História do Povo africano sempre adiada


A Falta de Colonização interna entre as Tribos poderia ser uma Oportunidade


António Justo

Na África há ainda muitos estados criados artificialmente e, como tais, em perigo de falharem. Além disso, a cultura árabe, com grande preponderância em África, tem um substrato nómada, muito embora a geografia climática africana seja muito diversificada.


Muitos Estados africanos vão-se afirmando, sem se reatarem ao desenvolvimento que lhes foi, em parte, interrompido. Fica-lhes a oportunidade de, através de auto-análise e da análise de outros povos, interiorizar processos e evitar erros que outras sociedades cometeram no seu desenvolvimento. Para isso há que ultrapassar os limites da família, do clã, da tribo e mesmo do Estado. Muitos Estados africanos têm mantido a sua unidade, pelo facto do Ocidente precisar da sua estabilidade e, para o efeito, apoiar regimes ditatoriais e assim submeter e “apaziguar” regiões que, doutro modo, seriam dominadas por atentados e revoltas internas contínuas.


Os Estados árabes, correspondem ao ambiente geográfico que os envolve; são politicamente ditaduras, mais ou menos rígidas, surgidas e mantidas pela ditadura da fé. Sociedades como a Líbia têm como fundamento uma estrutura religiosa prepotente. Uma mudança séria no Norte de África só será possível depois duma reforma do islão. Só uma nova matriz religiosa possibilitará uma antropologia e uma sociologia aberta e libertadora. O contexto em que se encontra o Norte de África é de tal ordem que, muito provavelmente, a surgir uma nova elite governativa, esta embrenhará pela ditadura religiosa islâmica que é pior que outras ditaduras, por ligar e comprometer o Homem todo no corpo e na alma. A Política ainda se não diferenciou da religião. Quanto às declarações da Liga Árabe e de outros estadistas há que distinguir entre o que pensam, o que dizem e o que fazem.  O terreno é propício a miragens!


O sistema colonialista, enquanto esteve vigente, impediu a colonização interna, isto é, as guerras civis (entre as diferentes tribos) nas colónias, obstando a que as forças mais fortes da região assimilassem as mais fracas. As fronteiras dos Estados africanos foram feitas com a régua. Foram criados Estados sem respeito por etnias, línguas nem religiões; foram, concebidos estados sem a consciência de nação; temos assim Estados com população mas sem povo unido. Em vez da ideia de nação e povo une-os apenas a religião. Consequentemente esta assume um carácter fascista.


Os povos nómadas têm dificuldade em reconciliar-se com a natureza porque esta lhes é agreste. Por isso penso que o conceito de nação, de democracia, de direitos humanos, como os entende o Ocidente, lhes é geralmente estranho. É-lhes mais natural o conceito de grupo unido debaixo duma tenda com um chefe de caravana à frente e um Deus cogitado na contemplação das estrelas. Nestas terras tornou-se mais natural ao biótopo social um Deus abstracto da lei e não tanto um Deus pessoal do amor! A terra agreste exige medidas duras para que o grupo possa subsistir como grupo, já que o indivíduo não teria chances fora da tenda. Este será um privilégio das terras férteis favoráveis à individuação.


Ao contrário da Europa, as nações africanas não surgiram de biótopos sociais e naturais. Estes surgem, normalmente, da adaptação do povo à terra e da sua colonização interna na luta dos grupos mais fortes sobre os mais fracos.


Espera-se, agora, destas populações, especialmente das nómadas, que dêem um salto no desenvolvimento sociológico-político natural para que possam passar da consciência do biótopo tribo para o biótopo nação. Isso pressupõe a criação duma nova matriz religiosa. Daí surgiria a oportunidade de criarem uma terceira via para lá da própria e da ocidental.


Os interesses do Ocidente em manter estabilidade na África para poder explorar o petróleo e minerais, arrastam consigo uma política de apoio a ditadores capazes de manter os grupos reprimidos, garantindo assim estabilidade, uma paz de cemitérios. Assim se adiam artificialmente os conflitos tribais e de clãs; assim se adia a História do desenvolvimento nacional de povos africanos.


No caso da Líbia, os interesses Europeus precipitaram os acontecimentos ao apoiar-se os grupos rebeldes mais fracos, na esperança de democracia. A impossibilidade de se criarem confederações estatais implica a previsão de guerras civis e da subdivisão de territórios, no futuro. A Somália falhou, o Congo não tem, sequer, uma ordem de poder capaz de controlar o território, a Líbia corre o risco de não se aguentar como Estado unitário, na Tunísia apenas a raiva venceu o medo, etc.


No Norte de África não acontecerá como aconteceu com a queda do socialismo no bloco de Leste. Nos Estados muçulmanos é totalitário não só o regime mas também o sistema. Consequentemente, enquanto se não der uma reforma do ideário, suceder-se-ão elites corruptas a elites corruptas, num sistema corrupto. Este está predestinado à exploração por líderes de dentro e interessados de fora.


A maior parte dos Estados africanos, foi criada artificialmente, continuando dependentes da exportação mais que nunca. Não conseguem ter o monopólio do poder porque investem apenas na polícia e nos militares desprezando as infra-estruturas de apoio à população (escolas, justiça, serviço de saúde, administração, electricidade, saneamento, etc.). Sistemas repressivos e sociedades tribais não podem ser transformados, de repente, em sociedades democráticas. Não chega comprar-se os chefes!…


Apoiar ditaduras não leva longe. O papel do Ocidente seria fomentar a formação do povo, investir o dinheiro na região, fomentar uma sociedade civil para esta poder legitimar um Estado de direito; doutro modo, muitos povos continuarão a ser nómadas do futuro, reduzidos a populações à deriva, andando de dependência em dependência, prostrados na direcção duma terra (Meca) que não possuem e com o sentido na emigração. O sucesso dum projecto depende duma estrutura coerente a ele subjacente. De grande relevo seria o fomento da agricultura familiar e criar um sistema que favoreça a África no intercâmbio de mercadorias com a Europa. Do amor à terra surgirá o amor à pátria.


Na zona Sahel está projectada a plantação duma floresta de 7.000Km de comprido por 15 Km de largo para impedir o alargamento do deserto. O Senegal foi o único a aplicar o acordado e pode já colher frutos de tal iniciativa vendo, ao mesmo tempo, subir o nível da água.


O povo tem de aprender a amar a terra, a sentir-se parte dela, como acontece na harmonia dos biótopos naturais. Enquanto isso não se der continuará a ser população indefesa sem capacidade para formar nação. Continuará a identificar a vontade dum clã ou partido com a vontade dum povo-nação, impedindo assim a formação duma consciência de povo livre e consciente com diferentes estratos naturais. O princípio democrático expresso na vontade dos partidos, é uma oportunidade moderna para se chegar a ser um povo de cidadãos adultos.


No Ocidente, como em toda a parte, ainda estamos muito longe de ser adultos. Para isso, governantes e governados teriam de tornar-se Homens. As elites têm medo de cidadãos adultos e conscientes. Para conduzir o rebanho chegam cães.


António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

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António da Cunha Duarte Justo

Actividades jornalísticas em foque: análise social, ética, política e religiosa

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