Capitalismo de Estado contra Turbo-capitalismo


ECONOMIA CHINESA FERE O CORAÇÃO DO OCIDENTE

António Justo

O regime chinês reúne numa só mão o poder político e económico, tornando-se agora, com o seu capitalismo de estado, numa ameaça para o capitalismo ocidental não regulado. Este passe de rasteira ao capitalismo internacional leva, por seu lado, os estados livres a produzir leis proteccionistas das suas economias para impedirem a fuga do capital, produzido pelos operários, para nações concorrentes. A política de expansão chinesa, permite-se transgredir leis internacionais de mercado e mesmo o roubo de tecnologias.


À maneira capitalista, compra companhias, técnica, know-how (europeu e americano) e as riquezas do solo (África, Austrália e América Latina). Por outro lado, em nome da paz social na China, mantém a sua moeda (Yuan) subvalorizada, beneficiando assim a sua exportação. Pior ainda, o Estado subvenciona as firmas nacionais com créditos baratos e discrimina os investidores estrangeiros no acesso às matérias-primas e na concessão de empreitadas públicas. Por outro lado os mesmos países vêem-se obrigados a comprar produtos chineses por serem mais baratos. Deste modo vão iludindo a contínua baixa do poder de compra do povo ocidental.


A EU já pensa, como fez a USA, em tomar medidas proteccionistas também: discriminação contra discriminação.


Os chineses fazem o que os japoneses fizeram: com os seus estudantes, copiaram as tecnologias nas universidades ocidentais e depois puseram os seus produtos a preços concorrentes no ocidente. Ao contrário dos chineses consideravam os concorrentes como parceiros, respeitando as regras do jogo para os grandes.


Provocaram a Crise têxtil europeia como provocarão a crise automóvel


A revista alemã de finanças “Manegermagazin” de 12/10, já teme o futuro da economia ocidental, descreve a agressão chinesa no sector financeiro internacional. Refere a aquisição ou participação de empresas chinesas no estrangeiro (num valor que vai de um bilião – cem mil milhões- a 14,3 biliões de dólares por firma) das seguintes empresas: Rio Tinto na Argentina, Addax (Inglaterra),Bridas Corp (Argentina), Itaminas (Brasil), Plena Transmissoras (Btasil), Peregrino Ölfeld (Brasil), Penn West (Canadá), Syncrude (Canadá), Volvo (Suécia), Arrow Energy (Austrália), Bauxit Mine (Gana), Reps Brazil (Brasil), Ölfeld Texas (USA), Nigerien Telecom (Nigéria), Fortis-Sparte (USA). Destas firmas 11 são do ramo das matérias-primas, uma da energia, uma automóvel, uma Telecom e uma de Bancos. Todos estes sectores determinantes para o futuro.


Por estes andares, a Europa encontra-se a caminho de se tornar museu enquanto a China se tornará o centro da produção.

A economia dirigida do mercado causa dores de cabeça não só à grandes multinacionais como aos Estados do Ocidente. A China concorre hoje com produtos de terceira categoria com as pequenas e médias empresas ocidentais, amanhã concorrerá com os produtos de primeira classe das multinacionais europeias e americanas.


O monopolista estado aprendeu as regras do turbo-capitalismo seguindo uma estratégia desleal. Mas o que é mal dum lugar pode ser bem do outro.


Será que o capitalismo liberal, para reagir, terá de voltar aos nacionalismos de ontem ou preparáramo-nos para o conflito de civilizações? Este será o caso, segundo a ordem das coisas na História: primeiro deu-se o conflito entre tribos, depois entre nações e o último será entre regiões ou civilizações. O maior conflito que se avizinha, com graves consequências para a escalada dos preços e conflitos dar-se-á no sector das matérias-primas.


Uma economia nacionalista dirigista criará grandes problemas ao capitalismo liberalista internacional e ao globalismo. Avizinham-se tempos altos para as ideologias. À revolução política chinesa segue-se a expansão económica e ao bem-estar europeu o incómodo social.


Na história dos imperialismos aflora-se um novo imperialismo. O critério da sua avaliação orientar-se-á pela participação do povo na produção e no consumo. O certo é que o socialismo primeiro luta pela libertação e quando se encontra no poder luta pela ideologia que reprime a liberdade. Uma perspectiva a partir da precariedade não se preocupa com direitos humanos, com participação popular nem com a corrupção. Todas as nomenclaturas terão o indivíduo como concorrente e corrector.


Semelhante ao Islão, entra nos estados pela porta traseira, para depois, do alto do seu mirante, exigir e ditar condições. Servem-se da fraqueza de sistemas, Estados e firmas para se afirmarem, com as suas companhias estatais, nas partes fracas do Ocidente. Aprenderam depressa a estratégia ocidental, o que irá emperrar a realidade democrática ocidental. Não fosse a História um palco de colonialismos e imperialismos sucessivos e a sua plataforma o sempre povo.


Na sua estratégia de invadir os países do euro, os bancos nacionais chineses concedem créditos mais baratos aos estados em dificuldade, investindo, sobretudo, na construção de estradas, caminhos-de-ferro e aeroportos. Entram em Estados pobres com um mínimo de capital procurando tirar o maior lucro económico e ganhar o máximo de influência política como se viu no último apelo chinês ao boicote da celebração Nobel.


Já aplicou esta estratégia de apoio na Grécia e agora faz o mesmo em Portugal. Esta é uma novidade que poderá ser, numa primeira fase, interessante para economias fracas. Será, mais que isso, um contributo para disciplinar um liberalismo capitalista feroz. De resto ficará a velha praxe: Da luta dos grandes sempre restam algumas migalhas para os pequenos!


A Alemanha é o país da EU que está mais preparado para resistir à concorrência barata chinesa. Apesar disso, os grandes empresários alemães queixam-se e já vêem nuvens no horizonte.


António da Cunha Duarte Justo

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