EUROPA EM ELEIÇÕES EM TEMPOS DE CRISE E DE VIRAGEM

Tentativa falhada de construir uma Sociedade aberta sem contar com o próprio Povo?

A única instituição da União Europeia (EU) legitimada democraticamente é o Parlamento Europeu e daí a importância de fortalecê-lo participando nas eleições.

Pela observação das constelações partidárias na concorrência pelo poder, tudo leva a indicar que os novos assentos no parlamento irão desestabilizar a ala esquerda que até agora influenciava mais os destinos da Europa.

Von der Leyen, atual Presidente da Comissão Europeia desde 2019, já reagiu às sondagens e para assegurar a sua reeleição de Presidente viu-se obrigada a cortejar Georgia Meloni (chefe do governo italiano, que é contra o aborto), porque conta que o poder no parlamento se deslocará para a direita.

A causa da direita estar a afirmar-se em relação à esquerda não se deve ao extremismo mas à necessidade de correção de políticas que há dezenas de anos têm determinado as atitudes dos governos na Europa. O mais estranho é o facto de as chamadas extremas direitas se encontrarem mais activas nas potências europeias. Marine Le Pen na França,  Georgia Meloni na Itália  a AfD na Alemanha encontram-se de vento em popa; de notar porém que na Alemanha a AfD recebeu concorrência do partido BSW de Sahra Wagenknecht (1) de origem esquerda mas que assumiu alguns pontos críticos da chamada extrema-direita, o que poderá evitar que a AfD se afirme como segundo partido para se situar  ao nível do SPD, depois do previsível vencedor CDU/CSU.

Governantes europeus ao deixarem-se orientar por agendas globalistas e ao deixarem-se envolver acriticamente na guerra da Ucrânia confirmaram a ideia do povo de que a União Europeia não passa de executor do programa militar da NATO e dos interesses económicos dos EUA descurando, para isso, os interesses europeus.

Um projeto europeu, de conotação militarista, surgido tardiamente e à sombra dos Estados Unidos contra a Rússia, encontra-se na mesma linha que criou as condições para os actuais movimentos de contestação. Isto prolongará a crise económico-socio-politica dado o que vai surgir na arena política europeia se orientar em termos de lutas dos partidos pelo poder e não na luta política por uma política partidária de caracter complementar.

Na atual fase da campanha para as europeias observa-se maior irritação e preocupação dos partidos do arco do poder por assegurar o próprio poder, recorrendo até à difamação dos concorrentes, do que verdadeiro empenho responsável em dar resposta às necessidades dos cidadãos. Os temas de discussão não contemplam conteúdos importantes para darem oportunidade à apologética de interesse partidário.

Um certo nacionalismo que se observa na acção política da direita é explicável como reacção ao demasiado internacionalismo que conduz os interesses governantes que sacrificam valores culturais tradicionais em favor de uma política de esquerda unilateral.

Os conservadores pretendem que a União Europeia restitua competências e poderes soberanos aos estados membros e que a Europa se governe por interesses próprios no sentido de se ganhar peso geopolítico num mundo que se encontra na fase de passar da unipolaridade mundial regida pelos EUA para a fase da multipolaridade de blocos globais.

A nível cultural os conservadores manifestam-se contra a introdução do aborto (IVG) no código dos direitos humanos (políticas pró-abortivas que fortalecem o enfraquecimento demográfico do próprio país e fomentam ainda mais a necessidade de fortalecer a imigração); um outro ponto crucial é o envolvimento europeu na guerra da Ucrânia, contra o poder que instituições não legitimadas democraticamente  terem o poder de impor aos Estados  agendas tanto a nível militar (NATO), a nível de saúde (OMS) como de educação (degradação da qualidade de ensino em benefício de ideologização).

A polarização do discurso público em termos de opções únicas Ocidente ou a Rússia obrigam a ignorar interesses de compromisso que favoreceriam a perspetiva europeia (Uma Europa desde Lisboa aos Urais). Isto vem-se juntar à observação de uma política globalista de organizações não eleitas que determinam as políticas nacionais que se desejariam mais democráticas e de orientação mais regional. Uma política económica de caracter mais humano implica colaboração com todos e não afirmação à custa de alguém!

A Europa balanceia insegura num momento em que precisaria de um correctivo em defesa dos interesses da Europa e não apenas de um bloco ocidental querido hegemónico, mas que se encontra em grande crise. Numa era de caracter multipolar urge a colaboração a nível de todos os parceiros e não uma atmosfera de adversários criada.

A União Europeia merecerá ser restaurada e afirmada no sentido de seguir em frente sem se perderem as pegadas do Cristianismo que possibilitou a formação da Europa começada propriamente com Carlos Magno no ano 800.

A Europa encontra-se num momento de autorreflexão e de nova orientação que não deve ser difamado pelas forças da família socialista da EU pois a Europa tem lugar para todos e precisa de todos. Para isso a Europa não pode ser medida apenas pela afirmação dos interesses do capitalismo liberalista (muito embora o poder económico seja o factor determinante do desenvolvimento e do comportamento dos povos) nem do poder socialista; é necessário salvaguardar a cultura que pressupõe respeito pela tradição e integração do novo nela para que se possa tornar numa tradição que garanta sustentabilidade..

Desde os anos 60 o progressismo tem-se afirmado demasiadamente sem ter em conta que para tal ele precisaria do tapete conservador (tradição) que o suporte (Torna-se ilusório querer transformar uma cultura num constructo sem povo!). Só uma consciência humanista, solidária e de consciência complementar poderão dar resposta a um futuro estável e aberto.

Estamos todos no mesmo barco onde o lógico seria entender-se e aceitar-se uns aos outros, quando pelo contrário com tanto barulho que fazemos, nem chegamos a perceber para onde o barco vai.

A impressão que se chega a ter da sociedade é que as pessoas estão sempre a ser mantidas sob rédea curta, com questões como o coronavírus, a guerra na Ucrânia e agora a guerra em Gaza. Perante isto é importante adotar-se uma atitude distanciada em relação àquilo que se ouve ou vê e que não se pode controlar, seria prejudicial e trágico se nos identificássemos com essas coisas de maneira a perdermos a calma interior e a perdermos  o sono. Geralmente o que é apresentado são interesses de grupos e não o interesse das pessoas.

 

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

(1)  Sahra Wagenknecht inaugurou um novo estilo político onde o shargon da esquerda ou da direita não será mais tomado a sério por gente de pensar diferenciado. O que se passará mais a aplicar é a razão transversal de esquerda e de direita. Os tempos de pura ideologia estão lentamente a tornar-se uma coisa do passado!

COMO PROTEGER-SE DA PRESENÇA TÓXICA NA SOCIEDADE

Somos feitos de Informação e ter-se a Consciência dela é o Pré-requisito para se ser livre

Nas sociedades avançadas assiste-se a um sentimento crescente de desconforto e a um aumento de doenças nas populações. No contacto com amigos e conhecidos verifica-se que muitos sofrem de solidão, de falta de sentido, de medo do futuro e com depressões, devido à presença exagerada dos Média e da política no espaço público; em geral, o cidadão já não se sente em casa na sociedade nem no mundo em que vive. Também a sensação de se ser ameaçado em espaços públicos pela violência importada está a crescer cada vez mais sem que os políticos sejam realistas e politicamente sensatos e pensem as coisas até ao fim; em vez de tomarem medidas adequadas escondem-se em ilusões ou “discursos dominicais”. Pequenas e grandes coisas são aproveitadas pelo discurso político-partidário e criam reacções histéricas na política, nos meios de comunicação social e na população. No meio disto tudo a estrutura social perdeu a sua estabilidade anterior.

E surgem até relações ácidas dentro de famílias e grupos de amigos devido às aragens vindas de centros ciclónicos geopolíticos, centros que, embora de fora, nos dominam até ao nosso espaço privado e íntimo pelo facto dos tentáculos geopolíticos se prolongarem até ao mais interior de todas as estruturas da nossa sociedade; tal sofrimento é confirmado por investigações científicas. Como somos feitos de informação genética e cultural (e informação propagada depois de selecionada por quem tem a informação restrita que é elaborada   de modo a motivar divisões sociais legitimadoras do Poder estabelecido que democraticamente se fundamenta na opinião “Individual” do cidadão) e sobretudo conduzidos por informações transacionais de caracter executivo, domina uma opinião pública autoritária (publicitada) que reprime a formação de uma opinião individual própria e responsável; esta  é morta à nascença porque a pressão pública impede a formação e valorização da consciência individual: mas só esta seria capaz de garantir o âmbito livre. Esta é também reprimida pela informação difundida que se serve da activação de memória nociva para perturbar a pessoa de maneira a desestabilizá-la e assim torna-la objecto.

Também deveria ser chegada a hora de tocar todas as campainhas de alarme na sociedade, quando a colectividade em geral se torna cada vez mais doente e quando em universidades alemãs, como na Uni Kassel, se verifica que mais de um quarto dos estudantes são cronicamente doentes, com 22% dos estudantes a sofrer de doenças mentais (psicológicas), como revela uma investigação da Universidade (Junho 2024).

Por vezes a situação é tão grave que até dentro do nosso círculo de conhecidos chegamos a saber de casos de jovens que sem dizerem nada se suicidam. O estado de saúde subjetivo aumentou especialmente devido ao impacto das Medidas contra a Pandemia e com a implementação da guerra na Ucrânia e nos nossos meios de comunicação. Uma emoção social implementada com fins menos claros chega a provocar em muitos de nós a mutação do próprio eu levando-o a identificar-se com a vontade da opinião publicitada. Esta alienação de nós mesmos torna-se destrutiva a nível individual e de sociedade. (Demolidora da pessoa porque a instrumentaliza e arrasadora da sociedade porque entregue a quadrilheiros sem respeito nem noção do que é uma sociedade de Irmãos a criar).

A vida moderna, caracterizada pela presença omnipresente dos meios de comunicação social e por intensas discussões políticas de caracter unilateral e doentio bloqueiam os nossos próprios filtros de proteção; tal facto pode levar-nos à alienação de nós mesmos a ponto de aumentar a nossa ansiedade e até criar depressão. Então deixamos de viver nós mesmos e a sociedade passa a viver em nós sem que tenhamos a possibilidade de controlo sobre ela; nesse caso a parte mais humana em nós sofre desatinadamente possibilitando então diversas doenças corporais e psíquicas. Chegados a este sofrimento há que tomar medidas bastante radicais no sentido de se proteger e defender a própria alma de influências tóxicas externas. Para tal torna-se necessário desenvolver estratégias de autodefesa porque se encontra em via a destruição da própria identidade em benefício de uma identidade social destrutiva que vive de interesses e de clivagem contra a moral humana oriunda do fundo do nosso interior cada vez mais difícil de resguardar.

Nesse sentido é de começar a fazer-se abstinência no consumo de Telejornal ou de outros programas que criem ansiedade e preocupação e isto até por uma questão de higiene mental. Como alternativa há a hipótese de se recorrer à Mediateca onde se encontram em memória referências bibliográficas de monografias, publicações periódicas, documentos audiovisuais como suporte eletrónico. Eu, por exemplo costume ver reportagens sobre animais, sobre a naturezas, reportagens de comboio pelas várias regiões dos diferentes continentes e temas que me dão consolação; deste modo evito a constante cobertura mediática que ameaça assenhorear-se da conduta das nossas vidas. O tempo que se dedica à família e aos amigos torna-se mais agradável e proveitoso.

Geralmente escolhemos os melhores produtos culinários para termos o prazer de alimentar bem o nosso corpo. O mesmo cuidado há que ter na escolha do que se consome para formarmos a mente e a alma; geralmente seguimos a rotina consumindo o que o Telejornal e o jornalismo nos apresenta. O jornalismo segue, porém, o status quo e os interesses das elites que geralmente procuram colocar-nos na condição de alinhados na sua fila e o que têm em demasia se deve ao que de nós tiram e que, por cima, ainda é usado para nos formatarem segundo a sua medida. Naturalmente a vida que nos é dado ter ocupa-nos demasiado não nos deixando tempo para reflectirmos  e notarmos o que se passa bem como o que fazemos e seus porquês.

Neste caso, só pode ser útil arranjar-se tempo para reflexão; de facto todos nós precisamos de ter um tempo só nosso. Tal como o nosso estómago precisa de cerca de três horas para digerir os alimentos corporais também o nosso espírito precisa de momentos e espaços próprios para reflectir tudo o que entra na nossa mente. Doutro modo seremos dirigidos e manipulados por ela sem notarmos que ela foi alimentada por forças interesseiras que misturam na informação (alimento mental) muitas drogas e produtos que nos amarram a eles como o cão à sua trela. Daí ser necessária atenção plena e para isso não esquecer a meditação, a oração e o desporto. A reflexão ajuda-nos a tornar-nos conscientes de nós próprios e das nossas necessidades, também de gozos corporais e espirituais que para serem eficientes terão de acontecer sob a direção da própria consciência desperta. Se dedicarmos todos os dias pelo menos dez a vinte minutos de pausa – o momento diário da digestão do espírito – então, com o tempo conseguimos adquirir uma atenção plena e usufruir do momento presente – o Kairós (para isso não precisamos de nenhum curso embora este possa ajudar, se não pretender fixar-nos no método ou em qualquer pessoa ou guru: neste caso isto também não passaria de uma alienação).  A reflexão ajuda também a manter a mente clara. Além do mais, todos nós, cada pessoa e cada célula se encontram interligados e em ressonância com o todo, que para uns se expressa em Deus e para outros no universo/natureza. Momentos de pausa nas tarefas do dia-a-dia e também tempos de retiro ajudam a concentrar-nos no momento presente e a fomentar a capacidade de discernimento. A reflexão regular sobre os próprios valores, objetivos e prioridades ajuda-nos a ter mais clareza sobre as próprias/autênticas necessidades. Doutro modo somos levados a correr atrás das necessidades da moda, mas não das nossas.

Para nos ajudar a desligar dos estressores externos e a libertar-nos de energias agressoras que sentimos em pessoas com quem contactamos, a mim ajuda-me fazer um exercício de respiração abdominal e por vezes sacudir do próprio corpo, com as mãos, a negatividade sentida. Deste modo adquire-se mais facilmente a paz interior. Mas o que me dá mais equilíbrio e confiança é a oração, sendo através dela envolvido num processo de vivência que tudo une e leva a entender.

Em tempos de seminário usava como estratégia de autoconhecimento e para identificar melhor os meus processos internos (incómodos da vida cotidiana) recorria à escrita de um diário onde anotava pensamentos e sentimentos e esta actividade criava tranquilidade. Hoje, para tal, dedico-me à escrita que é o resultado de um mundo que embate em mim e que procuro compreender e exprimir; na expressão dos pensamentos e sentimentos surge uma sensação de equilíbrio e de integração numa comunidade em desenvolvimento. (Neste sentido imagine-se que cada pessoa escrevia um diário e a história da sua vida!)

Devido à pancada que tenho da necessidade de escrever continuamente sei que negligencio o corpo, o que me dá um pouco de má consciência,  porque sei que o corpo para se sentir melhor precisaria de actividades desportivas; a modos  de compensação todos os dias passeio um pouco na natureza e esta entra no meu caminhar através da inspiração  no interior do meu ser passando então a sentir no corpo uma vibração de gozo e agradecimento por me encontrar no fluxo da vida. Processa-se uma união de alma e corpo com a natureza e o espírito onde o divino inspira e expira comigo; então tudo aliado ao alegre sorriso do pôr-de-sol origina uma aragem de paz e sossego.

Não é fácil integrarmos no nosso dia-a-dia estratégias importantes que nos protejam contra influências externas e efeitos tóxicos pois já desde pequeninos fomos condicionados a seguir o que outros queriam e até a obedecer sem saber porquê. Por isso temos uma certa dificuldade em dizer “não” quando nos sentimos sobrecarregados e sem tempo para nós mesmos, aquele tempo que precisaríamos para nos sentir bem.

Torna-se importante interessar-se de forma mais consciente por familiares, amigos e pessoas boas pois essas é que nos podem apoiar e ajudar a levar uma vida estabilizada. Esse tempo não é gasto nem sequer empregue para o passar porque passa a ser o próprio tempo o tempo criativo reservado para cuidar da saúde emocional e mental.

Vivemos sob a pressão criada de termos que nos ordenar do lado do “bom” ou do “mau” e por isso as opiniões pessoais são destituídas e com elas a própria criatividade  porque à opinião pessoal real não é possibilitada também a alternativa de se poder posicionar entre o bom e o mau e para tal não há espaço  por causa dos padrões maniqueístas que dominam a sociedade e o indivíduo. Relevantes actores a agir no palco da sociedade, por razões de poder, não deixam espaço para a dúvida criativa porque esta, assumida pessoalmente, se tornaria na certeza individual que os destronaria. Sem alternativas ao dirigismo centralista anónimo permanece como consequência a tribalização da sociedade.

Por isso qualquer pessoa que advirta e se expresse criticamente em relação ao governo ou às elites dominantes globais será rotulada como negacionista da elite do sistema e da democracia! O mais trágico da situação é que a população em geral aceita como verdadeiro tal rótulo porque a consciência da sociedade é processada e formatada neste sentido por aqueles que estão no poder e vivem melhor nos patamares de cima do sistema. Por isso o sistema procura difamar todo aquele que pretende prestar um contributo para que o sistema melhore substancialmente e isso é lógico porque os beneficiados do sistema teriam de restituir algo do seu supérfluo ao povo mas sentem-se protegidos porque contam com a humildade do povo, que, por natureza de grupo se sente inclinada para aceitar a condição de ser rebanho a ponto de não poder reconhecer os seus genuínos interesses nem quem os defende. Saudável seria uma atitude humilde e de serviço comum ao povo e às elites que o orientam.

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

 

DEMOCRACIA EM CRISE DEVIDA AO COMPORTAMENTO DO PODER ECONÓMICO-POLÍTICO E À INFORMAÇÃO DIGITAL PIONEIRA DE NOVOS CAMINHOS

Sofrimento individual e social como Sintoma de má Governação

O Relatório da EIU Índice de Democracia 2023 (1) mostra que menos de 45,5% da população mundial vive numa democracia e apenas 7,8% dela tem uma “democracia plena” que garante não só eleições e separação de poderes, mas também outras liberdades e direitos sociais. 40% da humanidade vive sob um regime autoritário.

As populações dos países europeus e, com elas a democracia, sentem-se inseguras e vêem-se ameaçadas a vários níveis: individual, cultural, económico, tecnológico e ideológico. O nosso sistema político-social, embora fale muito em cidadão, vive da negação de ele mesmo na qualidade de pessoa e da transformação da nossa identidade em mero cidadão segundo modelos externos por ele predeterminados. E deste modo somos erroneamente classificados de acordo com a nossa posição social, inclinação partidária e religiosa.

A nossa personalidade passa a ser determinada por interesses alheios e, assim, contra a originalidade individual própria e contra a singularidade característica de cada ser humano. Sobretudo hoje em dia, a influência da sociedade em nós mesmos adoece-nos porque nos desilude connosco próprios e nos aliena de tal forma que já não vivemos nós próprios, passando a sociedade a viver em nós e isso cria nas pessoas um sentimento de solidão e de abandono.  

Somos treinados para nos enquadrarmos em grupos políticos ou sociais e a desistir da nossa identidade pessoal para passarmos a assumir a máscara deles e, com elas, podermos assim negar ou demonizar a identidade dos outros e deste modo, passarmos indiretamente, a negarmos também a própria identidade. Isso cria inquietação em nós, e essa inquietação já social, é um verdadeiro aviso interior: uma dor de alerta para estarmos vigilantes e nos distanciarmos das propagandas. Porém, o fatídico é que nos deixamos guiar por aqueles que nos tornam inseguros e deste modo nos adoecem! A propaganda tende, em geral, a ser uma lavagem de cérebro, e a desviar-nos da possibilidade de nos deixarmos guiar pela nossa intuição. Por isso um método importante para nos defendermos é darmos mais valor a nós próprios através da reflexão que leva ao verdadeiro conhecimento de si próprio. Neste sentido, se pretendermos preservar a nossa integridade pessoal, saúde e paz, torna-se importante um estratégico distanciamento da sociedade política de modo a observá-la como se se tratasse de assistir a um espectáculo de circo.

As campanhas políticas e a imprensa que as apoia, vistas de perto, são o melhor exemplo do método concertado para nos tornar rebanho! Política e socialmente, de uma maneira geral, só somos estimados e percebidos se renunciamos à nossa própria identidade pessoal em benefício de máscaras exteriores, da política, do poder dos outros, de modo a vivermos dentro de um colectivo mas sem comunidade!…

E tudo isto à custa do que é mais importante em nós mesmos: a renuncia à singularidade da pessoa (selbst) que somos e sua inerente dignidade.

Em tempos passados, ameaças semelhantes da realidade política não passavam para a consciência da maioria da população porque apenas a  alta classe média tinha acesso à informação e desse modo ficava ilesa das doenças sociais provocadas pela política e seu discurso;  agora, através do desenvolvimento das tecnologias, a informação tornou-se mais democrática e através da sua presença nas redes sociais aumenta-se a tensão entre os mediadores e intérpretes da informação e a população em geral, entre os de cima e os de baixo.

Ao tomar-se consciência de como os interesses do poder funcionam e são aplicados, surge uma desconfiança geral não infundada de sermos doutrinados no sentido de o que vale é a agressão/divisão nas sociedades de uns contra os outros e não a colaboração, aquela estratégia que possibilitou o verdadeiro desenvolvimento da humanidade.

Esta atitude de exclusão (que mostra a contradição entre os interesses do povo e das elites) foi particularmente evidente na sociedade alemã e francesa e suas elites depois do governo da Pandemia Covid 19 e do início da guerra na Ucrânia. A partir daí  as elites europeias revelaram os verdadeiros interesses que se encontram nas governações mediante a estratégia comum usada de apresentarem não os factos mas a interpretação deles, através dos meios de comunicação, como sendo a interpretação ad hoc a verdadeira realidade (a realidade pós-fática), e assim manterem as populações do seu lado.

O que costumava governar o mundo era o trabalho da economia, agora que tem de ser reduzido a um mundo multipolar dividido, os políticos vêem-se como seus capangas obrigados a unir a população com a concentração de informação. Na Europa, a perda de confiança nos respectivos partidos políticos e no Estado dececiona o arco do poder nos governos e parlamentos. Isto funciona a favor do meio da sociedade, que se vê tornar-se mais independente do arco do poder político que a representa. O geral da sociedade, acompanhado por uma classe média mais consciente, questiona as ações dos governos e assim surge aqui e acolá rebelião entre o povo, o que constitui uma ameaça real para a elite dominante.

A sociedade encontra-se em profunda mudança e o arco do poder sente-se ameaçado por parte dos cidadãos e com ele os meios de comunicação social que que antes viviam de maneira solidária com ele, veem a sua posição de poder também ameaçada e, solidariamente voltam-se hipocritamente contra a base da sociedade. Tudo demasiado tarde porque controlar as tecnologias e fontes de informação não é suficiente, porque o mal vem de cima (política de desconstrução cultural e contra os interesses das populações) e da incapacidade de governar sob diferentes requisitos e condições sociais. Ao fazê-lo, identificam o sistema democrático com os seus próprios interesses de elite como se fossem eles próprios o Estado ou a Democracia em pessoa ao lutarem unicamente contra os sintomas fracos da sociedade que as próprias elites criaram nomeadamente: Chega, AfD, Le Pen, Giorgia Meloni, comunistas, etc., quando estes poderiam ser tomados como indicativo da necessidade da correcção da política ideologicamente  globalista e de economia liberalista unilateral seguida até aqui.  

A brutalização da linguagem pela elite política e pelo o populismo estão a aumentar os conflitos e a linguagem está a tornar-se um acelerador político da luta entre interesses não conformes. A ascensão dos chamados partidos populistas vindos de baixo tem muito a ver com o populismo vindo de cima, onde a batalha de interesses se torna mais óbvia e os interesses dos grupos étnicos reivindicam uma parte do poder.

A opinião de que a Alemanha tem “uma democracia robusta” só existe porque a elite dominante (a esquerda governante em Berlin) conseguiu afirmar de forma muito esperta e disfarçada os seus próprios interesses em massivas manifestações populares. Como correctivo importante na Alemanha, revela-se uma parte vigilante da população que obriga os governantes a ter em conta os interesses conflituantes que se manifestam na sociedade.

Porém na Alemanha a imprensa e os governantes dão mais interesse e espaço a palavras provocantes de extremistas da direita (AfD), pelo facto de serem concorrentes do arco do poder, do que a brutalidades e assassínios em plena rua praticados por extremistas islâmicos. Além disso, os partidos do governo sabem muito bem que os muçulmanos que têm a nacionalidade alemã votam neles. E já é possível adquiri-la passados três anos de estadia.

Conheça a Alemanha directamente desde 1980 e nunca houve uma Alemanha tão degradada como a actual a ponto de se tornar num atraso para a Europa.  Na Europa, os países dependem da UE e, portanto, cada povo tem padrões diferentes,e como os problemas têm de ser resolvidos em harmonia e para tal não se olha a meios (O fim passou a justificar os meios!).

Os Estados que devem a sua grandeza à qualidade da democracia e se encontram na vanguarda das nações deveriam primeiro lutar internamente pela verdadeira democracia, para poderem ser um sinal brilhante para o mundo. Na verdade, se olharmos para a situação da população mundial, temos de compreender que as pessoas mais pobres da nossa democracia são também as que mais têm a perder se a democracia enfraquecer, mas a política e a economia manifestam-se mais interessadas na afirmação do poder do que da democracia.

Nos EUA e na UE, a qualidade da democracia está a diminuir fortemente e a atmosfera política de guerra, baseada na palavra-chave “tornar-se eficiente para a guerra”, espalha a convicção na sociedade de que vale a pena a agressão em vez do diálogo e do compromisso. É assim que os conflitos sociais e as agressões são refinados mesmo na Europa. Cada um alimenta os outros de acordo com seus interesses. Até à guerra da Ucrânia, o crescimento económico era o combustível que unia o espírito dos europeus. Os interesses geoestratégicos exagerados do capitalismo liberal provocaram os interesses dos sistemas económicos autocráticos e, na consequência, os interesses económicos entre polos geopolíticos provocaram a guerra.

Depois da forma ocidental de governo, a democracia, reivindicada como particularmente estratégica através da influência económica e política, os estados autocráticos defendem-se organizando-se sob o domínio da sua ideologia. Para se defenderem adequadamente, organizam-se na aliança económica (BRICS) baseada no modelo da ordem mundial americana e com o tempo militarmente no modelo da OTAN.

Como resultado, um mundo que antes era controlado pelo poder dos mais fortes do mundo (EUA) criará uma nova realidade geopolítica mais baseada no princípio da cooperação entre os mais fracos, uma espécie de democratização do poder económico a nível mundial.

Os valores democráticos estão vinculados a todas as pessoas e, portanto, são imortais. Nesse sentido, a formação de bolhas do poder e de filtros da informação devem ser evitados. Isto pressupõe que surjam iniciativas de caracter humano, desde a economia à política e às expressões sociais. As pessoas serão cada vez mais capazes de colocar o pé na porta da política, da economia e das ideologias.

Um factor confortável e beneficiador da uma democracia mais democrática são as novas tecnologias virtuais (também as redes sociais, tão combatidas pelo poder estabelecido consciente de que possuir o monopólio da informação é garantir o poder e ter o povo na mão). A bandeira das principais instituições e grupos de interesse será cada vez mais moldada pelo povo. A democracia é complexa, mas não tem alternativa e continua sempre a ser um processo individual e social muito dependente da política de informação dado a informação ser a base da formação da consciência social. Este é um ponto nevrálgico que exige especial vigilância do cidadão.

Os slogans “aberto à diversidade – fechado à exclusão” perdem toda a base democrática se forem aplicados à custa da cultura maioritária e forem dirigidos contra ela no sentido de servirem só interesses económicos contra o bem-comum das populações. A vigilância em relação ao poder político e à defesa da democracia deve partir de baixo, primeiramente da sociedade civil. As elites parecem querer ignorar que o povo não é tão ignorante como parece e com o tempo pedir-lhes-á contas.

Cada vez precisamos de mais sinos na sociedade como sinal de alerta e estímulo para a conscientização humana a nível individual e comunitário, em regime de democracia, coisa que não é tão evidente como parece. Todos nós, seja na Europa, na América, na China ou na Rússia, estamos desafiados a escolher entre o Diabo e Deus, tendo ao mesmo tempo de assumir que Deus e o Diabo estão presentes em todo o lado e até em nós, embora, muitas vezes, de maneira muito discreta. Trata-se de descobrir e promover o gene divino que se encontra em cada pessoa e de o fazer valer como ele se expressa de nascença em cada pessoa. Papel do “Diabo ou Demónio” (“entidade intrigante”) é colocar uns contra os outros para poder ter poder sobre eles. Somente juntos criaremos uma cultura de paz onde não haverá mais lugar para se colocar uns contra os outros. Para todos Precisamos todos de oportunidades iguais, liberdade de expressão, liberdade de reunião, sendo o preço o amor ao próximo. O mundo e a comunidade somos todos nós.

 

António da Cunha Duarte Justo

Pegadas do Tempo

(1) Relatório da EIU Índice de Democracia 2023. O relatório do Índice de Democracia da EIU analisa a relação entre democracia, guerra e paz e analisa os impulsionadores geopolíticos do conflito. Também fornece uma explicação das mudanças nas classificações globais e uma visão geral regional aprofundada:  https://www-eiu-com.translate.goog/n/campaigns/democracy-index-2023/?_x_tr_sl=en&_x_tr_tl=pt&_x_tr_hl=pt-PT&_x_tr_pto=sc

A PALAVRA

 

PALAVRA

“No princípio era o verbo 

e o verbo se fez carne”

 

O espírito revela-se na palavra,

Ora masculina, ora feminina                

Dela a essência do ser se lavra,

O sulco da vida, na lavoura divina 

 

Cada sílaba canta a verdade,

E no verso, a alma se faz notar.

Verbo divino em comunidade,

És a eterna chama a iluminar.

 

Da voz emerge o som profundo,

Eco do cosmos, divino mar.

Palavra que abraça o mundo,

É a essência de Cristo a pulsar.

António CD Justo

Pegadas do Tempo

http://poesiajusto.blogspot.com/

 A modo de ajuda para se entender algum dos aspectos de interpretação da poesia:

Já quando era estudante do secundário me interessava muito pela fenomenologia das religiões e por tudo o que a vida nos brinda. Creio que o interesse me surgiu quando na aula de História se tratou da mitologia grega e foi referido o mito de Prometeu. Encontrava-me a estudar no seminário dos salesianos em Mogofores.  Foi então que tive como que um momento eureca em que passeia a ter uma compreensão e um interesse especial pelas narrativas míticas dentro do cristianismo e fora dele. Verifiquei que o mito transmite uma verdade mais abrangente do que as verdades históricas. Desde aí passei a intuir que não existia só o aspecto narrativo a nível histórico, mas também paralelamente a narrativa mítica de significado mais profundo, além de outros métodos de procurar saber sobre a realidade.  Então impressionou-me sobretudo o mito de Adão e Eva que intui como um alargamento do mito de Prometeu que roubou o fogo aos deuses do Olimpo para o dar à humanidade. Mais tarde mexeu especialmente comigo a revelação de Deus a Moisés no monte Sinai quando este perguntou a Deus na sarça ardente como o deveria apresentar ao povo e Deus lhe respondeu “Eu sou o que sou, eu sou o tornar-me.…”. Uma outra Palavra que me acompanha em tudo é a expressão do evangelista João quando diz “No princípio era a Palavra/a Informação e esta tornou-se carne e ainda o mistério da Trindade do 1=3 e 3=1 (que entendo como a fórmula de toda a realidade)  e também a incarnação em que Jesus Cristo se torna o protótipo de toda a pessoa, de toda a humanidade e de toda a realidade. Isto entusiasma-me porque vejo aqui todas as filosofias incluídas e o Cristianismo como espaço aberto a toda a discussão séria. Isto entusiasma-me e leva-me a ver no Cristianismo um modelo exemplar de filosofia e ética para toda a humanidade. Da meditação destas revelações para toda a humanidade deduzo todo o meu pensamento e transmito-o indirectamente no que escrevo, havendo em tudo m fio condutor.

No mistério da encarnação constata-se o pulsar divino ligado ao pulsar humano e ao pulsar de toda a criação. De facto, estamos todos ligados uns aos outros e com a natureza fazendo parte de um só corpo e de um só espírito; em Cristo temos a divindade que nos une e sustenta e no Jesus temos a união de espírito e matéria; portanto em Jesus se revela também o Cristo cósmico.

Nas experiências do nosso dia-a-dia verificamos que tudo se encontra ligado e por vezes sentimo-lo através de intuições e até de se pressentir o que o outro sente ou pensa sem que o diga. Geralmente andamos muito distraídos com as narrativas que nos são apresentadas no nosso dia-a-dia e resta-nos pouco tempo para nos dedicarmos a entendermo-nos a nós mesmos e o que se passa em torno de nós. Cada pessoa é como que um microcosmo em que se encontra tudo reunido em ponto pequeno: o macrocosmo no microcosmo e o microcosmo no macrocosmo!

António CD Justo

 

ELEIÇÕES PARA O PARLAMENTO EUROPEU

Por Vaidade e em Nome de uma Solidariedade cega Portugal paga por uma Guerra que não é sua!

Em campanha buliçosa para as europeias, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, visitou Portugal e o presidente Francês visitou por três dias a Alemanha; tenor comum das visitas foi o apelo ao fortalecimento da maquinaria de guerra e a quem a apoia.

Zelenky conseguiu de Lisboa mais 26 milhões de euros, a juntar aos 100 milhões de março.

Imagine-se que Portugal em tom de desagravo aos contribuintes portugueses disponibilizava esse dinheiro para o sistema de saúde português ou o pedia a Biden, o único que lucra com a guerra!!!

Sim, estamos a pagar uma guerra que não é nossa, uma guerra sem sentido e já perdida; pagámo-la directamente com dinheiro e outros apoios e indirectamente com o consequente encarecimento de vida.

A indústria militar alemã Rheinmetall está tão contente com a propaganda política de guerra que anunciou ir subvencionar o futebol para que também os que viviam na inocência se tornem cúmplices no apoio da guerra à custa do empobrecimento das populações europeias. A Rheinmetall anunciou ir investir milhões no negócio do futebol, o Borussia Dortmund é o primeiro a ser contemplado!  A indústria da guerra e grandes grupos económicos são os que estão por trás da política em via que indirectamente vem proporcionar o reestruturamento das grandes nações à custa do maior empobrecimento das economias marginais.

Causa fastio ver-se por toda a Europa toda uma propaganda manipuladora das populações; e o que é mais triste é ver-se ela vir de cima na defesa dos interesses de elites oligárquicas, sem que se note, porque o sistema internacional é coeso!

Os 126 milhões e outros que já foram servem para fomentar a vaidade da nossa elite política: uma maneira de pôr-se em bicos de pés para serem notados quando elites das potências abanam a cabeça pelo dessentido de gente pobre em relação a eles os estar a ajudar!

António da Cunha Duarte Justo,

Pegadas do Tempo