Refinanciamento de 13,5 Bilhões de € para Portugal em 2015

Portugal vítima do “Polvo” da EU e do Estado

António Justo

O calendário europeu, de 2013 a 2015, prevê para Maio de 2014 o final do programa de socorro (EFSF) para Portugal e a necessidade de um novo pacote de apoio; além disto prognostica para 2014 uma dívida de 134% do PIB. Prevê também para Novembro de 2015 uma subida da necessidade de refinanciamento de 13,5 mil milhões de €. (Cf. Bloomberg Morgan Stanley)

Portugal continua a trabalhar para o boneco sem conceito nem projecto próprio; à deriva, como dantes, procura apenas cumprir os interesses da alta finança. A crise leva as pessoas a gastar menos e consequentemente a aumentar a crise. O fruto do trabalho vai para os credores e estes não investem em Portugal. Uma fraude gigantesca a alta escala; o rei vai nu e tudo fala dos seus trajos.

Já há muitos anos que se diz que a EU financiou vários países da zona euro para estes deixarem de produzir, especialmente nos sectores da agricultura, indústria do calçado, pescas e têxteis. Assim a EU pôde dar lugar à entrada dos têxteis chineses e a produtos simples de consumo, para as nações fortes europeias poderem, em contrapartida, exportar maquinaria e tecnologia cara para a China. Mais grave ainda: muitas das grandes obras realizadas nas infraestruturas nacionais foram efectuadas pelas grandes empresas das mesmas potências europeias e muitos dos fundos europeus foram empregues para financiar grandes empresas estrangeiras que depois de cumprido o prazo foram recolher os fundos de outros países candidatos à EU, deixando na ruina as antigas pequenas empresas.

A EU subornou a classe política das pequenas nações

A EU iludiu o povo português e subornou os nossos políticos, enviando para Portugal dinheiro para as infraestruturas e facilitando o acesso dos nossos boys a altos cargos nas instituições europeias e mundiais (José Durão Barroso, desde 2004 presidente da Comissão Europeia, Victor Constâncio, vice-presidente do Banco Europeu Central, António Guterres, Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, desde 2005).

O Estado esbanjou muito do dinheiro em projectos megalómanos (Expo 98, construção de autoestradas supérfluas como a A 32, construção de estádios de prestígio para o campeonato 2004 e que exigem manutenção, etc.), não se preocupando em investir na produção. Os fundos comunitários e os subsídios foram usados para fortalecerem os interesses dos países fortes europeus e acomodar uma mafia branca em torno do Estado como as PPPs. Esta foi corrompida pelo dinheiro e fomentou a corrupção a nível de administração pública sustentada pelas parcerias público-privadas (PPPs) e obras fomentadoras de luvas e não de produção. Um pequeno exemplo: uma cidade portuguesa (Espinho) com 30 mil habitantes dá-se ao luxo de manter prédios de prestígio e uma biblioteca com melhores condições do que qualquer biblioteca da cidade de Kassel na Alemanha, com 200 mil habitantes, onde vivo. A ingenuidade portuguesa aliada a arrivistas oportunistas deixou-se levar por quem planeia o futuro (trama a vida) a longo prazo e conta com a miopia dos políticos das economias mais fracas; estas, iludidas com o dinheiro da ocasião, não se preocuparam em investir nas pequenas e médias empresas que são aquelas que produzem o pão que se come e também a riqueza da nação!

Políticos das várias cores repetem-se uns aos outros

Da política europeia beneficiaram especialmente as infraestruturas europeias, as potências europeias e a classe política.

Os portugueses foram levados na cantiga e em vez de reconhecerem o embuste para que todos concorreram contentam-se ao jogo do empurra das culpas. Uma geração de políticos corruptos com outros parasitas do Estado continua ilesa e sem ser posta em tribunal.

Agora, ouvem-se na praça pública, políticos a chorar lágrimas de crocodilo, numa tentativa de regar os próprios jardins partidários e de desviar a culpa para fora quando deveriam iniciar processos contra muitos dos investimentos ambíguos e falcatruas a que deram cobertura. Depois da festa, na TV, assiste-se ao roto a dar conselhos ao esfarrapado, numa conversa a lusco-fusco. À maneira de comício, juntam-se as comadres a lamentar meias verdades, nesta celebração de carpideiras que choram o defunto por elas envenenado.

A conversa repete-se quase textualmente porque o povo tem memória curta. Hoje, como ontem, pede-se ao povo que “aperte o cinto”. O discurso dos governantes de hoje faz lembrar os tempos em que Mário Soares defendia os planos do FMI e dizia: “Portugal habituara-se a viver, demasiado tempo, acima dos seus meios e recursos”; “O desemprego e os salários em atraso, isso é uma questão das empresas e não do Estado. Isso é uma questão que faz parte do livre jogo das empresas e dos trabalhadores (…). O Estado só deve garantir o subsídio de desemprego”  in JN, 28 de Abril de 1984. A 19 de Fevereiro de 1984, o mesmo Mário, já tinha dito ao DN: “Posso garantir que não irá faltar aos portugueses nem trabalho nem salários”. A 21 de Abril de 1984 era chamado à responsabilidade pela revista alemã Der Spiegel onde se escusou dizendo: “A imprensa portuguesa ainda não se habituou suficientemente à democracia e é completamente irresponsável. Ela dá uma imagem completamente falsa.”  

Lobos vestidos de cordeiro (de ontem e de hoje) fizeram tudo para nos colocarem nas mãos do capitalismo estrangeiro e agora condenam-no sem se retratarem (à laia de Manuel da Costa) não iniciando processos criminais contra os cúmplices que conhecem. Puseram os portugueses a trabalhar para a China e para os grandes senhores universais e falam duma EU que desconhecem.

A opinião pública portuguesa encontra-se cada vez mais histérica devido à hegemonia do discurso partidário. Precisamos de um discurso já não em termos de direita ou de esquerda mas em termos de economia nacional; precisamos de mais iniciativas no sentido dos países da lusofonia.

Assiste-se a uma discussão pela discussão, sem perspectiva nem base em dados económicos objectivos, muitas vezes à caça de almas penadas que se encontram nas zonas húmidas dos partidos. Critica-se um governo, elege-se outro, critica-se o eleito e assim por diante; tudo não passa de uma fantochada, de uma discussão à la carte, à base de dados em cima dos joelhos. Tudo fala contra tudo, partido contra partido, tudo personaliza os problemas, sem se interessar por compreender que a corrupção e a crise são institucionais e que é falsa a esperança que assenta na fraqueza do outro. Tudo conversa na expectativa de adiar uma situação de crise, sem saber que a procissão ainda vai no adro.

Pobre povo, trazes muita agressão no estômago e qualquer problema se torna em motivo para dares asas à própria dor.

“Casa onde não há pão, todos ralham sem ter razão”!

António da Cunha Duarte Justo

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Patriotismo cosmopolítico contra o Património cultural

Nova Forma de equacionar o Direito – Da Preguiça intelectual no Pragmatismo – O Porquê da Crise!

António Justo

Um pragmatismo sem horizonte ensombra uma vida cultural, sem espaço para a dimensão intelectual/espiritual. Um activismo político irreflectido leva a nossa elite política a tornar-se nos filisteus da nossa cultura ao orientarem-se apenas pelo pragmatismo e utilitarismo. Uma tal forma de fundamentar o saber cria uma realidade sem horizonte. Para a wikipédia “O filisteu não é adepto de ideais, mas apenas de propostas práticas passíveis de serem contabilizadas em melhorias para sua vida privada imediata”. Assim se dá substância ao individualismo hedonista que reduz a aspiração humana às suas necessidades básicas (alimentação, segurança pessoal e sexo) acompanhadas por uma “espiritualidade” secular reduzida ao desejo de fama, poder político e prestígio. Esta filosofia do prazer esteve na base da queda, primeiro dos gregos e depois dos romanos. Independentemente duma filosofia baseada na teoria e na empiria tudo se orienta apenas pelo saber empírico. Hoje tudo orienta por estudos “Sinus-Milieus”; o que importa não é a procura da verdade mas o interessa é conhecer a maneira de vender o seu peixe a determinado meio, diria, o que importa é a definição de estratégias no sentido do compromisso da manjedoura.

A nossa classe política, duma maneira geral, deprecia o pensamento e a arte porque se tornou escrava da agenda do quotidiano sem espaço para o bem nem para o belo. Perdida em accionismos e compromissos podres, serve-se de uma arte escura e negativa para não ter de questionar a sua acção destrutiva da cultura ocidental.

O saber hedonista e o relativismo, defendidos nos períodos decadentes da Grécia e de Roma e praticados agora pela geração pós-guerra, procuram estabelecer o divertimento como o princípio motivador do comportamento humano e social, reduzindo assim o velho objectivo da felicidade, ao prazer. Um a sociedade do mercado desregulado deixa o controle da economia e da moral à lei da oferta e da procura. A felicidade e o bem-comum, a que aspirava a velha sociedade, passam a ser reduzidos ao deleite a nível de sentidos e ao prazer individual. Por outro lado a felicidade também não pode ser limitada à auto-reflexão como quer a filosofia oriental; ela atinge-se na prática do bem, como advoga Aristóteles e no exercício do amor como ensinava o Mestre da Galileia. Na minha vida experimento o prazer não como fim mas como fenómeno acompanhante dum agir na tenção entre um tu e um eu, a satisfazer-se no nós.    

Encontramo-nos na transição, de um direito teórico orientado para o ser, para um direito pragmático, orientado pela experiência do estar, um direito proveniente da prática para a prática. Este saber experiencial é diametralmente oposto ao saber de experiência feito dos portugueses do séc. XV que era orientado por uma missão civilizadora global. O saber pragmático hodierno abdica da verdade e da objectividade para dar espaço a um subjectivismo que melhor medra na anarquia e no compromisso irresponsável do laisser-faire laisser-passer, como substrato dum liberalismo economicista que tudo submete à banalidade dum quotidiano sem horizonte e à alienação duma tradição reflectida apenas à luz do utilitarismo. O espírito proletário (de um socialismo e de um capitalismo primário) estende os seus braços a todos os ramos da cultura, como um polvo implacável que tudo suga e igualiza. Em vez de procurarmos um caminho entre os métodos dedutivo e indutivo, falhamos por optarmos por contemplar um só polo da realidade.

 Renuncia-se a um direito de princípios teóricos, fruto da convergência de várias civilizações, que tinha como objectivo uma sociedade justa e feliz, para se optar por um direito formado a partir da experiência adquirida na convivência do dia-a-dia e que tem como objectivo apenas uma sociedade possível. É abandonada a retorta cultural dum diálogo recíproco de aculturação e inculturação que contribuiu imenso para o desenvolvimento dos povos. No pragmatismo duma europa globalista sem missão, assiste-se a um processo de inculturação sem aculturação em que os imigrantes não são estimulados à enculturação, aquela regra bem portuguesa do “à terra onde fores ter faz como vires fazer”).

A doutrina utilitarista/pragmatista em voga renuncia ao melhor para possibilitar o agradável. Enquanto vai vivendo dos rendimentos económicos e culturais armazenados pelos nossos antepassados não é questionada; o problema surgirá quando não houver créditos a fundos perdidos!

Ao transitarmos duma civilização de cultura integrada para uma sociedade de cultura mista (entre multicultura e intercultura) abdica-se paulatinamente do melhor. Em vez de se evoluir regride-se. Estabelecem-se compromissos a nível de direito de caracter habitudinal que dão corpo a hábitos desumanos numa sociedade que já os tinha superado no tempo (eutanásia, aborto arbitrário, manipulação incontrolada do gene, concessão de direitos culturais ultrapassados a sociedades de cultura árabe, etc.).

O Ocidente depois da experiência das grandes guerras continua a viver do equívoco de afirmar a guerra justa em vez da paz justa. A experiência tem mostrado que o empirismo serve os grupos mais fanáticos que se aproveitarão das fraquezas da democracia, para com base em estatísticas imporem reivindicações independentemente da sua verdade objectiva e da sua finalidade numa ética que parta do bem-comum. Precisa-se duma teoria social, também capitalista e socialista, que tenha como ponto de partida, a nível especulativo e prático, o bem-comum. Uma norma legislativa elaborada só a partir do empirismo serviria apenas a miopia dum presente sem futuro. Continuar a seguir uma ideologia subjectivista e relativista só serve a indústria financeira capitalista e o marxismo quando se necessita uma filosofia ética integral consciente da complementaridade das partes no todo.

Não basta a experiência para a formulação da verdade e da lei moral social; ela precisa também do horizonte da teoria abstrata que lhe dá o caracter universal; não lhe chega a feminilidade necessita também a masculinidade; doutro modo passaríamos dum extremo em que dominou a “masculinidade” da inteligência para o outro extremo em que dominaria a “feminilidade”. A verdade, como a sociedade, quer-se simultaneamente masculina e feminina, o que constitui certamente um desafio. O pensamento europeu tem sido sistematicamente distorcido por fábricas de pensamento ao serviço dum cosmopolitismo de economia globalista e marxista, servindo-se para isso de um relativismo absoluto em que o que vale já não é o bem e o belo ideal que conduziu o Ocidente ao apogeu material civilizacional, mas sim a situação prática (reduzida ao enfrentamento do dia a dia) em que a sua metafísica se reduz ao dinheiro, único astro rei, na abóboda celeste económica e materialista. A ideologia e as teorias científicas têm sido confeccionadas no sentido de propagarem e justificarem um globalismo unilateral precoce. Quer-se fazer da economia o esqueleto do corpo social sem que este seja provido de inteligência. Toda a realidade precisa de um tecto metafísico e uma plataforma de equilíbrio compensatório das forças contraditórias.

António da Cunha Duarte Justo

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Resultado das Eleições na Alemanha – Ângela Merkel um Fenómeno

Consequências para a União Europeia

António Justo

A Alemanha elegeu e Ângela Merkel venceu. A CDU/CSU (União dos cristãos sociais-democratas) venceu com 41,5% dos votos, seguida do SPD com 25,7%, Die Linke 8,6%, Verdes 8,4%, a FDP 4,8%,  AfD 4,8%, Piratas 2,2% e restantes 4,1% . A união recebe 311 assentos no parlamento, o SPD 192, o Die Linke 64 e os Verdes 63. 

Surpresas: a chanceler é indomável, a União é o único partido popular, o FDP que tinha 5 ministros no governo de coligação de Merkel não chega a entrar sequer no parlamento e o AfD (“Alternativa para a Alemanha” – partido contra o euro), conseguiu em seis meses, depois da sua fundação, um resultado de 4,7% dos votantes, advindos sobretudo da antiga Alemanha socialista. O AfD não conseguiu porém superar a barreira dos 5% que lhe possibilitaria o salto no parlamento, preparará porém muitas dores de cabeça à União. Uma coligação da esquerda (SPD, Verdes e Linke), embora matematicamente possível, torna-se irrealizável, também pelo facto do SPD e dos Verdes não aceitarem fazer coligação com Die Linke (comunistas).

Merkel terá de fazer coligação com o SPD ou com os Verdes. Um e outro partido têm medo de Merkel embora ela seja uma técnica do poder, de estilo presidencial, mas muito exigente na disciplina. O mais viável será uma grande coligação com o SPD. Este, teria a oportunidade de, no meio da legislatura, provocar uma crise governamental, mas Merkel poderia socorrer-se então dos Verdes como parceiros de governo. O socialista francês Hollande desejaria uma grande coligação de Merkel/SPD porque poderia, deste modo, ganhar mais influência nas redes socialistas da EU, por outro lado teria de aguentar com a pressão dos companheiros alemães no sentido de forçarem os socialistas franceses a fazerem as reformas que a Alemanha fez há dez anos e que a colocou na avançada do jogo económico europeu!

Governar na Alemanha não é fácil porque há um contrapeso regional dos Länder que no Bundesrat (Conselho Federal) podem bloquear ou aferir leis provindas do parlamento, devido ao contrapeso partidário a níveis de estados federais. Dos 16 Estados federais só 6 são regidos pela União (CDU/CSU).

Apesar de todas estas barreiras, o povo alemão possui uma vantagem em relação a outros Estados, tem um sistema partidário que, sem ser nacionalista, pensa primeiro no bem da nação e só depois no bem do partido. Esta é uma razão, entre outras, porque os partidos alemães não aceitam fazer coligação com Die Linke. Esta é também uma razão do sucesso alemão, usando um mínimo de ideologia e um máximo de especialização.

O povo está contente com a política da Chanceler, conhecem-na desde há oito anos como chanceler e não quer experimentações. Com excepção do SPD que conseguiu melhorar o resultado em 2,7% em relação à última legislatura, todos os outros partidos perderam.

A Europa aprenderá a gostar de Ângela Merkel

Isto terá consequências para o trabalho na EU. Os alemães estão descontentes com o trabalho da Comissão Europeia; o instrumentário burocrático da EU tem-se revelado ineficiente com as medidas desenvolvidas nos últimos 5 anos no sentido de sair da crise. A Alemanha ficou chocada com os 150 mil milhões de Euros que perdeu com a crise dos bancos, que continuam a criar problemas. Ângela Merkel tem medo que o dinheiro investido na salvação de países em crise tenha um paradeiro semelhante ao da crise dos bancos e em que os credores/contribuintes e Estados terão de pagar a factura. Reconhece porém que é preciso fazer mais no sentido de investimento nos países com maior crise económica. Tem por outro lado dentro do país uma força popular crescente contra o Euro.

Tudo isto complica as decisões políticas de futuro numa EU em que cada país, continua a orientar a sua visão para o umbigo do próprio país (talvez Portugal esteja a fazer uma dolorosa excepção, o que torna injusta a situação em relação aos portugueses).

 A Alemanha continuará com uma política orientada para a economia real, isto é, em favor do curso de poupança. Neste sentido, a política irá favorecer, na EU, a fortificação das decisões a nível de chefes do governo, mais à margem do parlamento europeu; isto porque se prevê nas próximas eleições para o parlamento europeu (próximo ano), uma maior quantidade de deputados críticos da EU, o que complicaria decisões de compromisso. Dado a Alemanha e a França se encontrarem descontentes com a EU e a Inglaterra descontentíssima, a política irá no sentido de menos Europa e mais núcleos de Estados.

A Alemanha sente-se com responsabilidade pela Europa e certamente exigirá mais pessoal importante e da sua confiança na ocupação de postos na EU e na Nato. Merkel também não conseguirá continuar a adiar o desejo de estados europeus, como Inglaterra e França,  que querem da EU uma política de segurança semelhante à americana. Não será fácil para Merkel conseguir uma política que consiga unir conservadores e progressistas, a nível europeu na feitura de leis, no sentido de se nivelarem lucros e défices na competição entre os países.

A força da opinião pública alemã é muito forte perante o governo e ela exige da política consolidação e poupança no orçamento. A economia alemã, em quarto lugar a nível mundial, determinará o futuro da Europa. O presidente francês reconhece que a miséria financeira em que se encontra o obriga a encostar-se à Alemanha. A Europa terá de se encostar à Alemanha por convicção ou por oportunismo. A Alemanha sozinha tornar-se-ia um perigo económico para os outros países europeus e a Europa sem a Alemanha seria economicamente uma desgraça.

António da Cunha Duarte Justo

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Estratégia do colonialismo económico – Suborno cultural

Repensar a Democracia bruta sem Base nem Heróis

 

António Justo

 

O colonialismo económico é um polvo que adapta a sua cor ao sistema político e cultural. Actualmente tornou-se mais forte que a cultura: antes procurava miná-la e agora passou a determiná-la. Tornou-se abusador da Democracia na sua guerra contra as culturas.

 

Para tal, a ética política deixa de ser fundamentada nos valores culturais para ser determinada apenas pela economia liberal de mercado. Consegue-o impondo o pragmatismo/utilitarismo como filosofia política e de vida. O povo encantado dança a sua música, ao ritmo da flauta mágica do mercado.

 

Tornamo-nos todos espectadores de uma guerra, até hoje inaudita, a guerra das elites económicas contra as culturas. Na velha sociedade a burguesia determinava o andamento cultural; na actual são os novos-ricos que determinam o que se há-de acreditar e fazer. A maquinaria económica globalista destrói, por um lado, a dinâmica das estruturas sociais e culturais nacionais e, por outro, desestabiliza os Estados intervindo neles através do fomento da concorrência terrorista seja a nível de grupos subversivos seja a nível de produtos económicos. As sociedades dão continuidade à cultura da guerra, já não a nível de guerras declaradas entre nações, mas numa grande guerra económica liberal de guerrilhas ao serviço de alguns.

 

 A nossa democracia nasceu sob o prelúdio ideológico da guerra fria; pretendia abandonar um colonialismo suave e entrou no colonialismo rijo europeu, de cunho cada vez mais americano e universal. De colonizadores passamos a ser colonizados, primeiro por ideologias e depois pela Europa central que acabou com a nossa independência nacional (imperialismo da Troika: oligarquia europeia e mundial!).

 

A cultura é sistematicamente minada por uma política de legionários estrangeiros, bem pagos, que de patriótico só têm o sorriso. Modificam os nossos padrões de vida no sentido do liberalismo económico das grandes economias sem alternativas de sobrevivência honrada para os pequenos. Antes da opção da economia pelo globalismo, ela vivia principalmente da exploração da classe operária dentro do próprio país e da sua disciplinação através do recurso à imigração; com o globalismo e o seu instrumento Euro, a economia opta pela estratégia da exploração económica e social dos Estados. A estratégia de desestabilização político-económica e cultural dos países tem-se mostrado muito profícua para um capitalismo pragmático apiado, a nível estratégico, por um socialismo indutivo generalizado, também ele destrutor do sistema de valores culturais transmitidos e da coerência social dentro dos estados. Actualmente, grande parte do que se apresenta como desenvolvimento consequente da cultura ocidental, revelar-se-á como seu cangalheiro. A Aliança despercebida, em via, de capitalismo e marxismo como modeladores do pensar político correcto, revela-se altamente eficiente no seu sentido, tendente a idealizar o sistema chinês (nova forma de poder político integradora de capitalismo e socialismo). Com a cajadada na ética cultural enfraquecem os Estados de cultura e ao mesmo tempo fomentam a guerrilha entre as classes operárias e burguesas dos diversos países. Transfere a exploração da classe operária para a exploração dos Estados. A nível social interno, roubam a dignidade às crianças e aos velhos e transformam os cidadãos em pedintes de trabalho. O pragmatismo do mercado financeiro aproveita-se do nosso sistema partidário, todo ele demasiado reaccionário e fixado ainda nas filosofias do século XVIII e XIX. Quer esquerda quer direita são portadoras dum gene capitalista e socialista desumano que os atrela à economia.

 

As elites levedam a massa de modo a ser cozida no seu forno

 

O proletariado e as pequenas burguesias mantêm-se atraídos a espectáculos de feira, deixando-se distrair em discussões e campanhas que têm como objectivo desestabilizar o seu inconsciente cultural e deste modo desenraíza-los e disponibilizá-los para a aceitação das leis dum mercado anónimo e bárbaro. A elite do dinheiro e do oportuno consegue proletarizar a mentalidade de forma que esta reconheça, como não adequado, tudo o que aponte para a formação de personalidades e vontades com a capacidade de reconhecer não só a linha do horizontal como também a linha do vertical com componentes da dimensão real (intelecção e pragmatismo).

 

Assim, no autocarro da democracia insurgem-se grupos contra heróis e santos porque a sua presença e aura seria uma afronta à igualdade da massa democrática que se quer insegura, proletária, de cabeça baixa, sem horizonte nem Sol. O destaque reserva-se para o acidental dum vedetismo culto que se finge sem culto no firmamento da economia. A democracia quer-se “esclarecida e moderna” e, para tal, burla-se a massa mudando o nome às coisas e criando uma ética negativa negadora da comunidade e da verticalidade. A admiração e a gratidão, própria de amimais superiores já não parecem adequadas a uma massa que se quer não levedada, numa democracia bruta a viver só ao nível das necessidades vitais primárias. Esquece-se que até no reino irracional há valores superiores, valores de sintonia e solidariedade que brilham como o Sol no horizonte da caminhada.

 

Aquando da morte de Lawrence Anthony, que dedicou sua vida a salvar elefantes, deu-se um fenómeno insólito. Elefantes selvagens, pressentindo o falecimento do seu amigo, a muitos quilómetros de distância, deixaram a reserva, pondo-se a caminho da casa dele durante dias. Dois dias depois da morte de Lawrence (7.03.2012), 31 elefantes, em duas manadas, chegaram à sua residência sul-africana depois de terem andado 20 Km. Ficaram, dois dias sem comer nem beber, a fazer o luto pela morte do amigo; depois de prestada a homenagem voltaram para a selva. O reconhecimento e a gratidão não diminuíram a honra dos elefantes, pelo contrário, prestigiou-os, elevando-os à categoria de humanos.

 

Porque há-de o brilho duma outra pessoa ensombrar o meu brilho? Uma sociedade temperada com o adubo da concorrência facilmente se deixa ofuscar pelo fumo da inveja. Palavras como, virtude, sacrifício, caridade, missão, respeito, Deus, são enxovalhadas por questionarem o pensar propagado pelo pragmatismo hedonista corrente. Naturalmente que também as palavras estão sujeitas a evolução e há palavras distintas como a palavra mártir que são desacreditadas pela prática dos “mártires” muçulmanos suicidas que se matam matando. Esta é, porém, a negação da ideia de sacrifício que implica entrega amorosa pelos outros. A existência de pessoas respeitadoras da atitude de cada um, mas dedicadas ao voluntariado, ao serviço dos mais necessitados em hospitais, bairros pobres, missões, etc. parece incomodar pessoas que optam por estilos de vida mais orientados para o gozo imediato. A ideologia vigente não tolera, fora dela, luzeiros, porque prefere viver da banalidade do quotidiano irreflectido esquecendo que a natureza também tem lugar para os outros.

 

As boas obras têm uma aura respeitadora enquanto as más têm uma força arrastadora para o mal. A reflexão crítica que, por vezes, se levanta contra heróis, quer desconhecer as diferentes fases de desenvolvimento de cada individualidade. É óbvio que senhores de sucesso dúbio não gostem que se louve o sucesso alcançado servindo.

 

Uma ideologia irreflectida opõe-se ao heroísmo porque vê nele um ataque ao status quo, à igualdade democrática e ao princípio da comparticipação, como se a igualdade jurídica acabasse com as diferenças dentro da espécie ou do género. Também a democracia tem produzido muitas vítimas: as vítimas anónimas da concorrência desleal, de bens, de armas e da discriminação. Onde há vítimas precisam-se salvadores! Não precisamos de nenhuma casta que seja divinizada. Todos nós trazemos connosco o gene divino mas isso não significa que haja uma inclusão de igualdade pela rasoura como se não fossemos todos dignamente diferentes e como se a diferença não fosse um valor consagrado pela natureza. É óbvio que cada pessoa tem o direito moral a uma atitude interior de poder actuar ou não segundo requisitos morais. O dissenso deve originar-se em relação ao mal e não ao bem. A lógica dos críticos acerbes do heroísmo teria como consequência a desistência de todo o desporto e até de qualquer investigação científica que desse origem a um prémio Nobel. No desenvolvimento da identidade individual e da identidade de sociedades haverá sempre a rivalidade de incongruências a humanizar. No que toca ao heroísmo também há muita exploração dos sentimentos humanos em todas as eras. O facto de cada pessoa ser igual perante a lei não a iliba da diferença pela positiva ou pela negativa. A paz precisa de heróis porque se encontra embotada sob o manto duma democracia com políticos imunes sem rosto, demasiado iguais, e dum povo de rosto cada vez mais igual porque lavado na lixivia cultural da massa. Não se trata de defender aqui um modelo de sociedade antiga de caracter mais voluntarioso nem de condenar uma sociedade moderna permissiva; trata-se de reflectirmos para melhor podermos ser nós a decidir, sem os superegos antigos ou modernos, na construção dum mundo, cada vez, melhor.

 

A inveja e o individualismo parecem, por vezes, justificar a sacarificação da cultura à massificação de ideias leves e a uma proletarização de atitude e de espírito. A nossa democracia representativa tem muitas coisas boas, mas padece da falta de heróis do bem-comum: falta-lhe rebeldes da democracia (também de sindicatos e patronatos) que interfiram no processo, de modo a poder dignificá-lo. Para progredirmos, será indispensável repensar a nossa cultura em termos de restauração dos valores culturais pilares do nosso imaginário, cientes que a consciência individual e social precisa de contínua actualização (renovação). Ela tem sido devastada sistematicamente pelo barbarismo irresponsável de dançarinos dum pragmatismo engravatado ao serviço dos empertigados do poder. Para já precisamos de santos profanos e sagrados, de grupos fortes defensores da cultura, precisamos de pessoas da acção, que melhorando se melhorem. Os heróis da democracia não se encontram na mó de cima mas na mó de baixo. No sentido duma cultura cristã, herói não é o que ganha mas o que perde. Enquanto não entendermos esta lógica, a História continuará, cada vez mais na mesma, com a maior parte da sociedade a trabalhar para uma minoria abusadora e cínica.

 

Não chega uma ética pragmatista natural e económica: precisamos da matéria e do espírito como precisamos da comida e do ar para podermos viver; a primeira finalidade duma ética política será a cultura do bem-comum; uma ética respeitadora da alma da cultura numa tensão responsável, entre o velho e o novo, entre biótopo e cosmopolitismo, possibilitadora de uma motivação fundada e teleológica. Os interesses individuais precisam dum sistema que os integre.

 

Torna-se urgente uma política da justiça acompanhada duma política da verdade. Encontramo-nos a grande velocidade no retrocesso cultural. Deixar de acreditar na cultura, na solidariedade, na fé e no amor é voltar aos tempos bárbaros.

 

António da Cunha Duarte Justo

 

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Os Heróis que a Democracia não produz!

Os Heróis que a Democracia precisa são heróis do Bem-comum

António Justo

Cada cultura, cada ideologia elabora e produz a própria constelação de heróis e santos que precisa. A cultura de guerra gera os heróis da guerra, a cultura comunista gera os “heróis do trabalho”, a cultura mediática gera as estrelas, a cultura religiosa gera os santos, a cultura árabe afirma os heróis mártires-bomba… Temos heróis da guerra, do trabalho, dos média, da Igreja, do islão, só nos faltam os heróis da democracia.

A Democracia não pode ser reduzida a uma máquina de fabricar pessoas em série. Uma democracia viva precisa de heróis, carece de cidadãos, que arrisquem a vida, por algo nobre; doutra forma, fomenta poltrões e morrões.

No céu da nossa democracia só se notam estrelas enganosas, estrelas cadentes. O Sol deixou de brilhar no horizonte. Os cidadãos não mostram auréola e a cultura escurece. Uma cultura com horizonte precisa de heróis porque neles se reúne a força do povo.

A democracia não pode estar predestinada a produzir mediania. Ela carece de heróis próprios e os heróis que ainda não gerou são os heróis do bem-comum.

Os heróis realizam aquilo que o cidadão normal não está disposto a realizar na sua privacidade. São a consciência junta dum povo, encarnada numa vontade firme de alguém que se sacrifique pelo bem-comum. Actos de valentia exigem coragem e a disposição de entrega, até da própria vida, por uma causa nobre a favor do outro. O santo e o herói não têm medo do inferno nem da vida; não embrulha a vida em mordomias e honrarias adquiridas à custa do fascismo do todos juntos.

A valentia do herói quer-se cultivada no dia-a-dia da luta de cada povo; forja-se na luta contra o medo cultivado e contra a honra da mais-valia usurpada ao povo, contra uma democracia de elites a querer viajar sem bilhete.

O herói é o cidadão honrado que procura superar-se a si mesmo, superar a adversidade, guiado por ideais nobres ao serviço dos outros. Ela está consciente que a mediocridade arrasta mediocridade e o exemplo do bem arrasta o bem.

Não podemos continuar a suportar uma democracia geradora de mediania; a democracia está em perigo, precisa de heroísmo popular se quer ultrapassar a miséria do pensar correcto do dia-a-dia e sair do medo da insegurança assistida.

No momento do perigo, a nação consciente cria o heroísmo correspondente. Precisamos duma cultura que produza políticos, heróis do bem-comum, que exonerem a elite dos anti-heróis do bem-comum e da guerra. 

António da Cunha Duarte Justo

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