VISITA DO PAPA A ESPANHA


Crenças ao Desafio


António Justo

O Papa reúne-se em Madrid com a juventude do mundo para dialogar sobre os problemas que flagelam a humanidade de hoje, enquanto a rapaziada, lá fora, briga sobre os custos da sua viagem, sobre as faltas da Igreja na Idade Média, negando-lhe até a liberdade de ter opiniões diferentes das suas.


Uma maneira fina de desviar para canto problemas que a todos toca. Falar do folclore é mais fácil que de conteúdos. Perturbar o desenvolvimento de celebrações, como a Jornada Mundial da Juventude, torna-se uma maneira fácil de chamar a atenção a si e de ocupar os Media sedentos de actos superficiais polémicos. Assim, se consegue que a mensagem passe desapercebida.


“Num mundo da violência e do consumismo… famintos de justiça, misericordiosos, de coração puro, pacíficos”, os jovens, declaram querer “ser embaixadores da paz no mundo”.


Bento XVI apela aos professores das universitários afirmando que as Universidades, para lá das ideologias, são o lugar ideal para “procurar a verdade real acerca do Homem”. Um discurso diferente do dos governos!…


Em Madrid, o papa também apelou à juventude para que dê “uma resposta radical a uma espécie de Deus eclipsado”.


A “Jornada Mundial da Juventude“ (16-21 de Agosto) pretende visibilizar uma face diferente da de casas a arder em Londres, autos incendiados em Berlim.

Dum lado uns apostam num amor aparentemente ingénuo, do outro, outros apostam numa razão exacerbada e provocante. Se todos querem um mundo melhor, porque se atacam? Tudo em guerra em pretexto da defesa da sua paz.


Parece haver muitos incomodados por verem manifesta publicamente uma fé que querem ver praticada apenas nas traseiras da sociedade.


A mera presença do chefe de mais de mil milhões de católicos põe em pé de guerra as ideologias. Eternos descontentes não concedem aos católicos o direito de receberem o seu irmão mais velho na fé. Parecem colocar na balança da sua sentença apenas o valor económico sem considerarem, além de outros, o aspecto turístico, a promoção mediática da nação nem os valores morais e sociais. Nesta perspectiva ter-se-ia de acabar com campos de futebol, visitas de Estado e de Dalai Lamas, protecção policial para pessoas em perigo, etc.; no seu argumentar, tudo isto causa despesas públicas que poderiam ser disponibilizadas para os pobres. Usam-se argumentos como armas de ataque ou escudo de defesa. Quem hoje chora os gastos com a viagem do Papa não estará longe de amanhã chorar os gastos com os pobres, doentes e velhinhos. A razão quando é forte cega! Ou será que querem a praça pública só para si. Se hoje é o dia dos crentes religiosos amanhã também haverá um dia para os crentes do laicismo.


É desconsiderado o bem que a Igreja faz no mundo com projectos sociais com apoios de milhares de milhões de euros a desprotegidos. Críticos do catolicismo regateiam  o dinheiro que se gasta na viagem do Papa argumentando que indirectamente também a financiam através dos impostos e acrescentando a necessidade dos pobres. Como se a realidade social não fosse complexa e se pudesse reduzir a credos sociais ou políticos e como se os católicos também não financiassem a sua ideologia custeando abortos, e, em comum, guerras através dos seus impostos. Somos todos cúmplices. Cada um de nós tem a sua quota-parte no bem e no mal da sociedade. Quando o meu dedo indicador aponta o mal dos outros, os outros quatro apontam para mim!


“Não só de pão vive o Homem.” A presença do Papa, embora para muitos contraditória, não deixa de ser um testemunho de caridade, solidariedade e entrega ao bem, realizado pela maior instituição de caridade do mundo.

A Igreja incomoda o cidadão solicitando dele uma conduta espiritual elevada e este vinga-se dela não lhe querendo reconhecer a sua natureza humana pecadora.

Assim, exige-se uma Igreja sem erros como se ela fosse uma instituição de anjos e não de humanos.


Exige-se que a Igreja esteja calada, como se para ela não valesse a liberdade de expressão.


Exige-se que a razão e a verdade se reduzam à opinião como se esta fosse objectiva.


Exige-se que a Igreja se oriente por estatísticas demoscópicas e pelas verdades da praça sem se conhecer a sua filosofia e mística.


Exige-se uma tolerância à Igreja que se não tem para com ela.


Exige-se uma Igreja da mudança como se a mudança constituísse um valor em si e como se as verdades de hoje não constituíssem, em grande parte, as ficções/erros de amanhã.


Estes intolerantes da religião constituem o polo oposto dos intolerantes muçulmanos que não reconhecem a realidade de valores laicos vendo neles obra diabólica.


Quando a medida da tolerância é reduzida à própria opinião, a liberdade já se encontra a caminho do cativeiro. Só uma plataforma comum baseada na fraternidade e na complementaridade poderá levar à compreensão mútua.


Organizações de crentes laicos ou religiosos têm o mesmo direito de expressão na sua qualidade de pessoas individuais ou colectivas. A liberdade de expressão deve ser independente da devoção, seja ela laica ou religiosa.


Em nome da tolerância procura cimentar-se o ódio contra católicos. O preconceito dos perseguidores de bruxas de ontem, são continuados por arautos dum laicismo iluminado e militante. Estes queimam os adversários na fogueira da razão e enterram-nos na cerca da sua opinião. É fácil ser-se forte contra a vulnerabilidade. Repete-se o jogo do Lobo e do Cordeiro; quem suja sempre a água são os outros: “Se não foste tu, foram os teus antepassados”. Como se a água já não se encontrasse turva pelas nossas crenças e razões.


A intolerância camuflada justifica os novos inquisidores sob o pálio de palavras mágicas como laicismo, liberdade, progresso e democracia. Intolerantes da tolerância sentem-se os cães de guarda duma concepção de Estado dogmática própria, à sua imagem, e semelhança, que querem anti-religioso como se sociedade e Estado fossem a mesma coisa. Por trás da religião, da política e da opinião há muita desonestidade. Torna-se fácil e moderno atacar quem não se defende. Os corajosos críticos do Papa revelam-se cobardes perante os muçulmanos e perante a exploração institucionalizada. O medo pode muito e tem as suas razões!


Porquê tanto combate em nome da crença/opinião? Uns esperam na vinda do salvador e outros no mito de que a Ciência tudo virá a explicar. A realidade, como a verdade, é a-perspectiva pressupondo uma consciência de complementaridade e interdisciplinaridade na sua abordagem. Somos todos precisos. Mesmo as minhocas e as toupeiras beneficiam a terra embora à primeira vista pareça que não.


António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com


Europa em Ebulição – Magmas Culturais e Económicos


Tumultos na Inglaterra – Erupções do Grau Cinco na Escala de Richter

António Justo

Por toda a Europa há sublevações nas camadas fracas da sociedade. Os arroteamentos levados a efeito pelos exploradores do planeta revelam-se destruidores de meio e ambiente, não tanto pela mudança climática originada mas pelo desequilíbrio provocado nos biótopos naturais, culturais e económicos.

Nos bairros pobres das cidades respira-se uma onda de insatisfação, na Bolsa garça a tempestade e na política a incapacidade. As irregularidades climáticas e sociais parecem fazer parte dum mesmo fenómeno: perturbação crónica de identidade na sociedade e no cidadão.

Depois dos tumultos surgidos na Inglaterra, o Primeiro-ministro David Cameron proclamou querer “reparar o colapso moral da sociedade partida”. Como se a tarefa dum povo inteiro pudesse ser resolvida por um governo ou partido!

Esta enxurrada de violência causou a morte a cinco pessoas, provocou prejuízo de milhões de Euros e deixou uma ânsia na sociedade, que se pergunta: onde e quando surgirá o próximo tumulto? Este é certo. Por toda a Europa há tensões, explodindo, aqui e acolá, os problemas sociais provocados por um capitalismo predatório e por uma política “multicultural” ingénua e alienatória.

Tudo consequência de sociedades partidas com posições contraditórias que se afirmam à custa do povo e das instituições dos Estados. Países, sem uma filosofia de Estado coerente e sem tecto metafísico, encontram-se a saque de elites cuja estratégia se reduz a um sistema de competição ideológica e de produtos: mercantilismo guiado por um pragmatismo altivo! A pilhagem torna-se ordem de acção; à disposição encontra-se o povo e a cultura nacional. Para as elites chegam as palavras mágicas, “democracia”, “trabalho”, “competição” e “opinião”. Para dar consistência a estas criam leis e impostos, como substitutos duma ética reguladora da vida. A desintegração progride.

Os exércitos do futuro receberão novas tarefas, como vanguarda da polícia. Esta passará a proteger apenas os interesses dos beneficiados do Estado. O inimigo deixou de estar fora das fronteiras, vivendo agora dentro delas!… O povo tornou-se suspeito para os governantes e já não se sente em casa na própria nação (O seu biótopo natural/cultural é sistematicamente destruído). Tem de estar sempre em estado de alerta como se fosse um apátrida ou um desertor. Os mercenários do turbo-capitalismo e seus acólitos apoderaram-se do seu tecto, não sente dores de consciência pela crescente sociedade precária.

Violência atrai violência

Todo o mundo parece chocado com a brutalidade das imagens que passam na TV e com a incapacidade do Estado para reagir adequadamente. Em vez disso, governo e oposição dão-se as culpas um ao outro, só para distrair o povo da procura de soluções.

À juventude (autóctone e migrante) são roubados o interesse e a vontade. Esta não tem oportunidades, só pode reagir, ao receber um ordenado que não lhe chega para viver ou ao bater às portas do Estado. Os serviços sociais são tão vantajosos como os empregos. A inteligência deu lugar à esperteza!

A integração foi negligenciada. A multicultura tem sido imposta de cima. A máquina de sociólogos e de peritos em criminologia procura descrever o caos em via. Limita-se a explicar o fenómeno porque uma diagnose exacta sobre as causas seria dolorosa para todos, além de exigir a coragem de se ir contra os credos propagados pelos detentores do poder e da opinião.

Na sociedade, domina, cada vez mais, um sentimento de impotência perante as multinacionais do petróleo, da energia e do gás, bem como perante a carga dos impostos impostos pelo Estado, carga esta que tende a asfixiar os trabalhadores e a destruir a classe média, cada vez mais reduzida aos funcionários superiores do Estado e seus detentores.

Um Estado sem competência nem perspectivas só pode fomentar o medo e violência. Os avisos claros duma sociedade doente e em ebulição são claros. Os passados tumultos de França, as revoltas anuais de Maio em Berlin e Hamburgo, e agora os tumultos na Inglaterra são o indício claro duma sociedade em franca autodestruição.

O rastilho já se encontra nas grandes metrópoles. Qualquer faísca os pode acender!

O trabalho de casa que as nações não fizerem hoje ficará para a sociedade de amanhã. Os nossos filhos e netos ver-se-ão obrigados a revoltar-se contra um Estado saqueado, um meio-ambiente destruído, lixo atómico e os destroços duma cultura desalmada.

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

Entre o eu integral e o eu superficial


Problemas nas Relações são Momentos de Desenvolvimento

António Justo

Uma pessoa, tal como o seu carácter, é mais que a soma dos seus detalhes psicológicos. Ao dizermos ou sentirmos o nosso eu referimo-nos a algo definido como se fosse um produto, algo já acabado e não um processo na realização do ser. O meu eu inclui-me a mim e às minhas circunstâncias. Estas são eu, tu, o outro, o universo e o mistério. A nossa personalidade é formada por um eu profundo integral e por um eu superficial parcial, ou seja um eu luz e um eu treva. O ego é a sombra do eu integral; é como que a sua crusta, a parte opaca da transparência, a sombra duma realidade, mais ou menos oculta, a tudo conectada.

No ego predominam as forças centrípetas enquanto no eu integral reina a harmonia dum universo de forças ordenadas. A relação acontece na tensão entre um eu e um tu para se realizar no nós. No nosso trajecto vivemos a fugir da anonimidade duma massa despersonalizada para através do eu personalizado voltarmos à comunidade dum nós pessoal. É a luta das cores por se diferenciarem do verde da natura para poderem brotar na flor. Somos com e no universo, todo o mundo, a caminho, na procura do “Sol”, num mesmo sistema interligado pelas mesmas leis.

Ao sermos projectados do útero da mãe inicia-se o processo da individuação. No grito original iniciamos uma nova relação com órbitra própria a firmar-se numa nova constelação. Ao ser-nos cortado o cordão umbilical, abandonamos o paraíso na procura de identidade. Começa a marcha a caminho do eu no sentido de realizarmos a ipseidade no todo. Primeiro de gatas, depois amparado e por fim só. Quanto ao desenvolvimento psicológico esse torna-se mais demorado e complicado. Como na natureza nem toda a planta chega a dar flor, o que não torna o seu verde menos esplendoroso. Vale a pena o esforço de ver para lá dele.

O desenvolvimento pressupõe um processo dialéctico exterior numa realidade que ultrapassa a dialéctica (afirmação-contradição, tese-antítese ou a mera síntese). A afirmação da parte contra a parte e deste modo o reagir e a distanciação contra o todo provoca a dor insatisfeita. Doutro modo a fricção do eu no tu seria integrada no desenvolvimento não se cristalizando na dor (culpa, medo). O movimento de separação e aproximação, tal como as ondas e as marés, não são mais que o pulsar do coração com os seus impulsos e pausas, como a alegria e a tristeza, o entusiasmo e a frustração; são momentos duma mesma realidade que nos envolve, define e determina.

A separação que se dá no desenvolvimento cumula na razão, onde o mundo deixa de ser uno como antes (Árvore da sabedoria no paraíso!). Aqui surge o perigo de o intelecto se autonomizar e criar um mundo “ideal” à margem da realidade com forças que não se deixam reduzir a meras leis. Com a caminhada da razão, que agora se acentua, dá-se um processo de diferenciação, de distinção entre um eu e um tu; em função da individuação afirma-se um sujeito contra um objecto, que na realidade, é sujeito numa dinâmica de complementaridade; a dialéctica leva o outro a ser tornado provisoriamente casulo para, assim, o eu se tornar sujeito. O sujeito, ao atingir o seu verdadeiro desenvolvimento, deveria passar a ver o resto da realidade como sujeito e relacionar-se de maneira a reconhecer-lhe tal dignidade (como parte dela/e). (O espírito incarna na matéria e a matéria ganha asas próprias para voar, tal como procura demonstrar o mistério da incarnação e ressurreição  e a Trindade realiza). Ao encontrarmo-nos todos num processo de transformação já não tentaremos destruir ou modificar o outro: a minha mudança já provoca a mudança do outro porque a transformação pressupõe relação, relação pessoal mesmo com o mundo inadequadamente considerado “coisa”. Trata-se de superar um pensar unidimensional só com lugar para a parte geométrica da vida, de superar o jogo das escondidas no nicho do intelecto.

Os distúrbios, de que todos sofremos como adultos, provêm dum mundo do pensamento paralelo, criado à margem da realidade orgânica e aos “traumas” que acompanharam o nosso desenvolvimento desde a criança infantil até ao estado de infantil adulto. A princípio agarrados às saias da mãe esperamos dela o amor simbiótico que nos mantinha a ela unidos no seu ventre, o paraíso terreal (muitas vezes a luta posterior não passa duma tentativa por restabelecer o estado simbiótico original: é a luta errada por se satisfazer a “culpa” do “pecado” original). Tal união, porém, não permitiria o desenvolvimento da própria identidade passando, naturalmente, a acentuar-se as forças centrífugas para depois culminarem na ressaca das forças centrípetas (egocêntricas). Segue-se então um caminho de experiências mais ou menos agradáveis, mais ou menos traumáticas que nos levam a andar pelo próprio pé ou a andar agarrados às eternas muletas de situações irreflectidas. A experiência individual cria frustrações e gratificações que mais tarde se podem revelar em sentimento de culpa, em sentimento de inferioridade/superioridade que depois será reafirmado pela vida fora num rescrito comportamental de arrogância ou de timidez. Nesta fase dominam os monólogos interiores e arrazoamentos que não permitem uma descrição adequada da realidade própria nem dos outros. Como não nos encontramos a nós mesmos continuamos a reduzir o outro à qualidade de objecto a ser assimilado ou a ser repelido. Muitos agarram-se desesperadamente ao pescoço da vida na fuga contra o vazio, contra a solidão. Procuram fora o que já se encontra dentro. As muletas das ideias revelam-se depois como poluidoras de paisagens emocionais interiores. É a fase da vida em canteiros de jardim infantil ou no jogo do gato e do rato.

Na infância a harmonia é procurada na mãe enquanto na fase adulta se procura na fusão de dois (polos) sujeitos, na “união conjugal”. Aqui encontram-se, a nível psicológico e comportamental, forças contraditórias em ebulição à semelhança do que se dá no desenvolvimento do universo com a sua formação de galáxias e de sistemas como o sistema solar, num jogo de forças que procuram o equilíbrio para depois seguiram o chamamento que pressupõe um novo desequilíbrio; este mantem a ordem viva num sistema de universos a caminho. Egocentrismo (movimento de rotação em torno de si mesmo) e altrocentrismo (movimento de translação em torno do outro) tornam-se condicionantes duma realidade maior. O amor que envolve os dois provoca o movimento aparentemente contraditório. A fixação extrema no ego ou no outro fecha os olhos para a felicidade (equilíbrio), para o amor, fixando-a no amor-próprio, na própria necessidade sem contemplar o sistema. O ego procura então não o outro mas a própria felicidade no outro contradizendo assim a felicidade, que é relação, o momento de equilíbrio (de esquecimento) que já traz em si o momento de desequilíbrio que provoca o desenvolvimento, a vida e não a estagnação. A vida que engloba o outro e a mim a caminho duma maior grandeza. A força centrípeta, o egoísmo exige uma relação de subalternos, quer ter, não quer ser, (ou confunde o ter com o ser) faz de todos seus satélites desprezando a realidade de que também os astros pertencem a estrelas e estas a galáxias, ao serviço duma realização maior. Cada um, tal como o universo, está chamado a seguir um chamamento; encontramo-nos todos a caminho do mistério na realização do amor, que é a energia que mantem todo o ser e todo o universo, unindo o que parece contraditório.

A necessidade do amor infantil (amor necessidade) domina as relações que se tornam por isso insatisfatórias. Cada um, criança traída, acusa no outro, sem saber, a sua mãe que o não acariciou suficientemente ou o considerou apenas seu satélite. Em vez de cada um se assumir aceitando as dores do parto de si mesmo (em processo) deixa-se dominar pelos fantasmas do passado sem reconhecer a realidade das forças próprias e ambientais na sua interdependência e complementaridade. Pior ainda: projecta no outro as próprias deficiências querendo torna-lo a mãe que não teve. Nesta dinâmica, mendigos do amor tornam outros mendigos também. Cada um gira em torno de si mesmo querendo criar os outros à sua imagem e semelhança.

Num processo de desenvolvimento para a maturidade (a nível dos dois) deverá criar-se um espaço para se fazerem as pazes com os “traidores” da infância para que estes não nos atraiçoem no outro. Isto deve ser naturalmente integrado em movimentos consecutivos de ensombramento de si mesmo e de luminosidade do outro e vice-versa; o mesmo se dá de forma inconsciente no ciclo do dia e da noite que pressupõe o reconhecimento da existência dos outros astros na realidade do nós (indivíduos e comunidade). Nesta realidade sentiremos e integraremos em nós não só a desejada acalmia primaveril e veraneia mas também as ventanias outonais que purificarão o nosso ser da folhagem impeditiva da próxima fase de desenvolvimento no sentido do todo.

Na constelação relacional do desenvolvimento também se encontram meteoritos isolados que vivem apenas o sexo à margem do acto criador de interacção. Esta pressupõe amor e este pressupõe a dor, resultada da tensão entre o eu e o outro. A dor é o momento de desequilíbrio que possibilita a evolução. Fugir à dor é negar-se, é negar o outro em si e negar-se a si no outro; não basta procurar, porque o sentido é encontrar-se, encontrar-se como universo a dar à luz. A vida inconsciente, além de viver na fuga e da fuga, luta continuamente com o destino. Falta-lhe a coragem para a felicidade e abdica permanecendo na contradição; esta pode, no máximo, produzir o gozo da fricção mas não a felicidade. Para o egoísta a culpa está nos outros, ele prefere ver a vida passar-lhe ao lado como os vinhateiros atrasados da parábola. Mas também o altruísmo pode ser um egoísmo escondido ou indício dum eu fraco (debilitado). Manter o equilíbrio da balança é a tarefa da vida da pessoa e do universo sempre em movimento.

Eu e tu, os dois somos três a caminho do nós. Eu e tu com o universo numa relação amorosa não dialéctica encontramo-nos num processo de interdependência e afirmação mútua; encontramo-nos todos ao serviço uns dos outros, no seguimento duma força maior: o amor. O momento dialéctico (contradição) é apenas o instante do desequilíbrio num processo maior pendular de desequilíbrio para o equilíbrio, do equilíbrio para o desequilíbrio na realização dum equilíbrio maior. Aqui já não há um com razão e o outro sem ela, agora já não há um perfeito e outro imperfeito, um culpado e o outro inocente. Aqui o intelecto e o coração unem-se para possibilitarem uma visão global integral: a vida toda na própria vida e não uma vida em segunda mão.

Deixa então de haver a autonomia do astro rei e a dependência do satélite para na complementaridade se desenvolver uma nova identidade, a identidade do nós no eu criativo e criador. A felicidade realiza-se em comunidade (Filho pródigo). Somos filhos do amor, fomos feitos de graça para vivermos na graça do amor. Como filhos da terra tornamo-nos no sol da natureza agradecida a abençoar. Resta-nos o agradecimento e a paciência. Somos novos mundos a criar um novo mundo, não podemos prar nem abdicar de nós mesmos nem dos outros.

Para criarmos uma nova maneira de estar no mundo, uma nova maneira de nos relacionarmos  nele e com ele teremos de criar uma nova relação amorosa com o outro na realidade do nós numa dinâmica identitária processual do eu-tu-nós: uma relação já não só de diálogo mas de triálogo, à maneira da incarnação e ressurreição numa relação pessoal trinitária na unidade do eu-tu-nós.

António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e pedagogo

antoniocunhajusto@googlemail.com

www.antonio-justo.eu

Cinquentenário de Amnesty International

António Justo

A maior organização mundial empenhada na defesa dos direitos humanos celebra este fim-de-semana o cinquentenário da sua fundação. Um bom motivo para se festejar!

O advogado inglês, Peter Benenson, em 1960, começou por fazer campanhas de cartas protesto aos governos que perseguiam pessoas, por causa da sua atitude (opinião), tal como acontecia no Portugal de 1960.

Amnesty International foi então fundada em 1961. Tem hoje 2.8 milhões de membros em 150 países. É independente dos governos e começou por financiar-se com as quotas dos seus membros e com doações de pessoas beneméritas privadas, da indústria e da igreja.

Hoje luta pelo cumprimento da Declaração Universal dos Direitos do Homem e pela defesa da natureza.

Numa altura em que os inimigos do Homem se encontram em marcha no campo económico e cultural temos verdadeiros motivos para renovarmos as forças da AI.

António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com


IMIGRANTES ABUSADOS PARA FINS DE CAMPANHA ELEITORAL

Figurinos reduzidos ao Papel dos 40 Ladrões

António Justo

A casta governante leva o país à ruina económica e à depravação moral. Vale tudo! Vale a mentira da cabeça até aos pés.


Imigrantes a residir na zona de Lisboa, em situação precária, são usados para encher e enfeitar praças de comícios políticos. Abusa-se da necessidade de pessoas, que nas suas terras tinham o sentido da honra agora derramada pelas praças da campanha.

Imigrantes que vivem em Lisboa, provenientes da Índia, Paquistão, China, Moçambique, Guiné, Cabo-verde, partem de Lisboa em autocarros para apoiarem Sócrates. No tempo de Salazar também se fazia isso com portugueses da província. Hoje, que o povo se julga mais civilizado, tal prática talvez seja reservada ao capítulo de política de integração!…

O “Correio da Manhã” noticia (23.05.2011): “Seguem José Sócrates para todo o lado, de norte a sul do País, em autocarros pagos pelo PS. Depois são usados para compor os comícios, agitar bandeiras, e puxar pelo partido, apesar de muitos deles não perceberem uma palavra de português e não poderem votar. Em troca têm refeições grátis“. Um pedinte da União Europeia adorna-se com plumas de imigrantes à rasca.

Aos imigrantes vale a boa recordação dum pouco de turismo feito pelas belas terras de Portugal. Este é, talvez, o melhor efeito colateral da campanha! Nela o tema emigrantes e imigrantes é tabu!


Pessoas cínicas percorrem o país, reduzindo a política a uma pantomima que faz lembrar Ali Babá/ Cassim e os quarenta ladrões. Rodeiam-se de gente humilde para com ela encontrar a chave do poder: a palavrinha mágica “Abre-te Sésamo” que dá acesso à gruta (Estado) onde se encontra toda a espécie de tesouros.


Ali Babá, cínico,  já esbanjou os tesouros da gruta portuguesa e pretende, agora, numa segunda arremetida, com os seus “irmãos Cassins” fazer um funeral honroso ao partido e à nação.


O Tesouro da nação continuará reservado aos Ali Babás, aos Cassins e consortes, os possuidores das palavras mágicas “Abre-te Sésamo „e “fecha-te Sésamo”. Ao povo fica-lhes reservado o destino dos quarenta ladrões.

As campanhas querem sugerir uma imagem intercultural do partido que entope o país com pobres cada vez mais pobres e ricos cada vez mais ricos. Manifestantes sem direito a voto enfeitam os comícios de um PS sem rosto que nem cara tem para ter vergonha. O melhor coveiro do socialismo é Sócrates e o partido não nota!


Talvez conte com a amnésia crónica do povo e veja uma saída na mentalidade: “Ladrão que rouba a ladrão tem cem anos de perdão”. Sócrates dá os pontos e o povo aperta os nós! O sol do poder não deixa sombras; o seu brilho deslumbra não deixando lugar para a sombra do ridículo!


“Vós tendes feito de minha casa um covil de ladrões”, dizia o Mestre aos que se aproveitavam para fazer de tudo um lugar de negócio!


António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com