Recepção do Dalai-Lama – Um Gesto Soberano

A chanceler alemã Ângela Merkel recebeu na chancelaria alemã o Dalai-Lama, representante dum povo subjugado e uma autoridade para budistas dentro e fora da Ásia. Dalai-Lama o chefe supremo dos tibetanos vive desde há 50 anos no exílio na Índia.

Ângela Merkel recebeu o Dalai-Lama apesar dos interesses alemães na China. Este gesto não prejudicará os imensos interesses económicos da Alemanha na China porque o regime de Pequim tomará mais a sério uma Alemanha honesta e leal.

A China faz tudo por tudo para que o tema do Tibete não apareça na ordem do dia a nível internacional. O problema porém só poderá desaparecer da ordem do dia desde que a China resolva o problema com responsabilidade. O interesse económico não se deveria impor à custa da liberdade e da democracia. O silêncio cúmplice de muitos governos ajuda o desejo da China a levar o tema ao esquecimento.

O regime chinês naturalmente que não gosta de ser recordado do mal feito. Verdade é que o olhar severo da grande estátua do Buda de Lantau (Hongkong) tem razão para continuar a olhar severamente na direcção de Pequim.

Ângela Merkel fez frente à China, mostra coragem e que a política também se preocupa com os problemas dos mais fracos a nível de ordem do dia. A Alemanha mostra com este gesto que também vive os seus valores. Não só se preocupa com o pão mas também com o espírito. Faz diplomacia pela liberdade e democracia.

As circunstâncias em que decorreu a visita do Dalai-Lama a Portugal e o comportamento do governo mostraram-se indignos dum Portugal independente e soberano. Tendo embora o socialismo um fraquinho pelos regimes comunistas, quando se encontram à frente dos governos, deveriam porém dar primazia aos interesses do Estado e da democracia.

Também a demonstração suave dos monges budistas em Birma na defesa de direitos humanos e da democracia bem como o seu grito subjacente de apelo à ajuda internacional mereceria mais empenho público e não apenas palavras bonitas e accionismos ocasionais.

António Justo

António da Cunha Duarte Justo

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Universo – Uma Metáfora

Como começou o universo, de que consta e o que é que o mantém? Estas perguntas permanecem constantes em toda a humanidade e durante todos os tempos.

Cada época dá diferentes respostas às mesmas perguntas. Isto corresponde à necessidade de se querer ordenar o mundo, de querer arrumá-lo. Para uns o mundo começa com o Big Bang (Explosão inicial) para outros com Deus.

Com Nicolau Copérnico a Terra passou a ser ordenada no sistema solar. A consciência de se estar no centro do mundo foi-se. A Terra deixa de ser o centro do universo e com isto surge uma nova consciência humana. Com a insignificância da terra também o ser humano passa a ser satélite, uma função mecânica anónima. Do humanismo dá-se o passo para o materialismo. Hoje os astrónomos relegam a Terra para a periferia dum universo ao lado de muitos outros. E o ser humano onde se encontra?

A visão do universo correspondente à visão da matéria. Microcosmo e macrocosmo correspondem-se. Da matéria dos átomos passa-se às formações universais. O universo consta apenas de 1 a 5% de matéria visível e é activado por uma força invisível; os cientistas especulam sobre os 95% que faltam falando então de matéria escura e de energia escura. A força que move o universo não é conhecida; o universo está cheio do que se não conhece. Fala-se mesmo de vários universos. As imagens da realidade dos cosmólogos são tão diversas como as dos teólogos sobre Deus e o mundo. David Groß, prémio Nobel americano, afirma: “Nós mesmos não sabemos do que falamos”. Constroem-se teorias que depois se procuram provar. A investigação dos macrocosmos e dos microcosmos complementam-se.

Lee Smolin da University of Waterloo refere que “hoje a maior parte do que os teóricos publicam sobre as bases da física não se pode examinar”. É difícil encontrar provas para a nova mundivisão. A origem e a estrutura base do universo não foram ainda equacionadas em fórmulas.A física encontra-se empenhada na procura duma nova imagem do mundo, na procura da sua fórmula.

A física conhece 5 estados da matéria: sólido, líquido, gasoso, plasma (gás ionizado que forma mais de 99% do universo visível) e condensado, segundo Bose-Einstein (um estado em que os átomos participantes vibram na mesma frequência e se alcança à temperatura de -273 graus Celsius). Temperatura é energia do movimento.

O universo é uma metáfora de Deus. À semelhança dos mundos “físicos” formam-se as mundivisões.

Para a física astronómica o universo originou-se dum “ponto nulo” através da explosão original. Para a matemática o ponto é um nada. Para a filosofia ele é a medida de todas as coisas. Para a teologia cristã é Deus, que se especifica na fórmula trinitária.

O filósofo Euclides definiu já 300 anos antes de Cristo o ponto como “algo que não tem partes.” O ponto negro é um ponto infinitamente pequeno de tal modo comprimido que materialmente não existe e ao mesmo tempo contem a matéria das estrelas solares mortas. Ele é de tal modo comprimido que nem sequer luz irradia.

Chegamos a uma imagem do mundo de céu aberto em que o centro se encontra em toda a parte e se reconhece o não-material como origem do mundo material visível. Isto implica a formação duma nova consciência e duma nova mundivisão com consequências inestimáveis para o futuro.

Para Teilhard de Chardin matéria e espírito são os dois rostos do mesmo elemento cósmico, dois estados da criação. A criação é um acto contínuo da evolução biológica e histórica e “Deus é o coração de tudo, o coração da matéria…” (O cientista e teólogo Teilhard de Chardin antecipa a nova consciência que ainda continua a passar desapercebida na pós-modernidade. A mudança iniciada no séc.XX só pode ser comparada com a mudança de consciência do renascimento, só que desta vez para melhor! A globalização em curso é um fruto exterior da mentalidade nascente).

A medida da humanização do ser humano orienta-se para o ponto Ómega, a incarnação. Tudo se encontra a caminho desse ponto. Cada um, por vias diferentes, está a caminho na procura da luz que se encontra na matéria: “Eu sou a luz do mundo”.

“Consola-te, tu não me procurarias se me não tivesses já encontrado”, já sabia Blais Pascal. Agostinho juá tinha chegado à mesma experiência.

Aqui se torna latente o irromper duma nova consciência, uma nova maneira de estar no mundo que é comum à Física, à Cosmologia e à Teologia. A política ainda não despertou para a nova realidade!

António Justo

António da Cunha Duarte Justo
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União Europeia – Razão e Fé

Partidos à Margem da Nova Mundivisão Científica

A Europa foi desbravada com a charrua da fé e da razão. Também Portugal, na sua fase áurea, foi à conquista do mundo, com o arado da fé e da razão, contribuindo com a sua obra colonizadora para o desenvolvimento das civilizações.

Em que se terá de basear hoje a Europa para a conquista do futuro? Na redescoberta da união da fé com a razão, na reunião da filosofia e das Ciências Naturais?

O que resta de Cristão no Ocidente? A investigação do específico religioso na cultura europeia não se pode reduzir a um trabalho de arqueologia. Exige uma tarefa de argumentação dialógica. A Europa é judaica, grega, romana, bárbara, ortodoxa, católica, protestante, revolucionária, dialéctica e mística. Dela surgiu a globalização que é o início da resposta ao espírito novo, à nova consciência do ser humano a que o século XX deu base com a superação das contradições de espaço e tempo no contínuo espaço-tempo e a superação do dualismo matéria-energia. Esta descoberta ainda não entrou na consciência política europeia.

Desenvolvimento da Consciência Europeia
No desenvolver das nações, nos seus altos e baixos, houve sempre uma linha condutora que ligou a Europa. O cristianismo manteve o culto da razão no equilíbrio polar de corpo e alma.

Com o início da época moderna no séc. XVI e a correspondente divisão das ciências e fragmentação política e religiosa, sob a égide das ciências naturais obteve-se um grande desenvolvimento tecnológico na Europa.

Galileu Galilei no século XVI dá início ao credo da nova época determinando o absolutismo da nova ciência com o seu programa:”Medir tudo o que é mensurável e tornar mensurável o que ainda não é.” Descartes com a geometria analítica e o exagero do princípio dualista realiza a separação completa de corpo e alma.

Com a passagem do pensar lógico para o pensar racionalista exagerado, o iluminismo e a Revolução francesa (e seus sequazes) querem banir tudo o que é cristão e substitui-lo pela sua nova ideologia em toda a Europa. Depois da revolução francesa afirmam-se no espaço político dum lado as forças restaurativas (socialismo e republicanismo) e do outro as forças conservadoras. Nesta época o racionalismo impõe-se à razão e à religião desembocando na praxis tecnológica e tecnocrata. A grande actividade renascentista levou também aos becos sem saída mecanicista, materialista e racionalista. A pós-modernidade procura um caminho para sair da crise. O espírito ocidental manteve-se mais num espírito católico que não cede ao dualismo e não se perdeu no experimentalismo.

No século XIX e XX o socialismo queria tornar-se o sentido da Europa. As novas descobertas da física relegam o socialismo para uma ideologia presa ainda no espírito do séc. XIX. O fracasso do sistema socialista e das ideias da geração de 68 tornam-se cada vez mais visíveis. Incapaz de se modernizar a família socialista ainda actua desesperadamente estoirando os seus últimos cartuxos. Procura, com uma determinada maçonaria, influenciar a Europa a nível da sua Constituição e instituições, bem como com intervenções autocráticas, quando se encontram em funções governamentais. Perde-se na luta cultural. O seu problema está em ter perdido o comboio da história e da ciência. Enquanto que o catolicismo muito lentamente se adapta à nova visão da ciência os credos políticos apenas se aproveitam das suas marginalidades mantendo a sua mundivisão antiquada. O seu desespero manifesta-se no militantismo dum progressismo ultrapassado contra uma sociedade de espírito cristão que, apesar de vagarosa, por não ter concorrentes sérios a nível de visões e modelos intelectuais de sociedade, está segura da sua presença no futuro da Europa e do mundo. Os democratas cristãos e os conservadores europeus distanciaram-se do missionarismo marxista mas também eles, desorientados, se deixam similarmente levar pelo mero pragmatismo.

Assim a União Europeia tornou-se numa realidade de grande sucesso à margem da ideia do ocidente cristão. No debate sobre a Europa do futuro, o elemento cristão é imprescindível. Ignorá-lo significaria a abnegação de si mesmo. Há forças ligadas à tradição extremista da revolução francesa (um certo liberalismo, socialismo e o republicanismo laicista), agarradas às velhas ideias mecanicistas, materialistas e racionalistas da velha ciência, que continuam empenhadas em desacreditar a história do ocidente. O laicismo quer declarar a religião como coisa privada. À margem da realidade mundial e dos verdadeiros ideais de democracia, desconhecem que não há liberdade sem liberdade de religião / consciência, tanto a nível público como privado. Optam por um restringimento nacional. Desconhecem a mundivisão da nova ciência e a filosofia cristã. Vivem oportunamente dos erros duma economia abandonada a si mesma.

A história da Europa seria incompreensível sem o cristianismo. A Europa tornou-se uma grandeza geográfica e política através dele. O Ocidente como toda a cultura tem os seus fortes e os seus fracos. Não se pode viver na limitação da nostalgia nem na ilusão dum mundo intacto. Política e religião têm que tomar mais a sério as descobertas da nova física no início do séc. XX. A política para dar resposta aos sinais dos tempos deve rever a sua ideologia com base na nova ciência e a religião deve acentuar o pensar místico incluído na fórmula trinitária que se encontra muito perto da fórmula física.

Um elemento que não poderá ser esquecido no espírito da Europa é também a ortodoxia.
A discussão ideológica e a tentativa marxista e racionalista laicista de impedir a referência cristã na Constituição Europeia e um certo actuar anti-cultural posto na ordem do dia, revelar-se-ão como um erro no futuro dum socialismo integral.

A declaração pelo cristianismo não implica o monopólio cristão do espírito da história europeia. O carácter discursivo do espírito grego, romano e judaico e o ideal da liberdade são aspectos vitais da identidade espiritual europeia. O cristianismo, nas suas várias expressões e o espírito europeu em permanente discurso e constante acção recíproca dos diferentes povos e sub-culturas europeias, com a sua ideia católica, são um modelo exemplar para a configuração do mundo. Isto é óbvio também pelo facto dos princípios éticos serem objecto da discussão e não garantidos pela jurisprudência ao contrário da maneira de estar islâmica e do credo comunista. A civilização cristã é, na sua essência, aberta. Uma praxis europeia com fundamentos na ética, Deus, constituição revelou-se muito oportuna. A constituição está ligada aos valores. Um preâmbulo de Magna Carta que expresse a responsabilidade, Deus, o Homem, a consciência na liberdade do desenvolvimento corresponde ao desenvolvimento da Europa através dos tempos. A Constituição Polaca seria o melhor exemplo a seguir, neste aspecto. Ela fala da responsabilidade perante Deus e perante a própria consciência…

Não há nenhum euro-centrismo na tradição judaico-cristã. As raízes do cristianismo e a sua origem estão fora da Europa. Tomás de Aquino e Alberto Magno possibilitaram a discussão com a Antiguidade. O protestantismo acentua a continuidade dos fundamentos dos primeiros séculos, enquanto que o catolicismo opta por uma apropriação na continuidade. A independência de igreja e estado é específica. A cultura cristã possibilita assim a multiplicidade das formas de vida. Ao contrário do Islão que é anti-moderno e só se comporta tolerante quando vive em diáspora; falta-lhe ainda a teologia. O cristianismo é compatível com as diferentes culturas sem condicionamento hegemónico. Esta é a vantagem do modelo europeu.

O passado europeu ainda se encontra muito presente. Ainda se não reconciliou na relação entre cristãos ortodoxos, católicos e protestantes nem com o laicismo dos ideais do liberalismo da revolução francesa. As experiências sangrentas com a revolução francesa e as guerras civis republicanas ainda se encontram muito presentes na consciência europeia.

O Vaticano II procura a reconciliação. Na verdade o berço da dignidade humana é o cristianismo, só que a instituição se preocupou demais pelo poder, pela instituição. Um pensar baixo laicista persiste em antagonizar cristianismo, liberdade e iluminismo. Nesta luta de galos na mesma capoeira perdem-se muitas penas. A Europa precisa de qualidade espiritual e de perspectivas construtivas. A fórmula é fé e razão independentemente das patologias da fé e da das patologias da razão. A razão tem que continuar a acção purificadora das patologias religiosas tal como o cristianismo terá de purificar as patologias da razão que se manifestaram na concepção do homem como um produto. Também a razão tem fronteiras como se pode ver na bomba atómica e ao passar da lógica para o racionalismo. A esquerda tornar-se-ia infiel a certos princípios que defende se continuar no combate de castelos no ar e na guerra a um cristianismo macarrónico.

O melhor sistema de relação entre igreja e estado é o modelo alemão em que há uma relação de independência na parceria. Este modelo tem naturalmente os seus quês numa nova situação com o aparecimento dum islamismo com elementos ainda incompatíveis com a democracia.
Um processo de aprendizagem estará no trato de religião e política com a liberdade. Isto pressupõe um longo processo. A experiência nos Balcãs pode ser vista como chance ou como ameaça, o nacionalismo bósnio por um lado, uma polónia vital mas muito próxima à ortodoxia por outro. O mundo cada vez se torna mais numa “aldeia” não permitindo que se desça do comboio da história.

A Europa é a alternativa ao poder todo-poderoso das ideologias. Os muçulmanos terão de se abrir ao pensamento científico. Doutro modo haverá o perigo duma Balcanização da Europa.
O laicismo religioso da Turquia fere a liberdade, não sendo compatível com a Europa. Por sua vez os cristãos não podem aceitar que a religião seja reduzida a coisa privada ou sujeita a favoritismo. Os cristãos aprenderam a lição uns com os outros. O individualismo vê o estado e a Igreja como um perigo. A esperança numa liberdade que tudo promete é vã.

A religião será cada vez mais tema. É-o já na Europa desenvolvida. O secularismo terá de se tornar mais humilde e aberto, doutro modo diminuirá bastante, falhando a sua missão. A religião, quer queiramos quer não, permanecerá uma constante evidente. A América é um exemplo em que religião e modernidade não são contradições. A religião faz parte da discussão intelectual. O relativismo ainda vigente em alguns credos político-administrativos é uma ironia acerca do próprio vazio. Na província europeia instalada em certos meios de influência portuguesa ainda se continua a viver da luta pela luta, da luta de pseudo-intelectuais contra a cultura da maioria.

As pessoas procuram Deus, segurança, salvação, comunidade, vida subjectiva expressa em diferentes atitudes. Precisa-se da diferenciação dos espíritos e de diversas modalidades de vida.

A verdade liberta-se na liberdade, ao decidirmo-nos por ela. Muitos terão de aprender a nadar na nova religiosidade. Esta não oferece garantia a ninguém. Pode ser uma chance para todos. A renascença da religião não permite o regresso ao passado apesar dos impulsos muçulmanos. A fixação na autoridade é estranha à realidade cristã e contrária ao desenvolvimento subjectivo.

Sendo o cristianismo a fonte da Europa não deve ser reduzido a arqueologia. O futuro do cristianismo na Europa depende naturalmente do seu número e do seu testemunho e o desenvolvimento da civilização ocidental dependerá da fidelidade ao espírito judaico-cristão..

A Europa foi construída na dialéctica entre tradição e inovação, entre fé e razão. Uma fé não fechada em si mesma mas sempre dinâmica no seguimento da inteligência e amparada pela razão não precisa de temer o futuro. A Europa soube integrar a revolta no seu ser, através duma sabedoria prática.

O cristianismo é também um parceiro imprescindível à União Europeia nas diferentes plataformas de diálogo entre as civilizações e as culturas. Seria miopia assentar as relações internacionais apenas nas forças militares e económicas desconsiderando o papel das ciências e da religião na formação das mundivisões.

Sistemas partidários antiquados
Só modelos totalitários se julgam capazes de dar resposta à perfeita realização humana. Todo o absolutismo abafa o homem. Nenhum futuro, nenhum Deus, nenhum ser humano pode ser encerrado num sistema seja ele político, religioso ou intelectual.

Só a investigação fundamental da ciência europeia do séc. XX conseguiu, com as descobertas de início do século, dar resposta às novas necessidades iniciando uma nova tentativa, uma nova mundivisão e método de trabalho que pressupõe uma nova maneira de estar no mundo. As elites políticas do séc. XX não compreenderam esta revolução científica e continuam fiéis às velhas ideias. Assim aqueles que antes eram símbolo do progresso tornaram-se o seu impedimento, muito embora em nome dele.

Hoje o grande problema dos nossos sistemas partidários é o facto de se manterem antiquados, continuando a aplicar a mundivisão do século XIX, o exagero iniciado no séc. XVI e cujos extremismos se manifestam no (racionalismo), no marxismo, no pragmatismo e no existencialismo.

Desconhecem a nova ciência iniciada com Planc (teoria quântica) e com Einstein (teoria da relatividade que superou o materialismo dualista). As ideologias políticas modernistas, que determinam actualmente o dia a dia político europeu, ainda se encontram prisioneiras das velhas ideias dos tempos modernos que dominaram até ao século XIX. Vivem à margem da nova ciência que superou a velha maneira de pensar racionalista e materialista.

O futuro implica, com a base da experiência da época moderna, a reactivação duma visão complementar de todas as disciplinas, procurando evitar todo o dualismo e iniciar uma nova maneira de encarar a realidade na integração da ciência naturais e humanas. Uma nova plataforma dos partidos terá que assentar numa dinâmica polar complementar. O Universalismo só será possível numa visão integral, não dualista.

António Justo

António da Cunha Duarte Justo
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São Martinho – Castanhas e Vinho

No dia 11.11 S. Martinho é festejado por todo o lado. Na Alemanha é costume as crianças dos Jardins-de-infância saírem ao anoitecer para a rua. Em cortejo, a catraiada, de lanterna em punho e acompanhada pelas educadoras de infância, dá mais cor e expressão ao ambiente, cantando “Laterne, Laterne”.

As lanternas acesas, que ostentam na mão, são geralmente elaboradas pelas mesmas crianças nos Jardins-de-infância. Com este rito de preparação e encenação, aprendem a importância do partilhar bens materiais e culturais. Há lugares onde, no desfile, uma das crianças vai vestida de São Martinho montado num ponny. Para arredondar o acontecimento, nalguns lugares come-se o “Ganso de S. Martinho”

Em Portugal aproveita-se o Verão de São Martinho para se assarem as castanhas e provar o vinho novo. Nalgumas escolas organizam-se magustos. Pelo mundo fora muitas comunidades portuguesas mantêm a tradição de festejar o “Verão de S. Martinho com castanhas e vinho. Muitas vezes chegam de encomenda, trazendo, no seu luzir, o sol português!… O vinho, esse levanta o espírito e chega a fazer milagres inspirando e consolando homens e mulheres na doce fantasia sentida no horizonte da saudade comunitária. Assim se espalham e vivem tradições

O povo conta que um soldado romano chamado Martinho, num desses dias húmidos e tristes em que o vento empurra o frio e a chuva contra o povo, Martinho estava de serviço fazendo a sua ronda.

A caminho, depara com um velho desnudado a tiritar de frio, que de braço estendido pedia esmola.

O soldado Martinho, sem nada para dar, tirou a própria capa e, cortando-a ao meio com a sua espada, entrega a metade ao mendigo que quer agasalhar.

Passados momentos deixou de chover e o sol raiou como se fosse pleno Verão. Daí o costume do povo chamar aos dias quentes de Novembro o “Verão de S. Martinho”.

Martinho desceu do cavalo da sua importância para se colocar ao nível do pobre. Essa atitude acalora o próximo e o ambiente.

No gesto de Martinho, a espada, uma arma destinada a ferir e matar, nas mãos de Martinho, transforma-se num instrumento de compaixão e de amor ao próximo. É o sol a raiar na natureza e no coração!

António da Cunha Duarte Justo

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Domingo – Um Valor Cultural a Defender

Domingo – Um Oásis à Margem do Consumo

As Igrejas, Católica e Evangélica, recorreram ao Tribunal Constitucional Alemão, para impedirem que o Estado de Berlim imponha a abertura do comércio ao público, durante dez domingos por ano. Noutras partes da Alemanha as igrejas têm tido sucesso no impedimento de transformar o Domingo em dia de trabalho tendo recebido o apoio das mais diferentes iniciativas e até mesmo de muitas Câmaras Municipais.

As Igrejas são de opinião que uma sociedade precisa de dias livres para descansar e se dedicar ao cultivo do espírito, ter espaço e tempo para o cultivo de valores imateriais.

O consumo tornou-se num substituto de religião pelo que, para muitos, os templos de consumo deverão estar sempre abertos. Antigamente nas cidades sobressaíam as torres das Igrejas, hoje sobressaem as torres dos bancos e dos Centros Comerciais. Óbvio seria que sobressaísse a grande “Torre”, o Homem, do mais pequeno ao maior.
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A sociedade precisa de tempos livres de trabalho, de tempos festivos. É verdade que muita gente (sem acesso ou sem consciência da necessidade de consumir cultura) não sabe que fazer com o tempo livre. Os templos do consumo, no seu próprio interesse, para atraírem o pessoal e as crianças, criam ofertas de distracção também para as famílias. As Juntas de Freguesia, as Paróquias e outros agrupamentos culturais estão empenhados em oferecer actividades de tempos livres para cultivarem nos seus “clientes” interesse por valores culturais. A Alemanha nação da cultura e da inovação consegue manter a importância da tradição e da cultura e ao mesmo tempo estar na vanguarda do desenvolvimento. A insidiosa tentativa do Burgomestre de Berlim, da mesma criação de Sapateiro e de Sócrates, sem respeito pela tradição, dificilmente irá à frente. O tempo das ramboiadas e das vacas gordas já passou!

Muitos cidadãos criam dívidas nos bancos ou vivem ao Deus dará, sempre na dependência. A sociedade de consumo não conhece pessoas, só lhe interessam consumidores; quanto mais eles irreflectidos forem melhor para o comércio e para o Estado. O comércio vive das compras e o Estado dos impostos, quanto menos dinheiro ficar na bolsa dos cidadãos maior é o proveito para o Estado. Por cada dia santo a menos, o Estado vê a sua bolsa aumentar. Por isso o Estado, de mãos dadas com o capital, não quer dar a hipótese de se pensar sobre a vida e o seu sentido, aquilo que pretendem as Igrejas ao pretenderem manter o domingo livre do trabalho.

O Domingo oferece uma outra atmosfera ao país, também nas ruas e nas estradas há mais paz.
No Domingo sai-se do normal, do rotineiro ficando mais tempo disponível para si próprio, para a família e amigos.

O homem não vive só de pão. Para os cristãos o Domingo é o primeiro dia da semana, dedicado a Deus e ao Homem. Já no Antigo Testamento a religião ordenava o descanso sabático para animais e serviçais. Na Idade Média a redução do Homem a homo faber era contrariada com o mandamento de abstenção de trabalho nos Domingos e Dias Santos. Estes ocupavam uma significante parte do ano. Não se trata de defender aumentar os dias de descanso, mas de não deixar reduzir a pessoa humana a mero instrumento do Comércio e do Estado. A avidez do Estado cada vez escava mais o interior das pessoas no sentido do “não importa” e dum “é igual”indiferente. A precariedade e a falta de referências das pessoas tornam mais fácil a sua manipulação e escravização. Certas elites, ligadas ao negócio da economia e da política, querem ver o cidadão reduzido a proletariado, a colectivo preocupado só com o pão. O bem cultural do Domingo é um impedimento aos seus interesses pelo que fazem tudo por tudo para o colocar à sua disposição e serviço.

António Justo

António da Cunha Duarte Justo

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