As Relações entre os Estados Unidos da América e a Europa – Dois continentes num só destino!

O que a Europa deveria aprender da América e vice-versa
O Medo da Guerra leva à Guerra do Medo.Nada fácil o papel dos Estados Unidos da América no Mundo. Nos países árabes os EUA são vistos como o reino do diabo, na América Latina e na África como opressores; na Europa como rivais e imperialistas. Apesar da Alemanha ter sido libertada e economicamente apoiada pelos americanos verifico no povo e nos alunos grande afectação contra os americanos e grande aversão contra Busch.
Naturalmente que Busch não ajuda nada a desfazer preconceitos e os media só espalham o problemático. Dá-se uma instrumentalização de Busch para efeitos políticos internos e um aproveitamento político do terrorismo, mediante uma explicação mono-causal que apresenta os atentados apenas como consequência da política americana. Com Ângela Merkel no governo talvez o clima se mude um pouco.

Identidade nacional à custa da promoção de preconceitos?
A identidade europeia não pode ser fomentada à custa da promoção de preconceitos contra os americanos. Esta necessidade de identidade europeia, os exageros do governo de Busch e o azedume duma esquerda que viu derrubados os seus sonhos do real-socialismo parecem justificar a aversão propagada contra os EUA. A coligação Verdes/SPD alemã alimentava-se da aversão contra a administração americana ao querer ganhar perfil perante a oposição e perante os países europeus. Em contexto de coligações internacionais de futuro seria miopia para os estados europeus e para os USA uma política rival.
No povo, quase toda agente se sente perita em questões americanas atribuindo todas as atrocidades a Busch no Iraque ou à sua guerra contra os terroristas. A referência às atrocidades de Saddam Hussein que, entre outras, mata, com armas biológicas, 5.000 curdos em 1988 é referida à margem e contra a vontade. (Naturalmente que a guerra nunca é justificável! Nem a do Cossovo nem a do Iraque!). Por outro lado conduzem a argumentação sem referência aos terroristas como se estes fossem pobres diabos que agem em legítima defesa; conduzem a discussão como se vivêssemos num espaço vazio sem necessidade de dar resposta para a solução dos problemas.
Islamistas resolvem todos os problemas internos atribuindo a culpa ao Ocidente. Sentem-se cronicamente ofendidos pelo mundo ocidental. Nunca se viu, porém, que a Umma se pronunciasse contra o barbarismo nas suas fileiras, nem aplicasse penas justas aos autores de atentados. O ignorar estes e outros factos na argumentação justifica indirectamente o terror.
Para contrabalançar tanta agressão contra os agressores agredidos, vou mencionar, neste texto, aspectos esquecidos e que nos podem levar a uma discussão mais equilibrada sobre os americanos. Sou do parecer que os grandes destinos da Europa para se tornarem realizáveis estão condicionados a uma estreita relação e colaboração americano-europeia e a uma redescoberta da filosofia e da tradição dos valores judaico-crisãos.

A Quarta Guerra Mundial
A 9.11.1989 deu-se a queda do muro de Berlim depois duma revolução pacífica no seio de alguns povos do leste europeu. Com este acontecimento dá-se o fim da terceira guerra mundial que foi a guerra-fria. Com o desfazer-se da cortina vermelha encerra-se propriamente um século violento, mesmo brutal na Europa e esvanecem-se ao mesmo tempo os sonhos do socialismo marxista, o que provoca, por outro lado uma grande instabilidade mundial. Por toda a parte surge então o fenómeno da guerrilha armada e intelectual. Dos antigos dois blocos resta apenas os EUA como centro de referência para a guerra e para a paz.
Enquanto que a Europa, para já, se encontra pacificada a nível regional, a América encontra-se desde 11.09. 2002 em guerra, devido ao traumático atentado às suas torres, símbolo do poder ocidental. Com o 11 de Novembro começou a quarta guerra mundial. (1)
Os Americanos desejam que os Europeus se tornem aliados de guerra contra o terrorismo. A Europa vivendo já as consequências da guerra cultural no medo e na contenção da opinião, apesar dos atentados de Madrid e de Londres prefere não falar de guerra, prefere a incerteza e a ingenuidade do não saber. Domina ainda uma atmosfera criada pela geração de 68 que legitima, em grande parte, tudo o que leve a desestabilizar a civilização ocidental.
A América plural consegue ser um país de consenso, ao contrário da Europa. Na América não há oposição contra o orçamento para a defesa que é o maior. A nação é orgulhosa da sua potência. A experiência dos Estados Unidos, depois das guerras, foi, duma maneira geral positiva. Na Europa, a experiência, depois de tantas guerras sangrentas, é contrária. A cultura da recordação bélica está muito presente, em especial a das duas primeiras guerras mundiais. Estas tornaram a Europa depressiva, insegura, desorientada e descrente. Estrategicamente continua encostada aos Estados Unidos da América mas na alma dividida entre socialismo e capitalismo. Se a América vive voltada para o futuro a Europa vive voltada para o passado. Se a cultura americana é uma cultura de esperança, a cultura europeia cultivada na praça pública é uma cultura do medo, da culpa e do ressentimento. A Europa cada vez se distancia mais da tradição universalista judaico-cristã.
A América permaneceu uma nação religiosa. Religião e liberdade andaram sempre de mãos dadas; nunca houve uma religião de Estado, também nunca houve o laicismo nem o anti clericalismo. Nos USA as religiões, comunidades religiosas, vivem na e da concorrência, tendo cada uma que se esforçar pelas graças dos seus clientes. À sexta-feira os parques de estacionamento estão cheios à volta das mesquitas muçulmanas; ao Domingo dá-se o mesmo nos parques ao lado das igrejas cristãs. A emancipação dá-se com a religião. Ao contrário na Europa o movimento de emancipação deu-se contra a religião e contra a igreja. De lembrar as lutas jacobinistas na Europa, o laicismo e as lutas religiosas. Nos Estados Unidos há uma separação institucional entre Igreja e Estado mas na vida as pessoas são religiosas. Na Europa, a sociedade livre é de maneira geral materialista agnóstica, ateia ou militante contra o cristianismo. Tenham-se presentes os objectivos dos iluminados da revolução francesa. Na USA há uma consciência religiosa civil. Todos os seus presidentes eram religiosos, enquanto que na Europa ministros da esquerda se negam a aceitar a referência a Deus no acto de juramento (ex. Chanceler alemão Schröder). A Europa tem uma identidade mais instável. Aqui sociedade civil e sociedade religiosa concorrem em vez de darem as mãos.

A Reeducação dos Povos no Sentido da Democracia
76% dos americanos deseja ver a América na chefia do mundo. Os americanos vêem a liberdade como uma oferta de Deus e sentem-se orgulhosos pela sua democracia que é o centro de atracção de pessoas de todo o mundo e um exemplo da convivência de raças e religiões sob a identidade americana. Assim têm uma relação positiva e gratificante com o sentimento patriótico. Os americanos querem liberdade, prosperidade e bem-estar para todo o mundo. Esta deve ser alcançada através da democracia em todo o mundo. As democracias não fazem guerras umas às outras! São contra o fascismo islâmico e contra as monarquias autocráticas. Embora geneticamente não tenhamos sido criados para sermos democratas os americanos acreditam na reeducação, e sentem-se confirmados com o sucesso obtido na reeducação do povo alemão. Querem exportar a democracia como os portugueses queriam exportar o cristianismo para as novas terras a descobrir.

Política de Imigração Inteligente nos USA
Enquanto a América continua a crescer em termos económicos e de população, a população europeia diminui e duma maneira catastrófica. Enquanto que a América recebe os imigrantes de países cristãos, sem problemas de identidade, a Europa recebe os imigrantes dos países islâmicos, tornando a sua identidade cada vez mais instável, atendendo que estes não se tornam europeus.
A América é uma sociedade de proprietários. Aí os imigrantes integram-se. 48% dos latinos têm casa própria e os chineses têm quase a mesma percentagem de casas como os americanos.
A emigração para a Europa é, em grande parte, uma emigração para as instituições sociais ou para serviços desqualificados, criando a concorrência a nível das camadas mais baixas da sociedade. Aqui a burguesia é a única que é servida com a imigração, podendo usufruir de criadas de servir baratas, de clientes nos consultórios médicos e nos consultórios dos advogados; com a imigração também os assistentes sociais e os professores têm mais lugares de emprego. Não há uma consciência de nação. Os partidos conduzem um discurso mais partidário do que nacional. Enquanto que uma direita está mais interessado na assimilação a esquerda fomenta mais uma política do gueto baseada na defesa de direitos de culturas estrangeiras à custa dos direitos individuais. (Um exemplo: na Alemanha as meninas muçulmanas são dispensadas de aulas de ginástica pelo facto de estas serem mistas). A imigração também é instrumentalizada como compensação duma política anti-família. Uma ideologia internacionalista, aliada aos interesses imediatos capitalistas, usaram-se dos imigrantes para os seus fins económicos ou ideológicos. Uma esquerda sonhadora ressentida contra a nação apaixona-se pelos estrangeiros na praça pública mas deixando-os sozinhos na vida, entregues à família e a quem aparecesse. Não estavam interessados em cidadãos mas sim em clientela. Irresponsáveis fomentam e defendem uma imigração de forma descontrolada. Em vez de apoiarem os imigrantes individualmente ou de seguirem uma vocação de solidariedade internacional com a camada proletária, mediante a transferência de capital e tecnologia para os países pobres ou exploradores de pobres ajudam a estabilização de regimes injustos dando guarida a incómodos ou a pobres desses países. Por um lado ajudam incondicionalmente os regimes a oprimir o povo com o apoio e a venda de tecnologia e por outro, para disfarçar a culpa fomentam o refúgio a exilados. (Recordem-se os apoios alemães e franceses com a venda de tecnologia, até bacteriológica que Hussein empregou para liquidar o povo curdo, por outro lado recebem-se de braços abertos os curdos perseguidos). Numa Europa em que os partidos não têm um sentimento patriótico aberto mas ideológico como querem os mesmos políticos que os estrangeiros se identifiquem com a nação? Um contra-senso, uma hipocrisia! Na América há uma multicultura que funciona. Lá os políticos dos vários partidos primeiro são americanos; só depois são republicanos, sociais-democratas, etc. Neste ambiente um latino sente-se latino com identidade americana. Todos os povos imigrados, mesmo os irlandeses e alemães se integraram. Na Europa é urgente a intercultura e não a multicultura, atendendo à realidade europeia com uma cultura da luta cultural (Kulturkampf).
Um dos fundamentos do progresso americano é o seu espírito criativo e religioso
A América cada vez está mais conservadora e afirma-se no cultivo de valores conservadores que a mantêm à frente do mundo. (Uma espécie de meio-termo num mundo retrógrado!) É interessante que um país conservador faz mais pelo progresso do mundo e dos povos do que os apologistas de políticas proletárias e do que os países do real-socialismo falido. Parece estranho mas na América o aborto é considerado assassínio. O democrata Clinton fala da tragédia do aborto. Se a mulher diz que a barriga é dela, então o Estado não a protege. É curioso que o presidente Busch tenha tido mais votos dos pretos e mais votantes católicos do que o presidente católico (Clinton). O aspecto religioso dos americanos torna-se visível na sua orientação para o futuro. Ninguém se envergonha de estar desempregado. Por outro lado a economia de mercado americana é mais viva do que a europeia. Os americanos são mais anárquicos. Ao contrário dos europeus os americanos vêm o governo do Estado como uma parte dos problemas e não como sua solução. Até 2040 as caixas de reforma contam com saldo positivo enquanto que na Europa, devido ao envelhecimento da população, se conta com grandes problemas; na Alemanha já querem a reforma a partir dos 67 anos e daqui a 20/30 anos a reforma passará a constituir apenas 45% do ordenado regular!
Aos Europeus falta-lhes o realismo: os políticos europeus já fazem festa quando verificam que o seu avião com patente europeia consegue voar!…
A Europa tem naturalmente uma via mais pacífica e mais social para as camadas sociais mais carenciadas. O caminho porém terá que passar pela restituição da alma europeia ao povo europeu. Um povo sem alma perde a sua identidade e destrói-se com o tempo. Não chega só viver o dia a dia nem o ressentimento relativamente ao passado, para se dar resposta às necessidades dum povo. O povo precisa de pão e dão-lhe ideologia. Também não é necessário que todos se confessem anualmente ou que vão à Igreja aos domingos. Importante é que descubram a sua dignidade de povo digno, de homens livres e não de escravos seja de qual ideologia for, seja de que poder for. Na sociedade cristã não pode haver escravos, só há filhos, só há irmãos; ela não conhece apenas os sócios, os camaradas, os parceiros accionistas; todos são próximo. Todos fizeram erros, igrejas, estados, ideólogos e políticos. Não se trata de dividir valores ou de os marralhar. Todos são necessários numa Europa reconciliada a construir numa tentativa de nos tornarmos mais Homens, mais sociedade, diria mesmo uma comunidade, uma comunidade de vida partilhada a todos os níveis, no respeito pelas ideias e formas de vida.
A Europa só tem hipótese no futuro seguindo o caminho da reconciliação entre o povo europeu e o americano. O problema é que algumas potências europeias ainda se dão ao devaneio de cultivar o anti-americanismo, motivo de orgulho e galhardia que não passa de miopia. O que é preciso é um diálogo crítico mas convergente. O SPD e os Verdes conseguiram ganhar consecutivamente duas vezes as eleições na Alemanha com propaganda anti-americana. Uma estratégia de auto-afirmação e de construção da própria identidade numa atitude antagónica perante os outros, ou na reacção do contra não é digna da herança judaico-cristã. Aqui tem dado bom exemplo a Polónia que não tem tido medo de se declarar amiga dos americanos, o que não implica abdicação da crítica. Os europeus são demasiadamente fracos para se poderem colocar à mesma altura nas relações de diálogo em mesa redonda com os americanos. Por outro lado são demasiado orgulhosos para seguirem o mesmo caminho. Os europeus não querem ser os polícias do mundo, querem apenas o proveito. O sub-servilismo europeu tem a ver com a sua dependência do petróleo obrigando a Europa a engolir cobras e lagartos nas relações com os árabes. Os americanos têm uma relativa independência do petróleo e são um povo jovem. Os europeus atormentam-se também com a má consciência no que respeita ao colonialismo. Qualquer discussão séria actual, na falta de argumentos, não abdica da difamação do passado europeu, aterrando sempre nas cruzadas ou no colonialismo. Perguntai a qualquer criança algo importante sobre a história. Não saberá! Em compensação não faltará um saber emocional sobre bruxas, as crueldades só dos cruzados e as barbaridades dos descobrimentos e colonizações. Enfim, a História ao serviço de ideologia contra a nação e contra o pensar judaico-cristao. A nação precisa mais de patriotas do que de ideologias. A luta contra o fantasma da Nação deveria já estar superada com umas aulitas de história sobre a época do absolutismo e das lutas liberais e sobre a guerra-fria entre o socialismo e o capitalismo.
O significado da luta das culturas
O terror islâmico constituirá o problema comum dos próximos quarenta anos (depois virá a China!). Ele é mais que a guerra dos pobres. Na Europa surgirão grandes problemas sociais atendendo a uma política irresponsável para com as camaradas jovens, à ingenuidade de camaradas e companheiros e a um turbo-capitalismo desumano. Uma contradição: este turbo-capitalismo global fará, porém, muito mais pelos povos pobres do terceiro mundo do que todos os programas de ajuda ao desenvolvimento que até agora se praticaram.
Os europeus andam à deriva seguindo o espírito da época. Mais nacionalistas que patriotas as nações europeias encostam-se à Europa, não por convicção mas por razão. Inclinados ao moralismo, invejosos do pragmatismo americano inclinam-se mais ao discurso elitista irreal na desconsideração de tudo o que é povo, falando embora em seu nome.
O problema do futuro para os americanos e para os europeus será o desenvolvimento da China que se arma cada vez mais podendo tornar-se potenciais parceiros ou adversários. Uma via possível do futuro não poderá continuar a ser a via dialéctica, a divergência entre as culturas, a rivalidade entre a Europa e a América, mas sim a via da convergência, da mística. A força judaico-cristã com a sua capacidade integradora e de aculturação poderá, numa nova redescoberta que passará pela mística, tornar-se a força motriz desta civilização, actualmente tão sem alma, sem um tecto transcendente. Então as nuvens negras que se descortinam no horizonte dissipar-se-ão e talvez a quarta guerra mundial se dissipe como a terceira, acabando-se então com os muros das culturas, como se acabou com o muro de Berlim.
Como mãe sem pai a Europa orienta o diálogo e os americanos fazem a política. Dialogam e oferecem conversações mas não têm nada para oferecer.
Os EUA e a EU terão que se unir no esforço duma política de normalização como foi feito com a União Soviética nos anos setenta. Só assim a guerra-fria das culturas poderá ser superada. Europeus e americanos têm de se tornar conscientes do seu papel civilizador no mundo. Uma cultura em que todo o ser humano passa a ser próximo e não rival.

António Justo
a.c.justo@t-online.de

(1) Esta guerra de culturas durará até que os países islâmicos dêem um grande passo em frente no desenvolvimento da sua sociedade, tal como aconteceu com a Europa no século 16. O humanismo Islão será provocado pelas classes intelectuais dos muçulmanos da diáspora, pela democratização do ensino nos países árabes, por uma certa independência dos países do ocidente, mediante uma política de promoção de energias alternativas ao petróleo. A verdadeira revolução islâmica será então levada a efeito pela mulher que acordará da longa letargia e obrigará a cultura árabe a reconhecer a mulher, a mãe-terra e assim criar um equilíbrio entre o princípio masculino e o princípio feminino. À sobra das lutas culturais entre a cultura ocidental e a muçulmana a China crescerá e afirmar-se-á. A Rússia entre a Europa e a China terá um grande papel nos desígnios do futuro.

António da Cunha Duarte Justo
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António da Cunha Duarte Justo

Actividades jornalísticas em foque: análise social, ética, política e religiosa

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