A DIRETA ENTROU COM O PÉ ESQUERDO NO SEU GOVERNO

Presidência da Assembleia da República à Maneira de Geringonça?

Dois partidos adversários (PSD e PS) dividem entre si a presidência da AR! No teatro político-partidário a que assistimos para a eleição do presidente da Assembleia da República manifestou-se como causa primeira a luta de interesses e intrigas partidárias.  A cena é indigna de um povo sério que esperaria menos cálculo político e menos preconceitos nos deputados em que a disciplina partidária se manifesta superior à consciência individual dos eleitos.

Temos assim numa legislatura dois presidentes da AR que se poderão tornar numa espécie de cangalheiros do próprio governo se não houver compromissos que evitem tocar nos assuntos de corrupção sistémica (numa espécie de fiabilidade de conivência partidária). Assim passa a haver uma espécie de concubinato políticoentre o PSD e o PS, o que só prejudicará o PSD.

É pena constatar como uns se afirmam através do caos e outros a partir do preconceito e da difamação.

Para enganarem o povo dizem que a rotação introduzida (primeiro PSD com Aguiar-Branco e PS em 2026 com candidato a designar) não é resultado de um acordo programático, mas sim institucional! E isto como se a instituição pudesse ser responsabilizada pelos verdadeiros interesses ideológico-partidários que determinaram tal opção.

Uma outra coisa triste de ver no nosso Portugal político foi o afirmarem-se uns contra os outros com base sobretudo em preconceitos.

O preconceito é uma característica comum ao humano independentemente da sua nacionalidade, partido, ideologia ou cor de pele. O pior mal que se pode enraizar numa pessoa é a arrogância. O que mais perturba é encontrarem-se pessoas de “nariz arrebitado”: os donos da democracia e da verdade.

Esta foi a hora dos partidos espera-se que chegue a hora dos portugueses. As 4 votações são o melhor presságio da instabilidade política deste governo.

Apesar de tudo, parabéns e bom sucesso aos eleitos no sentido de servirem Portugal.

António CD Justo

Pegadas do Tempo

UNIÃO EUROPEIA NO MAU CAMINHO AO QUERER IGUALAR LEI E MORAL

Vingança não pode tornar-se em Fundamento quer da Lei quer da Ética

Ursula von der Leyen quer empregar os lucros do investimento provenientes de activos russos, que a EU congelou no seu espaço, para comprar armas para a Ucrânia. Na Bélgica encontram-se 200 mil milhões de euros do banco central russo, que em 2023 obteve 4,4 mil milhões de lucros.

A UE quer aplicar uma moral construída ad hoc para se vingar da invasão russa. O activismo parece ser o seu movente em vez da atitude nobre e racional. Como pode a UE justificar-se depois da guerra em tribunal se a moral não é objecto de aplicação legislativa! Com esta medida em termos legais a UE ficaria no banco dos réus ao lado da Rússia que a UE condena por lesar direito internacional!

Por que não fazer uso da paciência e não esperar para o fim da guerra geopolítica na Ucrânia para então se proceder à distribuição das reparações a fazer? Tem a UE a necessidade de usar armas contra os russos empregando para isso dinheiro russo? Não se trata aqui de defender alguém, mas de se manter a decência em relação à lei e à moralidade!

Como refere The European, “os bens dos Estados gozam de imunidade ou são pelo menos protegidos de expropriação sem indemnização. O congelamento de dinheiro é permitido em caso de conflito, pelo que a movimentação e utilização do dinheiro devem ser evitadas de todas as formas possíveis. Nada pode ser transferido e nada pode ser retirado. As instituições financeiras estão autorizadas a creditar juros e outros rendimentos aos seus clientes sancionados, mas estes também devem ser congelados imediatamente”.

Os representantes da EU reúnem-se hoje para deliberarem sobre o assunto. Já o motivo da reunião revela como desvairada e desorientada se encontram os nossos representantes políticos demasiadamente dominados por ideias bélicas.

Lei e moral querem-se de mãos dadas não devendo ser aplicadas uma contra a outra. Por trás destas tentativas expressa-se uma consciência decadente e no fundo arbitrária e antidemocrática.

António CD Justo

Pegadas do Tempo

LIBERDADE DE QUEM E PARA QUEM?

Chegamos a um estado da liberdade pública deprimente! Grande parte das pessoas tem medo de expressar a sua opinião em público!

De facto, as consequências que a liberdade de opinião pode trazer revelam-se, por vezes, como tóxicas em relação a amigos e nas relações laborais ou de adquisição de emprego.

Hoje quem não traz a tesoura da censura do pensamento na cabeça vê-se cada vez mais condenado às ostras.

E depois fala-se de tolerância!

António CD Justo

Pegadas do Tempo

11 ANOS DE PONTIFICADO DE FRANCISCO

Parabéns ao Santo Padre e desejos de muita saúde para também poder coroar a caminhada que iniciou com o “Caminho Sinodal” com sucesso para o bem de toda a Igreja.

Aniversário da eleição do Cardeal Jorge Mário Bergoglio para Papa a 13.03.2013. Com o início do seu papado o eixo da história movimentou-se para Sul iniciando-se também um mundo multipolar. Inicia-se uma época que nos obriga a sermos mais regrados no ter para podermos todos ser mais!

Francisco interferiu em todas vertentes que hoje preocupam a humanidade com escritos como três encíclicas:

Luz da Fé (Lumen Fidei), de 2013 sobre a fé e que recolhe reflexões de Bento XVI

Louvado sejas (Laudato si) de 2015 sobre o cuidado da casa comum

Irmãos todos (Fratelli tutti) de 2020 sobre Fraternidade e Amizade social: propõe acções globais que superem as contradições do presente:  “De fato, quem não ama o próprio irmão a quem vê, não pode amar a Deus que não vê” (1Jo 4,20).

Escreveu também as exortações apostólicas: A alegria do Evangelho (Evangelii Gaudium)

A alegria do amor (Amores Laetitia)

Cristo vive (Christus vivit) aos jovens e a todo o povo de Deus

Querida Amazónia, exortação Pós-Sinodal dirigida ao Povo de Deus e a todas as pessoas de boa vontade.

As encíclicas encontram-se em várias línguas no seguinte Link: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals.html

Vale a pena ler para se entrar melhor no espírito do Papa Francisco

António CD Justo

Pegadas do Tempo

O PAPA APELA A NEGOCIAÇÕES CONTRARIANDO A VONTADE DA NATO

Da Interpretação errónea das Declarações do Papa Francisco

No início de fevereiro, numa entrevista recentemente publicada na televisão suíça, sem nomear nenhuma das duas partes em conflito, (a Rússia ou a Ucrânia), o Papa apelou para negociações e disse: “Quando virem que estão a ser derrotados, que as coisas não estão a correr bem, devem ter a coragem de negociar”. “Não tenham vergonha de negociar antes que as coisas piorem”. “As negociações nunca são uma capitulação”, disse o Papa.

Quando o entrevistador lhe perguntou se, por vezes,”não será preciso coragem para levantar a bandeira branca”, o Papa respondeu: “É uma questão de perspetiva. Mas penso que a pessoa mais forte é aquela que reconhece a situação, que pensa nas pessoas, que tem a coragem de levantar a bandeira branca, de negociar”.

O Papa não disse que a Ucrânia devia render-se, mas as declarações pelo significado e influência que têm provocaram grande polémica no meio político e nos meios de comunicação social. A expressão „ içar a bandeira branca” foi utilizado pelo entrevistador e o estranho é que políticos e jornalistas – à maneira da política pós-factual – se tenham agarrado a essa expressão sem prestarem atenção ao que o Papa realmente disse, para assim colocarem a questão em fora de jogo. As palavras do Papa estão a causar tanta indignação porque elas estão também indiretamente a apelar ao fim da propaganda de guerra por parte dos políticos e dos meios de comunicação social e, em vez disso, ousem criar um clima para negociações.

As palavras do Santo Padre são pervertidas e usadas por políticos e publicistas como petróleo ao serviço da estratégia de indignação medial europeia. Sabiamente, o Papa recusou-se desde o início da guerra a jogar apenas a cartada dos países da NATO porque conhecia também as cartas da Rússia e o que há dezenas de anos ia acontecendo na Ucrânia. O desalento dos membros da NATO dá-se porque conhecem a eficácia das suas palavras; por isso reagem horrorizados, tendo para tal colocado na boca do Papa intenções que ele não tinha (que a Ucrânia içasse a bandeira branca).

Encontramo-nos numa guerra em curso com a diplomacia desligada e toda uma propaganda activa no sentido de a fazer escalar e motivar para isso o povo que então seria comprometido no grande erro da história europeia.

Em vez das palavras do sumo pontífice terem provocado na política e na opinião pública publicada, uma discussão argumentativa e factual sobre causas e consequências, tudo reage em conjunto como se fossem beligerantes, limitando abusivamente o tema ao aspecto emocional para assim prosseguirem a sua propaganda mediática. Neste sentido será de observar também a videoconferência dos generais alemães: Os russos publicaram a verdade, os alemães confirmaram e ninguém se pergunta sobre a verdade que os generais alemães expressaram. O interessante da tragicomédia é que os media passaram a atacar a Rússia por ter publicado a verdade. Mas a miopia ocidental é tanta que tudo se deixa levar na enxurrada dos sentimentos provocados em vez de se ocupar com uma estratégia de defesa dos interesses futuros da Europa e do bem-estar entre os seus habitantes.

Neste estilo de informação constata-se uma falta completa de respeito, também pelas populações sujeitas à evidente manipulação. Os mesmos que acusam o Patriarca ortodoxo de Moscovo Cirilo de apoiar a política do sistema russo interferem agora na opinião pública ocidental criticando o facto do Papa Francisco não apoiar a política dos EUA/NATO/EU. Torna-se lamentável que numa sociedade europeia pretensamente mais adiantada que outras os políticos façam uso do pensamento a preto e branco: nós somos os divinos, e os russos são os diabólicos, como se se tratasse de uma batalha entre o bem e o mal e não uma diabólica luta de interesses por influência económica e poder político dos dois lados. Assim torna-se tudo numa farsa e num jogo hipócrita ao pensar-se que se apoia a Ucrânia se formos a favor da Rússia ou se formos a favor da NATO/USA/UE.

Recentemente, o Papa apelou à oração pelo povo da Ucrânia e da Terra Santa e acrescentou: “Acabem com as hostilidades que estão a causar um sofrimento incomensurável à população civil.”

A entrevista será transmitida a 20 de março. Os membros da NATO teriam desejado que o Pontífice reforçasse a sua vontade de guerra para assim se tornar cúmplice e fortalecedor da propaganda noticiosa em via. As autoridades de Kiev reagiram como do costume, dado o seu credo partir do pressuposto que se encontraram do lado do bem e terem de “matar o dragão”!  A posição do Papa Francisco até daria uma possibilidade de negociações e uma saída do conflito de cabeça levantada e incluir a oportunidade de mediação através das comunidades religiosas. (De facto, o que importa é: “Negociar para proteger a vida do próprio povo e evitar uma perda ainda maior de soberania“. Seria mau e lamentável se representantes das comunidades religiosas se deixassem envolver nesta guerra demasiado complexa como participantes do conflito, como fez o Patriarcado de Moscovo e um bispo ou outro evangélico e indiretamente algum católico. Mesmo assim, o contexto é diferente e torna-se lamentável que purpurados ocidentais se deixem instrumentalizar como apoiantes de uma guerra que surgiu de várias partes envolvidas na Ucrânia e do nevoeiro da informação…

Ao contrário de políticos europeus (EU) que estão a sustentar uma guerra por procuração, o Papa está a defender os genuínos interesses da Europa e do seu povo nesta guerra geopolítica que está a ter lugar na Europa e só vem beneficiar os EUA e também prejudicar futuramente a Europa toda.

O Vaticano está muito bem informado do que se passa realmente no mundo e apenas algumas semanas após o início da invasão russa, o Papa disse numa entrevista a um jornal diário italiano que os “latidos à porta da Rússia ” da NATO podem ter contribuído para a guerra.

O Papa certamente sabe que os EUA estão interessados em que esta guerra entre os EUA e a Rússia seja deixada só aos europeus numa estratégia impossível.

O Vaticano não persegue interesses políticos de poder e num momento de conflito internacional pior que o conflito de Cuba pretende evitar a escalada para uma guerra terceira mundial, a ser preparada às escondidas. Que católicos tomem posição num sentido ou noutro faz parte da liberdade da consciência católica.

Os políticos europeus, que se envolveram, no sentido dos EUA e do Reino Unido, como impulsionadores da guerra, não querem agora perder a sua própria face e, por isso, insistem em intensificar a guerra na esperança de que isso estabeleça a UE como uma terceira potência mundial na geopolítica. Por outro lado, com a guerra, evita-se o surgir de atenção para a revolução ideológica em curso sob a forma de uma mudança total nas relações internacionais, na consciência das pessoas;  na consequência prepara-se a imposição do mundo virtual, a  abolição de dinheiro não virtual  e uma liderança digital que desmantelará o sistema atual no sentido de um capitalismo oligárquico combinado com um marxismo oligárquico a nível mundial (Segundo o modelo chinês). Neste sentido seguiriam a mundivisão asiática e islâmica que consideram os súbditos ou cidadãos não como pessoas livres, mas como elementos funcionais dentro de um sistema meramente mecanicista e prático vendo o seu “sacerdócio” reduzido em função do braço administrativo.

O Papa tem de permanecer neutro (por saber que a verdade não está nem num polo nem no outro) e para isso tem de manter uma posição aberta às razões dos dois lados pois o seu compromisso é de ordem superior: o empenho pela paz alcançado através de leis e conversações e a justiça. Em política não há o lado bom nem o lado mau porque a sua lógica é a defesa de interesses.

Os mortos ucranianos e russos merecem mais respeito para se evitar a morte dos próximos vivos. A tática de o Ocidente identificar a Rússia com a União Soviética é manipulativa e falsa: é como comparar a Alemanha atual com o regime nazista.

Para os EUA é igual o que acontece aqui na Europa em termos de futuro e por isso acham bem que os Franceses enviem soldados para a Ucrânia, coisa que eles não fariam. Atendendo a um futuro americano sob a perspetiva de Trump, os Europeus ainda se apressam mais por assumirem o papel militarista dos EUA. A Europa embora defendendo os interesses do parceiro EUA não se encontra em bons lençóis porque sabe que a África, a Ásia, o mundo muçulmano e em grande parte a américa do sul se encontram ao lado da Rússia.

Os agressores foram engordados na Ucrânia ainda antes de 2014 e deles fazem parte os EUA, a Rússia e os oligarcas da Ucrânia; a longo prazo foi preparado o povo ucraniano para aceitar a sua guerra civil como podemos ver na interessante série televisiva ucraniana de ação propagandista de oligarcas no sentido de levarem ao poder Zelensky.

A abordagem da responsabilidade da guerra na Ucrânia terá de ser colocada no contexto  dos interesses geoestratégicos Nato/Rússia e de parte da população ucraniana que apoiava a Rússia e a outra parte que apoiava a NATO e a EU. Naturalmente todos os actores envolvidos no conflito querem lavar as mãos dele por razões de poder e para não terem se assumir as elevadas reparações que no fim da guerra seriam repartidas.

Em abono da verdade, jornais alemães citam, Sahra Wagenknecht, copresidente do partido BSW que afirmou: “O apelo do Papa para que se iniciem finalmente negociações de paz para pôr fim à guerra na Ucrânia é corajoso e sensato”. Francisco leva a sério a mensagem de paz do cristianismo e criticá-lo é uma falta de respeito. “Há muito tempo que a guerra na Ucrânia já não se trata de ganhar, mas apenas de morrer”, disse a presidente do partido.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo