XI PRESIDENTE DA CHINA E PUTIN PRESIDENTE DA RÚSSIA NÃO PARTICIPARÃO NA CIMEIRA DO G20 NA ÍNDIA

Xi não participará na cimeira G20 no próximo fim de semana em Nova Delhi, fazendo-se representar pelo primeiro-ministro Li Qiang; também Putin será representado pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergey Lavrov.

O presidente dos EUA, Biden, ficou desapontado com o cancelamento e o chanceler alemão Olaf Scholz lamentou tal decisão.

É a primeira vez que um chefe de Estado chinês cancela uma reunião do G20, o que pode ser interpretado como uma bofetada no anfitrião Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia. Rivalidades fronteiriças entre China e Índia poderão estar na base do cancelamento e ao mesmo tempo pode-se interpretar a ausência do presidente como um apoio indireto a Putin. Deste modo impossibilitam-se encontros de líderes mundiais à margem da cimeira na Índia, em 9 e 10 de novembro.

O Grupo dos Vinte (G20) reúne os chefes de estado e de governo dos 20 principais países industrializados e emergentes (19 países: Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, França, Alemanha, Índia, Indonésia, Itália, Japão, República da Coreia, México, Rússia, Arábia Saudita, África do Sul, Turquia, Reino Unido e Estados Unidos) e a União Europeia.

António CD Justo

Pegadas do Tempo

A GUERRA DA UCRÂNIA É A CÓPIA DA GUERRA DO PELOPONESO

Uma Guerra entre dois Modelos de Valores com previsíveis iguais Resultados

Para quem se lembra da História, na Ucrânia realiza-se em termos geopolíticos, uma guerra muito semelhante à do Peloponeso (século V a.C.) entre os dois poderes rivais (cidades-estados Atenas e Esparta).  Entre eles desafiavam-se interesses económicos, políticos, militares e de vias marítimas, também eles disputados entre dois modelos políticos de cidades-estados em que ambas queriam impor o seu domínio sobre os gregos; no caso da Ucrânia estão em causa, de maneira camuflada, o modelo capitalista e o modelo socialista que pretendem impor o seu domínio sobre os povos do mundo.

À imagem do que se deu no Peloponeso, as disputas de interesses entre a Federação russa e os Estados Unidos da América (NATO) provocaram a guerra na Ucrânia. Outras encenações e tentativas de explicação ou de ordenamento de factos ronda a   tentativa de enganar povo inocente para melhor se atingirem interesses dúbios! Na guerra do Peloponeso o domínio ateniense perdeu seguindo-se as invasões macedónicas. Na hipócrita guerra ucraniana a disputar-se entre ocidente e oriente tudo leva a crer que o Ocidente perderá em grande parte a guerra e as consequências serão a curto prazo os EUA perderem a hegemonia mundial seguindo-se um tempo de alinhamento mundial de povos para posteriormente se passar a equacionar uma geopolítica de tipo multipolar mais equilibrada e mais justa para os povos e para os Estados (isto independentemente de se entrar numa discussão de que valores).

Seria de esperar que a guerra geopolítica da Ucrânia se resolvesse na mesa de conversações e  que a Ucrânia se tornasse na última aventura americana fora da sua terra e que a sua perca, (tal como aconteceu no Afeganistão, Iraque, Síria e Líbia), se torne num aviso à China para que respeite Taiwaneses e renuncie às suas aspirações sobre Taiwan. Uma mesa das conversações de paz da Ucrânia poderia ser uma oportunidade para que as nações de preponderância universal (NATO, Rússia e China) se entendessem moderando os seus desejos de poder expansionista. A organização do bloco Brics poderia também ela tornar-se num elemento moderador de aspirações hegemónicas geopolíticas contribuindo para a construção de um mundo multipolar. Os governantes europeus parecem não estarem conscientes dos desenvolvimentos dos povos ao tentarem branquear a própria política desvalorizando o esforço dos Brics como “política do ressentimento”!

A situação dos Brics ou dos Brics+ (1) é sobretudo uma reacção à actual ordem mundial e por isso também haverá Brics + a “várias velocidades”, tal como se imagina fazer-se para a União Europeia. Uma das consequências do crescimento do G Brics será um acentuado encarecimento da vida no Ocidente com sublevações sociais, o que pode provocar maior aproximação (mistura) no estilo de governo de regimes democráticos e de regimes autoritários; por outro lado a existência do G Brics provocará grandes mudanças especialmente em África e encorajará governos e povos a juntarem-se para se poderem erguer!

O “mito” do risco de uma guerra na Europa e de que o sangue dos ucranianos defende a liberdade europeia conseguiu mover a veia nacionalista fomentada pelos Media que descontextualizam a situação ucraniana   com a ideia de que um país pequeno luta contra um país gigante quando em jogo estão dois gigantes em luta num cavalo de troia que é a Ucrânia; deste modo se converte desinformação em informação como se se tratasse de uma luta entre o bem e o mal, deixando de parte os verdadeiros interesses em jogo já bem equacionados na guerra do Peloponeso. A meia informação e a confusão infantilizam um povo que se deixa ir na onda da meia-informação que elites interesseiras dos lucros económicos imediatos e do poder geopolítico espalham através de canais televisivos financiados por taxas quebradas aos cidadãos.

A provocação de Bucareste feita em 2008 pelos EUA e pela OTAN à Rússia de que a Ucrânia e a Geórgia se iriam tornar membros da aliança atlântica afastou toda a ilusão da construção conjunta da “casa europeia” e deu gás à confrontação por obra e graça dos EUA.

Depois seguiu-se a Revolução Maidan que culminou na eliminação da neutralidade internacional da Ucrânia. Depois do alargamento da área militar da NATO em direcção à fronteira da Federação russa, o último reduto do preço da paz entre oriente e ocidente seria a manutenção do estado de neutralidade da Ucrânia. O conflito geopolítico a decorrer depois na guerra civil ucraniana onde foram mortos 13.000 civis e 4.000 soldados atingiu o seu auge na intervenção directa da Rússia na Ucrânia em 2022. A partir de 22 de fevereiro o conflito entre os EUA/EU e a Federação russa até então a decorrer na Ucrânia foi apresentado na opinião pública europeia como mero conflito entre a Rússia e a Ucrânia e como iniciado pela Rússia.  A partir daí procurar a verdade tornou-se criminoso. Pessoas que não seguem a opinião oficial dos Media ou que a questionam são declaradas como pessoas non gratas ou como contaminadoras do próprio ninho; no meio da sociedade surge um trato social agressivo semelhante ao tratamento dos que com razão negavam a qualidade da “vacina” anti-Covid ou problematizavam a prepotência das medidas ordenadas. Aqui governos e Media aliaram-se em tipo de campanha contra direitos fundamentais dos cidadãos e toda a multidão que seguiu sem tugir nem mugir e se armou em escudo capanga (faz-tudo) das autoridades passando-se depois à ordem do dia sem sequer pensarem no mal que socialmente provocaram. A responsabilidade foi declarada anónima e a irresponsabilidade política amnistiada por ela mesma. Observei fenómeno social semelhante contra os que em 2003 eram contra a invasão do Iraque liderada por EUA e Reino Unido contra Saddam Hussein e que levou o país ao caos. Na altura os EUA mentiram dizendo que o Iraque tinha armas de destruição em massa e era uma ameaça à paz internacional. Enquanto as coisas se dão seguem-se políticas enganosas e depois de terem acontecido embora os críticos tenham tido razão não se estabelece justiça porque a “razão” fica sempre do lado do poder e da população obrigada a segui-lo e não podendo por isso retratar-se.

Um dia, Zelensky, por razões óbvias, perderá a guerra e alguns factos serão, a posteriori esclarecidos (uma vez renovado o arsenal militar faltará um dos factores implementadores da guerra!); haverá uma transfiguração de maneira a justificar-se a derrota ou pelo menos a explicá-la. Seria de esperar que então a Europa acordasse para si mesma e descobrisse também o lado bom da Rússia, para juntas construírem a “casa europeia” numa política comum de Lisboa a Moscovo própria para dar resposta a uma geopolítica pluripolar mais séria e mais justa! Pessoas críticas que, por conhecimento do emaranhado e da futilidade do conflito defendiam conversações e compromissos de paz não verão reconhecida a precisão de sua posição crítica e passarão ao esquecimento oportuno porque ao regime continuará a ser conveniente a afirmação de meias verdades e o que os porta-vozes históricos do sistema deixam nas narrativas dos acontecimentos.

O que está em jogo são interesses económicos míopes e o assegurar-se das vias de tráfico como no caso do Peloponeso. O General Raul Luís Cunha refere que “as multinacionais americanas Cargill, Du Pont e a Monsanto (empresa germano-australiana, que tem capital americano) compraram à Ucrânia (Zelensky) 17 milhões de hectares das férteis terras negras da Ucrânia e por seu lado essas empresas têm como accionistas Vanguard, Blackrock e Blackstone, ou seja, as mesmas 3 empresas financeiras que controlam quase todos os bancos do mundo, bem como todas as grandes empresas de armamento do globo”. Há também empresas alemãs e doutras nações da NATO na Ucrânia muito empenhadas no mero capital que a rica Ucrânia contem.

A Europa encontra-se numa fase de empobrecimento da sociedade por fora e por dentro. Urge a contensão da mente nas ideologias, domar os oligarcas e a fome dos falcões de guerra quer liberais quer progressistas. Então as nossas gerações futuras terão momentos mais pacíficos e mais humanos.

 

António CD Justo

Pegadas do Tempo

(1) BRICS PLUS significa mais “Cooperação Sul-Sul” e “Desdolarização” do Comércio mundial : https://www.gentedeopiniao.com.br/opiniao/o-mundo-reorganiza-se-com-um-brics-plus-a-margem-do-conflito-sistemico-socialismo-capitalismo ; comentários em https://antonio-justo.eu/?p=8741

O MUNDO REORGANIZA-SE COM UM BRICS PLUS À MARGEM DO CONFLITO SISTÉMICO SOCIALISMO-CAPITALISMO

 

BRICS PLUS significa mais “Cooperação Sul-Sul” e “Desdolarização” do Comércio mundial

A guerra substituta a decorrer na Ucrânia e a guerra económica apressam o alinhamento do mundo em torno do grupo G7 e dos países emergentes no grupo BRICS PLUS. O conflito sistémico entre estados socialistas e estados capitalistas que se expressa na Ucrânia não impressionou as ações do G BRICS que viu o BRICS (5) aumentado para o BRIKS PLUS (11). Com o erguer-se do grupo BRIKS PLUS, o sonho globalista de um mundo monopolar sob a égide da NATO esvai-se no sentido de um mundo multipolar, de caracter mais pragmático e menos ideológico, facto este que obrigará as nações a novas estratégias de comércio internacional; a hegemonia ocidental será, porém, um osso duro de roer; o grupo surgente pode contribuir para se ir criando um mundo mais humano em termos de relações internacionais.

O “Brics plus”, em termos geopolíticos, é um sinal positivo que irá proporcionar uma reorganização da ordem mundial já fora do tradicional conflito sistémico socialismo-capitalismo. Nele se nota a marca mais própria do Sul (África negra + Ásia) que é organizar-se em termos utilitários pragmáticos e não tanto em termos de doutrina ou ideologia (valores) como é mais próprio da nossa região nórdica e da arábica.

Para nós, ocidentais, a nova situação político-económica revelar-se-á como desagradável porque teremos de abandonar a posição de determinar as nossas condições e padrões ao resto do globo. Com a afirmação do G Brics plus os parceiros internacionais serão levados mais a sério e ver-se-ão de cara a cara num mundo em que o que mais conta é o poder económico e militar. Espera-se que as relações internacionais sejam mais determinadas pelos interesses e encontros de povos do que pelos interesses ainda vigentes e trocados entre as elites dos diversos povos.

A15.ª Cimeira dos BRICS (Brasil, Rússia; Índia, China e África do Sul) realizada em Joanesburgo de 22 a 24 de agosto expressou a aspiração dos países emergentes a tornarem-se num contrapeso do domínio unipolar americano e manifesta a vontade de emancipação num momento histórico, em que no jogo geopolítico em curso, passarão  a valer como trunfos não só os azes mas também as biscas, reis, valetes e damas, e em certo sentido também passa a contar um pouco a arraia miúda.

O BRICS Business Forum tenta ser a contrapartida do G7 que domina a economia mundial expressa no Dólar americano como moeda de transações. Manifesta-se a nível económico e político a vontade de uma geopolítica bipartida (bipolar) num primeiro estádio para um dia se chegara uma política multipolar que evite o globalismo unipolar. Neste sentido o G Brics por iniciativa da Rússia pretende a possibilidade de transações comerciais internacionais na moeda nacional de cada país, o que se revelará muito difícil atendendo à instabilidade das diferentes moedas! O presidente brasileiro Lula perguntava-se:” Por que é que o Brasil precisa de Dólares americanos para fazer comércio com a China… com a Argentina?”

O Ocidente que esperava manter alguns trunfos divisionistas no grupo, devido à concorrência de interesses da Índia-África do Sul dentro dos países do G BRIKS, viu-se desiludido ao constatar que de uma só vez o grupo se viu duplicado ao anunciar a adição de 6 novos membros ao grupo em 1º de janeiro de 2024. Os novos membros serão Arábia Saudita, Irão, Emirados Árabes Unidos, Argentina, Egito e Etiópia. Os Emirados Árabes Unidos já faziam parte do banco dos BRICS. Como resultado, o grupo dos 11 ganha peso geopolítico e representa um forte contrapeso do grupo G7.  Porém o Banco  de Desenvolvimento do G Brics com sede em Xangai terá muita dificuldade em afirmar-se devido às moedas locais que não oferecem estabilidade;  a hegemonia ocidental ver-se-á obrigada a fazer aferimentos contratuais mas perdurará atendendo às suas redes estáveis nos seu sistema bancário, produção e redes de distribuição económica e de presença militar estratégica.

Segundo informações do Governo sul-africano, o G BRICS representa mais de 42% da população mundial, 30% do território do planeta e 18% do comércio global. Segundo o presidente brasileiro Lula da Silva, o grupo dos 11 produzirá até 37 % do produto interno bruto global (PIB) em paridade de poder de compra e representará 46 % da população mundial.

Dos 40 estados pretendentes a entrar no G Brics, 23 tinham manifestado firme interesse na adesão reconhecendo no G Brics o centro de poder do sul global.  Na lista encontram-se países como Indonésia, Turquia, Kuwait, Nigéria, Uruguai e Bangladesh.

 

A Rússia, a China e o Brasil empenhados na ampliação do grupo Brics conseguiram assim ver a sua iniciativa premiada no seu alargamento para o “Brics plus”. Quanto mais estados tiverem, mais poder terão para se afastarem do dólar, que consideram instrumento de lutas políticas pelo poder. Putin também apoia a entrada da Bielorrússia como membro do grupo.

A China afirmou que defendia a expansão do grupo Brics, no sentido de se estabelecer uma “ordem económica mundial mais justa”. A China quer passar para o centro da ordem mundial.

De destacar no fórum foi o facto da Índia aceitar o “Brics plus” porque o seu alargamento corresponde ao aumento da influência da China na região o que poderá tornar-se desfavorável para a Índia num espaço asiático onde China e Índia são concorrentes. A Índia estaria mais interessada na cooperação entre países em desenvolvimento e emergentes e em manter boas relações com os EUA e a Europa que recebem 30% das suas exportações.

A África do Sul queria ver no grupo Brics um jogo de caracter mais diplomático não considerando o G Brics como pró-rússia nem como antiocidental. Interessante foi o facto de a África do Sul ter apoiado o BRICS PLUS que considerava mais como “cooperação Sul-Sul”.

O Irão considera a sua inclusão no grupo Brics como uma “vitória estratégica para a política externa iraniana” e a Argentina vê nele uma “nova oportunidade”.

O Brasil defendeu sempre o “Brics plus” como contrapeso ao grupo G7. Lula criticou o Fundo Monetário Internacional (FMI) por muitas vezes ajudar a “afundar países”. A Argentina deve US$ 44 bilhões ao FMI. Criar uma moeda comum independente de dólares, como o Brasil deseja, será difícil devido às diferentes economias dos membros do G Brics..

O Ocidente considera que os estados do Brics plus não têm orientações políticas, o que dificulta o seu agir futuro; como o conflito oeste-leste se está a transformar em conflito norte-sul, tudo justifica a necessidade da autoafirmação do G Brics plus. Com o G Brics plus, a comunidade ocidental passa a ter um sério concorrente. Por isso o Ocidente tenta não perder parceiros comerciais como o Brasil, a Índia e a África do Sul.

A fusão dos estados Brics, apesar das diferentes situações, ao centrar-se na defesa de interesses pragmáticos aumenta a esperança de que a via ideológica possa ser ultrapassada de modo a que o que é bom ou mau no capitalismo já não tenha de ser ditado pelo marxismo e por outro lado surja a possibilidade de o capitalismo receber um rosto mais humano.

O grupo das economias emergentes BRICS PLUS reunir-se-á em outubro de 2024, na cidade de Kazan, Rússia. Neste contexto será interessante observar o desenrolar da reunião do G 20 (um grupo de importantes países industriais e emergentes) na Índia, nos dias 9 e 10 de setembro. Sem sonho não há vida!

António CD Justo

Pegadas do tempo

 

 

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL – UM AVANÇO REVOLUCIONÁRIO DO NOSSO MUNDO

 

Que diz a Inteligência Artificial (IA) sobre si mesma e sobre seus Perigos e Chances?

 

As novas tecnologias estão a mudar substancialmente as posturas dos governos e a maneira de pensar e agir das populações. A Inteligência Artificial (CHATGPT entre outras) é uma mais valia e será sempre um instrumento importante, de apoio nas mãos de quem a usar. O cidadão terá de manter a supervisão sobre ela analisando-a, ordenando-a e corrigindo-a, pois, a Inteligência Artificial estabelece interações, mas não conhece nenhuma verdade nem relação humana; ela apenas processa informações não podendo avaliar sobre fontes confiáveis nem pesquisar. A inteligência artificial obrigará a sociedade civil e formadores de opinião a serem mais responsáveis porque com ela as nossas elites serão as que mais dela se aproveitarão e, na consequência, tentarão subordinar as populações a governos tecnocratas centralistas.

Não queremos um estado de vigilância como o que já é praticado na China. O capitalismo de vigilância está-se já tornando muito incómodo devido ao monitoramento do dinheiro pelos bancos em parceria com o Estado, e o mesmo se está dando com o espaço digital: A junção dos fatos sugere que está em via o controlo absoluto do indivíduo cuja liberdade será circunstanciada ao desenho de suas contas bancárias e digitais. Para que a monitorização se torne ainda mais eficiente, o dinheiro também será gradualmente eliminado. Cada vez se assiste mais à supervisão do cidadão através de bancos e de tecnologia digital em enquadramentos políticos formando-se uma troica adversa à democracia. O espírito de controlo é tal que as fronteiras entre ameaça e serviço estão desaparecendo do agir político. Por outro lado, quem observa o desenvolvimento dos Estados percebe que cada vez há mais problemas que ficam fora do alcance da sociedade.

No espaço público, a informação é tanta que se desautoriza a si mesma, valorizando sobretudo os seus canais de transmissão. Paulatinamente, é construído um sistema de mentira que serve os detentores do sistema e ao mesmo tempo encontra desculpa popular porque impercetível ou servidora de interesses momentâneos. Além disso, as elites do sistema contam com a cumplicidade dos sobrecarregados da sociedade que têm de se poupar ao fardo da autorreflexão, também devido a razões de luta pelo próprio sobreviver. Todo o mundo sabe que é desconfortável falar detalhadamente sobre como resolver problemas em público; por isso se formam cada vez mais núcleos pensantes (fábricas de pensamento) de recurso que funcionam como almofadas de proteção de responsabilização.

Para dar uma ideia mais aproximada sobre as questões da IA (Inteligência Artificial) apresento aqui a resposta da IA a duas perguntas que lhe fiz: 1.ª Quais serão as consequências da IA ​​para o futuro? 2.ª Não será que a IA contribui para uma manipulação do humano ao pretender fundamentar a sua informação só em dados na pretensão de não ter opiniões pessoais, sentimentos nem preconceitos? Não contribui para criar um humano tipo máquina? Resposta da IA relativa à primeira pergunta abrangendo vários âmbitos:

“As implicações da inteligência artificial (IA) para o futuro são diversas e complexas. É importante notar que as consequências reais dependerão fortemente do desenvolvimento e utilização da tecnologia de IA. Aqui estão algumas das possíveis consequências que a IA pode ter no futuro:

Impacto económico:

Mudanças no mercado de trabalho: a IA pode automatizar certas tarefas, o que pode levar a mudanças no mercado de trabalho. Alguns empregos poderiam ser automatizados, ao mesmo tempo que poderiam surgir novos empregos no domínio do desenvolvimento e manutenção da IA.  Crescimento económico: A IA tem potencial para aumentar a produtividade em muitas indústrias e estimular a inovação, o que pode levar ao crescimento económico.

Impacto social:

Ética e confiança: A IA levanta questões éticas, especialmente em torno da privacidade, discriminação e segurança. A confiança nos sistemas de IA é crucial para garantir a sua adoção generalizada.

Educação e adaptação ao local de trabalho: A difusão da IA ​​pode exigir a adaptação dos sistemas educativos para preparar as pessoas para novos campos de carreira. Os programas de reciclagem poderiam tornar-se mais importantes.

Exclusão digital: Existe o risco de que aqueles que não têm acesso à tecnologia de IA ou não possuem as competências necessárias sejam deixados para trás.

Implicações políticas:

Regulamentação: A regulamentação da IA ​​desempenhará um papel importante para garantir que ela seja usada de forma segura e ética. Isto poderia levar a tensões políticas, especialmente nas relações internacionais.

Segurança e Defesa: A IA pode ser utilizada em aplicações militares, colocando novos desafios para a segurança nacional e internacional.

Impacto ambiental:

Consumo de energia: alguns modelos de IA requerem grandes quantidades de poder de processamento, o que pode aumentar o consumo de energia. O desenvolvimento de tecnologias de IA energeticamente eficientes está, portanto, a tornar-se mais importante.

Assistência médica:

Diagnóstico e tratamento: A IA pode desempenhar um papel importante nos cuidados de saúde no diagnóstico e tratamento de doenças. Isso poderia melhorar a precisão e a eficiência.

Educação:

Aprendizagem personalizada: a IA pode permitir uma educação personalizada, onde o ensino é adaptado às necessidades exclusivas dos alunos.

Artes e Cultura:

IA criativa: a IA pode ser usada nas artes e na cultura para gerar ou aprimorar música, arte e literatura.

Esta lista não é de forma alguma exaustiva e as consequências reais dependerão de muitos factores, incluindo decisões políticas, desenvolvimentos tecnológicos e a própria sociedade. É importante ser proactivo na gestão destas mudanças e garantir que os benefícios da IA ​​sejam amplamente acessíveis e os riscos sejam minimizados.”

Quanto à resposta à segunda pergunta a IA revelou: “É uma preocupação válida. A inteligência artificial (IA) pode induzir em alguns riscos éticos e sociais, incluindo a manipulação do ser humano e a criação de um “tipo humano máquina”. Vou explicar alguns pontos relevantes para essa discussão: A IA ao ser alimentada por dados e estes serem

Viés nos dados: A IA é alimentada por dados, e se esses dados forem enviesados ou refletirem preconceitos humanos, a IA também pode reproduzir esses preconceitos. Isso pode levar a decisões discriminatórias e injustas em várias áreas, como recrutamento, sistema judicial e assistência médica.

Limitação de perspectivas: Ao tentar ser neutra e não ter opiniões pessoais, a IA pode não capturar completamente as nuances e complexidades do mundo. Isso pode levar a respostas simplistas ou falhas em considerar aspectos importantes que não podem ser quantificados em dados.

Manipulação da informação: A IA pode ser usada para manipular informações e criar narrativas persuasivas, o que levanta questões sobre o controle e o poder de quem controla essas tecnologias.

Dependência excessiva: À medida que a IA se torna mais integrada em várias esferas da vida humana, pode haver uma tendência a depender excessivamente dela para tomadas de decisões importantes, prejudicando a autonomia e o julgamento humano.

Perda de habilidades humanas: Se as pessoas se acostumarem a depender exclusivamente da IA para resolver problemas e tomar decisões, podem perder habilidades cruciais, como pensamento crítico, empatia e criatividade. Para enfrentar esses desafios, é essencial que a IA seja desenvolvida e utilizada de forma ética, transparente e responsável. É fundamental que os criadores e usuários da IA estejam cientes dos possíveis vieses nos dados e adotem medidas para mitigá-los. Além disso, é importante considerar a inclusão de uma diversidade de perspectivas humanas no desenvolvimento de sistemas de IA, para evitar a exclusão e a marginalização de grupos. Também é necessário desenvolver regulamentações e políticas adequadas para governar o uso da IA, bem como promover a educação e a literacia digital para que as pessoas possam entender as capacidades e limitações da tecnologia e fazer escolhas informadas.

Em última análise, a IA pode trazer benefícios significativos para a humanidade, mas é essencial abordar essas preocupações éticas para garantir que ela seja uma força positiva e não leve à criação de um “tipo humano máquina” que abdique de suas características e valores humanos essenciais.”

No meio de tudo isto trata-se de um instrumento válido, mas que exige do ser humano ainda melhores estratégias para continuar dignamente no mundo da procura da verdade e não se deixar manipular por meios tecnológicos nem por elites sociais que se apoderem deles.

Um mundo máquina não tem opiniões pessoais, sentimentos ou preconceitos (torna-se questionável ao apresentar o seu parecer como máquina inteligente dado este depender das informações que também a IA se serve o que contradiz a sua neutralidade e objetividade. Tal como as pessoas, a IA forma a sua informação com base no conhecimento fornecido anteriormente e quanto ao humano, a nível mental, não lhe ficará senão a procura permanente da verdade num processo feito de confiança e dúvida.

A tarefa será “humanizar” a IA de maneira a ela tornar-se numa assistente virtual nossa aliada.

António CD Justo

Pegadas do Tempo

MAIORIA DOS CIDADÃOS ALEMÃES ACHA QUE O ESTADO SE ENCONTRA DEMASIADO ESTRESSADO

As Ondas estadunidenses movem a Alemanha e as Ondas alemãs movem a Europa

A falta de confiança na capacidade de ação do governo alastra-se como fogo nas populações da Alemanha e da União Europeia. Segundo uma investigação publicada em 15 de agosto de 2023 pelo instituto “Pesquisa Forsa”, encomendada pela Associação dos Funcionários Públicos Alemães (DBB), apenas 27% dos entrevistados acham que o Estado é capaz de cumprir as suas atribuições. 69% consideram-no sobrecarregado.

A população encontra-se cada vez mais dividida por falta de confiança na liderança do governo. O presidente da DBB, Ulrich Silberbach, atesta que “os servidores públicos é que têm de suportar a raiva do público, e mais de 54% deles foram abusados ​​verbalmente, ameaçados ou agredidos fisicamente” (HNA 16.08). A imagem do Estado é particularmente má no leste da Alemanha, onde 77% dos entrevistados estão convencidos de que o Estado se encontra estressado em relação às suas tarefas e problemas existentes – no Oeste são 68% dos inquiridos.

Quem se manifesta mais benevolente no reconhecimento da capacidade do estado para cumprir as suas tarefas são os apoiantes dos partidos da coligação governamental: 52% dos apoiantes dos Verdes, 46% dos do SPD, 34% dos do FDP; já na oposição a aprovação desce para 22% dos apoiantes da CDU e CSU e para 6% dos apoiantes da AfD. Em sondagens reguares, a AfD já consegue maiores valores que o SPD e que os Verdes.

As maiores exigências situam-se nos domínios da política de asilo e refugiados 26%; escola e educação 19%; clima e ambiente 17%.

Como tarefa mais importante do Estado é afirmada a manutenção da justiça social na sociedade. Os investimentos na proteção do clima e na expansão das energias renováveis ​​também foram considerados importantes.

A proteção do clima foi mencionada como tarefa muito importante por 47% na parte da Alemanha ocidental e 37% na parte Ooriental. 50% no Leste e 37% no Oeste consideram muito importante o alívio do peso dos cidadãos devido ao aumento dos preços. A necessidade de criação de condições de vida iguais na cidade e no campo foi afirmada no Leste por 43% e no Oeste por 27%.

Tudo isto tem a ver com uma política europeia de sol poente, carente de sentido e de significado próprio. No meu entender, os sofrimentos do povo europeu expressam não só a crise sistémica (geopolítica) em que nos encontramos, mas corresponde também às dores de um parto fracassado.

Em parte, as ondas estadunidenses movem a Alemanha e as alemãs movem a Europa. A Alemanha sabe-se de mãos atadas aos aliados vencedores (especialmente aos Estados Unidos devido ao Tratado Dois-Mais-Quatro, celebrado em Moscovo em 12 de setembro de 1990 (1) e por isso sente-se também inconscientemente mal e cria, além disso, um certo mal-estar na Europa devido à sua política de refugiados (iniciada unilateralidade em 2015!), à sua política de energia e de ambiente e também à política de proteção financeira das suas grandes empresas embora feita com parcerias internacionais.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

(1) As tropas soviéticas sairiam do país até ao final de 1994. A Alemanha concordou em limitar as suas forças armadas a no máximo 370 mil homens. O país também confirmou a sua renúncia à fabricação e posse de armas nucleares, biológicas e químicas, reiterando que o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares continuaria a vincular a Alemanha reunificada. Determinou-se, também, a proibição à presença de forças armadas estrangeiras e armas nucleares no território da antiga Alemanha Oriental. https://www.bpb.de/kurz-knapp/hintergrund-aktuell/211841/vor-30-jahren-abschluss-des-zwei-plus-vier-vertrags/ Ver também o resumo da Wikipédia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_Dois_Mais_Quatro

A explicação para o nome incomum do tratado (2+4) é bastante simples: seis estados estiveram envolvidos nas negociações do tratado. Dois estados alemães, a República Federal da Alemanha e a RDA, e as quatro potências vitoriosas da Segunda Guerra Mundial: EUA, Grã-Bretanha, França e a antiga União Soviética.