PORTAGENS ELECTRÓNICAS EM PORTUGAL

As estradas de Portugal têm portagens eletrónicas sem intervenção humana e SEM possibilidade de pagamento à medida que avança ao contrário do que acontece na maioria dos outros países, onde os motoristas são solicitados a pagar para usar um trecho de uma estrada/rodovia. A abordagem do sistema português é puramente automática e eletrónica, com os seus prós e contras.

Assim Portugal evita o emprego de pessoal e naturalmente há menos interrupção do tráfego e há medida que há menos trabalhadores tornamo-nos mais dependentes de oligarquias (conivência entre política e empresas). O inconveniente dá-se no facto de o Estado em colaboração com as empresas de autoestradas empurrar o trabalho burocrático para o cliente. Ele paga o serviço e ainda tem o incómodo de entrar no labirinto das burocracias estando sujeito a multas de atraso.

O maior problema reside no facto de deste modo se contribuir para a construção de um Estado novo de burocratas e de controlo da população como se vai dando também no caso dos bancos etc. Pouco a pouco vamo-nos aproximando do sistema chinês, sem o notarmos.

António CD Justo

Pegadas do Tempo

O JOGO DE XADREZ DA UCRÂNIA NO TABULEIRO DO MUNDO

Zelenski demitiu o ministro da Defesa Oleksii Reznikov e nomeou Rustem Umerov

O ministro da Defesa Oleksii Reznikov, envolvido em escândalos, era uma amostra exposta da corrupção vigente na Ucrânia. Zelenski propôs o muçulmano da minoria tártara da Crimeia, Rustem Umerov, para ministro da Defesa, que terá ainda de ser confirmado pelo Parlamento.

Deste modo Zelenski quer mostrar vontade de enfrentar a corrupção no país e ao mesmo tempo dar um sinal de querer aplainar a entrada da Ucrânia na União Europeia.

Na mesma direcção aponta o aprisionamento do oligarca Kolomoyskyj, que no passado tinha apoiado e feito campanha nas eleições por Zelenski com o seu influente canal de TV. Ihor Kolomoiskyi é acusado de fraude bancária e lavagem de dinheiro.

Isso não representa um ponto de viragem na luta contra o crime de colarinho branco devido aos meandros da justiça ucraniana. As investigações estão a ser realizadas pelo serviço secreto da SBU dependente do Presidente Zelenski e não pelas autoridades independentes anticorrupção da Ucrânia.

A nomeação do muçulmano da minoria tártara da Crimeia Rustem Umerov, para Ministro da Defesa cria um maior vínculo com o “Mundo Turco” na Eurásia (cerca de 180 a 200 milhões de turcomanos) e na política interna pressupõe um maior apoio a Kiev pelos tártaros da Crimeia; ao mesmo tempo é um sinal de que a Ucrânia não quer abdicar do regresso à Crimeia.  

A guerra na Ucrânia oferece uma grande oportunidade para o fortalecimento da ideia do império turcomano que significa ao mesmo tempo uma ameaça real à integridade da Rússia. Putin encontra-se em maus lençóis e tudo leva a crer que a guerra irá assumir maiores dimensões, também pelo que ela significa para os EUA e para a Federação russa. Por outro lado, a posição crescente do presidente da Turquia no conflito a realizar-se na Ucrânia apressará a União Europeia a abrir as suas portas à Turquia passando por cima de condições de caracter democrático. Razões de poder mandam mais alto.

Muitos povos turcos vivem dispersos na região do Volga (Búlgaros do Volga, Bashkirs, Tártaros, Chuvash), na Crimeia (Tártaros da Crimeia) e na região do Cáucaso (Nogaians, Kumyks, Karachaians, Balkars).

Umerov, o tártaro da Crimeia, tinha sido contra a anexação da península da Crimeia, aquando da sua anexação pela Rússia em março de 2014.

270.000 tártaros representam 16% da população da Crimeia. Os tártaros da Crimeia boicotaram o referendo da Crimeia como forma de protesto.

No conflito da Ucrânia os interesses em jogo são de tal ordem (económicos e geopolíticos) que despertam e conglomeram desejos contraditórios escondidos que levarão à criação de um mundo multifacetado e multipolar em que surgirão novas constelações de rivalidades no tabuleiro de xadrez de povos e civilizações.

António CD Justo

Pegadas do Tempo

UM EXEMPLO ORIGINAL DA MANEIRA COMO RESOLVER CONFLITOS

Na vida dos salesianos de Dom Bosco é conhecido o facto do jovem Domingos Sávio que se deparou com dois colegas que se preparavam para fazer um duelo à pedrada.  Como bem relata o Pe A. Gonçalves, eles já tinham medido os passos de distância e então o Jovem Domingos, com bons modos, colocou-se no meio deles, dizendo: atirai as pedras contra mim.

Domingos evitou o conflito sem culpar ninguém!

António CD Justo

Pegadas do Tempo

O SONHO DA EURÁSIA MORREU NA UCRÂNIA

O sonho da Eurásia morreu e o da Europa também! A Europa, que no mapa geográfico mais parece ser uma península asiática vê o seu destino nas próximas gerações ligado à sorte da OTAN na Ucrânia.

A Europa encontra-se traumatizada e em estado depressivo por se tornar refém do acaso (ao trauma europeu veio juntar-se o trauma dos países do antigo Bloco de Leste!).  Com as duas grandes guerras na Europa, os estados europeus foram obrigados a abdicar do seu estatuto mundial de grandes imperialistas para o cederem aos Estados Unidos da América e se submeterem aos seus interesses. A Alemanha ficou subordinada aos Estados Unidos da América e com uma Alemanha aliada, toda a Europa ficou subordinada aos EUA e deste modo definitivamente impossibilitada de criar a própria história e de assumir papel mais relevante na geopolítica.

A Alemanha, devido ao vínculo do “Tratado Dois-Mais-Quatro” respeitante às condições para a sua reunificação, ficou sujeita ao condicionamento dos quatro vencedores e sobretudo aos Estados Unidos da América que têm na Alemanha 20 bases militares que funcionam quase como um Estado dentro do Estado alemão e que perpetuam o domínio americano na Europa (No caso de um conflito atómico a Alemanha seria a primeira a ser atingida).

Daí a política do partido de Willy Brandt e do partido de Ângela Merkel de aproximação discreta da Alemanha à Rússia e de aproximação da Rússia à União Europeia ter sido um projecto de cunho europeu, mas contrariado pelos EUA.

A ex-chanceler Ângela Merkel ainda iniciou uma política com a Rússia que contemplava interesses alemães, russos e europeus, mas os EUA com a ajuda de alguns estados europeus rivais bloquearam e sancionaram uma política europeia de visões largas de um dia poder vir a construir a grande “casa europeia” de Lisboa a Moscovo.

Com o exemplo de um Reino Unido virado só para ele e para os EUA (Brexit)  e uma Polónia a querer substituir a Alemanha nas relações EUA-Europa, a Alemanha (teoricamente livre mas de facto ocupada por não poder agir sem o aval dos EUA) viu-se obrigada a fazer uma virada política de tipo militarista (Zeitenwende) deixando de pensar em termos europeus (como Willy Brandt-Kohl-Merkel)  para pensar em termos militares de OTAN: um passo dúbio mas fatal contra a possível Casa Europeia. O irmão grande (EUA) pensa em termos de poder e não desvinculará a Alemanha do tratado Dois-Mais-Quatro (ver nota em https://antonio-justo.eu/?p=8718).

Por outro lado, com a imigração descontrolada muçulmana ressurge no povo europeu o trauma e os medos antigos dos corsários norte-africanos na Europa. De acordo com Robert Davis, entre os séculos XVI e XIX, foram capturados por piratas bárbaros (corsários otomanos, berberes) entre 1 milhão e 1,25 milhões de europeus e vendidos como escravos no mundo árabe. Os piratas só levavam os jovens e aqueles que apresentavam boa forma física. Todos os que ofereciam resistência eram mortos, e os mais velhos eram colocados dentro de uma igreja que depois era queimada (1).

Os povos da Europa sabem, no seu subconsciente que a política que os orienta é política de autossabotagem ao criar obstáculos à realização de metas e objetivos próprios que estariam no interesse da Europa.

Depois da queda da União Soviética e da união das Alemanhas e com o início da União Europeia teria chegado a hora de se construir uma nova Europa que ajudasse a superar os extremos do socialismo e do capitalismo. Uma Europa, penitenciada dos seus erros passados, poderia tornar-se na medianeira e fomentadora de uma relação mais justa entre os povos.

A Europa, ao identificar-se com a OTAN, descarta-se do jogo geopolítico multipolar para se reduzir a província americana onde conflitos internacionais fervilharão no seio da sua sociedade.

Valha-nos Deus e o sonho!

António CD Justo

Pegadas do Tempo

(1) A partir do século XVI   corsários bárbaros, ou corsários otomanos escravos usados como remadores em galé Escravidão branca refere-se à escravidão de brancos europeus por norte-africanos ou muçulmanos da região do Magrebe. Os piratas da Barbária e dos comerciantes de escravos, que representavam uma ameaça constante para as embarcações comerciais e inclusivamente as cidades costeiras do Mediterrâneo Os piratas bárbaros (berberes) eram piratas e corsários que operavam desde o Norte de África https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89poca_Dourada_da_Pirataria

A GUERRA DA UCRÂNIA É A CÓPIA DA GUERRA DO PELOPONESO

Uma Guerra entre dois Modelos de Valores com previsíveis iguais Resultados

Para quem se lembra da História, na Ucrânia realiza-se em termos geopolíticos, uma guerra muito semelhante à do Peloponeso (século V a.C.) entre os dois poderes rivais (cidades-estados Atenas e Esparta).  Entre eles desafiavam-se interesses económicos, políticos, militares e de vias marítimas, também eles disputados entre dois modelos políticos de cidades-estados em que ambas queriam impor o seu domínio sobre os gregos; no caso da Ucrânia estão em causa, de maneira camuflada, o modelo capitalista e o modelo socialista que pretendem impor o seu domínio sobre os povos do mundo.

À imagem do que se deu no Peloponeso, as disputas de interesses entre a Federação russa e os Estados Unidos da América (NATO) provocaram a guerra na Ucrânia. Outras encenações e tentativas de explicação ou de ordenamento de factos ronda a   tentativa de enganar povo inocente para melhor se atingirem interesses dúbios! Na guerra do Peloponeso o domínio ateniense perdeu seguindo-se as invasões macedónicas. Na hipócrita guerra ucraniana a disputar-se entre ocidente e oriente tudo leva a crer que o Ocidente perderá em grande parte a guerra e as consequências serão a curto prazo os EUA perderem a hegemonia mundial seguindo-se um tempo de alinhamento mundial de povos para posteriormente se passar a equacionar uma geopolítica de tipo multipolar mais equilibrada e mais justa para os povos e para os Estados (isto independentemente de se entrar numa discussão de que valores).

Seria de esperar que a guerra geopolítica da Ucrânia se resolvesse na mesa de conversações e  que a Ucrânia se tornasse na última aventura americana fora da sua terra e que a sua perca, (tal como aconteceu no Afeganistão, Iraque, Síria e Líbia), se torne num aviso à China para que respeite Taiwaneses e renuncie às suas aspirações sobre Taiwan. Uma mesa das conversações de paz da Ucrânia poderia ser uma oportunidade para que as nações de preponderância universal (NATO, Rússia e China) se entendessem moderando os seus desejos de poder expansionista. A organização do bloco Brics poderia também ela tornar-se num elemento moderador de aspirações hegemónicas geopolíticas contribuindo para a construção de um mundo multipolar. Os governantes europeus parecem não estarem conscientes dos desenvolvimentos dos povos ao tentarem branquear a própria política desvalorizando o esforço dos Brics como “política do ressentimento”!

A situação dos Brics ou dos Brics+ (1) é sobretudo uma reacção à actual ordem mundial e por isso também haverá Brics + a “várias velocidades”, tal como se imagina fazer-se para a União Europeia. Uma das consequências do crescimento do G Brics será um acentuado encarecimento da vida no Ocidente com sublevações sociais, o que pode provocar maior aproximação (mistura) no estilo de governo de regimes democráticos e de regimes autoritários; por outro lado a existência do G Brics provocará grandes mudanças especialmente em África e encorajará governos e povos a juntarem-se para se poderem erguer!

O “mito” do risco de uma guerra na Europa e de que o sangue dos ucranianos defende a liberdade europeia conseguiu mover a veia nacionalista fomentada pelos Media que descontextualizam a situação ucraniana   com a ideia de que um país pequeno luta contra um país gigante quando em jogo estão dois gigantes em luta num cavalo de troia que é a Ucrânia; deste modo se converte desinformação em informação como se se tratasse de uma luta entre o bem e o mal, deixando de parte os verdadeiros interesses em jogo já bem equacionados na guerra do Peloponeso. A meia informação e a confusão infantilizam um povo que se deixa ir na onda da meia-informação que elites interesseiras dos lucros económicos imediatos e do poder geopolítico espalham através de canais televisivos financiados por taxas quebradas aos cidadãos.

A provocação de Bucareste feita em 2008 pelos EUA e pela OTAN à Rússia de que a Ucrânia e a Geórgia se iriam tornar membros da aliança atlântica afastou toda a ilusão da construção conjunta da “casa europeia” e deu gás à confrontação por obra e graça dos EUA.

Depois seguiu-se a Revolução Maidan que culminou na eliminação da neutralidade internacional da Ucrânia. Depois do alargamento da área militar da NATO em direcção à fronteira da Federação russa, o último reduto do preço da paz entre oriente e ocidente seria a manutenção do estado de neutralidade da Ucrânia. O conflito geopolítico a decorrer depois na guerra civil ucraniana onde foram mortos 13.000 civis e 4.000 soldados atingiu o seu auge na intervenção directa da Rússia na Ucrânia em 2022. A partir de 22 de fevereiro o conflito entre os EUA/EU e a Federação russa até então a decorrer na Ucrânia foi apresentado na opinião pública europeia como mero conflito entre a Rússia e a Ucrânia e como iniciado pela Rússia.  A partir daí procurar a verdade tornou-se criminoso. Pessoas que não seguem a opinião oficial dos Media ou que a questionam são declaradas como pessoas non gratas ou como contaminadoras do próprio ninho; no meio da sociedade surge um trato social agressivo semelhante ao tratamento dos que com razão negavam a qualidade da “vacina” anti-Covid ou problematizavam a prepotência das medidas ordenadas. Aqui governos e Media aliaram-se em tipo de campanha contra direitos fundamentais dos cidadãos e toda a multidão que seguiu sem tugir nem mugir e se armou em escudo capanga (faz-tudo) das autoridades passando-se depois à ordem do dia sem sequer pensarem no mal que socialmente provocaram. A responsabilidade foi declarada anónima e a irresponsabilidade política amnistiada por ela mesma. Observei fenómeno social semelhante contra os que em 2003 eram contra a invasão do Iraque liderada por EUA e Reino Unido contra Saddam Hussein e que levou o país ao caos. Na altura os EUA mentiram dizendo que o Iraque tinha armas de destruição em massa e era uma ameaça à paz internacional. Enquanto as coisas se dão seguem-se políticas enganosas e depois de terem acontecido embora os críticos tenham tido razão não se estabelece justiça porque a “razão” fica sempre do lado do poder e da população obrigada a segui-lo e não podendo por isso retratar-se.

Um dia, Zelensky, por razões óbvias, perderá a guerra e alguns factos serão, a posteriori esclarecidos (uma vez renovado o arsenal militar faltará um dos factores implementadores da guerra!); haverá uma transfiguração de maneira a justificar-se a derrota ou pelo menos a explicá-la. Seria de esperar que então a Europa acordasse para si mesma e descobrisse também o lado bom da Rússia, para juntas construírem a “casa europeia” numa política comum de Lisboa a Moscovo própria para dar resposta a uma geopolítica pluripolar mais séria e mais justa! Pessoas críticas que, por conhecimento do emaranhado e da futilidade do conflito defendiam conversações e compromissos de paz não verão reconhecida a precisão de sua posição crítica e passarão ao esquecimento oportuno porque ao regime continuará a ser conveniente a afirmação de meias verdades e o que os porta-vozes históricos do sistema deixam nas narrativas dos acontecimentos.

O que está em jogo são interesses económicos míopes e o assegurar-se das vias de tráfico como no caso do Peloponeso. O General Raul Luís Cunha refere que “as multinacionais americanas Cargill, Du Pont e a Monsanto (empresa germano-australiana, que tem capital americano) compraram à Ucrânia (Zelensky) 17 milhões de hectares das férteis terras negras da Ucrânia e por seu lado essas empresas têm como accionistas Vanguard, Blackrock e Blackstone, ou seja, as mesmas 3 empresas financeiras que controlam quase todos os bancos do mundo, bem como todas as grandes empresas de armamento do globo”. Há também empresas alemãs e doutras nações da NATO na Ucrânia muito empenhadas no mero capital que a rica Ucrânia contem.

A Europa encontra-se numa fase de empobrecimento da sociedade por fora e por dentro. Urge a contensão da mente nas ideologias, domar os oligarcas e a fome dos falcões de guerra quer liberais quer progressistas. Então as nossas gerações futuras terão momentos mais pacíficos e mais humanos.

 

António CD Justo

Pegadas do Tempo

(1) BRICS PLUS significa mais “Cooperação Sul-Sul” e “Desdolarização” do Comércio mundial : https://www.gentedeopiniao.com.br/opiniao/o-mundo-reorganiza-se-com-um-brics-plus-a-margem-do-conflito-sistemico-socialismo-capitalismo ; comentários em https://antonio-justo.eu/?p=8741