Em Kassel, cidade com 200.000 habitantes, 55 igrejas e comunidades cristãs, à semelhança de outras cidades da Alemanha, participam na Noite das Igrejas Abertas a realizar no dia 29 de Junho das 18 às 24 horas. Esta é uma noite especial onde se pode viver novas formas de espiritualidade ou satisfazer a curiosidade aos mais diversos níveis, atendendo à variedade de programas à disposição. Entre outros: hospedagem, dança, música, gospel/pop e rock, teatro, imagens, exposições de quadros, instalações de luzes, colagens, improvisações, Open Air, instalações-video, projecções, novas formas litúrgicas, oração gestual, comida e bebida, temas de discussão, diálogo, encontro, etc.
Nesse dia toda a cidade, crente e não crente, se encontra em movimento na procura de novas experiências e descobertas. Nas cidades as pessoas vivem, por vezes, a paredes-meias com iniciativas e formas de vida alternativas sem as conhecerem. Esta celebração oferece também a oportunidade para se conhecerem os espaços e as comunidades e para se entrar em contacto uns comos outros.
Para efeito de organização e publicidade, na cidade de Kassel, há um grupo de trabalho permanente constituído por elementos das igrejas: católica, ortodoxa, evangélica e igrejas livres. Todos eles diferentes mas ligados na fé comum em Cristo formam o grupo coordenador. Os responsáveis pelos programas e organização são as respectivas igrejas.
Esta é uma maneira especial de estar presente no espaço público com bens culturais, monumentos de diversas épocas e com a vida das comunidades. A Igreja manifesta-se assim como espaço aberto do encontro, da festa, da arte, da meditação, etc.
Esta organização é apoiada por todas as instituições relevantes da cidade.
Esta forma de presença é muito oportuna, especialmente em grandes cidades onde o isolamento característico leva ao desconhecimento de muitas realidades e iniciativas existentes numa cidade viva.
Para uns trata-se de descobrir vida religiosa, para outros trata-se de a viver ou de lhe dar um novo rosto.
Também a sociedade laica se preocupa pelo facto do espírito religioso se esvair cada vez mais. Há muitas razões para se criticar certas disposições religiosas e as religiões têm muitos trabalhos de casa por fazer. Apesar de todas as insuficiências das religiões, pode-se estar seguro duma coisa: a extinção do espírito religioso pressupõe a extinção da cultura. Ideologias e formas de estado passarão mas o espírito religioso continuará. Este precisa de odres novos!
Responsáveis não podem continuar a comportar-se como a avestruz metendo a cabeça debaixo da areia, para não verem o perigo ou a adversidade. As hierarquias tornam-se cúmplices da crise ao fecharem-se na auto-suficiência como se a culpa do esvaziamento das igrejas tivesse explicações apenas externas. A crise não é apenas institucional mas também espiritual. Principalmente em regiões de frequência religiosa elevada, ainda se observa, aqui e acolá, um espírito rotineiro legalista autoritário que contribui mais para afastar do que para aproximar. O espírito religioso tudo compreende, une e não separa. Religião quer dizer religar. Moral e religião não podem continuar de sentinela a marcar passo enquanto o desenvolvimento tecnológico passa.
António Justo