Sem Poder não há Influência – Com um Governo de Minoria todos os Partidos teriam Influência
António Justo
Merkel, que se distingue por uma forma feminina de governar, vê a sua capacidade dialogal e de compromisso esbarrada num partido de caracter masculino, o FDP; este declarou por fracassadas as negociações para a formação de um governo de coligação CDU/CSU, Verdes e FDP. O partido dos ricos e dos bem situados acaba com as esperanças de um programa político, económico, social e ecológico que tocava no nervo de todos os partidos da impossibilitada coligação. Todos tiveram de ceder, mas à última hora o FDP estragou o arranjo, porque o resultado dos compromissos não era suficientemente masculino.
Os partidos alemães encontram-se no dilema do saber que sem poder não há influência, e que o agrado do povo se forma entre o conflito e o consenso. Um outro medo acompanha sobretudo o SPD e o FDP: o medo de desaparecer debaixo da capa mágica da “Mãezinha Merkel”. Por outro lado, o povo poderia chegar à conclusão que os partidos são cambiáveis numa sociedade de política real e pacifica mas que se deseja com potenciais de conflito e de consenso visíveis a nível popular.
A Alemanha encontra-se, de momento, dividida entre aqueles que querem que os partidos assumam responsabilidade participando numa coligação governamental e aqueles que preferem fortalecer a democracia. Para aqueles, novas eleições corresponderiam à bancarrota dos partidos democráticos e por isso favorecem um governo em minoria ou a grande coligação, (GroKo) como antes; um governo minoritário tolerado teria a difícil vantagem de Merkel ter de arranjar maiorias parlamentares umas vezes com uns partidos e outras vezes com outros. Novas eleições, para já, não corresponderia ao estilo responsável do sistema político alemão. Talvez só passados dois três anos de um governo de minoria tolerado.
Fortalecimento do Parlamentarismo
Um governo de minoria (CDU, CSU e VERDES), ou simplesmente de minoria, corresponderia mais ao estilo escandinavo de governar e revelar-se-ia inovador numa Alemanha sempre habituada a ser regida por governos estáveis. Na Noruega e na Suécia há uma grande tradição de governos minoritários, mas o sistema é mais difícil para a Alemanha dado possuir duas Câmaras (Parlamento e Conselho Federal). Já no passado, Ângela Merkel tinha de ter a aprovação de 40% das leis também no Conselho Federal.
Uma governação minoritária com a mudança de maiorias parlamentares daria mais importância ao Parlamento e traria debates emocionantes, a possibilidade de políticos ganharem perfil e poderia abrir caminho para projetos inovadores, entre os quais o recurso a referendos nacionais sobre os temas mais urgentes e assim reduzir o medo e o potencial do AfD. Além disso, também poderia contribuir para apagar a fronteira clássica entre esquerda e burguesia (em parte conseguida pela Chanceler Merkel na política de refugiados).
A opção por um governo minoritário fortaleceria o parlamentarismo, pondo o legislativo a par do executivo e fortificaria os partidos das margens (Direita e esquerda) dado o governo ter de negociar com eles para impor certas leis; deste modo estes partidos teriam a hipótese de arrecadar bónus para a sua clientela.
Resta, portanto, a opção de formação de um governo minoritário de CDU, CSU e Verdes, um governo minoritário de CDU/CSU tolerado ou novas eleições. Novas eleições metem medo a todos, porque seria uma medida que pressupõe um certo abuso de eleições e a necessidade de todos os partidos apresentarem novas personalidades e novos programas de governo na campanha eleitoral. A hipótese de uma grande coligação CDU, CSU e SPD também continua de pé devido ao apelo do presidente da república. De acordo com uma pesquisa da Emnid encomendada pelo “Funke Mediengruppe”, 28% dos apoiantes da União são por novas eleições, e 36%. do SPD. No total da população os defensores de novas eleições superam os 38%.
Para a França e para a União Europeia só poderia interessar um governo forte e com capacidade para atuar em tempos difíceis para a Europa e que precisariam de governos estáveis.
Quem conhece o realismo político alemão não se admiraria se o SPD, apesar da derrota, continuasse a grande coligação. O SPD teria a oportunidade de reforçar a própria política.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo
Não é que concorde com tudo o o que escreve António Cunha Duarte Justo. Sublinho que é saudável e democrático discordar. Assim, por exemplo, tenho grandes dúvidas quanto ao bem fundado da política de Merkel de portas escancaradas em relação aos refugiados e aos imigrantes, sem qualquer controlo ou fiscalização, minimamente rigorosos, admitindo a prazo o mito de uma integração que jamais terá lugar. Mas posto isto. O que mais me admira é a indiferença generalizada dos portugueses perante o problema crucial da formação de um governo estável na Alemanha, sabendo como sabem e sentem na pele a importância incontornável de Berlim na União Europeia e no Mundo, designadamente na vida quotidiana dos lusitanos. Entre múltiplos desafios de futebol de interesse mais do que duvidoso, mesclados com as guerrilhas interpartidárias por causa do Orçamento e problemas imbecis entre o Norte o Sul, num país quase irrelevante da periferia europeia, com apenas 92.000 km2 e aparentemente com vistas curtas. E mais não digo.
Francisco H. Da Silva
FB
Pessoalmente também defendo a formação de um governo de coligação forte, mas quando escrevo, procuro apresentar os diferentes aspectos de uma questão no sentido de promover pensamento e reflexão.
Também estou de acordo com o que Francisco H. Da Silva diz. De facto, muita gente portuguesa na Alemanha, na opinião pública publicada, está sujeita a uma visão de imprensa coada pela esquerda portuguesa que se dá ao luxo partidário e cínico de recomendar para a Alemanha o sistema português (Geringonça) , não tendo em conta precisamente a responsabilidade de uma Alemanha que não pode viver só de cantigas da cigarra, porque tem de alimentar bem não só os partidos mas também o povo e além disso como motor da EU precisa de um governo estável (A esquerda radical em geral aproveita-se apenas dos assuntos para a sua propaganda)!
Quanto a Portugal não há possibilidade de aplicação de uma política equilibrada quer de direita quer de esquerda, porque temos a esquerda que domina o parlamento e tem sempre poder extraparlamentar capaz de impedir uma política consequente de centro e de direita.
Quanto à política irresponsável de Merkel de portas escancaradas e descontrolada em relação aos refugiados, os eleitores passaram-lhe a factura, nas recentes eleições. Assim se deu origem ao partido AfD e a uma nova constelação partidária parlamentar que não permite os mesmos arranjos de coligações como no passado. Dado o SPD se ter negado a fazer coligação, Merkel só teve a possibilidade de organizar uma possibilidade de uma coligação “Jamaica” que não resultou.