DA PERTURBAÇÃO DA PAZ MARXISTA E DA SUA RESISTÊNCIA CONTRA BOLSONARO

A cor predominante nos meios de comunicação social

Por António Justo

Independentemente de se torcer mais pela esquerda ou pela direita, para se ter uma ideia um pouco objectiva acera da nossa praça  e poder constatar se nela domina o vermelho ou o preto bastaria fazer a comparação sobre a reacção dos Media e do pensar politicamente correcto em relação à reeleição do socialista Nicolás Maduro na Venezuela e à eleição do conservador Jair Bolsonaro no Brasil.  O facto é que também, quando o socialista Lula da Silva foi eleito no Brasil, não se ouviu na praça pública a indignação que há agora com a eleição de Bolsonaro nem se assistiu ao borborinho inquieto que reina hoje nas redacções dos Media. Daqui seria legítimo concluir que nos Media se mede com duas mediadas e na consequência é claro que os meios de comunicação social, em geral, são de tom avermelhado, só que ninguém nota!

Na opinião pública, antes a batalha era contra Trump e agora parece ser Boslonaro o bombo da festa, principalmente nos Media da Ibéria, embora ele mal tenha começado a governar.

Os críticos, à imagem do PT, esqueceram-se que Deus é brasileiro e sentem-se agora desconsolados por Bolsonaro ter colocado na ordem do dia o tema Deus-Pátria-Família, assunto que, a extrema-esquerda e socialistas militantes, já julgavam ter arrumado no caixote do lixo da História; aquela História para a qual se desejava ouvir o tocar de sinos a finados!

Como o Brasil é grande e, para ele, a História não começou nem acabou ontem, o cidadão brasileiro está consciente que, para andar, não é suficiente dar-se só um passo à esquerda, mas que para progredir é preciso ousar dar também o inevitável passo à direita e assim sucessivamente! Por outro lado, também é natural e legítimo que cada um procure o seu porto de abrigo desde que o não imponha aos outros nem tente tapar o sol com a peneira. Também é de compreender que, nestes assuntos, quem mais grita é a esquerda habituada a viver encostada ao aparelho do Estado. Mesmo assim torna-se incompreensível tanta agitação chegando-se a ter a impressão que, para muitos, o que está em questão não é tanto o bem-comum, mas mais os amigos do taxo e uma melhor oportunidade para afogar o ganso!…

Dê-se tempo a Bolsonaro de agir porque no fim lá estará o juiz povo para dar a sentença (se a infraestrutura instalada do PT lhes der oportunidade para isso!). De palavras anda o mundo cheio e os interesses de uns e outros são tão diversos que só os resultados das obras convencerão: é de esperar que Bolsonaro fomente uma democracia aberta a todos, e se aproveite da intriga europeia-americana-chinesa para dialogar com todas as forças da nação para que o Brasil  continue Brasil e assuma o significado e papel que merece ter em toda a américa latina: estabilizar a democracia e a economia  para poder assumir a liderança da américa do Sul e entrar no jogo do xadrez internacional.

Conviver com o marxismo sem ter de o abraçar

Os comentadores portugueses sempre se preocuparam com os de fora, sem se importarem grande coisa com os de dentro. Desde o Marquês de Pombal, Portugal começou a ser um atrelado ideológico da França e não deixou de o ser apesar das posteriores invasões francesas (pelo contrário!) e também os revolucionários de Abril mais não fizeram que tentar torna-lo num atrelado do marxismo e maoismo, mas o 26 de Novembro abrandou-lhes o intento.

Quando deixaremos de olhar tanto para os outros para nos observarmos mais a nós e assim possibilitarmos um pensamento próprio que não se contente apenas em consumir o génio português. Vai sendo tempo de deixarmos de pentear macacos sejam eles da direita ou da esquerda. Importantes são os macacos, o que implica a capacidade de reconhecer que o penteado é mais uma questão de moda e de ocupação; muito embora, nela é que muitos vão ganhando o seu pão.

Podemos conviver com o marxismo, mas sem termos de o abraçar! Sim, até porque a crença de cada um também é determinada pelo seu currículo. Vale sempre a pena, optar pela construção de uma História em que os actores sociais de baixo consigam um lugar entre os actores dirigentes. Este é um dos objectivos do cristianismo pelo que todos os que trabalham neste sentido deveriam irmanar-se e não combater-se.

Dos defensores do martelo e da espada

Os mesmos que condenam a cruz e a espada usam o martelo e a espada, não de mãos dadas nem de joelhos, mas de punho cerrado, em nome do seu progresso contra a “velha cultura” em vez de cristãos e socialistas se unirem na mesma luta contra a injustiça e contra a opressão venha ela de onde vier!  Ao considerarmo-nos inimigos na mesma missão de libertar os oprimidos servimo-nos a nós mesmos e as nossas vaidades e egoismos e quem perde é o oprimido que pretendemos defender!

Nós europeus ainda não perdemos aquele jeito militante de querer medir e avaliar o mundo pela nossa norma e, com esta estratégia, fomentar a intriga e guerrilhas, em nome da Democracia e dos nossos altos valores! Condena-se a cruz para se ir arvorando o martelo. É de observar um grande cinismo nos Media que levam a opinião pública a pensar como legítimo que aquilo que se condena no colonialismo de antigamente, é considerado válido e aceite nos jacobinos de hoje! Lula fez o que bem lhe apeteceu e então não havia Meios de Comunicação europeia que o julgasse. (Naturalmente que a medida de juízo que uso aqui para a esquerda radical vale também para uma direita radical a observar-se no governo turco de Erdogan que usa os mesmos meios de autoafirmação como estamos habituados a ver a esquerda).

Pouco a pouco vai-se tendo a impressão que os Media se encontram sobretudo nas mãos de uma esquerda caviar ávida e arrogante que, à mesa de um turbo-capitalismo desumano, quer comer tudo (o pão e as ideias) sem deixarem nada para os outros. Os impacientes que vivem do negócio da ideologia esquecem-se que o povo tem vigor e pachorra para alimentar uns e outros, mas de maneira ordenada, cada um na sua vez! Ou será que não se pode exigir das elites a mesma disciplina e educação que estas exigem ao povo?! Ou não será que a democracia não é feita de todos e tem de alimentar todos?! Cada um deve mamar, mas ter a paciência de esperar por sua vez: ou será que os peitos da nação estão reservados para os guerreiros?!

No jogo é preciso baralhar as bolas e ter em conta as pernas da mesa que as sustentam! Não chega ver, é preciso avaliar a força, a direcção e o impulso donde as bolas vêm para então entrar também no jogo, conscientes, muito embora, que todas as bolas têm a sua justificação. Estejamos onde estivermos, importa considerar que temos sempre pessoas à nossa frente!

O Discurso de posse do embaixador Ernesto Araújo, ministro Ernesto Araujo questiona o proselitismo jacobino ao serviço de um marxismo funcional e fala primeiramente sobre e para o Brasil, um Brasil intercultural e multirracial que não se deve envergonhar da sua história e não se quer ver perdido só no discurso proletário e por isso alerta para a rejeição de um politicamente correto ao serviço do relativismo cultural contra a civilização ocidental.  Daí esperemos que as obras correspondam ao nobre discurso, embora a natureza e a Boa Nova nos ensinem que não há campo de trigo sem joio, sejam os lavradores da direita ou da esquerda. A maior dificuldade do novo governo será a oposição que lhe virá da administração; depois de tantos anos nas mãos do PT, um novo governo, em estado de organização, terá que contar com uma resistência forte, já não de caracter popular ma sim institucional. Sim, no Brasil a revolução ainda é possível, numa Europa já não!…

Também o facto de muçulmanos viverem no Brasil e o novo governo ter apelado a não se perder a tradição cristã, não justifica que muçulmanos se levantem agora, acusando o discurso do governo como discriminatório e como estimulador do preconceito religioso, por ter feito referências às raízes judaico-cristão do Brasil; ou será que uma pessoa na própria casa terá de se negar a si mesma  pelo simples facto de ter a abertura de ter aceitado o outro como irmão?

Nos países de tradição religiosa ocidental não é comum dividir-se o mundo em “nós” de um lado e “os outros do outro”; essa preocupação é natural e justificada em países ou sociedades de maioria cultural árabe! Ou será que a agenda materialista da luta antiocidental terá de ser mais favorável à religião islâmica do que à religião cristã?  Segundo o censo demográfico (IBGE) de 2010, no Brasil há 35.167 seguidores do islamismo, mas instituições islâmicas brasileiras dizem que há 1,5 milhões muçulmanos no país.

Para que o progresso continue, torna-se óbvia a tolerância e a convivência pacífica de religiosos, ateus, crentes, descrentes e sépticos. Nas sociedades onde isto se cultiva podemos observar um grande avanço em relação a outras.

© António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

Pegadas do Tempo

 

O PENSAMENTO TAMBÉM TEM CHEIRO

Do Direito a cheirar não só o Cravo mas também a Rosa

 

António Justo

Sim, o pensamento também tem cheiro, não se fale já da cor!

A atmosfera social encontra-se cada vez mais intoxicada por falta de arejo na opinião pública e por falta de oxigenação do pensamento cativado em alfobres estanques; este é comercializado num espaço social e político reduzido à perspectiva do “ou tu, ou eu”, sem contar com o ele.

Consta que a intoxicação do pensamento se deve, em grande parte, à classe económico-política dirigente que, com os seus escribas e fariseus, ditam o que é correcto pensar ou mastigam primeiro o que será adequado à orbe social.

Vivemos na época política do pensamento supervisionado e dos grávidos com o rei na barriga! A esfera, de cérebro lavado, não pensa, mas sente e sente-se um pouco incomodada por sentir por todo o lado (na opinião pública) o mesmo cheiro: um odor a detergente barato que abafa qualquer perfume de características mais individuais ou mais diferenciadas.

Pessoas mais inocentes chegam a cogitar se este é o cheiro da igualdade democrática e outros, mais arrojados, chegam mesmo a avançar que não é o cheiro a cravo mass sim o cheirinho de um “Abril republicano”.

De facto, como tudo se tornou negócio e se anda tão movido pelo aroma da brisa revolucionária, já nem se distingue o cheiro a Abril do cheiro a Omo ou a Persil. Numa opinião pública, cada vez com mais cheiro a desinfetante, a sociedade vai vivendo da grata consolação do trabalho de diferenciar entre o cheirinho a cravo e o cheiro a rosas, também ele trazido na aragem de um outono passado. Até onde alcança a vista, veem-se grupos em fila só para poder sentir, no cheiro do arejo, o cheirinho do “clube” desejado.

Como tudo parece ir dar ao mesmo, na lavandaria pública, o espírito crítico esgota-se na discussão da nuance política de quem lava mais branco: o Omo do passado ou o Persil do presente! O problema nem vem dos cheiros nem tão pouco dos detergentes que se usam para tirar as nódoas; a solução vem do proveito e dos comerciantes, só interessados na venda do próprio produto.

Alguns republicanos – certamente os socialistas do jeito jacobino –  por terem plantado um alfobre de cravos no “jardim à beira-mar plantado”, pensam-se com  direito a todo o jardim e, quanto aos cheiros, pensam-se só eles com o privilégio não só de cheirar o cravo, mas também de discernir qual o cheiro! Encontramo-nos metidos num busílis do caneco e que nos tem atrasado a evolução dado todo o povo se sentir ser jardim; um jardim sem ninguém com direito ao monopólio da flor nem tão-pouco do cheiro.

E uma certa esquerda, mal informada, chega a dizer que, nós portugueses, não somos propensos a democracia pelo facto de continuarmos a querer definir a nossa identidade pelo jardim e não apenas por uma só flor, seja ela, muito embora, o cravo ou a rosa. Afinal, esses caras é que se encontram atrasados por não reconhecerem ainda o avanço de um povo ecológico que pretende a igualdade no reino das flores!

Já agora um aparte: confunde-se pensamento crítico com pensamento acomodado, a um ou outro regime, a uma ou outra ala política no fluir do Mainstream que propaga um rumor do ondular das opiniões ordenadas ao ritmo do 25 de abril, como se a origem de Portugal tivesse de ser redescoberta tardiamente entre as algas de algum lago parado.

Resumindo: não houve sobressaltos com a mudança de regimes: o ondulado permaneceu o mesmo, o que mudou foi só o alinhado do penteado e os barbeiros que dele se aproveitam. Numa sociedade de pensamento bem alisado até os extremos servem para mostrar a força das ondas mestras: o resto é só brilhantina e desodorizante.

O credo político correcto é tão forte como a lixivia: onde cai não há nódoa, fica tudo branco! (Por isso até há quem lamente que noutras democracias não seja permitido o uso da lixivia pura, e se use, só à mistura, com outros ingredientes!)

Numa situação assim já não interessa nem o cravo nem o cheiro a cravo ou a rosa; o que importa é quem possui o garrafão da lixívia que limpa tudo não deixando sequer o cheiro a povo.

© António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

UM DEPUTADO DO PE GANHA MAIS QUE A CHANCELER ALEMÃ

É da natureza da ovelha não remar contra a maré

Por António Justo

Nas instituições cúpula, o valor de uma pessoa e de uma instituição é, muitas vezes, avaliado pelo ordenado e não pela responsabilidade nem pelo que produz! Um deputado da União Europeia tem um vencimento de 14.727 Euros por mês. Ganha mais que a Chanceler alemã. Não há comparação entre o trabalho e a responsabilidade de uma e o do outro.

A fim de esgotar os 14.727 €, muitos deputados da União Europeia inscrevem-se na lista de presenças do parlamento sem estarem presentes, fazem-no  simplesmente e apenas para levantar dinheiro, como se pode ver aqui no link em alemão e em Servo-croata.

A EU quer a confiança dos deputados e quer tornar o constructo União Europeia atractivo para as elites. As elites é que determinam o ritmo da música! Elas estão seguras porque conscientes que são poucos os que remas contra a maré!

O problema é que a Instituição não quer controlar para que cada um, satisfeito, se sirva quanto mais puder. O povo se estivesse nas mesmas condições e tivesse a mesma oportunidade faria o mesmo; mas elites controlam o povo, o que não fazem em relação aos parceiros! As elites vivem muitas vezes do controlo do povo, mas não admitem o controlo delas mesmas e o povo é ovelha mansa!

O mais questionável nesta reportagem foi o facto de terem expulsado os jornalistas, quando faziam um serviço de controlo a que os deputados pretendem fugir e que a instituição não faz e até impede!

Reportagens como esta, de maneira geral, não correm na imprensa pública para não fomentar o populismo de baixo. Quem melhor se serve e aproveita do regime seria tolo se falasse contra ele: esta é a moral que nos governa! Por isso é muito natural temos o populismo de cima a controlar e a falar mal do populismo de baixo!

Esta parece ser a lógica da governação e da União Europeia que tem investido muito mais nas elites e nos fortes do que no povo! A elite (os nossos pastores políticos) servem água e bebem champanhe, mas o povo pensa que isto é a democracia. Contra a força, contra o oportunismo e contra a burrice não há remédio que cure! Honestidade parece ser defeito em política.

Enfim, esta é a condição social humana criada e democraticamente sustentada. Os pastores servem-se da tosquia das ovelhas para passarem melhor o seu inverno e quanto aos lobos, esses, por natureza esfomeados, até descem ao povoado!

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

QUANDO AS MULHERES ERAM OBEDIENTES

Do Branqueamento da Atualidade

Por António Justo

Até 1957 tinha validade na Alemanha o parágrafo da obediência que dava aos homens o direito de determinarem sobre a vida comum do matrimónio; isto era regulado pelo código civil entrado em vigor em 1900.

Também, até 1977, as mulheres não podiam trabalhar sem a aprovação do homem.

Até 1958 o homem tinha o direito de rescindir o contrato de trabalho de sua esposa sem o seu consentimento e sem aviso prévio.

Quanto ao direito das mulheres poderem votar, também só tardiamente lhes foi dada igualdade. Antes era a cabeça de casal que tinha o direito a votar.

O sufrágio feminino foi introduzido pela primeira vez na Nova Zelândia em 1893.

Finlândia em 1906; Alemanha em 1918; USA em 1920; Turquia em 1930 (Graças a Ataturk), Brasil em 1932, França em 1944; Portugal 1946; India em 1950; Suiça em 1971.

Nas primeiras eleições gerais foram eleitas para a Assembleia da República na Alemanha 41 mulheres o que correspondia a 9,6% dos 423 deputados.

Em 2017 a percentagem de mulheres no parlamento desceu para 30,9% no Bundestag, isto é para o nível de 1998.

Como se vê levou tempo até que se passasse da sociedade agrícola para a sociedade industrial, onde o trabalho determina o direito.

Apesar de todo o desenvolvimento, a imagem da mulher ainda continua a ser muito definida pela bunda, perna, coxa e seios; isto é, apenas como objecto de desejo.

No meio de tudo isto, verifico que a injustiça, geralmente, caminha à frente da justiça.

A razão da apresentação destes dados vem do facto de verificar que hoje se usam, muitas vezes no debate público, os males passados como argumento de justificação dos males presentes. Vejo muita gente interessada em falar mal da História de Portugal devido à colonização e em desdizer de Portugal apresentando só os dados negativos do antigo regime, como se isso, além de ser mau, fosse uma coisa só nossa e sem o contexto da época. Esta é uma estratégia da esquerda para pôr os conservadores em situação de fora de jogo!

Outros, porque não acham relevantes os defeitos dos adversários do presente, gastam o tempo a lavar a roupa suja do passado alheio, na esperança de que algo da sujidade antiga, suje o rosto do adversário atual! Este espírito social de lavadouro público já lembra uma praga social no âmbito da argumentação. E isto num tempo em que teríamos tanta roupa suja atual para lavar! Seria fraco o nosso presente se para o glorificar precisássemos de difamar o passado ou só falar dos seus erros.

Do Engano de se aldravar com a Moeda do Preconceito

As injustiças que condenamos no passado servem, muitas vezes, de condimento para adoçar as injustiças do presente, quando os erros do passado são o estrume onde nascem o trigo e o joio de hoje.

Embora vivamos hoje num mundo diferente, não é legítimo armarmo-nos em carapaus de corrida modernistas, e abusar de um espírito crítico de análise com duas medidas. Hoje condenamos, com veemência, os maus hábitos de ontem, mas achamos política e economicamente o mal que fazemos hoje, de menos relevância.

Também Pilatos passou a rasteira à multidão ilibando-se de responsabilidades lavando as mãos sujas com pretextos de inocência.

O passado instrumentalizado e não reconhecido, nos seus aspectos positivos e negativos, cria o desgaste civilizacional em que nos encontramos! É verdade que o passado não se vende, mas é abusado para um presente que se quer sem raízes nem fundamentos; por isso é mais considerado como adjectivo do que como substantivo, olhando-se só para os males dele e assim nos distrairmos dos males do presente.

Hoje somos, geralmente, obedientes ao pensamento politicamente correcto, com a agravante que, muitas vezes, o somos sem consciência disso.

© António da Cunha Duarte Justo

Pedagogo

In “Pegadas do tempo”

DOM QUIXOTE É A ELITE E SANCHO PANÇA É O POVO

Do Dom Quixote e do Sancho Pança que se é

Por António Justo

Dom Quixote (é o símbolo de idealistas, de progressistas, de sonhadores, da cidade e da elite cavaleira que quer dominar o mundo) é o patrão de Sancho Pança (símbolo do concreto, da seriedade, da tradição, dos conservadores, da realidade, do povo, amante da aldeia e da família). O poder dos Dom Quixotes não deixa os Sancho Panças fazer valer os valores que lhes corresponderia, embora o destino e interdependência sejam comuns.

O grande escritor Miguel de Cervantes com o livro Don Quixote de la Mancha criou uma parábola do que se passa também no nosso tempo e que supera o tempo histórico (ele é genial e tornou-se em fonte inspiradora de literaturas internacionais).

Num caminho de aventura entre realismo e idealismo, Sancho Pança segue Dom Quixote na esperança que este lhe dê o reinado de uma ilha que lhe prometera. Esta é a ilusão que mantém o povo arrebatado e enganado por ideologias, mas sem as quais também não poderia viver.

A vida é injusta e quem disser o contrário passa a ser também parte dos idealistas.

Facto é que Sancho Pança e Dom Quixote cavalgam juntos através dos tempos e são inseparáveis, diria, são complementares!

Aquilo que os Dons Quixotes de hoje deveriam reconhecer é que a nossa vida é e será o romance e que a virtude e vida que cultivam é colhida nos alfobres da injustiça!

Vive-se numa sociedade individualista dos Dom Quixotes, equivocados, ao pensar-se que se consegue gerir a vida sozinhos. A União Europeia, na sua acção política com as nações, não tem respeitado as duas personagens que são protótipos inseparáveis, e que pertencem mesmo ao género do Mito: a expressão da realidade social e individual na sua essência. Também progressistas lutam contra conservadores como se fosse possível uma vida social sem uns e outros, além de uns e outros cultivarem a ilusão de que é possível uma sociedade feita só de Dons Quixotes.

O povo aguenta com o perigo e com os riscos dos sonhos das elites, mas que estas não sofrem. A ideologia torna-se muitas vezes um impedimento da vida pacata e bem vivida, mas abana-a da sua pasmaceira. O povo não gosta das intrigas do poder e hoje de maneira especial não se sente bem com os Dom Quixotes que lhe querem roubar o sossego da terra e da família.

A nostalgia que amarra o Sancho povo ao Dom Quixote vem de um certo ideal professado e ingénuo pelo Dom Quixote bem servido!

© António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

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