ALEMANHA APOIA A GRÉCIA MAS SEM CONVICÇÃO


Portugal poupado na Acção de Apoio

António Justo


Encontramo-nos numa crise financeira inédita, numa odisseia política sem fim. A Alemanha, um país com grande responsabilidade na EU, não podia apressar-se na decisão de apoio à Grécia porque sabe que o vírus a eliminar se encontra no sistema bancário mundial e na EU.


No Parlamento alemão, a lei de apoio à Grécia foi aprovada com 390 votos de deputados a favor, 72 contra e 139 abstenções. A Chanceler Ângela Merkel lamentou o facto do SPD não ter apoiado a acção.


A Alemanha depois de hesitar em fazer de bombeiro votou a lei que autoriza o empréstimo de 22.400 milhões de Euros à Grécia nos próximos três anos. A primeira prestação de 8.400 milhões será já disponibilizada


Os Estados com maior crise na EU poderão suspender o pagamento do seu empréstimo à Grécia. A legislação votada no parlamento alemão prevê: “No caso dos credores terem custos de juros de refinanciamento superiores aos juros que os devedores pagam no âmbito do contrato de empréstimo, podem requerer a não participação no pagamento da próxima prestação”.


Portugal pode optar pelo não pagamento da próxima prestação, dado ter de pagar no mercado bancário internacional uma taxa de juro superior aos 5% que receberia do crédito à Grécia. Em contrapartida, Sócrates terá de  renunciar a projectos que só iriam aumentar a crise portuguesa. Portugal tem de empenhar-se mais em investimentos produtivos.


O preço do euro desce no mercado internacional, os produtos importados de fora da zona Euro encarecem; a gasolina torna-se mais cara. Isto parece não preocupar o Estado porque em cada litro de gasolina recebe 86 cêntimos de imposto e quanto mais cara a gasolina mais o estado recebe.


A Alemanha tem sido criticada internacionalmente pela mora no apoio à Grécia. Em nome da humanidade acusam o vice-campeão mundial de exportações (a Alemanha) de agravar a situação não acudindo logo à catástrofe. Esta opinião parece ignorar que as chefias bancárias é que têm orientado a política e a população alemã exige, em contrapartida mais rapidez nas reformas de regulação do mercado financeiro. Neste sector a EU ainda se tem mostrado mais temerosa que os Estados Unidos da América. Falta ao Euro uma visão europeia.


A EU não pode acusar o “made in Germany” de proteccionismo se a  EU não tem o controlo do sector financeiro e permite às direcções dos bancos o abuso, com antes da crise, e por outro lado subvenciona os produtos agrícolas europeus contra a concorrência exterior.


O ressentimento contra a Alemanha é uma moeda de mau pagador. Os políticos estão interessados no “continuar como até agora”. A Alemanha precisa mais tempo para a decisão não só por razões de grupos especuladores mas especialmente porque o cidadão alemão exige muita discussão pública, ao contrário do cidadão latino. Sócrates, Zapatero, Berlusconi não são tão controlados e não precisam de sofrer grandes consequências pelas decisões que tomam.


Não há bombeiros capacitados para apagar o fogo que começou na Grécia e se alastrará por toda a Europa e com ela às nações industriais que continuam a subsidiar os abutres das finanças internacionais. É um escândalo que estes ainda não paguem um imposto de transacção e ganhem com as crises que provocam. O povo grego protesta e com razão porque tem de pagar a factura enquanto que os especuladores e as grandes multinacionais se safam. Safam-se porque têm os governos como reféns e o povo à disposição. O turbo-capitalismo precisa de quem lhe faça frente.


António da Cunha Duarte Justo

Alemanha


CORRENTES MIGRATÓRIAS: Antigamente a escravidão, hoje a emigração ( uma perspectiva para a discussão em voga )

CORRENTES MIGRATÓRIAS

Antigamente a escravidão, hoje a emigração

António Justo

Emigração e colonialismo andam de mãos dadas, numa História de conquistas, destruição e exploração. A sociedade produz vencedores e vencidos, ricos e pobres. O território de Portugal e Espanha foram primeiramente colonizados pelos Fenícios, Gregos e Romanos, assumindo até a língua dos colonizadores, para mais tarde passarem a ser colonizadores no século XV e XVI. O desejo de domínio e de libertação andam de mãos dadas. A colonização é feita pelas elites e a emigração dá-se no seio do povo! A pobreza, o clima, as catástrofes e a má política põem o povo em marcha no sentido do Norte. O direito de emigrar deve ser um direito humano!


Na emigração o povo procura saídas da carência na busca de melhorar a qualidade de vida. A ânsia de libertação e a demanda de novas oportunidades é uma constante na humanidade como vemos já no êxodo do povo hebreu. Levam consigo costumes, ideias e o gene. Rompem assim as fronteiras de países, raças e culturas.


Quem está bem não abandona a terra; satisfaz o seu espírito aventureiro indo de férias ao estrangeiro.


A má política é castigada com a emigração. Cada sistema económico e político têm as mesmas estruturas embora com ligeiras adaptações: Antigamente a escravidão, hoje a emigração! Não conhece mudanças qualitativas, apenas quantitativas. A dor e a felicidade não são quantificáveis, mantêm-se constantes, tal como a elite e o povo!


Na discussão política, o tema da emigração não deveria ser aproveitado para tirar dele dividendos. Todos os partidos, se forem honestos, terão de confessar o “mea culpa” em vez de atirarem pedradas aos telhados dos outros. A emigração por necessidade é a grande calamidade dos nossos tempos, tal com outrora a escravidão e a servidão. Só uma discussão académica distante poderá ignorar as tragédias humanas que se escondem sob o rosto levantado duma casa construída na terra para os da terra. Saíram sem casa e morrem longe da casa e da terra.


Os factores de emigração são complexos e os problemas humanos que ela encobre também.


Discurso sobre Emigração com Diferentes Conotações ideológicas


Como uma discriminação latente conota a emigração com “populacho”, muitos académicos não suportam que se fale duma cultura dos “senhores doutores” e subserviência cunhal para não dizer cunhada. Portugal sempre foi hipócrita no trato das questões de emigração. A má consciência da nação, a inveja de muitos e a irresponsabilidade política que vê saldadas muitas dívidas do Estado com as remessas dos emigrantes, têm o descaramento de conduzir um discurso leviano e enganador baseado nas diferenças entre a emigração dos anos 60/70 e as de hoje, como se a emigração de ontem fosse uma emigração de necessidade e a de hoje uma emigração de liberdade. Como se os erros de ontem desculpassem os mesmos erros de hoje. Vive-se dum discurso abusador dos emigrantes, entre miserabilismo e eufemismo. O perfil dos novos emigrantes comunga da mesma realidade do dos anos 60/70: a necessidade. Usam-se argumentos de mau pagador e confundem-se alhos com bugalhos ao colocar-se no mesmo panelão emigrantes, luso descendentes, funcionários do estado e contratados especiais de universidades ou de grandes empresas! O Portugal progressista parece só conhecer especialistas que saem do país!… Os emigrantes (Auswanderer) da Alemanha em Portugal são também eles emigrantes /imigrantes, só que com um outro estatuto, que não o dos emigrantes portugueses. Não foi a necessidade económica mas a mais valias do lazer, de sol e do coração português que os levou a ir para Portugal gozar da sua reforma, no entardecer da sua vida. Na Alemanha quando a opinião pública fala dos seus emigrantes, fá-lo manifestando pesar. Pesar por ter alimentado e formado os seus cidadãos e os ver sair, quando deveriam ficar para produzir para a nação. Na Alemanha, em assuntos de emigração, assiste-se a um discurso de cidadania e de interesses de povo quando em Portugal (nos ambientes oficiais) se fala não de cidadãos mas de emigrantes de cara suja e de emigrantes de cara lavada!


Aos acomodados do sistema, é-lhe incómoda a tecla da necessidade e da má administração, mas muitos dos que falam com eufemismos sobre a emigração de hoje, são aqueles que se ganham bons honorários em projectos e seminários blablabla para ou sobre emigrantes. O ideário português sobre os emigrantes desmascara-se a si mesmo quando, emigrantes de hoje, se sentem na necessidade de se distanciarem dos seus antigos companheiros de destino, afirmando que têm melhores qualificações que os de ontem, quando, em grande partem vêm substituir os emigrantes de ontem nos mesmos trabalhos. Antigamente respondia-se “não vá o sapateiro além da chinela”; em linguagem mais democrática talvez seja mais adequado dizer-se: não vá a chinela além do sapateiro. Os nossos emigrantes hoje, como ontem, são vulneráveis no mercado de trabalho. Não falo naturalmente dos destacados do estado e de muitos da segunda e terceira geração integrados na vida social do país de imigração. A ilusão e a miopia impedem-nos de reconhecer a realidade precária em que se encontram.


É uma dor de alma assistir-se ao esvaziamento de Portugal. O esforço de Portugal feito na formação escolar não é eficiente se ao mesmo tempo não cria lugares de emprego que lhes dê saída para a vida. É verdade que o ensino universitário em Portugal duplicou nos últimos dez anos sem que o mercado de trabalho lhes dê saída. Vão então para o estrangeiro ocupar lugares, as mais das vezes não correspondentes à sua qualificação. O contribuinte pagou a sua formação e vê-o sair para ir enriquecer outras economias. Há alguns académicos altamente qualificados que são contratados pelo estrangeiro como fazem grandes empresas internacionais junto das universidades dos vários países. Seriam necessários pactos entre universidades nacionais e estrangeiras, entre universidades e empresas nacionais e estrangeiras para que Portugal não só exporte mão-de-obra mas tenha contrapartidas. Não há espaço para projectos profissionais nem familiares. Os finalistas de cursos ficam à deriva. A situação obriga, a necessidade manda e cada qual safe-se como puder.


A emigração, para países de expressão portuguesa, deveria ter prioridade alta para o país de envio e de acolhimento. O português é dos poucos povos no mundo que mais se adapta e integra no país de acolhimento, sem criar problemas.


Atacar a emigração de ontem e justificar a de hoje é cumplicidade com os exploradores do povo. Demagogos da palavra deveriam apostar menos no orgulho balofo colectivo para apostar no orgulho da produção colectiva e individual da nação. Precisa-se dum portuguesismo de obras e não apenas de garganta empertigada. O orgulho nacional é, de facto, o pouco que ainda resta a muitos que, para desviarem a vista de si mesmos, olham para a incompetência política nacional com um sentimento indeciso de saudade masoquista!


Uma mudança de paradigma face à diáspora portuguesa não se alcança com medidas centradas apenas em aspectos estatísticos, como é o caso do Observatório da Emigração para informar sobre fluxos migratórios, de seminários de igualdade de oportunidades entre homens e mulheres, de iniciativas formativas/informativas e de sensibilização, por vezes mais preocupadas em aplicar fundos da União Europeia e em dar ajudas de custo aos soldados do partido. Os dinheiros bem aplicados no apoio a associações seriam mais rentáveis.


António da cunha Duarte Justo

Membro do Conselho Consultivo da área Consular de Frankfurt, Alemanha


MARIA – MAIO – FÁTIMA


EXPRESSÕES CONCRETAS DA FEMINIDADE

António Justo

Maio é o mês das flores (maias), é o mês de Maria (da feminidade), o mês do povo. Maria, tal como a natureza em Maio, assume as mais diversas expressões. As diferentes devoções a Maria são, também elas, manifestações da multiplicidade da realidade e das imagens da alma humana. A natureza feminina manifesta-se em Fátima, a 13 de Maio de 1917. A região de Fátima já era, antigamente, um lugar alto a nível de forças telúricas; com as aparições da cova da Iria torna-se também num altar da espiritualidade feminina.

Maria insurge-se contra a guerra e contra os extravios da Rússia. O Povo Português, tal como nos séculos XIV e XV, recorda-se da sua missão histórica de dar “novos mundos ao mundo” nos descobrimentos, e redescobre-se, pela voz de três pastorinhos, na missão de levar a Rússia ao bom caminho, através da oração. Este foi um ponto alto da consciência nacional portuguesa. Num momento em que a Portugal se alienava de si mesmo com guerrilhas ideológicas e as nações se encontravam em guerra, consegue iniciar um movimento com repercussões mundiais na luta contra o comunismo de carácter estalinista e marxista.


Maria, tal como a alma humana, tem mil rostos. Expressa-se como mãe, rainha, virgem, auxiliadora, a Senhora de Lurdes, de Fátima, etc. Nela se manifesta também a nossa geografia espiritual, o nosso ser de paisagem no tempo e no espaço. Em Maria se expressa a escrituras e a tradição, a espiritualidade e a teologia, o rito e o folclore. Nela, tal como em Cristo, encontra-se o ser humano completo.


A teologia feminista procura ver nela sobretudo a dimensão humana (1). Maria é a mulher expropriada. Ao pôr-se na disponibilidade do acto criador, Maria, e com ela a mulher, é libertada das correntes que a submetem ao homem e à sociedade. Na sua disposição e abertura ao espírito ela torna-se o protótipo da criação, da arte – o dar à luz em si. Torna-se a imagem de todo o artista cujo programa se realiza no Magnificat. Nele se revela o segredo do processo de expropriação, o programa para todo o homem e mulher na integração da polaridade, superando assim a exploração e o domínio sobre o outro.


Um pensar caracteristicamente masculino, o racionalismo exacerbado, não entende os meandros duma realidade, toda ela, formada na/da complementaridade. Por isso, nos seus excessos repudia Maria, repudia a religião, que são a força e o símbolo da realidade feminina na humanidade e no universo. O povo, com as suas exigências integrais, é um factor correctivo da história do pensamento humano demasiado elitista e selectivo, e pelo facto, não integrador.


Na teologia feminista Maria, como todos os símbolos religiosos, pode ser vista das mais variadas perspectivas. Maria é ao mesmo tempo submissa e insubordinada. O movimento emancipador das mulheres procura em Maria marcas em que se apoie. Muitas vêem nos evangélicos, na sua acentuação só em Cristo, a esconjuração dos restos da feminidade na religião


O feminismo radical, de carácter mais masculino, numa estratégia polarizante, procura conquistar terreno vendo em Maria a deusa das origens. Independentemente dos abusos masculinos, na interpretação do divino, deve recordar-se que o Cristianismo original não é de conotação sexual nem se deixa reduzir a interpretações, a perspectivas e maneiras de ver próprias do tempo. Estas dependem do desenvolvimento da consciência humana e do espírito correspondente a cada época, dando às interpretações uma certa relatividade. Fé mais que um credo é uma vivência, uma mística e só assim universal na sua integralidade.


Os Tempos estão maduros para se compreender o Significado de Maria, a Mitigação do Machismo histórico


A História profana, e em parte a história religiosa, tem sido uma história masculina, uma história de machos. Com o irromper dos novos tempos, do século XXI vai sendo tempo de integrar na sua feitura histórica o pólo feminino da humanidade.


Os tempos vão estando maduros para compreender o significado de Maria. Muitas das imagens de Maria são pré-cristãs. Maria cristianiza as deusas pagãs e assume as suas residências num processo espácio-temporal evolutivo. Nela se reúnem todas as metáforas femininas e se encontra a abertura do limiar do tempo novo. Maria é a Deusa secreta do Cristianismo e um apelo à Humanidade para reconhecer a complementaridade da vida. As suas aparições expressam também o grande poder da realidade do inconsciente individual e colectivo.


Também o peregrino, no seu caminhar, se sente como parte dum todo; o povo, a natureza respondem ao chamamento interior. Também por isso, será inútil muito do esforço de padres na tentativa de racionalizarem (masculinizarem) certas práticas e promessas dos crentes a Nossa Senhora. A razão é também ela demasiado masculina e unilateral para poder compreender a outra parte da natureza humana. Assim assiste-se a um exagero (polarização) tanto na análise como na prática religiosa: Animus contra anima.


De momento assiste-se, porém, a uma tendência de espiritualizar a natureza, num regresso aos cultos pré-marianos e a um politeísmo de carácter biotópico particularista. A masculinidade, com a sua maneira de pensar racionalista acompanhante, domina toda a sociedade e até os recônditos mais genuínos da feminilidade (“sentimento”) o que conduz a uma reacção social de fuga e de acentuação do outro extremo, a irracionalidade. O irracionalismo, em voga, favorece tudo o que está fora da tradição bíblica e da tradição católica. Refugia-se, muitas vezes, numa interpretação feminista de espiritualidade à la carte, dirigida apenas para a corporeidade e adversa à razão. O mundo da racionalidade usual não deixa espaço para imagens, ficando estas, quando muito, limitadas ao mundo da religião e da arte. A capacidade de compreensão simbólica torna-se, no dia a dia, cada vez mais difícil. A alma porém revela-se e fala através de imagens. O desequilíbrio manifesta-se no negócio com os devocionais e o esoterismo florescente. Há que reconciliar a masculinidade com a feminidade, a razão com a intuição.


Maria é a mulher fértil que transmite a vida. No princípio está a mãe original. A mulher traz a vida sem a intervenção do homem. Maria virgem e mãe é a metáfora dum novo começo. As imagens de Maria surgem da base. Ela torna-se o protótipo, a mulher, a mãe da humanidade; ela encontra-se no centro de cada mulher, de cada homem e da natureza.


O humanismo de Jesus foi em parte absorvido pela cultura. O problema é que um humanismo radical pretende abdicar da tradição, da memória, da terra que possibilita a vida: a mulher. Na memória é que se procria e se dá o nascimento espiritual.


Da Sociedade Machista para a Sociedade integral

“Aquele que faz a minha vontade é meu pai, minha mãe e meu irmão”. O mestre de Nazaré estoira com os papéis a que as pessoas se encostam, sejam eles familiares, sociais, políticos, religiosos ou de sexos; faz a revolução das revoluções. Com Jesus e com Maria irrompe o tempo do homem-mulher adulto. Homem e mulher estão chamados a integrar em si o animus e a anima, o masculino e o feminino. Para João a filiação divina (adulta) só acontece no Espírito Santo, na liberdade criativa. Supera-se a dominância do género! Maria, a pessoa, engravida por obra do espírito santo, por força do Espírito e não apenas pela obra do macho. A dimensão do espírito é reconhecida como essencial, como formadora da realidade mas não definível nem localizável numa só dimensão particular. Com Maria e seu filho, o Homem-Mulher emancipa-se da tribo e do papel sexual e social que desempenha. O seu valor acontece na ipseidade que implica uma relação já não binária (da dialéctica) mas trinária (da trindade), não já pela afirmação pela contradição (de opostos objectivantes) mas na afirmação na complementaridade (relacional personificante). Passa-se para uma estratégia/vivência já não apenas de diálogo mas de triálogo.


Para o evangelista Mateus Jesus reúne em si as esperanças dos judeus na adopção de Jesus por José, descendente da casa de David (tradição), e a esperança de toda a humanidade no totalmente novo como filho do espírito (O Homem novo surge duma virgem e não de alguém com poderes sobre ele – O Homem/Mulher da Nova aliança é o novo Adão/Eva, o Homem/Mulher em contínua recriação). Reúne a tradição e o novo numa identidade nova e própria. Ele é o esperado que através do espírito apresenta o totalmente novo, não precisando dum legitimação fora dele; é o Homem novo. Deus intervém assim, histórica e misticamente, através do espírito. A imagem judaica tradicional de Deus é superada. Maria, na anunciação e concepção, embora ligada a David, indirectamente através de José, realiza nela a aliança histórica de Deus ao povo de Israel alargando essa aliança a todo o indivíduo, a todo o cidadão do mundo, através do gerar por acção do espírito. (Naturalmente que na bíblia se trata de teologia e não de mera Biologia ou de História, como gostariam os racionalistas que sonham com uma igreja muda, ou uma forma de pensar masculina do “divide et impera”.) O acto legitimador não se reduz ao institucional histórico, ele passa a ser o Espírito que sopra independentemente de condicionamentos e condicionalismos.


No Magnificat, as vítimas tornam-se sujeito da acção. A salvação vem de baixo e não de cima, como querem os poderes/pensares racionalistas e o poder estabelecido. Hoje, mais que nunca, necessita-se de uma exegese, duma história, duma política com uma veia mística. No caminho místico dá-se a convergência da transcendência com a imanência, do masculino com o feminino.


Não podemos reconhecer só a terra como deusa, como quer o feminismo radical (lógico) infecundo nem só o céu como horizonte descontextuado como pretende a dialéctica do pensar masculino. Num processo aberto à mística conseguir-se-á reconciliar o mundo das ideias com o da realidade, o mundo do espírito com o da matéria, as elites com o povo. Seria falso desmiolar os mitos. O mito age a partir do que está escondido, na confluência da força vertical com a força horizontal. Todo o componente da realidade está integrado num todo global complementar, num sistema dinâmico relacional na interligação dos campos físico, fenomenológico e espiritual como manifesta a visão trinitária.


No mês de Maio por todo o mundo católico se observa grande actividade em torno de Maria. Muitas vezes as celebrações litúrgicas são orientadas por leigos. Nestas liturgias marianas privilegia-se a feminidade. A reza do terço é uma forma de meditação global que integra nela a inspiração e a expiração em ritmo complementar. Em liturgias, paraliturgias e actos seculares deveria dar-se mais relevo ao papel da feminidade.


Um aspecto importante que se enquadraria dentro desta espiritualidade seria a introdução de ritos de imposição das mãos em todas as paróquias. Aí, todos os participantes, em resposta à diversidade dos dons do espírito santo em cada um, poderiam criar ritos em que, também o tratamento de corpo e alma, a cura dos fiéis presentes se tornassem práticas usuais, mediante a imposição das mãos por parte dos fiéis. Isto corresponderia a uma necessidade real e cuja vulgarização poderia ter como orientação a bênção dos enfermos realizada em Fátima nos dias treze, bem como certas práticas dos movimentos carismáticos. As liturgias marianas poderiam tornar-se num exercício com expressões mais adequadas às necessidades do lugar e do tempo, num dar resposta aos sinais dos tempos. Maio é um apelo à política, à religião, à economia a integrar na sua masculinidade o outro pólo da realidade que é a feminidade. Esta encontra-se oprimida pela dinâmica dum poder e dum pensar todo ele masculino.


António da Cunha Duarte Justo

Teólogo e Pedagogo

antoniocunhajusto@googlemail.com


(1) Sabe-se da investigação teológica que o modo de pessoas compreenderem a bíblia depende muitíssimo da sua pré-atitude. A cabeça do leitor, formata à sua medida um texto virtual a partir do texto bíblico que tem pela frente. Também o modo de compreender o texto se processa diferentemente. Enquanto que leitores ligados à igreja compreendem o texto num contexto global bíblico, leitores sem experiência eclesial procuram o acesso ao texto através da perspectiva histórica.  O mesmo se dá em relação a nível de culturas. O animus, com  a sua maneira de pensar masculina polar exclui , a anima como maneira de pensar mais integral (feminina).

Governo malbarata Dinheiros Públicos e discrimina o Norte – A32


Branca marca Pontos na Defesa da Ecologia Ambiental e Humana

António Justo

A AURANCA, uma associação de defesa do ambiente e património da vila da Branca, no distrito de Aveiro, Portugal, tem sido infatigável na luta pela defesa do meio e ambiente e na implementação da articulação cívica popular.


A construção da Auto-estrada (A32) constituiria um atentado não só contra a ecologia ambiental e humana como também contra a razão económica. A A32 viria destruir parte relevante de zonas nobres do seu trajecto como é o caso do Monte de S. Julião da Branca e a mata do Choupal em Coimbra.


A AURANCA, com a sua presidente Nélia Oliveira e o seu porta-voz engenheiro Joaquim Santos, tem conseguido muitos aliados na luta contra a construção da A32. Tem atraído muitos parlamentares e outras personalidades em reuniões e acções públicas em defesa dos interesses da região.


A nível internacional despertou o interesse do 2° canal da cadeia de televisão alemã (ZDF) que entrevistou a AURANCA e fará uma reportagem sobre a falsa aplicação de dinheiros públicos numa zona onde já passam duas auto-estradas em direcção a Lisboa (a A1 e a A29).


Governo aplica mal os Dinheiros Públicos

Os escassos recursos que Portugal tem devem ser investidos em empreendimentos produtivos e não em projectos consumistas como seria o caso da A32, que, além da verba para a construção, pressuporia, posteriormente, grandes custos de manutenção, a suportar também pelas gerações vindouras.


Toda a zona Norte e do Interior tem sido tratada como filha da madrasta em relação a Lisboa e carece de investimentos públicos nos mais diferentes sectores. O governo tem até desviado dinheiros da União Europeia para Lisboa quando estes se destinavam a promover as zonas desfavorecidas do Norte e do interior. Muita da população destas zonas não lhe resta outra alternativa senão emigrar. Atenas, que cometeu erros semelhantes a estes deveria ser um motivo para os sinos tocarem a rebate em Portugal.


Além disso, por todo o Portugal se encontra necessidade de investimentos públicos de grande urgência em jardins infantis, escolas, hospitais e grande negligência em relação ao apoio às pequenas e médias empresas.


O ministro das Obras Públicas, não por convicção, mas porque apertado pela razão económica, afirmou ultimamente que o projecto da A32 será reavaliado. Uma consciência ecológica adulta suporia também a revogação da declaração do Impacto Ambiental.


Portugal tem que reduzir os gastos que teriam consequências prejudiciais para o Défice do Estado.


No sentido duma gestão produtiva dos dinheiros públicos deveria abandonar para já o projecto TGV que é um projecto de prestígio para a elite portuguesa mas que iria impedir o investimento de firmas estrangeiras em Portugal, que construiriam os seus escritórios em Madrid e não em Portugal! O governo de Lisboa encontra-se em débito em relação ao Norte e ao Interior e não a Madrid. O TGV, no traçado actual seria uma traição a Portugal e ao Norte.


António da Cunha Duarte Justo

antoniocunhajusto@googlemail.com

Alemanha