ACORDO ORTOGRÁFICO SEGUE A VIA POPULAR

Um acordo de empobrecimento da língua e de interesses geoestratégicos

António Justo

O assunto não é fácil, atendendo às diferentes grafias (europeia, brasileira e africana) e aos interesses políticos, económicos e culturais a elas subjacentes. O Acordo ortográfico vem beneficiar a grafia brasileira em relação à grafia luso-africana da língua portuguesa. Na sua forma possibilita assim uma maior concorrência, salvaguardando sobretudo interesses geopolíticos e económicos do Brasil.

 

O maior problema na génese e no processo do acordo, encontra-se, a meu ver, num espírito simplicista e vulgar, em via desde há décadas, na política cultural ocidental.

 

O maior problema manifesta-se na acentuação e na supressão das chamadas consoantes “mudas”, acabando-se assim com uma diferenciação etimológica insubstituível para a boa compreensão das palavras.

Para se perceber um pouco o fundamento dos que questionam o acordo e para se ter uma ideia da riqueza da exactidão das palavras, apresento a etimologia das diferentes palavras portuguesas: facto, fato, fado e feito. As palavras portuguesas facto e feito vêm da palavra latina factu (do verbo facere=fazer); a palavra portuguesa fado vem da palavra latina latim fatu. A palavra portuguesa fato (roupa exterior do homem) virá do germânico fat. A palavra facto (realidade, verdade) é usada em todos os países lusófonos excepto no brasil que usa a palavra fato para designar facto e fato. Deu-se assim um empobrecimento da língua muito embora em benefício do povo com menos formação. (Apresento no final do artigo o exemplo de palavras provenientes do mesmo étimo latino para melhor se compreender a presença dum c ou dum p mudo na palavra, que levam à pronunciação aberta da vogal precedente). (Infelizmente em muitos dicionários virtuais já se abdica da diferenciação. Forças de interesse e ideologias procuram apagar os vestígios que os não servem. Isto acontece também no que respeita à disponibilidade de termos e de sinónimos no léxico).

Angola e Moçambique ainda não ratificaram o Acordo Ortográfico e naturalmente têm razões muito válidas para o não fazerem tal como os brasileiros e outros terão as suas para o fazerem. O “Jornal de Angola” ao lamentar o empobrecimento etimológico dum acordo ortográfico que se orienta pelo português falado ou pronunciado, mostra o busílis dum acordo que se orienta por um simplicismo redutor, traiçoeiro e mercantilista. Aqui os Angolanos manifestam-se contra a corrente entrópica ao exigir que “os que sabem mais têm o dever sagrado de passar a sua sabedoria para os que sabem menos” para não baixarem o seu nível.

 

O problema acentuou-se pelo facto de muitas objecções não terem sido resolvidos já na génese que prepararia o acordo ortográfico. Comete um grande erro quem parte para um acordo com base apenas no português falado. De lamentar seria naturalmente se não houvesse um acordo em defesa da língua. Por muitos erros que se cometam é melhor um acordo que nenhum; a não ser que se defenda a hegemonia do inglês.

O acordo ortográfico beneficia os que falam pior a língua. Por outro lado a língua não se mantem dependente de quem a melhor pode falar: padres, juristas, linguistas e médicos pelo facto de saberem a língua mãe, o latim.

O acordo é necessário para possibilitar a afirmação do idioma português no contexto internacional sem se atraiçoar a alma dos diferentes povos a veicular num português de afirmação global.

Os peritos que elaboram os acordos ortográficos deveriam dominar bem o latim e o grego; especialmente o latim.

O português é uma das línguas chamadas românicas, com a sua origem no latim, sendo uma evolução deste. O latim na sua expressão clássica manifesta um alto nível intelectual e na sua expressão popular (língua falada pelo povo: sermo vulgaris, cotidianus, plebeius, rusticus), com a sua riqueza fonética e morfológica, cria termos novos para expressar vocábulos por ele desconhecidos do latim erudito.  Deste modo enriquece a língua, tal como hoje acontece com o português vulgar (provincianismos, e outras formas de formação, entre elas, os neologismos…).

A língua latina suplantou as línguas dos povos vencidos relegando, muitas vezes, as destes para dialectos. Na península ibérica, só o basco lhe resistiu. A língua latina abandonada a si mesma no povo, sem disciplina gramatical, na sua evolução, deu lugar a diferentes falares ou falas que depois deram origem a línguas. Um desses falares foi o galaico-português (também língua dos poetas) que, devido a circunstâncias políticas, deu origem aos idiomas, galego e português. A evolução do português já se pode documentar em monumentos e documentos notariais a partir do séc. VII num latim bárbaro (língua falada pelo povo). A partir do séc. XII os poetas apoderaram-se desse falar (galaico-português) que no séc. XVI se estabilizou no português e no galego. A partir de então temos o português moderno como podemos ver em Camões.

O latim afirmou-se por todo o lado. Na nossa língua, encontram-se também com certa frequência, termos de povos invasores  (cerca de 600 palavras usuais germânicas e cerca de 600 palavras usuais árabes).

O vocabulário da língua portuguesa formou-se principalmente através do latim vulgar que se vai modificando através da fonética e da derivação de termos populares; uma outra forma de formação da língua foi a via erudita que de proveniência latina e grega se manteve mais próxima do padrão original latim e grego. O português tem uma fase arcaica que vai do séc. XII ao seculo XVI e uma fase moderna começada no séc. XVI (Camões).

Para melhor se poder compreender as divergências no que respeita ao acordo ortográfico e apelar ao respeito pela etimologia da língua, passo a dar exemplos da formação de termos em que o mesmo étimo latino origina duas palavras diversas. O Acordo Ortográfico nas suas coordenadas gerais deixa-se orientar mais pela via popular ou vulgar. De notar que, hoje como ontem, as pessoas mais simples têm tendência para não mastigar as palavras, ao contrário do que acontece no falar das pessoas mais eruditas.  A maior traição ao português e à alma do falante dá-se porém na redução das pessoas verbais (eu tu ele (ela,você), nós vós, eles (vocês). A língua em vez de evoluir e de se diferenciar embrutece seguindo o princípio da inércia, ao eliminar o vós e ao evitar até o tu na linguagem falada (como já adverti noutros textos). Assistimos a um empobrecimento geral em questões culturais. A ignorância não nota o que perde, ganha sempre!

A palavra latina factum deu origem à palavra portuguesa facto por via erudita e à palavra feito por via popular.

Simplificando: do latim focum originou-se foco por via erudita e fogo por via popular

do latim legalem originou-se legal por via erudita e à palavra leal por via popular

do latim matrem originou-se madre por via erudita e à palavra mãe por via popular

do latim Hispaniam originou-se Hispania por via erudita e à palavra  Espanha por via popular.

do latim jactum originou-se jacto por via erudita e à palavra jeito por via popular

do latim alienare originou-se alienar por via erudita e à palavra alhear por via popular

do latim plenam originou-se plena por via erudita e às palavras cheia, prenha por via popular

do latim oculum originou-se óculo por via erudita e à palavra olho por via popular

do latim grandem originou-se grande por via erudita e à palavra grão por via popular

do latim angelum originou-se Ângelo por via erudita e à palavra anjo por via popular

do latim aream originou-se área por via erudita e à palavra eira por via popular

do latim arenam originou-se arena por via erudita e à palavra areia por via popular

do latim atrium originou-se átrio por via erudita e à palavra adro por via popular

do latim catedram originou-se cátedra por via erudita e à palavra cadeira por via popular

do latim conceptionem originou-se concepção  por via erudita e à palavra conceição por via popular

do latim delicatum originou-se delicado por via erudita e à palavra delgado por via popular

do latim digitum originou-se dígito por via erudita e à palavra dedo por via popular

do latim dolores originou-se Dolores por via erudita e à palavra dores por via popular

do latim directum originou-se directo por via erudita e à palavra direito por via popular.

Desta observação podemos concluir que o povo simples simplifica (via popular) e os eruditos preferem a clareza.

Com acordo ou sem ele, cada pessoa deve ter a liberdade de escrever na grafia que aprendeu.

António da Cunha Duarte Justo

(Com diploma para latim e grego)

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Segredo do Made in Germany

Formação profissional na Alemanha exemplar a nível mundial

António Justo
A Alemanha é, depois da China, o país de maior exportação mundial. É o centro do comércio internacional, plataforma giratória para o tráfego rodoviário aéreo e marinho. No ano 2011 fez exportações no valor de 1,06 trilhões de Euros (1.060.000.000.000 euros) e importações no valor de 902 bilhões (902.000.000.000 euros).

 

Os produtos alemães impõem-se no mercado mundial devido à sua qualidade e inovação. O aumento da produção globalmente competitiva, a moderação salarial de sindicatos e empregados, constituem a mistura que possibilita o milagre alemão. De referir no entanto, que os produtos alimentares e de necessidades básicas, são mais baratos na Alemanha do que nos países vizinhos.

 

O segredo da qualidade dos produtos feitos na Alemanha vem do sistema dual (1)de ensino profissional baseado na colaboração entre escola e oficinas patronais de cada região. As empresas têm um grande componente familiar e continuam na tradição das (guildas) associações profissionais medievais (2) . Na Alemanha, ainda hoje são as câmaras do comércio e da indústria que examinam os aprendizes e passam os diplomas profissionais.
Segundo uma investigação da OECD sobre o ensino profissional em 17 países, a Alemanha recebe a qualificação de muito bom. Países de grande relevância para o futuro, como é o caso do Brasil e países emergentes deveriam orientar-se pela Alemanha.

 

O ensino está todo ele orientado para a aquisição qualificada duma profissão média, até mestre e para uma especialização no ensino superior técnico e universitário.
A minha experiência, quer a nível superior quer a nível de escolas do secundário levou-me a gostar dum sistema que antes questionava com o receio de ser demasiado selectivo.

 

Durante o ensino obrigatório, os alunos são obrigados a interromper a escola por algumas semanas (geralmente no oitavo ou nono ano) para fazerem um estágio em firmas liberais, industriais ou do comércio. As firmas colaboram com a escola e estão enquadradas legalmente para o fazer. Há sempre professores encarregados da relação aluno-oficina-escola. O aluno tem de passar por todas as secções da firma e no fim fará um relatório avaliativo do que fez e viu fazer. O relatório será depois analisado e qualificado em aula na escola. Deste intercâmbio aproveita o aluno em termos de orientação escolar e profissional e aproveita a empresa integrada no meio ambiente.

 

Um dos segredos do “made in Germany” está na interligação de ensino teórico e prático já nos verdes anos da vida. Unem de forma excelente a teoria à práxis, além de contribuírem para a integração das famílias, das escolas e das firmas na aldeia/vila/cidade. Muitos dos alunos que fizeram o estágio nas firmas deixam vestígios nelas que lhes podem facilitar a sua integração profissional, uma vez acabada a formação.

 

O aluno alemão que escolhe o currículo profissional médio, para tirar um curso de pedreiro, electricista, padeiro, serralheiro, etc., depois do 9°/10° de ensino obrigatório tem de frequentar a escola profissional durante três anos num sistema de ensino dual. Isto é, passa, semanalmente, três dias na oficina/escritório e dois dias na escola profissional do seu ramo. Depois de três anos adquire a qualificação profissional com o grau de oficial (Geselle), podendo depois doutros três anos de profissão adquirir o grau de mestre, grau este que o habilita a poder fundar firma do ramo. Os exames são feitos perante a Câmara do Comércio e da Indústria. Estas é que estão habilitadas a passar os diplomas de oficial e de mestre. Há também a possibilidade de, uma vez terminada a escola profissional, frequentar escolas técnicas superiores.

 

Todos os jovens em formação e jovens trabalhadores entre os 16 e os 25 anos têm direito, além das férias normais, a 5 dias de formação político social por ano.

 

Um país que queira seguir as pegadas de sucesso alemão deveria entrar em diálogo com as câmaras de comércio e indústria das representações alemãs no respectivo país. As firmas alemãs radicadas no estrangeiro ofereceriam uma oportunidade ideal para o fomento dum tal ensino dado possuírem a experiência que trazem da Alemanha.

 

Os chineses estão a manifestar grande interesse pelo sistema de ensino profissional dual, enviando delegações a escolas profissionais alemãs.

 

A capital da economia brasileira é S. Paulo. A Câmara do Comércio e da Indústria de S. Paulo já está muito activa neste sentido. O Brasil estaria bem aconselhado se privilegiasse a Alemanha como modelo de formação profissional por todo o lado. A filosofia das empresas alemãs ainda não se encontra contaminada pela filosofia utilitarista doutras firmas só interessadas no produto e no lucro. Com o tempo, ao abrir-se aos accionistas mundiais poderão dar-se transformações. O alemão é trabalhador, sério e com vontade de ajudar ajudando-se também.

 

O Equador tem um plano para introdução do sistema dual. O Equador poderá com este sistema dar resposta às tradições benéficas em favor dos autóctones que os jesuítas iniciaram nos começos da colonização para os defender da especulação dos comerciantes espanhóis. Estes para poderem explorar melhor os nativos conseguiram da coroa espanhola a expulsão dos jesuítas.

 

Portugal depois do 25 de Abril, deslumbrado pela ideologia, acabou com um sistema de formação profissional de boa qualidade, então existente, para favorecer a formação abstracta como se fosse possível transformar a nação numa escola de candidatos a doutores. De referir que Portugal já tem algum projecto de profissionalização em hotelaria em colaboração com alemães.

 

Pelo que observo, a reforma universitária a nível europeu fica muito atrás do modelo alemão. A Alemanha viu-se obrigada a reduzir o estudo do secundário de 13 para 12 anos para não ser prejudicada na concorrência internacional, porque, doutro modo os seus alunos entravam na universidade um ano mais tarde que nas outras nações.

 

Sindicatos alemães mais responsáveis que os seus parceiros noutros países

 

Se observarmos as lutas sindicais na Alemanha e em países do sul constata-se uma atitude destes diametralmente oposta perante o Estado e perante o patronato. Enquanto no sul, em geral, os sindicatos se comportam como rivais na Alemanha comportam-se como parceiros. Os do sul são orientados pela ideologia enquanto os sindicatos alemães se orientam pela realidade social e económica concreta. Os sindicatos alemães reconhecem que o segredo do desenvolvimento do sucesso da Alemanha assenta na inovação, produtividade e flexibilidade. São pragmáticos e por isso mesmo interessados em não estragar a economia nacional e não abusando do Estado em nome da ideologia. Entram em concorrência com o patronato mas sem perder os interesses da nação e do bem-comum. Em vez da inveja domina a ideia de pertença e esta assenta na família e nação.

 

São, naturalmente, questionados por um precariado que não encontra trabalho ou se ocupa em actividades a tempo parcial e que vê cada vez mais nos sindicatos uma força de interesses grupais.

 

Em 1990, 35% dos trabalhadores eram membros dum sindicato; hoje são-no apenas 20%. Encontram-se um pouco desorientados pelo facto de os serviços terciários terem aumentado e pelo facto do turbo-capitalismo internacional impor também na Alemanha mais desigualdade entre as partes.

 

(1) Ensino dual porque é adquirido ao mesmo tempo na escola e na oficina

(2)Guildas eram associações medievais de profissionais artesanais (eram corporações artesanais que, dentro da cidade, defendiam os seus interesses de classe e segredos profissionais, vivendo em ruas próprias, como testemunha também a rua dos Correeiros em Lisboa, entre outras) foram os antecessores das escolas profissionais e dos sindicatos.

 

Na Alemanha esta tradição foi continuada nas Câmaras do Comércio e da indústria e nos sindicatos. As Câmaras ainda hoje mantêm a sua independência perante o Estado sendo elas a passar os diplomas profissionais, depois dos exames feitos perante elas embora no júri de exame se encontrem também professores representantes da escola oficial. Esta tradição contribuiu imenso para que o trabalho manual seja considerado em grande estima. O contrário do acontece nos países do sul, onde a formação livresca oprime a profissional. Quando vim estudar para a Alemanha fiquei muito impressionado com a simplicidade no porte e no trajo dos professores de universidade. Faltava-lhes aquela aura que o pó do trabalho prático destrói. Os mestres profissionais das oficinas na Alemanha têm tanta estima e reputação como um doutor em Portugal. Unem a cabeça aos braços enquanto nos países do sul a cabeça despreza os braços. Esta é a diferença entre o sul e o norte, aquilo que também explica a difereça na qualidade de vida.

 

António da Cunha Duarte Justo
antoniocunhajusto@googlemail.com
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Capitulação da Nato no Afeganistão – Mais uma Guerra estúpida perdida – Cabul é uma cidade de muros intra muros

Depois da Guerra pior que antes da Guerra – veja-se Iraque

António Justo
O colonialismo moderno apenas acrescenta ao antigo a qualidade do seu cinismo. Não faz guerra, encontra-se simplesmente em “missão”. Intervém, não em nome do petróleo e das matérias-primas mas em nome da democracia, dos direitos humanos, da defesa de grupos ameaçados, em prol da estabilização. “Arranja” até aliados dentro das sociedades islâmicas que lhe pedem ajuda. Assim, o zé-povinho continua consolado nas suas quintas a queixar-se do colonialismo de antanho e distraído do colonialismo moderno de que vive também. Para branquear o próprio rosto, no Afeganistão e no Norte de África, fala de conversações com talibans moderados, com islamitas mitigados e quejandas, como se houvesse moderação e esta fosse possível num sistema político-religioso déspota.

Os 28 ministros da defesa dos 28 países da aliança, na sua reunião de 3.02.12 em Bruxelas, persistiram em continuar a guerra, que apelidam de “missão”, até 2014. Os falcões da guerra gostariam de ver a permanência da Nato no Afeganistão ainda por mais tempo. Agora trata-se de ver quais os países que abandonam primeiro o Afeganistão, para não ficarem todos na História como renitentes do fracasso. Falam de já terem entregado 21 das 34 províncias às forças de segurança afegãs mas na realidade isso só se concretizou em 8.

Durante e depois das guerras só ganha a indústria da guerra e seus adjuntos. Facto é que a Nato perde todas as guerras em terrenos muçulmanos. A ganância do petróleo turba-lhe a razão.

Quando se encontram encurralados pelo sistema muçulmano, então falam de guerras e guerrilhas tribais, de Talibans e de terroristas. Esquecem que o sistema muçulmano é, na sua essência, um sistema político e social de guerrilha ad intra e ad extra perpetuado pela religião.

Em dez anos de intervenção a Nato não conseguiu sequer criar alternativas ao cultivo da droga no país. O Afeganistão continua a produzir 90% do ópio para o consumo a nível mundial.

Depois de 10 anos capitula a Nato como capitulou a Rússia. Quem se mete com os muçulmanos apanha. Não precisam de guerra, basta-lhes a guerrilha. Os nossos antepassados lusitanos usavam a mesma estratégia contra os Romanos e estes só depois de 200 anos de luta conseguiram dominar os guerrilheiros de Viriato mas só depois de ajudados pela traição.

As direcções da Nato admiram-se das forças de segurança afegãs que formaram terem no seu meio homens bomba que repetidamente assassinam os colegas ocidentais à margem das áreas de batalha. Falta-lhes a fé!…
A derrota da Nato no Afeganistão é mais uma depois da do Iraque. O problema é que depois da guerra o Ocidente continuará a despender como continuam a pagar caro a “paz muçulmana” no Kosovo.
Actualmente encontram-se 130.000 soldados estacionados e desesperados no Afeganistão. Quebram-se a cabeça não compreendendo como é que tanto poder militar não consegue ter a força para dominar o terrorismo. Equivocam-se ao pensar que este, é o fruto de algumas cabeças desorientadas e não a flor da seara muçulmana, como nos mostra a história contemporânea e a história da sua origem.

Em 2014 os soldados da Nato retirar-se-ão mas para não darem a impressão de capitulação continuarão a pagar quotas elevadas de “reparação”. A sociedade civil herda os encargos de “reparação” além das famílias de soldados destrocadas pela dor e pelas mortes.

Cabul é uma cidade de muros intra muros
O Negócio dos islamistas é assassinar e meter medo

Em Cabul, até os hotéis, onde vivem estrangeiros, fazem lembrar prisões. Encontram-se cercados por arame farpado para que os jornalistas, que vivem da informação guerreira, possam, em paz, mandar mensagens optimistas para a opinião publicada nos países da Nato.

Quem não trabalha para o estrangeiro não precisa de muros, dizia, há dias, um jornalista afegão numa reportagem sobre o Afeganistão no ZEIT. Apesar de tudo, a pobreza e a ideologia vivem mais recolhidas em Cabul.

A sociedade islâmica, geralmente, prescinde duma ordem que não seja assegurada pelo poder das mesquitas ou que não se encontre nelas. Por isso uma ordem civil forte com polícia e militares submetidos a um governo neutro é combatida por um sistema que se quer revolucionário islâmico com expressão política às sextas-feiras depois das orações nas mesquitas.

Os militares ocidentais não patrulham a cidade para que a cor das suas fardas não provoque o sentir islâmico. Os soldados ocupantes são tolerados pela população para lhe possibilitarem a segurança nas visitas aos familiares que vivem a 30 Km de Cabul, para localidades mais longe torna-se impossível a protecção.

Grande parte do Afeganistão é inacessível devido ao perigo de ataques. É mais cómodo para os soldados viverem no gueto e deslocarem-se de avião ou de helicóptero. Cada soldado ocidental morto constitui um perigo porque um acumular-se de tais notícias poderia acordar o povo e este poderia começar a perguntar-se sobre as razoes da presença estrangeira no Afeganistão. Isto contrariaria a estabilidade da opinião pública a manter pelo sistema dos países da Nato. Por isso a melhor informação é não haver informação, como acontece relativamente ao Kosovo. Para evitar mais mortos as forças militares estrangeiras limitam-se a viver em guetos dentro do grande gueto. Um compromisso de sistemas no grande sistema.

Naturalmente que o negócio dos islamitas é assassinar e meter medo às pessoas. O caos e os atentados (guerra civil) são o húmus que permite aos mais fortes o domínio da natureza e da cultura. Por isso odeiam como a peste qualquer tentativa de organização estatal que não assente nem assegure a defesa dos mais fortes. A renúncia ao direito de defesa e de vingança individual em benefício duma supra-estrutura Estado, como acontece nas sociedades ocidentais constitui um absurdo.

Também é verdade que o Afeganistão, antes da invasão ocidental só conhecia a ilegalidade, a pobreza e a guerra. Agora tem uma organização policial mas o Estado não funciona. A constante é a guerrilha cultivada à sombra das mesquitas. Desde 1996, aquando da conquista do Afeganistão pelos talibans, vive-se em guerra civil.

A intervenção da Nato teve a vantagem de dar a provar os benefícios da paz a alguns. Uma geração de crianças, que cresce agora à margem da guerrilha, aprende a gostar da paz. Isto é positivo muito embora o medo continue uma ameaça contínua.

Os povos muçulmanos ainda têm uma grande caminhada a fazer em direcção à sociedade civil. Esta porém só poderá ser fomentada através dum sistema militar ditador como aconteceu na Turquia. Todas as outras estratégias têm-se revelado como perda de tempo. Para isso teria uma classe militar laica de constituir uma sociedade económica forte. A longo prazo talvez conseguissem criar biótopos sociais desejosos duma liberdade não açamada à religião. (O exemplo da Turquia já se encontra em perigo).

O Ocidente, que só percebe da sua ideologia, não aprende e por isso estará condenado a seguir apenas os seus meros interesses económicos e estratégicos dando uma no cravo e outra na ferradura.

De resto, o Ocidente continuará a lançar trigo nos moinhos do islamismo em troca de petróleo e de matérias primas. Este só pode ser reformado com uma força interna que opere à altura e com os mesmos meios da estratégica muçulmana.

António da Cunha Duarte Justo
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Egipto nas Mãos dos Islamistas

A Liberdade é Feminina por isso não se dá no Deserto

António Justo
Segundo os dados, agora oficialmente, vindos a público, os islamistas ganharam as eleições parlamentares no Egipto, atingindo 70,4 dos mandatos.
As listas do braço político da influente Irmandade Muçulmana „Partido da Liberdade e Justiça“ (PLJ) conseguiram 45,7% dos assentos no parlamento. Em segundo lugar ficou o “Partido da Luz “(Hizb al-Nur) aliados dos Salafistas do Al-Nur que conseguiu 24,6% dos lugares. O partido Wassat (islamitas moderados)  conseguiu 8,4% e o partido liberal “Aliança Egípcia” 6,6%.

 

Os Salafistas do Al-Nour pretendem a destruição de monumentos históricos, (p. ex. as Pirâmides dos Faraós) porque não dão testemunho do islão. Esta exigência não é nova. Já no Afeganistão islamistas tinham arruinado grandes estátuas de Buda que eram património mundial.

 

Aqueles que saudaram o derrube do regime do presidente Mubarak equivocaram-se. Não contaram que, geralmente, a situação no mundo árabe só tem possibilitado a escolha entre a cólera ou a peste.

 

Grande parte do povo egípcio sofre porque não tem pão, nem formação, nem voz. O clero islâmico é fiel ao sistema, encontrando-se sempre do lado do poder. A gloriosa excepção é a Turquia de Ataturk enquanto garantida pelo poder militar. De resto os governantes encontram-se na dependência da bonomia das mesquitas que às sextas-feiras tomam muitas vezes posição. A aceitação de radicais na população também se deve ao facto de alguns grupos de islamistas se empenharem pelos mais pobres e também os ajudarem com dinheiros vindos da Arábia Saudita.

 

A imprensa ocidental aquando das rebeliões na África do Norte, no entusiasmo do acontecimento, estoirou todos os foguetes antes da festa. Agora que a realidade vem à tona, os mesmos jornalistas contentam-se com informação tipo nota encavacada nalguma esquina do jornal. Quem, durante a primavera árabe, com sangue frio, apontava para a realidade, e para o equívoco da comunicação social, era considerado desmancha-prazeres.

 

A imprensa europeia, ordinariamente, quando informa sobre questões árabes, discrimina-a pela positiva. Isto tem muito a ver com a dependência europeia do óleo árabe e com a fraternidade estrutural comum ao islão e ao comunismo.
O árabe só concebe a liberdade dentro do sistema islâmico enquanto o ocidente a concebe aberta, também fora dele. Enquanto para o ocidente também “o próximo” faz parte do sistema, para o árabe só o crente islâmico faz parte dele. Por isso a liberdade e a mudança que vem de fora constitui uma ameaça ao sistema.

 

A revolta não foi gerada no seio do povo, foi fruto de ideologias masculinas contra ideologias masculinas. O ideário árabe é extremamente masculino. Uma mudança para melhor só será possível quando a feminidade fizer parte dele. A Liberdade é Feminina por isso não se dá no Deserto.

 

O busílis dos problemas árabes está no facto de religião,  paz e liberdade serem qualidades femininas!

 

António da Cunha Duarte Justo
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Alemanha lidera mais de Metade dos Sectores industriais do Mundo

A Inveja afirma-se contra os Alemães

António Justo
Não há nação no mundo que produza tantas empresas de topo como a Alemanha. O segredo está no facto de as suas firmas conseguirem unir tradição com inovação e de se manterem, em grande parte, nas mãos de famílias. As empresas são continuadas no espírito pioneiro das famílias que as fundaram sendo, ao mesmo tempo, tidas como história e com um pedaço de cultura da região donde provêm. Nelas se pode ver uma parte da radiografia da alma alemã, uma alma que que vive da floresta mas na procura do sol. A tradição garante alta qualidade, sempre acompanhada por tecnologia inovadora do futuro. Actualmente esta tradição encontra-se ameaçada pela pressão internacional, apenas interessada na ganância do lucro, que, no processo global e europeizante, obriga as firmas alemãs a incluírem nelas o cavalo de Tróia accionista, com os especuladores internacionais.

A revista económica alemã “manager magazine” fez um estudo acurado sobre 1.000 firmas alemãs líderes de mercado mundial. Segundo o gráfico da revista, a Alemanha lidera no mundo o maior número de sectores industriais (cf. Manager magazine 10/10). Assim, a Alemanha tem 27 indústrias com uma quota de exportação de 41%, enquanto os USA têm 21 com 11%, a China 19 com 25%, o Japão 10 com 13%, a Inglaterra 6 com 28%, a Itália 5 com 24% e a França 4 com 23%.

A “manager magazin” apresenta como critérios de sucesso dos alemães: a presença no mercado, suficiente experiência (qualidade testada) e produção em massa. Faltou-lhe referir o horizonte que tudo isto possibilita, ou seja, o caracter/identidade civil alemão que não se define apenas pelo ego individual mas também pelo nós comunitário.

Favorece-os o facto de estarem presentes há muito tempo no mercado, como demonstram, por exemplo, o grupo BASF (1865) e Siemens. Não estão presentes no estrangeiro apenas com os produtos técnicos mas também com as suas instalações e fábricas. Vários Estados alemães estão presentes na China, com as suas fábricas e instituições culturais, desde o início da industrialização chinesa. Entre os Estados alemães (regiões) nota-se também uma necessidade de presença e competição colectiva. Um alemão sente-se simultaneamente como indivíduo tornado pessoa, trazendo consigo também a aldeia donde vem, a região, a nação e o mundo a que pertence. (O latino, se mais complexado, nega a província de que se envergonha!).

Um outro factor em benefício dos alemães está em experimentarem suficientemente o produto antes de o passarem a comercializar e a exportar(made in Germany). As deficiências são corrigidas e pagas pela experimentação a nível nacional.

A economia alemã provém duma tradição de base familiar incardinada no meio e portanto com uma sensibilidade especial para o bem-comum. A honra do alemão não se revela apenas no carro que conduz e na casa que tem para mostrar mas também na sua presença cultural no meio onde se situa. Cerca de 70% dos líderes alemães do mercado mundial, encontram-se em famílias. Uma família ao planear o seu investimento e os produtos pensa em termos de gerações, tem uma consciência de sustentabilidade, ao contrário de muitos concorrentes estrangeiros que só pensam no lucro imediato da venda do produto.

Os produtos em massa são aferidos às necessidades dos clientes. Os alemães são pessoas enraizadas na natureza, daí a sua simplicidade e até ingenuidade natural. São trabalhadores, correctos e disciplinados, como pude constatar em 35 anos de observação directa a nível individual e social.

Neste sentido, passo a citar uma sentença popular alemã que revela parte da sua alma maternal e da sua sabedoria: “Am deutschen Wesen soll die Welt genesen” e que traduzo: “O mundo deve-se recuperar no espírito alemão” (“No espírito alemão é curado o mundo”).

A sua vantagem está em antecipar-se tecnicamente. Num mundo de cigarras continuam a querer ser formigas! Vão sempre um passo à frente nas tecnologias porque aplicam grandes capitais na investigação científica e têm um grande mercado interno onde os podem testar. Um exemplo: Há mais de 20 anos o Estado alemão fomentou a investigação e o consumo da energia solar voltaica, tornando-se assim tecnologicamente campeã (SMA) neste sector a nível mundial. A Universidade de Kassel donde saíram os criadores (da SMA) está incardinada na região sendo um dos seus importantes motores de progresso económico. (Modelo de regionalismo e inserção no meio, o que é comum na Alemanha).

Mais de um milhão de alemãs violadas

Na Alemanha do pós-guerra chegou a haver pessoas que morreram à fome. Pessoas mais velhas deixavam de comer para as crianças não morrerem de fome. A terra, no Inverno, era tão dura (-15 graus) que não se podiam enterrar os mortos. Faltava até a madeira para as pessoas se aquecerem. As famílias viam-se obrigadas a tirar as cercas de madeira dos seus jardins para se poderem aquecer. 50% das habitações tinham sido destruídas pela guerra.

As mulheres foram as grandes heroínas do pós-guerra. Mais dum milhão de alemãs tinham sido violadas pelos soldados russos; os filhos, os noivos e os maridos tinham morrido na guerra ou ficado em campos de trabalho prisões. Para dominar tanta dor, o povo, que em grande parte não estava ao corrente das atrocidades do sistema de Hitler, lança-se ao trabalho de reconstruir a Alemanha. Em poucos anos conseguiram colocar o país à altura de muitos imigrantes poderem ver nele chances de melhoramento da própria condição.

Por este mundo fora, encontra-se muito boa gente, muito mal informada e desconhecedora do caracter alemão, preferindo viver na inércia do preconceito cómodo. A ignorância leva-a a reduzir a imagem do alemão a um ser de botas militares ou de calças de couro. O espírito de trabalho do alemão e a sua disciplina levam-no a ser mais eficiente que outros povos, a nível de produção. O seu porte disciplinado pode dar a impressão de soldado. Tem muito de comum com os portugueses (herança talvez goda, só que aos portugueses falta a disciplina). Emigram com as suas fábricas e instalações, levando com eles a natureza, tornando-se num enriquecimento das terras para onde emigram  e instalam as suas fábricas; tornam-se em verdadeiros promotores dos autóctones. Orientam as suas firmas como os políticos orientam o Estado. A sua presença tem uma influência muito benéfica nos países onde se instalam.

A inveja, o comodismo e o medo da concorrência podem muito. Tal como na fábula da Cigarra e da Formiga, deparamo-nos com mundos diferentes e de hábitos diversos que se confrontam e vivem, muitas vezes, da meia informação. Uma avaliação da realidade é sempre polémica, se vista pelos olhos da cigarra ou pelos da formiga.

António da Cunha Duarte Justo
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