo “ Nós saqueamos ao mesmo tempo o passado e o futuro para o excesso do presente – isto é a ditadura do agora”.

O Homem tem-se revelado um mau administrador da natureza e da sociedade. Tudo o referido pressuporia que se crie um novo modelo de vida e uma correspondente mentalidade. Para isso será preciso começar a sentir-se com a natureza, com o passado e com o futuro.

As gerações futuras têm direito a ter melhor tempo, menos calor e menos tempestades. Não as podemos reduzir a herdeiras dos perigos da energia atómica e de outras tecnologias, nem tão-pouco torná-las herdeiras das nossas dívidas. Para isso seria óbvio que as gerações futuras fossem defendidas na lei fundamental da nação por parágrafos que obriguem a política e a economia a agir responsavelmente.  A abundância de uns é a fome de outros o presente de uns é a ausência de futuro para outros!

Os conflitos do futuro serão conflitos em torno da energia e das migrações.

António da Cunha Duarte Justo

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À Semana da Paixão segue-se a Restauração da Nação

A ALEGRIA DUM POVO PEREGRINO

À Semana da Paixão segue-se a Restauração da Nação

António Justo

O grande sábio da Idade Média, Tomás de Aquino, dizia: “Nada se consegue com êxito, a não ser que se realize com alegria!”

A atmosfera que se respira em torno do Estado e das instituições, na Europa e especialmente em Portugal é escura e depressiva. Fracasso, medo e frustração grassam no meio da população. O horizonte é curto e a visão fraca, não se descortinando já o sentido!

Nesta hora nacional ensombrada, em que estrangeiros vêem impor a Portugal a sua disciplina, será importante, mais que nunca, redescobrir o brilho do sol em nós e no nosso povo. O sol da alegria move a força da esperança tal como o raio de sol atrai o rebento. As estruturas tornam-se frias e pesadas, sem a alegria de membros que se saibam respeitados e apreciados.

A nação é um biótopo natural condicionado pelo seu clima envolvente; o biótopo cultural é codificado em sentimentos, costumes e mentalidade. Como tal, para viver, precisa do sol da esperança e da alegria de vida

Talvez, depois dum período de reflexão e de análise, o país encontre o seu sentido, não apenas num projecto político, mas numa realidade orgânica com um tecto metafísico cristão, onde todos os portugueses, crentes e não crentes, tenham lugar e se sintam em casa, protegidos dos assaltantes e das saraivadas da noite. Então, no sorriso do cidadão, brilhará o Sol da nação e a alegria será o sol a brilhar em cada irmão.

O povo tem andado ao som da música dos outros. Sem reconhecer nela a própria música, sente-se agora cansado e burlado. Procurou fora o que se encontra dentro. A alegria não se encontra na carreira, no sucesso nem na posição. Teresa de Lisieux dizia que “A alegria não se encontra nas coisas mas no íntimo da nossa alma”. Alegria é sorrir, apesar de tudo.


Na minha alegria encontra-se, de mistura, o meu carácter, as circunstâncias envolventes e a minha atitude perante a vida. Mesmo na adversidade há um contentamento interior a descobrir, longe do barulho das inquietações e dos regozijos. A alegria interior é relação; manifesta-se na relação pessoal e processa-se em diálogo de mudança. Se sentirmos com a natureza verificaremos um processo contínuo de mudança, da tristeza para a alegria, do inverno para a primavera, de incarnação para ressurreição. “Nada se cria e nada se destrói, tudo se muda” ensina-nos a física.

Às Trevas da Semana Santa segue-se o Amanhecer da Ressurreição

Para nos levantarmos e nos pormos a caminho, com optimismo, teremos de deixar de pintar o diabo nos outros. Deixaremos a inveja e o snobismo, para nos encontrarmos como povo e como nação de todos. No momento da metanóia descobriremos em nós o diabo que vemos nos outros, tornando-nos assim aptos a descobrir, em nós e neles, a divindade comum a tudo e todos. “Quem procura Deus encontra alegria”, dizia a experiência de Agostinho de Hipona, no seu peregrinar pelas sendas do mal e do bem! Então tornar-nos-emos na comunidade da alegria e, como ele, seremos o defensor do seu povo.

Nesta Páscoa de 2011, Jesus Cristo (JC) é protótipo e a realidade que integra o êxito e o fracasso, a matéria e o espírito, a humanidade e a divindade, num processo ascendente que resolve a visão bipolar e dialógica na realidade trinitária.

Em comunidade na Trindade antecipamos a Páscoa. Comunidade na Trindade significa, sempre a caminho, realizar o JC e com ele a sua presença. Então, a nação erguida, em sentimento de agradecimento da vivência do chamamento comum, participará na eucaristia universal a plasmar-se no universo, na natureza, e em cada um de nós. Não tenho problema de delegar em Cristo o que não consigo fazer no dia-a-dia. Sou não só instrumento divino, mas também parte da sua realização.

Então, de consciência tranquila, faço o que posso, só na obediência ao meu interior que reconhece também fora o JC encontrado. Isto cria paz e a alegria da ressonância com o todo numa relação vertical e horizontal. O JC torna-se a medida de todas as coisas. Não haverá superiores nem inferiores, governantes nem governados, crentes nem descrentes, mas só cidadãos a seguir o mesmo chamamento.

Então não abuso dos outros nem das coisas em meu favor. A minha alegria alimenta-se da tua, da nossa alegria! Ela cresce no serviço a ti, ao próximo. A alegria é a chave da realização.

Então, passamos a abraçar as pessoas com o sorriso; nele passamos a abraçar a natureza, num contínuo erguer de sol que tudo inebria.

Para Erich From “Alegria é o sentimento que se sente a caminho da auto-realização”. A realização de cada membro vai no sentido da ressuscitação. Ao encontrar o tesouro perdido no campo (Mt 13,44) entro na relação profunda com a natureza sentindo nela o coração do JC  a palpitar na continuação da experiência dos discípulos de Emaús (Lc 24,41); aqui, no encontro, na relação profunda acontece a alegria, num brilho de fé, que se torna no princípio interior da vida que transforma a vida e põe o mundo em comunhão. Surge uma atitude interior na experiência dos limites e, ao mesmo tempo, na experiência da presença de Deus como oferta. Realiza-se, simultaneamente, incarnação e ressurreição em processo de salvação, natal e páscoa a acontecer. Daí surge a alegria que se apega e testemunha. Como a Realidade Trinitária, a unidade plural, entramos em triálogo de uns com os outros celebrando e comungando a natureza inteira em JC, no mesmo chão da divindade. A fé torna-se em alegria que transborda tal como o amor de Deus transbordou na natureza.

Mas afinal quem é esse JC? Ele é a “água viva” que nos (Samaritana) apaga a sede de felicidade; é a “luz” que ilumina as trevas do nosso coração (cego); é a vida que nos (Lázaro) levanta da cova do medo e da morte; é a videira que faz correr em nós o elixir da felicidade; és tu, ele e eu a caminho. Na sequela Christi vivemos o equilíbrio, estamos em paz com Deus e com o mundo. Com ele e nele somos “o caminho, a verdade e a vida”.

António da Cunha Duarte Justo

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