Tentativa falhada de construir uma Sociedade aberta sem contar com o próprio Povo?
A única instituição da União Europeia (EU) legitimada democraticamente é o Parlamento Europeu e daí a importância de fortalecê-lo participando nas eleições.
Pela observação das constelações partidárias na concorrência pelo poder, tudo leva a indicar que os novos assentos no parlamento irão desestabilizar a ala esquerda que até agora influenciava mais os destinos da Europa.
Von der Leyen, atual Presidente da Comissão Europeia desde 2019, já reagiu às sondagens e para assegurar a sua reeleição de Presidente viu-se obrigada a cortejar Georgia Meloni (chefe do governo italiano, que é contra o aborto), porque conta que o poder no parlamento se deslocará para a direita.
A causa da direita estar a afirmar-se em relação à esquerda não se deve ao extremismo mas à necessidade de correção de políticas que há dezenas de anos têm determinado as atitudes dos governos na Europa. O mais estranho é o facto de as chamadas extremas direitas se encontrarem mais activas nas potências europeias. Marine Le Pen na França, Georgia Meloni na Itália a AfD na Alemanha encontram-se de vento em popa; de notar porém que na Alemanha a AfD recebeu concorrência do partido BSW de Sahra Wagenknecht (1) de origem esquerda mas que assumiu alguns pontos críticos da chamada extrema-direita, o que poderá evitar que a AfD se afirme como segundo partido para se situar ao nível do SPD, depois do previsível vencedor CDU/CSU.
Governantes europeus ao deixarem-se orientar por agendas globalistas e ao deixarem-se envolver acriticamente na guerra da Ucrânia confirmaram a ideia do povo de que a União Europeia não passa de executor do programa militar da NATO e dos interesses económicos dos EUA descurando, para isso, os interesses europeus.
Um projeto europeu, de conotação militarista, surgido tardiamente e à sombra dos Estados Unidos contra a Rússia, encontra-se na mesma linha que criou as condições para os actuais movimentos de contestação. Isto prolongará a crise económico-socio-politica dado o que vai surgir na arena política europeia se orientar em termos de lutas dos partidos pelo poder e não na luta política por uma política partidária de caracter complementar.
Na atual fase da campanha para as europeias observa-se maior irritação e preocupação dos partidos do arco do poder por assegurar o próprio poder, recorrendo até à difamação dos concorrentes, do que verdadeiro empenho responsável em dar resposta às necessidades dos cidadãos. Os temas de discussão não contemplam conteúdos importantes para darem oportunidade à apologética de interesse partidário.
Um certo nacionalismo que se observa na acção política da direita é explicável como reacção ao demasiado internacionalismo que conduz os interesses governantes que sacrificam valores culturais tradicionais em favor de uma política de esquerda unilateral.
Os conservadores pretendem que a União Europeia restitua competências e poderes soberanos aos estados membros e que a Europa se governe por interesses próprios no sentido de se ganhar peso geopolítico num mundo que se encontra na fase de passar da unipolaridade mundial regida pelos EUA para a fase da multipolaridade de blocos globais.
A nível cultural os conservadores manifestam-se contra a introdução do aborto (IVG) no código dos direitos humanos (políticas pró-abortivas que fortalecem o enfraquecimento demográfico do próprio país e fomentam ainda mais a necessidade de fortalecer a imigração); um outro ponto crucial é o envolvimento europeu na guerra da Ucrânia, contra o poder que instituições não legitimadas democraticamente terem o poder de impor aos Estados agendas tanto a nível militar (NATO), a nível de saúde (OMS) como de educação (degradação da qualidade de ensino em benefício de ideologização).
A polarização do discurso público em termos de opções únicas Ocidente ou a Rússia obrigam a ignorar interesses de compromisso que favoreceriam a perspetiva europeia (Uma Europa desde Lisboa aos Urais). Isto vem-se juntar à observação de uma política globalista de organizações não eleitas que determinam as políticas nacionais que se desejariam mais democráticas e de orientação mais regional. Uma política económica de caracter mais humano implica colaboração com todos e não afirmação à custa de alguém!
A Europa balanceia insegura num momento em que precisaria de um correctivo em defesa dos interesses da Europa e não apenas de um bloco ocidental querido hegemónico, mas que se encontra em grande crise. Numa era de caracter multipolar urge a colaboração a nível de todos os parceiros e não uma atmosfera de adversários criada.
A União Europeia merecerá ser restaurada e afirmada no sentido de seguir em frente sem se perderem as pegadas do Cristianismo que possibilitou a formação da Europa começada propriamente com Carlos Magno no ano 800.
A Europa encontra-se num momento de autorreflexão e de nova orientação que não deve ser difamado pelas forças da família socialista da EU pois a Europa tem lugar para todos e precisa de todos. Para isso a Europa não pode ser medida apenas pela afirmação dos interesses do capitalismo liberalista (muito embora o poder económico seja o factor determinante do desenvolvimento e do comportamento dos povos) nem do poder socialista; é necessário salvaguardar a cultura que pressupõe respeito pela tradição e integração do novo nela para que se possa tornar numa tradição que garanta sustentabilidade..
Desde os anos 60 o progressismo tem-se afirmado demasiadamente sem ter em conta que para tal ele precisaria do tapete conservador (tradição) que o suporte (Torna-se ilusório querer transformar uma cultura num constructo sem povo!). Só uma consciência humanista, solidária e de consciência complementar poderão dar resposta a um futuro estável e aberto.
Estamos todos no mesmo barco onde o lógico seria entender-se e aceitar-se uns aos outros, quando pelo contrário com tanto barulho que fazemos, nem chegamos a perceber para onde o barco vai.
A impressão que se chega a ter da sociedade é que as pessoas estão sempre a ser mantidas sob rédea curta, com questões como o coronavírus, a guerra na Ucrânia e agora a guerra em Gaza. Perante isto é importante adotar-se uma atitude distanciada em relação àquilo que se ouve ou vê e que não se pode controlar, seria prejudicial e trágico se nos identificássemos com essas coisas de maneira a perdermos a calma interior e a perdermos o sono. Geralmente o que é apresentado são interesses de grupos e não o interesse das pessoas.
António da Cunha Duarte Justo
Pegadas do Tempo
(1) Sahra Wagenknecht inaugurou um novo estilo político onde o shargon da esquerda ou da direita não será mais tomado a sério por gente de pensar diferenciado. O que se passará mais a aplicar é a razão transversal de esquerda e de direita. Os tempos de pura ideologia estão lentamente a tornar-se uma coisa do passado!